Teorias de Karl Marx

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O Socialismo de Marx

Muitos pensadores se preocupavam com o fato de que poucas pessoas haviam enriquecido com a industrialização e a maioria da população permanecia extremamente pobre.

Tais pensadores defendiam a ideia de que a riqueza deveria ser distribuída de forma mais igualitária. Consideram-se socialistas as teorias surgidas a partir do século XIX que procuravam melhorar as condições do proletariado, cuja situação de miséria, no início da Revolução Industrial, era indescritível. Esses pensadores apoiavam o socialismo – um sistema em que os meios de produção são de propriedade pública e operados para o bem de toda a população. 

O mais influente pensador socialista foi Karl Marx. Friedrich Engels colaborou e foi coautor de diversas obras de Marx. As obras mais conhecidas de Karl Marx e Friedrich Engels são o Manifesto Comunista (1848) e O Capital (1867). 

Estudaremos algumas das teorias de Karl Marx e Friedrich Engels.

Vida de Karl Marx

Karl Marx (1818-1883) foi um dos pensadores que mais influenciou a Filosofia contemporânea e cujos escritos mais mudaram o mundo durante o século XX.

Karl Marx
Karl Marx

Karl Heinrich Marx nasceu em uma família judia, no dia 5 de maio de 1818, em Tréveris, na Prússia. A Prússia era um reino alemão de 1701 a 1918. O pai de Karl Marx, Heinrich Marx, era um advogado de sucesso e um iluminista. Admirador de Kant e Voltaire, ele participou de manifestações a favor da adoção de uma Constituição na Prússia. A mãe de Karl Marx, Henrietta Pressburg, nasceu na Holanda. A família de Karl Marx era rica e culta.

Em 1835, Marx iniciou seus estudos na Universidade de Bonn, onde estudou Mitologia grega e romana, História da Arte e outros cursos na área de Humanas. Em 1836, foi estudar Direito e Filosofia na Universidade de Berlim. Em 1841, obteve o título de Doutor de Filosofia (PhD).

Em 1842, após ter concluído os estudos, Marx começou a trabalhar como autor. Ele se tornou editor de um jornal na Prússia – a Gazeta Renana (Rheinische Zeitung). O governo, enfurecido com os textos de Marx, suspendeu a publicação do jornal, alegando que era polêmico demais. Marx se mudou para Paris e se tornou coeditor de uma nova publicação – Deutsch-Französische Jahrbücher ('Anais Franco-Alemães').

Antes de se mudar para Paris, em junho de 1843, Marx se casou com Jenny von Westphalen. Os dois noivaram sete anos antes de se casarem. Jenny era filha de um barão da Prússia. Inteligente, muito admirada e bonita, ela era quatro anos mais velha que Marx. Ela vinha de uma família nobre, cujos membros ocupavam altos cargos militares e administrativos. Seu meio-irmão era Ministro do Interior. Seu pai era simpatizante do Socialismo.

Jenny e Karl tiveram sete filhos, mas apenas três deles sobreviveram até a vida adulta. Duas de suas filhas cometeram suicídio após o falecimento de Karl Marx. Uma delas se suicidou após descobrir que seu companheiro havia se casado com uma atriz mais jovem do que ela. Contudo, suspeita-se que seu companheiro a assassinou. A segunda filha de Marx cometeu suicídio aos 66 anos. Tanto ela como o marido se mataram porque não queriam viver a velhice. Marx também teve um filho concebido fora do casamento. A pedido de Marx, Engels assumiu a paternidade da criança e a sustentava. A criança foi criada por uma família de um bairro proletário de Londres.

Quatro meses após se casarem, Jenny e Karl Marx se mudaram para Paris. Na época, a cidade era o centro do pensamento socialista e comunista. Marx passou a escrever para os Anais Franco-Alemães e, por meio do jornal, conheceu Friedrich Engels. Engels, que também escrevia para os Anais Franco-Alemães, se tornou amigo inseparável e coautor de Marx pelo restante de sua vida. O pai de Engels era dono de fábricas de têxtil na Inglaterra. Isso permitiu que Engels presenciasse todos os aspectos desumanos da Revolução Industrial.

Friedrich Engels
Friedrich Engels

Em Paris, Marx se tornou um revolucionário comunista e passou a frequentar sociedades comunistas de trabalhadores franceses e alemães. Na opinião de Marx, as ideias desses trabalhadores eram “totalmente grosseiras e pouco inteligentes”. Contudo, o caráter dessas pessoas o comoveu.

Foi nos Anais Franco-Alemães que Marx publicou a introdução de um de seus manuscritos, Crítica da Filosofia do Direito de Hegel (em alemão, “Zur Kritik der Hegelschen Rechtsphilosophie”). Nesse escrito se encontra uma de suas frases mais famosas: “a religião é o ópio do povo”.

Foi também nos Anais Franco-Alemães que Marx conclamou, pela primeira vez em sua vida, uma “revolta do proletariado”.

Em fevereiro em 1845, a pedido do governo da Prússia, a França expulsou Marx do país. Ele se mudou para a Bélgica e renunciou à nacionalidade prussiana.

Nos primeiros meses de 1848, uma revolução eclodiu repentinamente em alguns países europeus – França, Itália e Áustria. Marx foi convidado a Paris por um membro do Governo Provisório bem a tempo de evitar ser expulso da Bélgica. Em 1849, Marx foi expulso de Paris e se mudou para Londres. Ele viveu nessa cidade pelo restante da vida.

Até o ano de 1848, Marx contava com diversas fontes de renda: salários, rendimentos advindos de trabalhos, a herança deixada pelo pai e presentes que recebia de familiares, amigos e apoiadores. Contudo, a partir de 1849, sua situação financeira piorou. Marx e sua família conseguiram se mudar para Londres graças aos donativos que recebeu.

De 1850 a 1864, Marx e sua família enfrentaram sérios problemas financeiros. Foram despejados, tiveram bens confiscados, fugiram de credores, viviam à base de pão e batata e viram alguns de seus filhos morrerem, possivelmente devido às condições precárias em que viviam. Conta-se que Jenny, a esposa de Marx, teve de pedir dinheiro emprestado para pagar pelo caixão da filha.

Em Londres, Marx continuou a escrever e formular suas teorias. Contudo, ele contava com apenas uma fonte de trabalho remunerado. Em 1951, Marx se tornou correspondente na Europa para o jornal The New York Tribune – um jornal de Nova Iorque. De 1851 a 1862, Marx e Engels escreveram 500 artigos. Em seus escritos para o jornal The New York Tribune, Marx declarou seu apoio ao governo norte-americano de Abraham Lincoln, durante a Guerra da Secessão. Marx escrevia sobre política e sobre movimentos sociais pelo mundo.

Engels ajudava Marx a se sustentar. À medida que Engels era promovido no trabalho e passava a receber um salário maior, ele aumentava o valor da ajuda financeira que dava a Marx. Em 1864, Engels se tornou sócio da empresa Ermen e Engels – empresa em que seu pai era sócio. Isso permitiu que ele ajudasse Marx financeiramente de forma significativa. Engels não gostava do trabalho, mas permanecia na empresa para poder se sustentar e ajudar Marx financeiramente. Karl Marx também recebia ajuda financeira da família de sua esposa e de um amigo, Wilhelm Wolff.
Marx valorizava e se orgulhava de sua amizade com Engels, não permitindo que ninguém falasse mal dele.

Em Londres, Marx escreveu sua famosa obra O Capital. O primeiro volume de sua “bíblia da classe trabalhadora” foi publicado durante sua vida. Os outros volumes foram editados por Engels, após sua morte.

Em 1864, Marx se tornou uma figura significativa na Associação Internacional dos Trabalhadores, também conhecida como Primeira Internacional. Apesar de não ter fundado ou liderado a organização, Marx era um de seus dirigentes e um assíduo frequentador. A Associação negociava em nome de sindicatos de trabalhadores com os empregadores. A associação cresceu: estima-se que em 1869 contava com 800 mil membros.

A Lei de Reforma de 1867 emancipou parte da classe trabalhadora urbana na Inglaterra. A lei concedeu o direito de voto a muitos trabalhadores do sexo masculino. Líderes de sindicatos começaram a cooperar com o Partido Liberal para avançar as causas e reinvindicações dos trabalhadores. Marx os acusou de terem “se vendido” aos liberais.

Em 1871, Marx se tornou uma figura internacional graças à Comuna de Paris. Deu-se o nome de Comuna de Paris à primeira insurreição comunista do mundo, inspirada diretamente pela Associação Internacional de Trabalhadores ("Primeira Internacional"). Aproveitando a desorganização que se seguiu à derrota da França diante da Prússia, os socialistas franceses desencadearam uma violenta revolta de operários, com o objetivo de tomar o poder. A rebelião foi, contudo, esmagada violentamente pelo Exército Francês, com o consentimento da Prússia, cujas forças ainda ocupavam a França. Assim, a burguesia francesa se manteve no poder. O primeiro sucesso dos comunistas ocorreu apenas em 1917, com a Revolução Russa.

Após o falecimento de sua esposa, em 1881, Marx entrou em depressão. Ele veio a falecer em 1883.

As obras e teorias de Marx

Marx escreveu sobre as relações entre o poder e as classes sociais. Suas obras são muito estudadas no campo da Ciência Política. Marx acreditava que a revolução dos trabalhadores precisava de uma base cientifica e não meramente de frases moralistas.

A dialética materialista e o materialismo histórico

Foi profunda a influência de Hegel no conteúdo e na termologia utilizada por Marx e Engels.

Como estudante, Marx foi introduzido à filosofia de Hegel, que era predominante em Berlim. Marx aderiu aos Jovens Hegelianos ou hegelianos de esquerda. Estes constituíam um grupo de estudantes e professores formado após a morte de Hegel, em 1831. Os Jovens Hegelianos se opunham aos hegelianos de direita. Ambos advogavam a onipotência do governo.

Marx acabou rompendo com o grupo e fez uma revisão crítica dos conceitos de Hegel.

Marx foi influenciado pela Filosofia da História e pela concepção dialética de Hegel, ou seja, pela ideia de que os movimentos que marcam a história ocorrem graças a choques constantes entre ideias opostas. As contestações de ideias contraditórias levam a ideias aperfeiçoadas. Hegel acreditava que as ideias movem o mundo. Marx adotou a visão de Hegel da história do mundo, chamada dialética: uma progressão na qual cada movimento sucessivo ocorre como solução das contradições inerentes ao movimento anterior. Contudo, em sua filosofia, Marx muda a causa dos movimentos históricos.

Marx introduziu o conceito da dialética materialista, que afirma que os movimentos históricos ocorrem de acordo com as condições materiais. O materialismo dialético é o método de análise da realidade social que busca definir a história e as estruturas sociais como frutos de "contradições internas". Para Marx, todo e qualquer sistema socioeconômico "traria em si os germens de sua própria destruição". O capitalismo, por exemplo, implicava a existência de duas classes sociais antagônicas, a burguesia e o proletariado. Desse conflito resultaria o socialismo. Assim, para Marx, o "motor" da História seria a "luta de classes".

Em vez de acreditar que a essência das transformações históricos ocorrem graças às ideias, Marx ensinava que as mudanças ocorrem graças às condições materiais. Marx oferece uma visão materialista da História. Em outras palavras, a História é um produto dos conflitos de classes e do trabalho humano. Para Hegel, a História é movida pelo conflito dialético entre ideias. Para ambos os filósofos, o processo histórico apresenta uma racionalidade inerente.

Esse conceito foi articulado pelo materialismo histórico de Marx, ou seja, pela interpretação econômica da história. O materialismo histórico de Marx implica na noção de modo de produção. Segundo essa ideia, a economia é a base sobre a qual se apoia a estrutura social e que determina suas características políticas e culturais. Tal visão materialista da história visa a explicar todas as ideias – políticas, religiosas e éticas – como produto do estágio econômico de uma sociedade durante determinada época. Por exemplo, nas sociedades feudais, lealdade e obediência ao senhor feudal eram consideradas virtudes.

Segundo Marx, as alterações econômicas determinam as mudanças históricas, ou seja, cada período histórico apresenta um conjunto de características socioeconômicas, políticas e culturais (modo de produção), que só se altera quando ocorre alguma transformação econômica.

Marx acreditava na visão científica da História – na formulação de uma "ciência da História". No seu entender, os planos políticos e ideológicos das sociedades são determinados pelas condições econômicas. Tal conceito é explicitado pela frase "a base material determina a consciência social".
O materialismo histórico é um dos fundamentos teóricos do "socialismo científico".

Socialismo Científico

Para formular sua ideologia, Marx – o maior representante do socialismo científico – inspirou-se em outras doutrinas que se manifestavam na época. Assim, ele buscou elementos para sua análise no pensamento liberal de Adam Smith, no socialismo utópico dos franceses e na filosofia idealista alemã, representada por Kant e Hegel.

O socialismo científico foi fundado por Karl Marx e Friedrich Engels. O socialismo científico se distancia do socialismo utópico, pois, em vez de confiar na capacidade transformadora dos homens, parte para uma análise dos mecanismos econômicos e sociais do capitalismo, a fim de conhecê-lo a fundo e propor modos de eliminá-lo. Trata-se, portanto, de uma proposta revolucionária do proletariado.

O socialismo utópico visa à edificação de uma sociedade mais justa. Os socialistas utópicos formularam as primeiras propostas para melhorar a condição dos proletários. Contudo, pelo fato de não terem enfocado a questão social dentro do contexto geral do capitalismo industrial, implementaram soluções parciais, que, na prática, não foram bem-sucedidas. É o caso do inglês Owen (que criou uma comunidade cujos membros agiriam com base apenas em sua própria consciência), dos franceses Fourier (criadores dos falanstérios - fábricas controladas pelos próprios operários) e de Louis Blanc (autor das oficinas nacionais, patrocinadas pelo Estado).

O ponto fraco do socialismo utópico era o fato de consistir em projetos sonhadores e românticos, além de serem desprovidos de uma análise crítica e científica da realidade capitalista. Os ideais do socialismo utópico não punham em risco as estruturas do capitalismo.

Os conceitos e princípios mais utilizados pelo socialismo científico são:

  • a interpretação econômica da história, ou seja, o "materialismo histórico";
  • o materialismo dialético: o conceito de que a crise e a superação de um determinado modo de produção – ou seja, a transformação histórica – devem-se às suas contradições internas, isto é, aos antagonismos que se desenvolvem no interior do próprio modo de produção quando este se estrutura;
  • a luta de classes: conceito chave dentro do pensamento marxista, segundo o qual a luta de classes – o antagonismo social entre exploradores e explorados, sempre presente nas sociedades humanas – é responsável pelas transformações históricas. A luta de classes, segundo o socialismo científico, é o motor da história;
  • uma "economia política" que procura apreender e explicar o modo de produção capitalista. No entender de Marx e Engels, o capitalismo seria vítima de uma contradição fundamental - a propriedade é privada e a produção coletiva. Isso traria como consequências a exploração do trabalho – raiz do lucro –, a concentração de renda nas mãos dos capitalistas e a crescente depauperação da classe operária. Essa "evolução catastrófica" do capitalismo provocaria a eliminação das classes médias e a agudização da luta de classes, cujo clímax seria a revolução socialista a ser levada a efeito pelo proletariado;
  • a mais-valia: outro conceito chave do ideário marxista. Para Marx, o capital acumulado pelos detentores dos meios de produção advém da não remuneração integral do trabalho do proletariado. Isto é, o capitalista não paga integralmente o valor da força de trabalho usada na produção das mercadorias.

Por fim, o marxismo é, também, uma teoria que busca orientar a transformação revolucionária da sociedade. Daí a tese defendida por Marx: "os pensadores antigos se limitaram a pensar a História; agora é tempo de transformá-la".

O Manifesto Comunista

A famosa obra de Marx, o Manifesto Comunista, tendo Friedrich Engels como coautor, foi publicada em 1848, incentivando a revolução da classe operária. Marx declarava que suas teorias eram fundamentadas em análises científicas da História.

O Manifesto Comunista propôs que toda a história humana havia sido uma história de luta de classes. Segundo o Manifesto Comunista, a luta de classes desapareceria com a vitória do proletariado. O Manifesto Comunista afirmou que a história, assim como a natureza, segue leis científicas. A obra destaca que a primeira preocupação do ser humano sempre foi obter alimentos e posses e que, portanto, as forças econômicas sempre moldaram a História.

Marx não acreditava que os problemas criados pela industrialização pudessem ser resolvidos por meio de uma reforma da sociedade capitalista. Ele insistia que o capitalismo precisava ser substituído por um sistema econômico e social diferente. Em suas obras – que contaram com a participação de seu amigo Friedrich Engels – Marx chamou esse sistema de comunismo. Ele descrevia o comunismo como uma forma absoluta de socialismo, na qual toda a propriedade e todos os meios de produção pertenceriam ao povo. Todos os bens e serviços seriam igualmente compartilhados.

De acordo com Marx e Engels, ao longo de toda a história, existiram duas classes sociais: os que "possuem" e os que "nada possuem". Os que "possuem" controlam a produção de bens, retendo, portanto, a maior parte das riquezas. Os que "nada possuem" realizam o trabalho, mas não são devidamente recompensados por isso.

Marx declarava que a exploração dos que "nada possuem" pelos que "possuem" sempre resultou em uma luta de classes. Exemplificando: na Grécia e Roma antigas, a luta ocorria entre o mestre e o escravo; e na Europa Medieval, entre os senhores feudais e os servos. Na sociedade industrial moderna, afirmava Marx, o poder econômico permanecia nas mãos da burguesia - a classe social capitalista detentora dos meios de produção – que possuía as fábricas, as minas, os bancos e as empresas. Esses capitalistas dominavam e exploravam o proletariado - os trabalhadores assalariados.

Marx também declarou que a classe social que possuía o poder econômico controlava o governo em benefício próprio. Segundo o filósofo, em uma sociedade capitalista, os legisladores elaboram leis para beneficiar os capitalistas. Ao mesmo tempo, a polícia servia para proteger as propriedades dos capitalistas. Na visão de Marx e Engels, o Estado atua como um instrumento de domínio de classes. Na sociedade capitalista, por exemplo, o domínio de classes se identificaria diretamente com a “proteção da propriedade privada” dos que possuem, contrariando os interesses daqueles que nada têm. Proteger a propriedade privada capitalista implica preservar as relações sociais e as normas jurídicas – a segurança dos proprietários burgueses.

Marx afirmava que os empresários não se importavam com os empregados e que os exploravam. O fundamento da doutrina de Marx era a crença de que o sistema capitalista desapareceria. Ele previa que lojistas e donos de pequenos negócios seriam arruinados, pois não conseguiriam competir com os grandes capitalistas, e, assim, se tornariam trabalhadores comuns. O resultado disso seria o crescimento da classe operária. A sociedade passaria então a ser constituída por dois grupos: os ricos e a massa de proletários. Isso resultaria em uma grande convulsão social: os trabalhadores, desesperados, tomariam o controle do governo e dos meios de produção e destruiriam o sistema capitalista e a classe governante. Emergiria então a "Ditadura do Proletariado" - uma sociedade controlada pela classe trabalhadora. Marx acreditava que uma revolução violenta seria necessária.

Marx alegava que com a destruição do capitalismo, as lutas de classes terminariam e surgiria uma sociedade sem classes. Todo o povo compartilharia, de forma justa, a riqueza na nova sociedade. Com o fim da exploração do ser humano, não haveria mais a necessidade de um Estado, e este, eventualmente, desapareceria.

Uma de suas frases mais famosas é: “Os trabalhadores não têm nada a perder em uma revolução comunista, a não ser suas correntes. Têm um mundo a ganhar. Trabalhadores do mundo, uni-vos!” (Karl Marx, Manifesto Comunista).

No túmulo de Marx está escrita a frase: “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”

O Manifesto Comunista tornou-se uma das principais declarações programáticas dos partidos socialistas e comunistas europeus nos séculos XIX e XX.

A Teoria de Alienação

A teoria de alienação de Marx descreve um efeito devastador do modo de produção capitalista nos seres humanos, por meio do qual as pessoas ficam isoladas, desumanizadas e desiludidas. A teoria de alienação é uma peça central da crítica de Marx em relação ao capitalismo industrial e às classes sociais estratificadas. Segundo Karl Marx, a alienação é fenômeno típico de sociedades divididas em classes, nas quais ocorre a separação entre o trabalho braçal (manual) e o intelectual. A alienação do trabalhador em relação aos bens que ele próprio produz é um conceito muito estudado em Sociologia.

De acordo com Marx, o modo de produção capitalista é composto pela burguesia – os donos de negócios, como fábricas e empresas, que compram o trabalho do proletariado em troca de salários. Isso leva à alienação dos trabalhadores. Eles são alienados dos próprios produtos que produzem, pois estes são criados e administrados por outros. O trabalhador contribui apenas com o trabalho manual. Assim, o produto do trabalho se torna um objeto estranho ao próprio trabalhador. Os lucros beneficiam o proprietário, não o trabalhador. Este é pago por seu trabalho por meio do salário, conforme previamente estabelecido. A burguesia – os donos dos meios de produção – visam a obter o maior lucro possível do que é produzido pelos trabalhadores. Em muitos casos, o trabalhador nem sequer possui os recursos financeiros para comprar o próprio produto que produziu.

De acordo com Marx, outro motivo por que os trabalhadores são alienados da própria produção é que não são eles quem a administram. O trabalho é repetitivo e nada criativo. A alienação é, portanto, uma consequência do fato de o trabalhador constituir uma parte mecânica da classe social. Tal condição remove a pessoa da sua própria humanidade. Além disso, ele trabalha apenas porque necessita do salário para conseguir sobreviver.

Um terceiro motivo por que os trabalhadores são alienados da própria produção é que são transformados em objetos do modo de produção, podendo ser facilmente substituídos. Os trabalhadores são alienados de sua própria criatividade, da busca pela felicidade e de seus sonhos devido às demandas da estrutura socioeconômica do capitalismo. O trabalhador perde a habilidade de construir sua vida e destino.

Além disso, são alienados de outros trabalhadores, pois fazem parte de um modo de produção competitivo em que as pessoas estão sempre competindo entre si para vender seu trabalho aos empregadores. A competição entre trabalhadores faz com que o trabalho remunerado se torne mais barato, resultando no decréscimo de salários. Essa forma de alienação não permite que os trabalhadores se unam para compartilhar suas experiências e frustrações e desenvolver uma “consciência de classe”. O desenvolvimento de uma “consciência de classe” ajudaria os trabalhadores a buscarem os interesses comuns de sua classe social.

Segundo Marx, há várias formas de alienação que acometem o homem na sociedade capitalista: econômica, social e religiosa.

Ideologia

Segundo Marx, ideologia representa uma produção social de ideias, conceitos e consciência que contribui para a regulação das relações sociais. Ideologia inclui política, leis, moralidade, e religião, e funciona como uma superestrutura de uma civilização. Ideologia é o conjunto de representações e ideias por meio das quais os indivíduos são levados a pensar, sentir e agir da forma que convém à classe detentora do poder.

Ideologia é a cultura e as convenções sociais que compõem as ideias dominantes de uma sociedade. Ideologia muda ao longo da história de acordo com as relações sociais. Na época de Marx, essa superestrutura era constituída pelas ideias capitalistas da classe burguesa – ideias que oprimiam a classes trabalhadora.

Para Marx, ideologia consiste em certas ideias sociais que são dominantes em uma sociedade de classes sociais. Falsas e enganadoras, essas ideias preservam os interesses econômicos da classe dominante e perpetuam o domínio de uma classe sobre as outros. De acordo com Marx, a classe que detém o poder resolve os conflitos sociais ao insinuar ideias e valores que mascaram a realidade.

Marx afirmava que a moral era uma das formas assumidas pela ideologia dominante em sociedade, pois disseminava determinados valores necessários à manutenção dessa sociedade.

Teoria da consciência

Em O Capital, Marx e Engels escreveram sobre a teoria da consciência: consciência de classe e falsa consciência.

Consciência de classe significa a conscientização, por uma classe social ou econômica, de sua posição e de seus interesses dentro da estrutura da ordem econômica e do sistema social. A consciência de classe é uma consciência da classe social e econômica a que um indivíduo pertence em relação aos demais, bem como uma compreensão da classificação econômica da classe à qual pertence no contexto da sociedade em geral. A consciência de classe também inclui o indivíduo estar ciente dos interesses de sua classe social e econômica.

Segundo Marx, essa conscientização é a chave para o conflito de classes que levaria à revolução dos trabalhadores e à criação da "Ditadura do Proletariado". Marx acreditava que a revolução só poderia ocorrer se a classe trabalhadora desenvolvesse uma consciência de classe. Os trabalhadores precisariam se enxergar como membros de um único grupo com os mesmos interesses. Essa conscientização e união eram elementos necessários para que eles pudessem se revoltar e mudar suas condições de trabalho. Marx argumentou que o sistema capitalista funcionava porque os trabalhadores não possuíam uma consciência de classe. O sistema capitalista se mantinha porque os trabalhadores não se uniam para lutar por seus interesses economicos e políticos. E, portanto, não utilizam o poder inerente ao fato de constituírem a maioria da população.

Segundo Marx, os trabalhadores que ainda não haviam desenvolvido uma consciência de classe estavam vivendo uma falsa consciência. Marx nunca utilizou o termo falsa consciência, mas ele desenvolveu as ideias abrangidas por essa expressão. Foi Engels quem utilizou o termo falsa consciência em uma carta que escreveu a Franz Mehring, em 1893.

Essencialmente, a falsa consciência é o oposto da consciência de classe. O proletariado segue uma ideologia da burguesia. É chamada de falsa consciência, pois é voltada para objetivos que não beneficiam os trabalhadores. Em outras palavras, o proletariado age em maneiras contrárias aos seus interesses econômicos, sociais e políticos: o trabalhador pensa em si e não na classe a que pertence. Assim, os trabalhadores competem entre si por empregos e salários e não enxergam a classe trabalhadora como um todo, com interesses em comum.

A revolução de Marx para esmagar o capitalismo e derrubar a classe dominante não ocorreria enquanto a classe trabalhadora continuasse a enxergar a vida por meio da falsa consciência.

Segundo Marx, o comunismo tem como objetivo restaurar o equilíbrio entre a consciência e a realidade, reinserindo a consciência na vida real.

As Previsões de Marx

O pensamento marxista foi adotado por pessoas insatisfeitas com o capitalismo, pois o marxismo preconizava a luta proletária pela instauração do socialismo – igualitarista e justo. As lideranças operárias aderiram ao socialismo científico, adotando o lema “Proletários, uni-vos!”.

As teorias de Marx se tornaram muito populares. Contudo, Marx não viveu para ver suas ideias serem implementadas. Seus escritos formaram a base do comunismo do século XX.

Marx previu a sublevação da classe operária em países industrializados. Isso, porém, nunca ocorreu. As revoluções socialistas ocorrerem em nações cuja economia se baseava na agricultura: Rússia, China e Cuba. Contudo, nesses países, os socialistas fracassaram ao tentar criar o tipo de sociedade socialista imaginada por Marx: em vez de se enfraquecer e eventualmente desaparecer, o Estado se tornou mais forte e autoritário.

Sumário

- Vida de Karl Marx
- As obras e teorias de Marx
i. A dialética materialista e o materialismo histórico
ii. Socialismo Científico
iii. O Manifesto Comunista
iv. A Teoria de Alienação
v. Ideologia
vi. Teoria da consciência
- As Previsões de Marx

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