Invasões Bárbaras

  • Home
  • Invasões Bárbaras

 

 

Invasões Bárbaras no Império Romano

As invasões bárbaras puseram fim ao Império Romano no ano de 476.

O termo "bárbaro" nasceu na Grécia, significando "aquele que não fala perfeitamente a minha língua". Mas, tornou-se sinônimo de "estrangeiro": indivíduos que possuem uma "cultura diferente".

As invasões bárbaras foram o grande fator externo da queda do Império Romano do Ocidente. Na realidade, já eram antigos os contatos entre os romanos e os germânicos, povos que habitavam as regiões compreendidas entre os rios Reno e Vístula. O Imperador Augusto já tentara, sem êxito, conquistá-los. No ano 98, o historiador romano Tácito, em seu livro "Germânia", descrevera os hábitos e costumes dessas populações. Desconhecedores de qualquer aparelho estatal e das cidades como entidades administrativas, os germânicos eram um povo florestal, dedicando-se à coleta, à pilhagem e, de maneira embrionária, à agricultura e pecuária. Tais atividades eram fundamentalmente levadas a efeito pelos grupos familiares, que ocupavam propriedades coletivas. O indivíduo de maior prestígio social entre os germânicos era o guerreiro, quase sempre o líder do clã. A base de toda estrutura social residia no "sippe": comunidade de linhagem que assegurava a proteção aos grupos que prestavam juramento de fidelidade ao guerreiro. Do ponto de vista político, essas tribos eram dirigidas por uma Assembleia de Guerreiros. Povos belicosos, os germânicos desenvolveram a metalurgia para a fabricação de armas e carros de combate. A cultura e as religiões germânicas estavam ligadas ao seu caráter militarista. A literatura, fundamentalmente canções e poemas, cantava os feitos dos heróis nos combates. É interessante ressaltar que cada tribo cultuava o seu próprio herói, real ou mitológico, sempre enaltecido nas festas e rituais. Os germânicos desconheciam qualquer forma de unidade religiosa e não possuíam templos: normalmente, os ritos se realizavam ao ar livre, nos bosques, nas florestas e nos montes.

ROMA E OS BÁRBAROS

Embora tenham sido os germânicos - visigodos, ostrogodos, alanos, saxões, francos, vândalos, burgúndios e frisões - os bárbaros que mais influenciaram a vida romana, outros havia que também tiveram contatos com Roma. Quando César, ainda na República, conquistou a Gália, hoje França, teve de enfrentar grupos de origem celta; quando legiões romanas invadiram a atual Grã-Bretanha, foram obrigadas a se deparar com outro ramo céltico: os bretões. Além disso, embora diminutos, havia contatos entre os romanos e um povo que residia no leste europeu: os eslavos.

A entrada dos bárbaros germânicos em Roma conheceu duas fases: uma, denominada de "pacífica", foi motivada pela procura, por parte dos germânicos, de terras agricultáveis e oportunidades econômicas no interior do próspero Império. Aos poucos, essas migrações foram sendo absorvidas e, até mesmo, nos exércitos e legiões de Roma havia soldados e oficiais germânicos. Ocorreria, no entanto, uma segunda fase. A partir da segunda metade do século IV, pressionados pelos unos, povo nômade de origem mongólica, as levas germânicas para dentro do Império aumentaram de maneira extraordinária. Roma, preocupada com essa maciça presença germânica, tentou barrá-la. Contudo, já decadente pela crise interna, Roma não teve condições de fazê-lo. Em 378, na Batalha de Andrinopla, tem início a invasão germânica propriamente dita. Vagas e vagas bárbaras assolaram o Império Romano do Ocidente. Em 410, ocorria a "grande invasão", quando até mesmo a cidade de Roma chegou a ser saqueada por um chefe germânico, Alarico. Em 476, o ato final: Odoacro, Rei dos hérulos, derruba Rômulo Augusto, o último Imperador.

A onda germânica que varreu a Europa Ocidental implicou uma série de consequências: alvos prioritários dos germânicos, as cidades quase se esvaziaram e ocorre um processo de ruralização; a economia romana, já bastante abalada desde a "crise do século III", reduzida a frangalhos, quase desaparecendo a economia monetária; uma sociedade que fora sofisticada, a de inspiração romana, agora conhecia uma rápida regressão. Das mais importantes conquistas romanas, o Direito é profundamente aviltado pelos costumes jurídicos germânicos: Roma já conhecia a "soberania da lei sobre o espaço territorial", ou seja, o ordenamento jurídico romano abrangia toda a extensão do Império. Os germânicos, por seu turno, acreditavam que a "lei bárbara" vai até onde o bárbaro for: um conceito móvel de soberania jurídica, típico de um povo nômade.

Finalmente, destruída a estrutura política do Império Romano, proliferam, na Europa Ocidental e em certas regiões no norte da África, os Reinos Bárbaros.

IDADE MÉDIA: UM CONCEITO

Os historiadores costumam afirmar que o colapso do Império Romano do Ocidente e a consequente implantação de estruturas sociais e políticas germânicas deram início ao período da história europeia ocidental conhecido como Idade Média, que teria se estendido desde o século V ao XV. Na visão historiográfica tradicional, essa fase se divide em dois momentos: a Alta Idade Média, que iria do século V até o XI, e a Baixa Idade Média, quando teriam surgido os fatores estruturais de sua decadência. A moderna historiografia, notadamente a francesa, apresenta o Medievo segmentado em três fases: do século V ao X, "período de incubação do feudalismo"; séculos X a XIII, "auge da estrutura feudal"; e, por fim, a "emergência - via Revoluções Comercial e Urbana - das estruturas do mundo europeu moderno". Indiscutivelmente, essa mais recente periodização expressa de maneira mais adequada os processos ocorridos na Idade Média.

TEXTO COMPLEMENTAR

POR QUE IDADE MÉDIA?

"Médio é uma palavra que usamos para designar algo que está no meio, que exprime uma posição intermediária entre um ponto e outro. Na periodização eurocêntrica estabelecida no século XVIII, a Idade Média estaria no meio da história entre a Idade Antiga e a Idade Moderna. Assim, o período de aproximadamente mil anos que vai convencionalmente da queda de Roma, após a ocupação pelos hérulos em 476, até a tomada de Constantinopla pelos turco-otomanos em 1453 foi chamado de Idade Média.

Mas esta explicação, especialmente hoje, para nós que vivemos na chamada Idade Contemporânea, perdeu o eixo original, ficando deslocada.

Entre os séculos XIV e XVI, generalizou-se na Europa uma série de movimentos artísticos e científicos que tinham em comum o rompimento com valores do período anterior e a recuperação de outros inspiradores na Grécia e Roma antigas. Estes movimentos receberam o nome de Renascimento, exibindo a ideia embutida de que na Idade Média a ciência e as artes haviam praticamente sucumbido, sob a força do dogmatismo religioso.

Os renascentistas foram geralmente vistos como continuadores dos ideais científicos, artísticos e estéticos das civilizações clássicas. Era como se houvesse um grande intervalo entre os antigos gregos e romanos e os renascentistas de então. Esse intervalo, esse "meio", sob o prisma de um único processo de avanço da humanidade, acabou recebendo o nome de Idade Média.

IDADE MÉDIA - IDADE DAS TREVAS?

Até o início do século XX, as análises sobre a Idade Média foram fortemente influenciadas pelos historiadores da arte, para os quais a arquitetura, a pintura, as esculturas medievais eram primitivas e culturalmente despojadas em relação à produção da Antiguidade Clássica. Durante o Renascimento, a Idade Média foi considerada o tempo do primitivismo, do atraso e do empobrecimento da cultura europeia, a ponto de os ingleses terem forjado a expressão que se tornou famosa para designar o período: Dark Ages, Anos Escuros ou Idade das Trevas, das Sombras.

A Revolução Francesa, que combateu os privilégios feudais, também teve um papel no "enegrecimento" do período, por associá-lo ao feudalismo, segundo os seus inspiradores intelectuais, os filósofos iluministas.

No século XIX, esta forma pejorativa de identificar a Idade Média foi aos poucos sendo revertida por um movimento conhecido como Romantismo, que, das artes às ciências, contrapôs-se ao racionalismo até então vigente, revalorizando alguns elementos medievais.

Já no século XX, estudiosos como Henri Pirenne e Marc Bloch mostraram que esse período europeu foi tudo menos primitivo. Eles evidenciaram a complexa organização social das novas aldeias ou burgos, com a instalação planejada de castelos e fortificações a casas de camponeses, bem como os efeitos de longo alcance de uma nova classe de mercadores. Esses aventureiros estavam preparados para viajar longas distâncias e cruzar os limites locais, ligando terras cristas com culturas pagãs do norte e leste da Europa e Ásia.

Marc Bloch mostrou em suas obras que, mesmo em termos de tecnologia, a Idade Média não foi inerte, pois nesse período houve algumas invenções importantes para a época, e muitas técnicas rurais e artesanais foram difundidas.

Parte dessa nova abordagem da Idade Média origina-se da evolução das técnicas de pesquisa, que permitiu resgatar, estudar e analisar, sob novo enfoque, a cultura material, as obras de arte, as informações sobre demografia, técnicas rurais e artesanais, alimentação, etc. Enfim, aprofundando a visão dos historiadores, passou-se a valorizar o estudo da Idade Média não só como base em documentos escritos, mas também contando com fontes diversificadas, o que é fundamental, ainda mais se considerarmos que pouquíssimas pessoas eram alfabetizadas nesse período.

IDADE MÉDIA ONDE?

Da mesma maneira que não se pode considerar aceitável a ideia de que entre 476 e 1453 o mundo ficou coberto por um manto de trevas culturais, também é distorcida a ideia de que todo o mundo teria passado pelas mesmas situações que a Europa. É preciso lembrarmos que a Idade Média é uma periodização que está circunscrita ao continente europeu e não a toda a humanidade.

Se mudarmos o ponto de vista, podemos dizer, por exemplo, que durante a Idade Média a Europa era apenas periferia do mundo muçulmano: tinha uma população relativamente pequena e estava cada vez mais isolada das principais rotas de comércio, que passavam pelo Mediterrâneo Oriental. No mundo muçulmano, a matemática e a astronomia eram bem mais desenvolvidas que na Europa, e foi a esses conhecimentos que os europeus recorreram, no final da Idade Média, para realizar as navegações pelo Atlântico.

Na América, por sua vez, também floresciam civilizações que, posteriormente (século XVI), impressionariam os conquistadores europeus pela grandiosidade de suas cidades e arquitetura, como a capital dos astecas, Tenochtilán, atual Cidade do México. Até mesmo os hábitos de higiene entre esses povos eram mais desenvolvidos que os dos europeus.

É importante compreender, portanto, que a Idade Média é um período que tem algumas características homogêneas e que se refere à Europa. Não é uma periodização a ser aplicada para outras regiões do mundo, ainda que o conceito de feudalismo possa ser usado para analisar circunstâncias históricas parecidas em outros lugares.

O estudo da Idade Média continua sendo muito importante para nós, pois a herança europeia tem um papel significativo na formação da sociedade brasileira.

POR QUE ESTUDAR A IDADE MÉDIA?

"Entendermos a nós mesmos. O historiador francês Jacques Le Goff, no livro "Reflexões sobre a História", afirma que é nesse período que se originam elementos importantes da atualidade, como "a matriz de nossas atuais redes urbanas", o sistema de ensino, incluindo o sistema universitário, e até mesmo "a maneira de nos enamorarmos" e de formarmos a família."

História para o Ensino Médio - História Geral e do Brasil - Cláudio Vicentino - Gianpaolo Dorigo - Série Parâmetros - Ed. Scipione.

Sumário

- Roma e os Bárbaros
- Idade Média

Áreas exclusivas para assinantes