Alta Idade Média: O Império Bizantino

A Alta Idade Média é um termo utilizado pelos historiadores para se referir a um período que se estendeu do século V até o século X. Durante a Alta Idade Média, a Europa Ocidental passou por grandes transformações devido à fragmentação do Império Romano do Ocidente.

A crise do século III abalou seriamente as estruturas do Império Romano, promovendo seu inevitável declínio. Todavia, cada uma das partes em que se achava dividido o Império reagiu de maneira diferente ao abalo, em função das características socioeconômicas e políticas predominantes. Dessa forma, enquanto a parte ocidental do Império sucumbiu à onda de invasões germânicas, o lado oriental, cuja capital era Constantinopla, sobreviveu por mais mil anos com o nome de Império Bizantino.

Ao contrário do que se verificava na parte ocidental do Império, a partir do século III, o Império Romano do Oriente apresentava uma economia dinâmica, um poder fortemente centralizado nas mãos de um monarca – tido e cultuado como um deus – e um exército organizado. Graças a essas características, a sobrevivência de Constantinopla foi garantida quando ocorreram as invasões germânicas sobre o território imperial.

A cidade de Constantinopla, antiga colônia grega de Bizâncio, tornou-se capital do Império Romano, depois de remodelada por Constantino, em 330 a.C. Tendo uma privilegiada localização geográfica - rota de passagem entre Oriente e Ocidente -, desenvolvia intensos contatos comerciais com as regiões próximas, além de próspera atividade agrícola, garantindo-lhe solidez econômica.

Por outro lado, o poder do Estado estava centralizado nas mãos do Imperador, que comandava o exército e a Igreja, sendo considerado um representante de Deus na Terra (teocracia). Além do poderoso exército, o imperador contava com uma eficiente burocracia que fazia respeitar suas ordens, além de cobrar os tributos, em todas as regiões do Império.

O apogeu da civilização bizantina verificou-se durante o reinado de Justiniano

O GOVERNO DE JUSTINIANO (527 - 565)

Justiniano e sua corte
Justiniano e sua corte

Justiniano governou Bizâncio entre 527 e 565, período de apogeu da civilização bizantina. Em seu governo, Justiniano expandiu as fronteiras do Império, retomando, inclusive, diversos territórios conquistados pelos bárbaros no século anterior, como o norte da África, a Península Itálica e o sul da Península Ibérica. Procurava, assim, reconstituir os limites do antigo Império Romano, sonho que não chegou a concretizar.

Outra importante realização de Justiniano foi a compilação, sob sua iniciativa, do Direito romano, em uma obra conhecida como Código de Direito Civil (Corpus Juris Civilis) ou Código de Justiniano. A obra se achava dividida nas seguintes partes:

  • Código: conjunto de leis romanas desde o século II;
  • Digesto: comentários dos grandes juristas a essas leis;
  • Institutas: princípios fundamentais do Direito romano;
  • Novelas: novas leis do período de Justiniano.

A legislação romana compilada por Justiniano serviu, durante séculos, de base aos códigos civis. Nela se garantiam poderes absolutos ao imperador, proteção aos privilégios da Igreja e dos proprietários de terras, além da exclusão da vida política das massas populares. Essa situação, aliada ao excesso de tributação, gerou uma série de tensões sociais, que culminaram em rebeliões como a Revolta de Nika, em 532.

No âmbito cultural, Justiniano mandou ainda construir a Igreja de Santa Sofia, uma das maiores expressões da arte bizantina. Vale destacar também que Bizâncio se converteu, até por acolher artistas e intelectuais romanos que fugiram das invasões germânicas, em depositário da cultura clássica greco-romana. Enquanto na Europa Ocidental a grandiosa produção cultural clássica sucumbia aos invasores bárbaros, no Oriente, ela foi cuidadosamente preservada, servindo de inspiração posterior para os artistas e pensadores do Renascimento.

DISPUTAS RELIGIOSAS

Desde que Teodósio reconheceu o cristianismo como religião oficial do Império Romano, a parte oriental também se integrou à nova religião. Todavia, no Oriente, o cristianismo adquiriu características próprias, distanciando-se aos poucos do cristianismo predominante na Europa ocidental. Em breve, esse distanciamento provocou dissidências religiosas que ficaram conhecidas como heresias - movimentos que questionavam certos dogmas da Igreja Cristã - como os monofisistas e os iconoclastas.

“Muito mais sério, porém, para os destinos do Império Bizantino e suas relações com o Papado foi o movimento iconoclasta. Este representou a negação da validade dos ícones, imagens pintadas ou esculpidas de Cristo, da Virgem e dos santos. Na verdade, mais do que simples imagens, os ícones são ‘uma revelação da eternidade no tempo’, a comprovação da própria Encarnação, a lembrança de que Deus tinha-se revelado ao homem e por isso é possível representá-Lo de forma visível. Em 726, contudo, o imperador Leão III, motivado por razões religiosas e políticas, decretou que a adoração de imagens era idolatria e desencadeou por todo o império uma sistemática destruição dos ícones. Por um lado, isso expressava o pensamento de uma corrente que achava incompatível a essência espiritualizada do cristianismo conviver com a materialização de personagens sagradas em pedaços de pano ou madeira. Por outro, demonstrava um certo descontentamento imperial com o crescente prestígio e riqueza dos mosteiros, principais possuidores e fabricantes de ícones. Esse poder de atração que fazia jovens vestirem o hábito monástico tirava do Estado soldados, marinheiros, camponeses e pagadores de impostos. Assim, a sinceridade das intenções religiosas de Leão III era reforçada pelo interesse imperial em limitar um poder monástico perigosamente crescente.

Contudo, a espiritualidade popular, profundamente crente no valor religiosos dos ícones e na sua capacidade de realizar milagres, reagiu violentamente à determinação imperial. Quando a imagem de Cristo existente no portão do Palácio Imperial foi destruída, o funcionário encarregado da tarefa foi linchado pela população enfurecida. Mas a iconoclastia podia contar com o exército, em sua maior parte formado por elementos originários da Ásia Menor (como Leão III), onde o rigorismo e o puritanismo religioso eram maiores...”.
(FRANCO JR., Hilário e ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira. O Império Bizantino. São Paulo, Brasiliense, 1985; pp.27-28)

Há de se mencionar também as divergências existentes entre o Imperador e o Papa de Roma – uma ameaça constante aos desejos de poder absoluto do soberano de Bizâncio. Simultaneamente, a constante intervenção do poder temporal do imperador bizantino nos assuntos espirituais (Cesaropapismo), descontentava o pontífice. O aprofundamento dessas divergências provocou, em 1054, o rompimento da unidade cristã, episódio conhecido como Cisma do Oriente, do qual surgiram duas instituições: a Igreja Cristã Ortodoxa Grega, subordinada ao imperador bizantino, e a Igreja Católica Apostólica Romana, dirigida pelo Papa.

O FIM DO IMPÉRIO

Após a morte de Justiniano, o Império Bizantino entrou em franco declínio. Contribuíram para isso a perda de territórios – motivada pela expansão árabe iniciada nos séculos VII e VIII –, a rivalidade econômica das cidades italianas de Gênova e Veneza – que fizeram de Constantinopla um mero entreposto de comércio com o Oriente –, e, finalmente, o cerco de que foi vítima, promovido pelos turcos-otomanos que tinham em Constantinopla um ponto estratégico, por sua importância econômica e política.

Em 1453, os turcos-otomanos tomaram a cidade, depois de muita resistência da população, dificultando, assim, o acesso dos europeus às mercadorias orientais que por ali passavam. Com isso, os europeus foram obrigados a buscar um novo caminho de acesso ao Oriente, gerando o ciclo das Grandes Navegações, marco inaugural da Idade Moderna.

Sumário

- O Governo de Justiniano (527 - 565)
i. Disputas Religiosas
- O Fim do Império
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