Estratificação Global

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Estratificação Global

O fenômeno da estratificação existe em todo o mundo. Estratificação global significa estratificação social em escala global. A estratificação social chama atenção às desigualdades dentro de uma sociedade. Já a estratificação global aponta as desigualdades entre países.

Estratificação global significa a distribuição desigual de recursos, como riqueza, poder e prestígio, entre as nações do mundo. Há países extremamente pobres, há países extremamente ricos e há também países que não são nem pobres nem ricos.

Estratificação Global

Teorias de Estratificação Global

Várias teorias visam a explicar por que o mundo se tornou tão estratificado.

Teoria da Modernização

A Teoria da Modernização afirma que os países ricos se tornaram prósperos porque desde sua fundação, foram capazes de desenvolver as crenças, valores e práticas que estimulam o comércio, a industrialização e o rápido crescimento econômico. Tais traços culturais incluem estar disposto a trabalhar duro, adotar novas formas de fazer as coisas (mesmo que isso signifique abandonar certas tradições) e pensar e planejar para o futuro em vez de se concentrar apenas em manter o status quo. Os países pobres permaneceram pobres porque não foram capazes de desenvolver os valores e práticas típicas dos países ricos. Em vez disso, mantiveram suas ideias e valores tradicionais, mesmo que estes inibissem o desenvolvimento industrial e a modernização.

Essa é uma perspectiva funcional sobre estratificação global e pobreza.

Teoria da Dependência: Colonialismo, Neocolonialismo e Corporações Multinacionais

A Teoria da Modernização atribui a estratificação global aos valores culturas e às práticas “errôneas” dos países pobres. Já a Teoria da Dependência afirma que há estratificação global porque as nações ricas exploram as pobres. Tal teoria argumenta que os países ricos continuam a explorar os países pobres por meio do colonialismo, do neocolonialismo e de corporações multinacionais.

Já que a Teoria da Dependência afirma que os países pobres permanecem assim devido à falta de oportunidades – pelo fato de serem explorados pelos países ricos – tal teoria é considerada uma perspectiva de conflito sobre a estratificação. A teoria de conflito trata da criação e reprodução da desigualdade: ensina que a desigualdade sistemática é criada porque os países avançados exploram os recursos das nações periféricas.

O colonialismo se manifesta quando um país poderoso invade um outro país, geralmente mais fraco, para explorar seus recursos. A Teoria da Dependência afirma que o motivo pelo qual algumas nações são pobres é que foram colonizadas por nações europeias. Estas invadiam outros países, exploraram seus recursos e escravizaram seus habitantes. Na melhor das hipóteses, utilizaram a população local como fonte de mão de obra barata. Além disso, os países colonizadores governavam as colônias. Para que garantir que os habitantes de suas colônias permanecessem submissos, os colonizadores não permitiam que a população local obtivesse uma educação de qualidade. Consequentemente, os povos colonizados tiveram poucas oportunidades para produzir empresários, comerciantes e economistas, que pudessem liderar seu país e desenvolver sua economia. Ademais, os países colonizadores vendiam seus produtos manufaturados nas colônias, causando com que estas se envidassem. A enorme dívida incorrida pelas colônias as prejudicou economicamente ao longo dos séculos.

Os primeiros países a se industrializarem, como a Grã-Bretanha, conquistaram e colonizaram vários países. Em certa época, o Império Britânico compreendia, entre outros países, a Índia, a Austrália e a África do Sul. Ao longo do século XIX, as potências da Europa Ocidental, como Holanda, Inglaterra, França, Espanha e Bélgica, conquistaram a maioria do Hemisfério Sul e utilizaram os recursos de tais países para fomentar o processo de industrialização que estava ocorrendo na Europa. Ao mesmo tempo, não desenvolveram suas colônias: estas permaneciam subdesenvolvidas. Tal sistema colonial foi gradativamente desmantelado após a Segunda Guerra Mundial, pois os grandes países colonizadores foram econômica e militarmente devastados pela guerra. Consequentemente, não mais possuíam o poder e os recursos para controlar outros países.

Neocolonalismo é o termo utilizado para descrever a tendência que muitos países industrializados têm de explorar países menos desenvolvidos – política e economicamente – sem ter de colonizá-los. Os países ricos vendem seus produtos para os países pobres. Estes, consequentemente, acumulam dívidas enormes, que levam muito anos para pagar. Esse processo causa com que as nações desenvolvidas acumulem ainda mais poder, político e econômico, em relação aos países que os devem dinheiro.

Corporações multinacionais são corporações enormes que comercializam em diversos países. De acordo com a Teoria da Dependência, as corporações multinacionais são parcialmente responsáveis pelo mantimento da estratificação global. Tais corporações exploram países pobres e fracos ao varrer o mundo em busca de mão de obra e matéria-prima baratas. Em muitos casos, tais corporações pagam baixíssimos salários – algo que não seria possível de fazer em seu país de origem. Apesar de fornecerem empregos – o que contribui para a economia de países pobres – os países mais beneficiados pelas corporações multinacionais são aqueles em que elas estão sediadas.

A Teoria da Dependência exerce papel relevante na elaboração de estratégias para reduzir a pobreza global. Tal teoria argumenta que as nações ricas e as corporações multinacionais devem deixar de explorar os recursos das nações pobres.

Tipologias ou sistemas de classificação

Para compreender a estratificação global, deve-se classificar as nações em diferentes categorias, baseadas em critérios como grau de riqueza ou pobreza, nível de industrialização, desenvolvimento econômico, etc. A terminologia utilizada para denominar países desenvolvidos e subdesenvolvidos tende a variar bastante. Ao longo das últimas décadas, acadêmicos e organizações internacionais, como as Nações Unidas, o Banco Mundial e o Fundo Monetário Internacional (FMI), utilizaram diversos sistemas de classificação, isto é, tipologias. Em cada uma das categorias, os países se diferenciam em vários aspectos, mas é possível compará-los por meio dos três componentes básicos do sistema de estratificação: riqueza (definida por propriedade e dinheiro), poder e prestígio.

Uma das primeiras tipologias, que passou a ser utilizada após a Segunda Guerra Mundial, classificava toda nação em um de três grupos: Primeiro Mundo, Segundo Mundo ou Terceiro Mundo. O Primeiro Mundo compreendia as democracias capitalistas do Ocidente: países como os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Inglaterra e a França. O Segundo Mundo compreendia os países de regime econômico socialista. Já o Terceiro Mundo englobava o restante dos países: os da América Latina, do Sudeste Asiático e da África. Com o fim da União Soviética e a consequente queda do socialismo mundial, essa tipologia deixou de ser utilizada.

Uma nova tipologia foi então adotada, que classificava os países como desenvolvidos, em desenvolvimento ou subdesenvolvidos. Essa tipologia foi inicialmente bem aceita, mas seus críticos argumentavam que os termos “desenvolvido” e “subdesenvolvido” davam a impressão de que certos países eram superiores a outros. Essa classificação ainda é utilizada, mas está caindo em desuso.

Outra tipologia, mais bem aceita, classifica os países em grupos denominados países industrializados, países em processo de industrialização e países menos industrializados. Os países são também classificados em grupos denominados países de alta renda, de renda média e de baixa renda. Essa classificação se baseia em medidas como o Produto Interno Bruto (PIB) per capita. O PIB, que é uma das formas utilizadas para medir a riqueza de um país, é a soma do valor monetário de tudo que um país produz durante o ano. O PIB per capita é o valor do PIB dividido pelo número de habitantes de um país. Em certo aspecto, essa tipologia é superior às demais, pois enfatiza o fator mais importante quanto à estratificação global: quanta riqueza possui uma nação.

Os países que podem ser considerados ricos são os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, a Cingapura, a Austrália, a Nova Zelândia, a Grã-Bretanha, a França e as outras nações industrializadas da Europa Ocidental. Todos esses países são capitalistas. Vários deles foram as primeiras nações a se industrializarem no século XIX, quando iniciou-se a Revolução Industrial. Essas nações são as líderes em termos de indústria, finanças e tecnologia. Tais países também exercem muita influência sobre outros países em assuntos políticos, econômicos e culturais. Os cidadãos dos países ricos costumam viver mais e melhor e recebem uma educação melhor do que os habitantes de países pobres. Contudo, os países ricos são os que mais poluem e que mais consomem os recursos naturais mundiais.

Países de renda média incluem a maioria dos países da América do Sul e da Europa Oriental e alguns países localizados na África e Ásia. Tais países são, em geral, menos industrializados que os países de alta renda, mas mais do que os de baixa renda.

Os países de baixa renda constituem a maioria dos países da África e alguns da Ásia. A economia desses países é primariamente agrícola. Muitas dessas nações são extremamente pobres. A maioria da população não é dona das terras onde trabalha. Há falta de água potável, encanamento e esgotos, eletricidade e atendimento médico. A expectativa de vida é baixa comparada a dos habitantes de países ricos. Em alguns países, a taxa de incidência de doenças é bastante alta. Muitos habitantes contraíram o vírus da AIDS ou de outras doenças incuráveis.

As tipologias baseadas em PIB per capita ou em medidas econômicas similares são muito úteis, mas são também limitadas, pois tanto o PIB como o PIB per capita medem a capacidade produtiva de um país, mas não medem o bem estar da população ou a concentração de renda nacional. Dois países – digamos, País A e País B – podem ter o mesmo PIB, mas oferecer níveis bastante diferentes de qualidade de vida. Por exemplo, a mortalidade infantil do País A pode ser muito menor que a do País B. Por outro lado, a expectativa de vida dos habitantes do País B pode ser maior que a dos habitantes do País A. É necessário, portanto, utilizar outros índices para se medir de forma mais abrangente a situação econômica de uma nação.

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é uma forma mais abrangente do que o PIB para se medir o grau de riqueza de um país. O índice IDH, criado pelas Nações Unidas, classifica os países em termos socioeconômicos. O índice mede não apenas o tamanho da economia de um país, mas também a qualidade de vida de sua população: a expectativa de vida, a renda per capita, a taxa de escolarização, etc. O Brasil é classificado como uma das maiores economias do mundo, mas a desigualdade social do país é enorme. Isso se reflete no baixo IDH do Brasil.

A escala do IDH varia de 0 a 1. Quanto mais próximo do 1 for o IDH de um país, melhor é a qualidade de vida de sua população.

A desigualdade global

Como estudamos acima, entre as nações do mundo e mesmo dentro de cada país, há desigualdade na distribuição de recursos, como dinheiro, poder e prestígio. A desigualdade global é medida pela enorme lacuna econômica que existe entre as nações mais ricas e as mais pobres do mundo. Os países mais ricos do mundo, que representam 20% de todas as nações, detêm quase 75% da renda mundial. A desigualdade global também é medida ao se comparar o grau de desigualdade econômica que existe dentro de cada nação.

Desigualdade econômica significa o grau de diferença econômica entre ricos e pobres. Já que a maioria das sociedades é estratificada em termos de riqueza e renda, sempre haverá ricos e pobres. Quando a diferença entre ricos e pobres é grande, há muita desigualdade econômica. Quando a diferença é pequena, significa que há pouca desigualdade econômica.

Nos países industrializados, a distribuição de renda social é menos desigual do que em nações subdesenvolvidas. A desigualdade costuma ser muito maior em países agrícolas e de baixa renda, onde os salários são muito baixos e as camadas mais pobres da população não conseguem acumular bens ou propriedades. Em geral, quanto mais rica uma nação é, menor é seu nível de pobreza. Contudo, dois países podem ter o mesmo PIB, mas em um deles, a riqueza está concentrada nas mãos de poucas pessoas e o grau de desigualdade econômica é, portanto, maior.

A medida mais utilizada, inclusive pelo Banco Mundial, para medir desigualdade econômica é o coeficiente de Gini. Este varia de 0 a 1. Quanto mais alto é o coeficiente, maior é a desigualdade. Em 1990, o coeficiente de Gini brasileiro foi de 0,609. Desde então, houve uma queda progressiva: em 2011, chegou a ser 0,501.

Apesar do nível de desigualdade ser muito alto no Brasil, o país conseguiu reduzi-lo significativamente na última década. Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano de 2001, o Brasil era um dos países cuja concentração de renda era extremamente desfavorável, ficando à frente apenas da África do Sul, da Suazilândia e da Nicarágua.

É importante ressaltar que apesar da melhoria nas condições gerais de vida da população brasileira, ainda há no Brasil graves desigualdades sociais e econômicas.

A pobreza no mundo

Além de classificar as nações de acordo com seu ranking na tipologia de estratificação, acadêmicos e organizações internacionais também medem o grau de pobreza em cada nação. Vários países ao redor do mundo se encontram há muito tempo em uma situação econômica extremamente difícil.

Milhões de pessoas morrem todo ano devido à falta de alimentos, água potável e serviços básicos de higiene ou porque não têm acesso a remédios que se encontram em praticamente qualquer farmácia brasileira.

Há no mundo aproximadamente 1,4 bilhão de pessoas que vivem na mais extrema pobreza. Contraem doenças como a AIDS e morrem em epidemias. Muitos morrem de malária ou de inanição. A taxa de mortalidade infantil nesses países paupérrimos é alta, a expectativa de vida é baixa e a maioria da população é analfabeta.

É difícil medir o nível de pobreza das nações do mundo, pois independentemente de como for estabelecida a “linha de pobreza”, esta é, inevitavelmente, arbitrária. Um indivíduo ou uma família cuja renda esteja um pouco acima da linha de pobreza ainda é muito pobre, mesmo que, oficialmente, não seja considerada como tal.

É fundamental levar em conta o fato de que o custo de vida varia muito de país a país. Em alguns países, como nos Estados Unidos, 10 dólares não são considerados muito dinheiro, mas em países extremamente pobres, é uma quantia considerável.

O Banco Mundial determinou que a linha de pobreza global – considerada uma medida de extrema pobreza – se aplica a rendas de menos de $1.25 (dólar norte-americano) por pessoa por dia ou $5 para uma família de quatro pessoas. De acordo com essa medida, 1.4 bilhão, ou seja, um quinto da população mundial, é extremamente pobre. Quarenta por cento da população mundial – aproximadamente dois bilhões de pessoas – vivem com menos de $2 por dia.

A pobreza costuma ser medida de forma monetária. Contudo, alguns analistas enfatizam que a pobreza não se resume somente à falta de dinheiro. Há outras formas de pobreza, como a desnutrição e o analfabetismo. Tais analistas preferem usar outras medidas como indicadores de pobreza, como o consumo de calorias e o grau de desnutrição. Apesar de tais medidas serem utilizadas, as mais comuns ainda são as monetárias.

As pessoas que moram nos países mais pobres do mundo lutam diariamente pela sua sobrevivência. Alguns países são tão pobres que qualquer desastre ou guerra pode gerar epidemias ou fome em massa. O estado de insegurança para tais pessoas é constante.

A maioria dos países mais pobres se localiza na África. Alguns países africanos, como a África do Sul e o Egito, são menos pobres que outros países africanos, como a Nigéria e a Etiópia.

Contudo, é importante ressaltar que a maioria dos países pobres se localiza na África, mas a maioria da população pobre do mundo vive na Ásia, especialmente no sul do continente. Na Ásia, há países muito ricos, como o Japão e a Coreia do Sul, mas há também países muito menos ricos, como a Índia e a Camboja.

A pobreza em países da América Latina, como no México, foi reduzida nos últimos anos, graças ao aumento em investimentos em educação. Todavia, alguns países latino-americanos, como o Paraguai e o Equador, continuam a lutar contra a pobreza. Há muito investimento estrangeiro na América Latina, mas a maioria é especulativo e de alto risco, e não, a longo prazo, que traria grandes benefícios a esses países. A América Latina enfrenta muitos desafios: tráfico de drogas, corrupção e turbulência política. Estima-se que 10% da população da América Latina seja extremamente pobre. Na Europa Oriental, essa porcentagem não ultrapassa os 4%.

Sumário

- Teorias de Estratificação Global
i. Teoria da Modernização
ii. Teoria da Dependência
- Tipologias ou sistemas de classificação
- A desigualdade global
- A pobreza no mundo

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