Lira dos Vinte Anos - Álvares de Azevedo
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Lira dos Vinte Anos - Álvares de Azevedo
Contexto histórico
(1º metade do século XIX).
- 1822 - Proclamação da Independência
- 1836 - Publicação do livro de poemas Suspiros Poéticos e Saudades (Gonçalves de Magalhães) -Início do Romantismo no Brasil.
- Características da Literatura romântica:
1ª fase
Nacionalismo; exaltação da natureza (refúgio, “mãe”, prolongamento do “eu”); medievalismo (retorno ao passado histórico) ou indianismo (Brasil); religiosidade;
2ª fase
Sentimentalismo, subjetivismo, pessoalismo (egocentrismo); conflito com o mundo exterior; frustração, tédio (“mal do século”); escapismo.
3ª fase
A partir da década de 60: literatura de caráter mais social, Condoreirismo e Pré-Realismo.
Álvares de Azevedo situa-se entre os escritores ultrarromânticos (2ª geração), marcados pela desilusão com o nacionalismo utópico, depressivos, entediados e melancólicos, na melhor linha de influência de Byron e Musset. George Gordon ou Lord Byron, nascido em 1788, espantou a sociedade inglesa com sua vida agitada, seus escândalos amorosos, sua liberdade sem limites e uma obra grandiloquente, passional, satânica e pessimista, além de única; Alfred de Musset imitou-o na ruptura com as regras sociais e na vida guiada pelas emoções; sua obra está impregnada do “mal do século”, devassidão e sentimento do pecado.
Vida
- Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo (1831) e morreu no Rio de Janeiro (1852).
- Filho de Juiz, foi aluno brilhante, leitor precoce e poliglota. Formou-se em Humanidades no Colégio Pedro II (Rio) e, em 1848, iniciou o curso de Direito em São Paulo.
- Participou da Sociedade Epicureia (agremiação de estudantes que procurava reproduzir a “existência boêmia de Byron”), mas há muitas dúvidas a respeito de sua participação nas orgias, bebedeiras, desregramentos sexuais e cerimônias macabras da mesma.
- Três mortes marcaram-no profundamente: a do irmão, na infância; a de dois amigos e contemporâneos, na Faculdade de Direito.
- Sentia -se triste em São Paulo (provincianismo), onde morou com Aureliano Lessa e Bernardo Guimarães. Estudioso e introvertido, produziu vertiginosamente dos 16 aos 20 anos.
- Em férias no Rio, sofreu violenta queda do cavalo. Foi operado um mês depois, de um tumor na fossa ilíaca. A cirurgia agravou sua tuberculose, falecendo antes de completar 21 anos de idade.
Obras
- Poesia: Lira dos Vinte Anos (1853); Pedro Ivo (1855); Poema do Frade (narrativo e longo, 1862); O Conde Lopo (idem, 1886).
- Teatro:
- Macário (drama, 1855).
- Contos:
- Noite na Taverna (1855)
- Outros: estudos literários, cartas e discursos acadêmicos.
Lira dos Vinte Anos (1853)
- Sua obra é de publicação póstuma. Deixou um caderno que serviu como base para a primeira edição, em que organizava seus poemas em duas partes bastante diferentes, com dois prefácios “conflitantes”. Seus parentes e biógrafos foram acrescentando textos e suas publicações mais recentes apresentam a seguinte estrutura:
- um “Prefácio” geral;
- uma “Dedicatória” à mãe;
- uma “Primeira Parte” com 33 poemas (até “Lembrança de morrer”);
- um “Prefácio” à segunda parte;
- uma “Segunda Parte” com 19 poemas ( até “Minha Desgraça”);
- uma “Terceira Parte” com poemas que retomam a primeira parte (de “Meu Desejo” a ‘Página Rota”) em seus temas, forma e vocabulário.
A diferenciação entre as duas primeiras partes deve-se, segundo a crítica abalizada, ou a uma dicotomia na personalidade do autor ou a um certo “amadurecimento” na sua forma de encarar o mundo, apesar da morte precoce.
O próprio Álvares de Azevedo adverte o leitor desavisado, no seu prefácio à segunda parte: Cuidado, leitor, ao voltar a página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. Vamos entrar num mundo novo, terra fantástica, verdadeira ilha Barataria de D. Quixote, onde Sancho é rei;(...) a pátria dos sonhos de Cervantes e Shakespeare.
Quase que depois de Ariel esbarramos em Caliban (Personagens de A Tempestade, de Shakespeare).
A razão é simples. É que a unidade deste livro funda-se numa binômia. Duas almas que moram nas cavernas de um cérebro pouco mais ou menos de poeta escreveram este livro, verdadeira medalha de duas faces.”
Características da 1ª parte:
- saudade, timidez, solidão, devaneio, medo de amar, desejo por virgens inatingíveis, sentimento de culpa frente aos desejos carnais, fascínio pela morte. Entremeiam essa poesia seres imaginários, etéreos (Ariel), ideias abstratas, sonhos inatingíveis na noite diáfana.
Características da 2ª parte:
- (antítese da primeira) sarcasmo; ironia; poetização do mundo concreto (charutos, cavalos, dinheiro); o poeta “cai do céu e acorda na terra”; poesia prosaica; mulher de classe social mais baixa e erotizada (“lavadeira na janela”, a criada “que troca um beijo por um soneto”); uso da metalinguagem e da intertextualidade ( dialoga ironicamente com grandes autores do passado); predominância de Caliban (monstro deformado, cruel, com baixos instintos, grotesco e patético).
- Enquanto "seu lado Caliban" situa-se na linha orgíaca e satânica, a ironia levada às últimas consequências abre ao poeta um caminho novo: o antirromântico, trazendo dentro de si o germe da própria superação do Romantismo (contra a pieguice amorosa e a idealização do amor e da mulher).
Principais Temas
Mulher:
- de um lado, a idealização da figura feminina, marcada pela palidez do rosto e sensualidade quase inocente; a “donzela” é sempre virgem, pura, frágil, idolatrada, que deixa enturvar uma ligação edipiana com a mãe e a irmã. É uma visão que aparece preferencialmente adormecida, não constituindo em perigo real para o adolescente tímido, ou não respondendo aos apelos do poeta. De outro lado, a prostituta que o induz ao pecado e ao consequente sentimento de culpa, ou a mulher irritada que lhe “bate com a janela nas ventas” ou a lavadeira que ronca, dorme com o ferro de engomar nas mãos e veste-se de chita.
Amor:
- Também aqui aparece a visão dualista do amor erótico e do amor platonizado. Normalmente, resume-se a um desejo acalentado longamente, porém não vivenciado, fonte de angústia e frustração constantes. Às vezes, afirma sua virgindade (“Oh! ter vinte anos sem gozar de leve / A ventura de uma alma de donzela”), outras que deseja “fazer o poema dos amores da vida real”.
Morte:
- A ideia da morte que se aproxima e é inevitável desperta sentimentos contraditórios no Poeta. Morrer sem amar, por vezes parece mais doloroso por impedi-lo de usufruir de um prazer que lhe é negado ou por antecipar a separação dos entes queridos (a mãe, o pai, a irmã, os amigos). Às vezes, aparece como um lenitivo para o sofrimento (“Eu deixo a vida como deixa o tédio do deserto o poento caminheiro”), outras a oportunidade de sublimação do amor (“Filha do céu, eu vou amar contigo!”), depois da morte.
Principais “formas”:
- tercetos (“Terza Rima”); quadras sextilhas; estrofes livres e sonetos.
- diversos redondilhos, hexassílabos, decassílabos, ao lado de versificação livre.
- versos com rima; versos brancos.
- profusão de figuras de linguagem: apóstrofes; símiles; metáforas; personificações; antíteses; ironias.
- uso de metalinguagem; intertextualidade; alusão.
- emprego constante de epígrafes e citações.
- Recorrência de vocabulário e expressões típicas da poética romântica (“palor”, “pálida”, “trêmula”; “lua macilenta”; “amigos do vinho”; “alma tenebrosa”; “charuto”; “langor”; “saudade”; “triste mocidade”; “meu peito” etc.).