Contos - Machado de Assis

Contos - Machado de Assis

Contexto histórico (2ª metade do século XIX)

  • Segunda Revolução Industrial - modificações nas estruturas sociais.
  • Desenvolvimento técnico e científico (em detrimento da religião, fé).
  • Burguesia e proletariado.
  • Correntes filosóficas: materialismo; evolucionismo; positivismo; determinismo; marxismo; pessimismo... (satirizadas por Machado).
  • No Brasil: campanhas abolicionista e republicana; guerra do Paraguai; sociedade em transformação para nação.

Vida e obra

  • Joaquim Maria Machado de Assis: 1839 - Rio (morro do Livramento).
  • Faleceu em 1908, também no Rio de Janeiro.
  • Menino pobre, mulato, órfão, criado pela madrasta.
  • Não frequentou regularmente escolas e trabalhou desde pequeno.
  • Complicações de saúde (gagueira, epilepsia). Tímido, reservado.
  • Autodidata, aprendeu francês e latim com um padre. Depois aprendeu espanhol, inglês, italiano e alemão (por conta própria).
  • Foi tipógrafo; revisor gráfico, redator e diretor de revistas e jornais; funcionário público.
  • 1855: publica "Ela".
  • 1869: casa-se com Carolina Xavier de Novais e torna-se, aos poucos, famoso.
  • 1896: com outros escritores, funda a ABL (1º presidente - e perpétuo).
  • 1904: morte de Carolina - tristeza e solidão.
  • 1908: falecimento.

Obras

1.Romances

  • fase romântica ou imatura: Ressurreição (1872), A Mão e a Luva (1875), Helena (1876), Iaia Garcia (1878);
  • fase realista ou madura: Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Quincas Borba (1891); Dom Casmurro (1899); Esaú e Jacó (1904); e Memorial de Aires (1908).

2.Contos

  • 1ª fase: Contos Fluminenses (1870); Histórias da Meia-noite (1873);
  • 2ª fase: Papéis Avulsos (1882) Histórias sem data (1884); Várias histórias (1896); Páginas Recolhidas (1899); Relíquias da Casa Velha (1906).

3.Poesia

  • Crisalidas (1864); Falenas (1870); Americanas (1875) e Ocidentais (1901).

Escreveu ainda peças teatrais, crônicas, ensaios, crítica literária.

É considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos.

Enredo dos Contos

"D. Benedita" (Papéis Avulsos - 1889) - "Um retrato"

Trata-se do "retrato psicológico" de uma mulher volúvel, de vontade frouxa e inconstante, em contraposição à vontade férrea da filha Eulália. Fatos importantes, narrados em 3ª pessoa onisciente:

  • aniversário de D. Benedita (42 anos), mulher conservada e separada do marido; possui um filho pré-adolescente e uma filha por casar;
  • brinde do Leandrinho (pretendente de Eulália) e reação de D. Benedita;
  • no dia seguinte pensa em escrever ao marido, mas não o faz; adia várias vezes, afinal escreve solicitando permissão para o casamento da filha;
  • começa a ler vários livros, enquanto enfrenta uma resistência pacífica por parte da filha (seu interesse é por um oficial da marinha, Mascarenhas) e esfriam suas relações com D. Maria dos Anjos e o filho Leandrinho;
  • jogo ardiloso de Eulália, apresentação de Mascarenhas à mãe, que se afeiçoa ao moço e permite o enlace;
  • nasce o neto, morre o marido (Desembargador) e aparecem duas propostas de casamento para D. Benedita, que fica indecisa e não se casa;
  • uma noite, estando à janela, D. Benedita tem a visão da fada que presidira ao seu nascimento: a Veleidade (= vontade hesitante).

"O Segredo do Bonzo" (Papéis Avulsos - 1889) - "Capítulo inédito de Fernão Mendes Pinto"

Trata-se de um conto alegórico, trabalhado com foco narrativo em 1ª pessoa (Fernão Mendes Pinto, autor de Peregrinação do século XVI), ironizando a ingenuidade, a credulidade do povo, vítima de vigaristas (religiosos, políticos, golpistas em geral). Pomada = charlatão;

  • os viajantes e amigos de Fernão Mendes Pinto (cronista) e Diogo Meireles (médico charlatão) chegam ao reino de Bingo (China), cidade de Fuchéu, onde conhecem Patimau e Languru, discípulos do monge budista Pomada (108 anos e criador da doutrina "pomadista": "o mais importante é a opinião sobre a realidade");
  • um nativo amigo (Titané, fabricante de sandálias) apresenta-os ao monge, que lhes ensina sua filosofia e os incita a praticá-la "em nome da ciência e da glória da pátria...")
  • os três decidem testar a eficácia da teoria, tirando proveito da situação (as alparcas de Titané, a charamela de Fernão Mendes Pinto e os narizes metafísicos de Diogo Meireles).

"A Sereníssima República" (Papéis Avulsos - 1889). "Conferência do Cônego Vargas"

Como o anterior, trata-se de um conto alegórico, tanto pelo aspecto paródico da linguagem "científica" como também pela ironia contra as formas eleitorais passíveis de corrupção, em que se altera o acessório, sem se cogitar o essencial:

  • Cônego Vargas domina a linguagem das aranhas, é respeitado por elas como um deus e resolve organizá-las socialmente, escolhendo para isso a forma republicana de governo;
  • adota a república à maneira de Veneza, com eleições através do saco de bolas (bolas com nomes de candidatos aos cargos públicos);
  • dez damas da sociedade - as mães da república - foram incumbidas do alto privilégio de tecer o saco;
  • ao fim da primeira eleição constatou-se uma fraude - duas bolas com o nome do mesmo candidato; diminui-se o saco;
  • na eleição seguinte, nova fraude: omitiu-se o nome de um candidato;
  • morre o primeiro magistrado e surgem dois candidatos: Hazeroth e Magog (pelo partido retilíneo e curvilíneo), mas nenhum foi eleito, por problemas ortográficos;
  • nova eleição foi cancelada por conchavo (saco transparente);
  • assim como a seguinte, por sutilezas linguísticas (Nebraska x Caneca) e metafísicas;
  • novas alterações no saco, novas variantes de fraude eleitoral;
  • o sábio Erasmus exorta as damas encarregadas de tecer o saco eleitoral, por meio da fábula de Penélope, e recomenda-lhes paciência. Pelo menos até que retorne Ulisses - a sabedoria.