As Meninas - Lygia Fagundes Telles
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As Meninas - Lygia Fagundes Telles
Lygia Fagundes Telles
1. Contexto histórico
28 de agosto 1961 - renúncia do presidente Jânio da Silva Quadros.
02 de setembro 1961 - o Congresso altera a Constituição e institui o regime parlamentarista no Brasil.
07 de setembro - posse de João Goulart sob intensa crise política-econômica-social.
07/01/1963 - plebiscito popular decreta volta do Presidencialismo.
13/03/1964 - em comício público, Jango assina a privatização das refinarias de petróleo e o projeto de reforma agrária.
19 de março - "Marcha da Família com Deus pela Liberdade" em São Paulo.
30 de março - discurso inflamado de Jango na Associação dos Suboficiais e Sargentos da PM do Rio de Janeiro precipita os acontecimentos.
31 de março - Minas Gerais deflagra a rebelião para depor o Presidente. Adesões.
1º de abril - Jango foge para Porto Alegre. Pascoal Raniere Mazzilli é o novo presidente.
4 de abril - recusando a luta de resistência sugerida pelo governador Leonel Brizola, o ex-presidente pede asilo político ao Uruguai.
9 de abril - assinatura do Ato Institucional nº 1.
15 de abril - posse do general Humberto de Alencar Castello Branco, eleito pelo Congresso Nacional a 11 de abril.
Outubro de 1965 - promulgação do AI - 2 (extinção de partidos; eleições indiretas, etc).
1965 - promulgação do AI - 3: extensão das normas eleitorais aos Estados.
1966 (03/10) - Costa e Silva é eleito Presidente da República pelo Congresso Nacional.
1967 (24/01) - promulgada a Constituição de 67 pelo Congresso Nacional.
13/12/1968 - promulgação do AI - 5, decretada por Costa e Silva (cassação de mandatos, suspensão de direitos políticos, revogação da Constituição, decretação do recesso do Congresso).
2. Vida e obra
Lygia Fagundes Telles
nasceu em São Paulo, a 19/04/1924.
Ainda criança, vive em várias cidades do interior paulista (pai: delegado e promotor público).
Curso ginasial no I.E. Caetano de Campos (aluna do prof. Silveira Bueno).
Curso secundário: começa a escrever suas primeiras histórias.
Cursos superiores: Educação Física e Direito.
Foi casada com Goffredo Telles Júnior e com o crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes.
1944: publica Praia Viva, seu primeiro livro de contos.
1949: O Cacto Vermelho (prêmio Afonso Arinos).
1954: Ciranda de Pedra (primeiro romance)
1958: Histórias do Desencontro (prêmio do Instituto Nacional do Livro).
1963: Verão no Aquário (romance).
1964: Histórias Escolhidas e a novela Gaby.
1965: O Jardim Selvagem (prêmio Jabuti).
1970: Antes do Baile Verde (contos) - prêmio internacional em Cannes.
1971: Seleta (org. Nelly Novaes Coelho).
1972: prêmio Guimarães Rosa, pelo conjunto de sua obra.
1973: As Meninas: vários prêmios (Coelho Neto, Jabuti, da Associação Paulista de Críticos de Arte).
1977: Seminário dos Ratos (contos).
1980: A disciplina do amor (fragmentos).
1981: Mistérios (contos)
1989: As horas nuas (romance)
1991: A estrutura da bolha de sabão (contos)
1992: As Cerejas (escrito por Lygia, Duilio Gomes e Fanny Abramovich)
1996: A noite escura e mais eu.
Os melhores contos de Lygia Fagundes Telles é uma seleção de Eduardo Portella publicada pela Global, em 1984. Em 1987, foi lançado o livro de contos Venha ver o pôr-do-sol, pela Ed. Ática. Em 1993, a Siciliano publicou o livro Capitu, adaptação livre do romance D. Casmurro, em parceria com Paulo Emílio.
1996: Confissões de Leontina e fragmentos, A.
1996: Oito contos de amor.
1997: Venha ver o pôr-do-sol e outros contos
1998: Seminário dos ratos.
1998: Histórias de amor da coleção "para gostar de ler".
1999: Pomba enamorada ou uma história de amor e outros contos escolhidos.
2000: Invenção e memória
Enredo
O livro narra a história de três universitárias de condição social e origens diversificadas, que se conhecem em um pensionato de freiras na cidade de São Paulo, tornam-se muito amigas, apesar das diferenças de valores e personalidades, convivem durante algum tempo, compartilham seus dramas e sonhos, ajudam-se nos momentos difíceis e terminam por separar-se definitivamente.
O encanto e a dificuldade aparente da leitura repousam no foco narrativo cambiante: Lorena Vaz Leme, Ana Clara Conceição e Lia de Melo Schultz contam a própria história através do fluxo de consciência, misturando suas falas, ações, lembranças e críticas recíprocas. Depois dessa surpresa inicial, o leitor acaba por identificar o estilo de cada personagem e sente-se desafiado a desvendar o universo interior das três "meninas"- uma paulista quatrocentona, uma baiana "terrorista" e uma modelo de moral "duvidosa" e viciada em drogas.
Os capítulos não têm nome, mas números:
"Um"
Lorena Vaz Leme divaga em seu quarto dourado e rosa - com cozinha, geladeira, banheira, etc. - no pensionato Nossa Senhora de Fátima: pensa na amiga Lia de Melo Schultz, que tem pretensões a escritora e é militante política; no gato Astronauta, que cresceu e abandonou-a; em Che Guevara, que foi líder de toda uma geração; em M.N., homem misterioso que lhe desperta desejos eróticos, em Jesus Cristo, a quem dedica a música de Jimi Hendrix; e na morte desse roqueiro e de Rômulo, seu irmãozinho querido.
Lia aparece para pedir-lhe o carro de "mãezinha" emprestado, e enquanto tomam o chá especial de Lorena, conversam e divagam sobre tolices e sobres coisas sérias, concomitantemente a greve na faculdade; a prisão de Miguel, namorado de Lia e militante político também; na alienação da burguesia acomodada; na repressão militar, nos amigos que estão presos e sendo torturados.
Lorena lembra a morte traumática de Rômulo e sua agonia nos braços da mãe, vitimado por um tiro acidental dado pelo outro irmão, Remo. Da fuga deste para o exterior através da Diplomacia, dos frequentes presentes que ele envia a ela (sinos, lenços, roupas, comida...).
Mistura a esses pensamentos a figura do médico Marcus Nemésios (o M.N.), casado e bem mais velho, de quem ela sonha receber amor, carinho e proteção (Aliás, passa o livro todo aguardando um telefonema dele, que nunca se concretiza); evoca ainda a figura de Ana Clara, suas origens "suspeitas", no excesso de tranquilizantes que consome; pensa na própria adolescência, ao piano, no gostoso convívio familiar, nos banhos de banheira, na decisão de morar no pensionato, no aluguel e decoração do quarto por Mieux, o atual namorado da mãe.
Lia fala sobre o livro que escrevera e acabara por rasgar. Criticam Ana Clara e o namorado Max, traficante que a viciou em drogas, e o provável e desconhecido noivo rico com quem ela pretende se casar para "sair do buraco", após plástica restauradora da virgindade, "bancada" por Lorena.
Lia pede várias vezes o carro emprestado, e um pouco de "oriehnid" (dinheiro "ao contrário", para dar sorte) para o "aparelho"(= grupo de resistência à ditadura militar).
Apesar de temer envolvimentos com o grupo e suas consequências, Lorena é incapaz de dizer "não" aos pedidos da (s) amiga (s).
"Dois"
Ana Clara e Max drogam-se na cama e deliram. Ela sente-se travada, bloqueada, apesar das sessões de terapia - ela odeia o analista. Acha-se bonita (modelo, 1,77 m) e carente - a mãe, prostituta, nunca lhe deu atenção. Lembra-se do Dr. Algodãozinho, que deixava seus dentes apodrecerem para abusar sexualmente dela e da mãe, em sua cadeira de dentista. Pensa no quanto ama Max, mas que em janeiro casa-se com o noivo rico e resolve seus problemas. Sente ódio de Deus - e de negros. Resgata a infância carente, repleta de ruídos (ratos, baratas) e cheiros, nos prédios em construção, onde vivia com a mãe e os sucessivos amantes. Também evoca detalhes da vida das amigas Lia e Lorena.
Max também delira. Reza. Teve educação esmerada (fala francês, é fino) mas empobreceu e tornou-se traficante. Tem uma irmã que sumiu com as joias da família e encontra-se internada em sanatório.
Ana e Max se amam, mas seu relacionamento é difícil e complicado.
"Três"
Lorena reflete sobre a violência do mundo; assaltos a bancos; a morte de Rômulo; a profissão de Remo propiciando sua "fuga" para o exterior. Gostaria de poder alienar-se da "máquina desse mundo" violento (intertextualidade com o texto "A Máquina do mundo", de Carlos Drummond de Andrade), como uma ostra dentro de sua concha dourada (= seu quarto - refúgio). Rememora a chegada de Lia e A. Clara e a "invasão" das duas à sua privacidade, a amizade das três, apesar das personalidades opostas. Miúda e magra, mostra certa inveja da beleza de Ana Clara, apesar da diferença cultural...
Através da visão de Lorena, conhecemos um pouco mais sobre as duas amigas: Lia de Melo Schultz tem um "pé" baiano, da mãe Diú (D. Dionísia) e outro berlinense, do pai seu Pô (Herr Paul, ex-oficial nazista). Herdou do pai o vigor germânico; da mãe, as "proporções gloriosas e a cabeleira de sol negro" e o açúcar da voz. É uma "mulher-hino", enquanto Lorena vê-se como uma civilizada, requintada "balada medieval" (ou "Magnólia desmaiada", para os colegas da Faculdade de Direito).
Ana Clara "arrombou" a privacidade de Lorena, obrigando-a a verdadeiros exercícios de caridade cristã: mexe em tudo, nos livros, nos objetos pessoais. Tem olhos verdes, é modelo, linda, mas "de cuca embrulhada", deprimida e deprimente, juntadíssima, afetadíssima, mentirosíssima - "ni ange ni bête" - (nem anjo, nem demônio). Envolvida com sexo e drogas. Enquanto lancha ao sol, Lorena recorda o aborto de Aninha, resgatando a fábula da formiga e da cigarra (inconsciente, bagunceira, irresponsável), com quem compara a amiga.
Recebe carta de Remo e pensa na morte de Rômulo. Filosofa sobre o lado omisso das relações humanas. Sonha em casar-se com M.N., pois sente-se frágil, insegura, precisando de um homem em tempo integral.
Ao voltar para o quarto, pensa no colega Fabrízio, na noite chuvosa em que ele veio estudar mas preferiu envolvê-la nos braços, ameaçando sua virgindade; na falta de luz e subsequente chegada de Lia, estragando o momento mágico com suas alpargatas molhadas e suas pesquisas sobre a vida das prostitutas, sua obsessão por Miguel. Lia sai, mas chega Ana Clara, e "se instala". Fim da noite para Fabrízio e Lorena.
No dia seguinte, conheceu o Dr. M.N. na sua Faculdade e ganhou carona. Passa a viver aguardando seu telefonema, fantasiando um amor edipiano.
"Quatro"
Max delira na cama. Gosta de Chopin, de Renoir. Conversa com a Coelha (A. Clara) sobre a riqueza passada, as viagens. Ana compara os diferentes níveis de artistas abstratos e reclama de estar lúcida - teria tomado aspirina? Lembra o passado de miséria e sonha com o futuro promissor como psicóloga de ricaços - "Nessa cidade as pessoas não se preocupam mais com nome, mas com o saco de ouro" (de que adianta o nome Vaz Leme de Lorena, descendente de bandeirantes?). Quer esquecer a mãe, os amantes, Jorge, Aldo, Sérgio... e o suicídio com formicida. Lembra-se da amiga Adriana, feia e vesga, mas com casa na praia, onde A. Clara tentou lavar a memória do passado num banho de mar.
Max desperta e os dois deliram juntos. Ela está grávida e quer abortar. Ele deseja o filho, cuja voz diz ter ouvido. Vão ficar ricos e fazer cruzeiros pelo mundo. Ela é a gata borralheira, que tem encontro marcado com o noivo, que já deve estar inquieto com o atraso.