A Cidade e as Serras - Eça de Queiroz

A Cidade e as Serras - Eça de Queirós

Vida e obra de José Maria Eça de Queirós

CONTEXTO HISTÓRICO

Realismo Português (1865-1890)

Década de 60 - agitação política, social e cultural.

1864 - inauguração do caminho de ferro de Beira Alta (Coimbra).

publicação Visão dos Tempos; Tempestades Sonoras (Teófilo Braga).

publicação de Odes Modernas (Antero de Quental: "a poesia é a voz da revolução").

1865 - Poema da Mocidade (Pinheiro Chagas, romântico).

a Questão Coimbrã (ou do Bom Senso e do Bom Gosto).

1871 - As Conferências Democráticas no Cassino Lisbonense.

"O Realismo como nova expressão da arte" (Eça de Queirós).

VIDA

1845 - nascimento (Póvoa de Varzim).

1855 - estudos no Porto.

Aos 16 anos ingressa na Faculdade de Direito em Coimbra.

1871 - Conferência e jornal "As Farpas", com Ramalho Ortigão.

1871/72 - Administrador do Conselho de Leiria (perseguições políticas).

1873 - Cônsul em Havana.

1875 - Cônsul em Bristol (Inglaterra).

1878 - Cônsul em Paris (seu grande sonho).

1900 - Morre em Paris.

OBRAS - TRÊS FASES

1ª fase - Romantismo

Primeiros escritos (folhetins): Prosas Bárbaras (1905).

influências do ultrarromantismo, do bucolismo; de Baudelaire, atmosfera "dark" ou "noir" (pouca importância artística).

2ª fase - Realismo-Naturalismo

O Crime do Padre Amaro (1875); O Primo Basílio (1878); O Mandarim (1879); A Relíquia (1887); Os Maias (1888).

Critica a estagnação de Portugal; denuncia a decadência moral e a hipocrisia do clero e da classe média e das elites;

Traços de naturalismo (Zola) e determinismo (Taine): "o homem é um resultado, uma conclusão e um produto das circunstâncias que o envolvem. Abaixo os heróis".

3ª fase - Realismo "impressionista" ou "fantasista"

A Ilustre Casa de Ramires (1900, sua obra-prima) e A Cidade e as Serras (1901): "Sobre a nudez forte da verdade (Realismo), o manto diáfano da Fantasia (arte).

Características: ironia bem-humorada substitui a ironia corrosiva; visão crítica temperada de esperança e otimismo, com propósitos humanitários; melhoria de Portugal através da colonização da África (A Ilustre Casa...) e da revalorização das tradições portuguesas e elogio à vida rural; lirismo e tendência a poetizar a prosa (Impressionismo).

Resumo da Obra (16 capítulos)

Cap. I

Lisboa, década de 1820. D. Jacinto Galião (avô da personagem principal do livro), fidalgo rico, sofre uma queda na rua e é socorrido por D. Miguel, a quem passa a venerar.

D. Miguel (década de 30) perde a guerra com D. Pedro e é exilado. D. Galião, esposa e filho Jacinto ("Cintinho") auto exilam-se em Paris, onde vivem em luxuoso palacete, na Av. Campos Elísios, nº 202.

"Cintinho" cresce frágil e doente (tuberculose), casa-se com D. Teresinha Velho, mas não sobrevive para assistir ao nascimento do filho Jacinto. Este (personagem principal) cresce com saúde, segurança, riqueza e muita sorte, sendo chamado pelos amigos de "Príncipe da Grã-Ventura". Desde o tempo de estudante (1875) Jacinto criara a teoria SUMA CIÊNCIA x SUMA POTÊNCIA = SUMA FELICIDADE.

Em síntese, uma apologia da civilização, da cidade, e um temor "irracional" da natureza.

O narrador do livro é José Fernandes, amigo íntimo de Jacinto desde os tempos da universidade. Em 1880, é chamado pelo tio, já velho, para cuidar de suas terras e negócios em Guiães (Portugal).

Cap. II

Fevereiro de 1887. José Fernandes volta a Paris e hospeda-se no "202". Surpreende-se com o luxo e as novidades que Jacinto trouxera ao palacete: elevador, biblioteca com mais de 30 mil livros, telégrafo, conferençofone, telefone, teatrofone, aquecimento central, dezenas de escovas e tipos de água, "engenhocas" de utilidade diversificadas (culto da tecnologia).

Cap. III

Jacinto dedica-se a várias atividades: pela manhã, lê, informa-se, prepara a agenda. Após o almoço, enfrenta uma série de compromissos, principalmente sociais. No entanto, ele não parece feliz - anda encurvado, bastante pálido, aborrece-se com tudo. Até a "cocotte" que mantém por modismo não o agrada mais.

Certo dia, durante o banho, o encanamento aquecido arrebenta e inunda o palacete. A notícia sai nos jornais, e várias pessoas telefonam. Madame de Oriol aparece para ver o tamanho do estrago. Jacinto desanima.

Cap. IV

O Grão-Duque Casimiro manda-lhe um peixe raro, pescado na Dalmácia, e Jacinto convida a alta sociedade parisiense para um jantar.

À noite, falta luz no palacete, ameaçando a festa. A energia volta, os convidados chegam e ficam encantados com a quantidade de aparelhos e engenhocas de Jacinto. Um psicólogo, autor do livro Couraça, é alvo de críticas de M. Marizac: imagine uma duquesa vestir um colete de cetim preto!

O narrador aproveita para criticar a futilidade, a bajulação e a falta de objetivos de vida da elite presente ao evento.

À hora da ceia, um imprevisto: o peixe famoso ficara preso dentro do elevador! Todos acorreram à copa e S. Alteza tentou pescá-lo em vão. O incidente comprometeu o jantar...

Alguns dias depois, Jacinto recebe a notícia de que um deslizamento de terra havia soterrado a igrejinha e revolvido os ossos de seus avós, em Portugal. Escreve ao administrador Silvério, que recuperasse os restos e a Igreja, liberando a verba necessária para as obras

Cap. V

Jacinto resolve reformar o palacete. Zé Fernandes não aguenta mais a confusão e a chegada ininterrupta de novos livros, passando a maior parte de seu tempo em casa de Madame Colombe, por quem se apaixona. Esta, depois de tomar-lhe todo o dinheiro, muda-se para local desconhecido, causando-lhe profunda desilusão.

De volta à Paris, encontra Jacinto depauperado, definhando, lendo A Eclesiastes e assimilando a filosofia de Schopenhauer, pensando em suicidar-se (aos trinta e quatro anos de idade!). Grilo, o criado, resume: "Sua Excelência sofre de fartura."

Cap. VI

Jacinto visita Mme. de Oriol todas as tardes. Um dia ela tem outro compromisso, e os dois amigos vão passear pela cidade, conversam em um café e sobem até a Basílica do Sacré-Coeur, de onde contemplam Paris. Zé Fernandes aproveita para fazer um discurso político-socialista contra a exploração humana pela burguesia, contra a Igreja esquecida das lições do Cristo, e a favor de uma arte engajada.

Cap. VII

Jacinto pede ao amigo para acompanhá-lo nas visitas à casa de Mme. de Oriol, que está brigada com o marido.

Logo Jacinto começa a maldizer a vida. Resolve, então, ocupar-se com atividades variadas. Oferece um jantar cor-de-rosa a suas amigas, cria hospícios, manda ligar seu telégrafo ao Times...

Dia 10 de janeiro completa 34 anos, mas não quer receber visitas nem cumprimentos. Adota a filosofia pessimista.

Cap. VIII

Silvério escreve avisando que a Igreja estava restaurada e os ossos dos avós estavam prontos para o translado. Jacinto resolve ir até Tormes para inaugurar a igrejinha e enterrar os ancestrais dignamente. Os preparativos para a viagem demoram três meses: quer levar todos os confortos do "202" para Portugal. Recomeça a frequentar festas, aparentemente feliz de novo. Pouco depois, é vencido novamente pela fartura e pelo tédio. Resolve partir.

Ele vai no vagão especial com Zé Fernandes. Grilo e Anatole acompanham a carga de mais de trinta volumes.

Porém, na baldeação do trem em Medina (Espanha), perde os empregados e as bagagens. Na chegada a Tormes, não há ninguém à espera. Alugam uma égua e um burro para subirem a serra até o Solar. No caminho, Jacinto encanta-se com a beleza da terra, enfeitada pelo mês de abril, mas ao chegar, nova desilusão com a precariedade do lugar.

Melchior fica surpreso ao vê-los: pensava-se que só chegariam para o final do ano! As obras da casa não estavam terminadas, a mobília não havia chegado.

Sem suas malas, suas roupas, suas escovas... Jacinto resolve ir para Lisboa na manhã seguinte. Apesar de tudo, jantam muito bem em companhia dos empregados e dormem no chão.

José Fernandes parte para a casa da Tia Vicência, em Guiães, de onde envia roupas, objetos de asseio e livros para o amigo.