Elementos do Texto Narrativo
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O Gênero Narrativo – Parte 2 – Tempo, Espaço e Personagem
Os elementos da narrativa são recursos usados para detalhar os acontecimentos de um texto narrativo. Os elementos da narrativa ajudam a contextualizá-la.
Tempo
O tempo, que se define como uma sequência de ações em progressão temporal, é um elemento central na narrativa. O tempo é o elemento mais complexo em uma análise narrativa devido às diferentes possibilidades de foco existentes para sua abordagem. É importante distinguir entre tempo da ação (ou tempo da ficção) que é o tempo construído pelo ficcionista e tempo do discurso (ou da narração), que é o tempo gasto para que o leitor decodifique o enredo, por meio das palavras do ficcionista.
Tempo da ação: fluxo de tempo em que vivem os personagens, em que ocorrem os fatos formadores do enredo.
Tempo do discurso: as linhas, parágrafos e páginas necessárias para contar o que aconteceu.
Por exemplo, no romance Dom Casmurro, Bentinho, que é o narrador e um dos personagens, relata a história de sua vida: sua adolescência, sua estadia no seminário e seu casamento. Essas transformações ocorrem no tempo das ações, anterior ao momento em que o texto é construído. Ao escrever, Bentinho já é um homem, viúvo e solteiro. Este é o tempo da narrativa – posterior ao das ações. O tempo das ações costuma ser um passado em relação ao tempo presente da narração.
Ritmo narrativo
A relação entre o tempo da ação e o do discurso – o ritmo narrativo – é um recurso expressivo utilizado por grandes escritores.
O autor pode se valer de descrições minuciosas do ambiente e das características psicológicas dos personagens, tornando o ritmo do texto mais lento. Por outro lado, a narrativa pode ser ágil – há menos descrições, os períodos são curtos e as ações predominam nos núcleos narrativos.
Um bom escritor deixa a narrativa lenta quando ela deve ser lenta e ágil quando deve ser ágil.
Em geral, uma narrativa lenta apresenta descrições minuciosas, predominância do discurso indireto e digressões – momentos em que o narrador se desvia da história e reflete sobre ela, ou conserva com o leitor. Ou seja, o tempo da ação para, mas não o do discurso.
Uma narrativa ágil apresenta elipses – “saltos temporais”, predominância de discurso direto e uma evidente escassez de descrições.
Ambos os tempos coincidem na chamada cena – momento em que se apresentam diretamente as falas dos personagens, sem interferência do narrador (exemplo: discurso teatral).
Cronologia e Psicologia
Em Teoria Literária, chamamos de tempo cronológico ao tempo objetivo, medido a partir de elementos externos: minutos, horas, dias, meses, anos. É a medida exterior da duração.
Tempo psicológico é o tempo que tem como principal referência a subjetividade do narrador e/ou dos personagens. O tempo psicológico pode servir ao propósito do “mergulho” subjetivo e do fluxo de consciência: há uma interiorização do próprio enredo – em muitas páginas pode-se narrar algo que durou apenas alguns minutos.
Em alguns casos, o tempo da narrativa não segue uma sequência normal. Por exemplo, conta-se o fim da narrativa e a seguir, os fatores que antecederam tal desfecho.
Espaço
Espaço é o local em que ocorre a ação da obra – onde as ações se desenrolam.
O espaço contribui para a caracterização das ações e dos personagens. Assim como no caso do tempo narrativo, é importante distinguir um espaço das ações e outro da narração. Isto é, o narrador pode se encontrar em um cenário distinto daquele em que ocorreram as ações.
Muitas vezes, os escritores atribuem ao espaço uma dimensão subjetiva. O espaço pode assumir duas funções:
Função contextualizadora: visão material dos locais que servem como cenário para a ação. As duas funções do espaço geralmente coexistem.
Pode haver variação espacial tanto em termos amplos – envolvendo um ou mais países, por exemplo – ou termos restritos (vários quartos em um mesmo lar, por exemplo).
Função simbólica: Valor expressivo que o escritor pode atribuir ao espaço, fazendo-o representar ideias e/ou sentimentos.
O narrador decide que tipo de espaço criar: indefinível ou extremamente delimitado. O espaço pode variar muito e se misturar nas lembranças dos personagens.
Personagem
Animais e coisas podem “pensar”, “sentir” e “agir” como seres racionais e ser encarados como personagens.
Alguns personagens são construídos para representar comportamentos estereotipados: um denominador comum de tipos humanos com as mesmas virtudes, defeitos, problemas, aspirações.
No desenvolvimento do enredo, os personagens organizam-se em diferentes relações, passando a exercer funções, uns em relação aos outros.
Na Teoria da Literatura, há três categorias de personagens:
Protagonista: O personagem principal de uma narrativa. Trata-se do personagem cuja história é contada e cujas ações são as principais dinamizadoras do enredo. É comum denominá-lo herói. Há diferentes tipos de protagonistas (heróis):
- Herói Clássico: O protagonista cujas qualidades físicas e morais são irrepreensíveis. Geralmente realizam grandes feitos e afirmam os valores de uma determinada sociedade.
- Anti-Herói: É a reação debochada à extrema idealização do herói clássico. Trata-se de um personagem cuja ausência de valores morais positivos e de caracteres físicos avantajados é nítida. No entanto, esse tipo de personagem consegue a empatia do leitor por perseguir ao longo da narrativa algum objetivo moralmente aceitável.
- Herói Moderno ou Problemático: É o personagem que representa um ser humano comum, dotado de qualidades e de defeitos, que enfrenta um problema na narrativa. É o tipo mais comum de personagem.
Antagonista: É aquele que contesta e se opõe ao protagonista. Em geral, trata-se de uma pessoa, mas, modernamente, tende-se a aceitar que forças internas ou externas ao indivíduo possam configurar-lhe antagonismo.
Observação: Em algumas narrativas, em que a oposição entre Bem e Mal é bastante acentuada, dizemos que há maniqueísmo.
Personagem Secundário: Participante do acontecimento, mas não tem projeção dentro do enredo. Servem para criar a paisagem humana ou para influenciar os protagonistas. Portanto, são fundamentais para o desenvolvimento do enredo em vários momentos.
Há dois tipos de personagem:
- Plano (ou Estático): Apresenta poucas ideias ou qualidades. Sua vida interior quase não é abordada e sua conduta é previsível.
- Esférico (ou Dinâmico): Caracteriza-se por sua intensa vida interior. Sua vida interior é intensamente abordada e, por isso, pode surpreender, mudando o seu destino na história.
Sumário
- Tempo- Ritmo narrativo
i. Cronologia e Psicologia
ii. Espaço
- Personagem



