Revolução Russa

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A Revolução Russa de 1917 constituiu uma série de eventos políticos na Rússia que resultou no estabelecimento do poder soviético sob o controle do partido bolchevique. O principal aspecto da Revolução Russa – um dos principais acontecimentos do século XX – é o fato de ter sido orientada pela doutrina comunista de Karl Marx.

Nicolau II tornou-se czar da Rússia em 1894. Membro da família Romanov, como seus ancestrais desejava fazer da Rússia uma potência respeitada mundialmente. Mas, em comparação às nações industrializadas da Europa Ocidental, a Rússia era fraca e subdesenvolvida.

Nicolau II
Nicolau II

Em 1900, Serguei Witte, o mais competente ministro do czar, deu início a um programa de modernização do país. Sob sua direção, altos impostos coletados e empréstimos do exterior foram utilizados para construir as indústrias russas. Durante certo período, a Rússia prosperou.

Serguei Witte
Serguei Witte

A rápida industrialização, contudo, gerou descontentamento entre o povo. A agricultura, que sempre fora o centro da economia do país, foi parcialmente substituída pelo trabalho nas fábricas. Os camponeses, transformados em operários, estavam infelizes com seu baixo padrão de vida e a falta de poder político. Enquanto isso, as classes mais altas ressentiam-se com a influência das companhias estrangeiras que haviam se estabelecido como indústrias na Rússia.

Mas mesmo os críticos do governo não concordavam entre si com a forma das mudanças que deveriam ser efetuadas no país. Alguns desejavam que a Rússia se tornasse uma república democrática, como a França. Outros queriam uma monarquia constitucional, como a Grã-Bretanha. Um número cada vez maior desejava levar o socialismo para a Rússia.

Uma tentativa de implantar o socialismo já havia falhado devido à falta de apoio popular. Durante o reinado de Alexandre II, um grupo de jovens estudantes idealistas viajou pelo interior do país incitando uma rebelião. Porém, os camponeses não queriam uma mudança radical, e denunciaram os estudantes rebeldes à polícia.

Alexandre II
Alexandre II

Vários, entre os futuros revolucionários russos, acatavam a visão da História apresentada por Karl Marx. Acreditavam que a revolução na Rússia viria do proletariado - a classe trabalhadora - e não dos camponeses. Esses revolucionários prometeram acabar com a exploração dos empregados e estabelecer um estado em que os operários governariam o país.

Lenin e os Bolcheviques

No final do século XIX, os revolucionários marxistas encontraram um líder na figura de Vladimir Ilitch Ulianov, mais conhecido como Lenin. Lenin se tornara um revolucionário na adolescência, depois de seu irmão mais velho ter sido executado por tramar contra o czar. Quando estava na universidade, Lenin estudou as obras de Karl Marx e decidiu dedicar sua vida à deposição do governo czarista e ao estabelecimento de um estado socialista na Rússia.

Em 1895, Lenin foi preso e exilado na Sibéria por atividades contra o governo russo. Cinco anos depois, ele se exilou na Europa Ocidental. Lá, durante os 17 anos seguintes, trabalhou contra o governo czarista.

Lenin
Lenin

Em 1903, os marxistas russos estavam divididos quanto às táticas que deveriam empregar numa revolução social. Todos concordavam que a Rússia ainda não era um estado industrializado e capitalista e, portanto, não estava preparada para a espécie de revolução trabalhista que Marx havia idealizado. Alguns marxistas russos, que ficaram conhecidos como mencheviques, decidiram que uma revolução socialista teria que esperar até que o proletariado se tornasse maior e mais poderoso.

Lenin e seus seguidores, que ficaram conhecidos como os bolcheviques, não concordavam. Em vez de esperar pelo crescimento do proletariado, eles queriam formar um grupo secreto que ajudaria os trabalhadores a promover uma revolução. Esse grupo de líderes revolucionários governaria a Rússia até que o proletariado estivesse pronto para tomar o poder.

A Revolução de 1905

Em 1904-1905, dois eventos revelaram a fraqueza do governo czarista. Primeiramente, a Rússia foi derrotada na Guerra Russo-Japonesa, sendo que após a derrota, revoltas começaram a estourar pelo país.

Em janeiro de 1905, os trabalhadores de São Petersburgo marcharam desarmados em direção ao palácio real para pedir reformas ao czar Nicolau II. Os guardas do palácio abriram fogo contra a multidão, matando e ferindo centenas de pessoas. O incidente causou tensão e inquietação entre o povo, e os trabalhadores daquela cidade formaram um conselho para liderar as greves.

Nicolau continuava opondo-se às reformas, mas devido à tensão social no país, o czar lançou o Manifesto de Outubro, que estabeleceu o primeiro parlamento na Rússia - a Duma. Nicolau declarou que o parlamento iria promover os interesses de todo o povo russo.

Os revolucionários não se contentaram como o Manifesto de Outubro, afirmando que a Rússia permanecia um estado autocrático. A maioria dos russos, porém, ficou satisfeita com as reformas e a Revolução de 1905 foi encerrada. Enquanto isso, a Duma começou a se reunir, porém o czar manteve o poder de vetar suas decisões e de demitir seus membros quando desejasse. Liberais e moderados que tinham grandes esperanças em relação à Duma ficaram desapontados com as políticas autocráticas do czar. No início da Primeira Guerra Mundial em 1914, grande parte da população russa odiava o regime czarista.

Apesar de a Rússia não estar preparada para confrontos militares, seus interesses nos Bálcãs fizeram com que participasse da Primeira Grande Guerra. Mas a Rússia era militarmente muito fraca comparada à Alemanha, o país mais poderoso da Europa à época. Assim como na Guerra Russo-Japonesa, o envolvimento russo na Primeira Guerra Mundial expôs a fragilidade do governo czarista.

No verão de 1915, Nicolau II foi à frente de batalha para incentivar suas tropas que estavam sem motivação alguma. Deixou o governo nas mãos de sua esposa, Alexandra, que não tinha experiência, mas acreditava firmemente na monarquia autocrática. Ela ignorou as advertências dos conselheiros mais respeitados do czar, e confiou apenas em Rasputin.

Rasputin conquistou a confiança da czarina por conseguir tratar da terrível hemofilia que ameaçava a vida do único filho de Alexandra. Enquanto os melhores médicos da Europa não conseguiram ajudar o menino, Rasputin foi capaz de aliviar seu sofrimento. Alexandra fora alertada de que Rasputin era avaro e inescrupuloso, mas ela se recusava a acreditar, deixando muitas decisões do governo em suas mãos. Finalmente, em 1916, um grupo de nobres assassinou Rasputin.

Enquanto isso, a guerra estava destruindo a moral do exército russo, que era mal organizado e mal equipado. No começo de 1915, os soldados eram enviados à frente de batalha sem rifles, e instruídos a pegar e utilizar as armas de soldados mortos. Por volta de 1917, após dois anos e meio de derrotas, os soldados russos passaram a não respeitar a autoridade dos oficiais do czar.

A Revolução de Março

Em março de 1917 veio o golpe final contra o regime czarista. Ocorreu uma greve de operários da indústria têxtil em Petrogrado. (São Petersburgo foi renomeada de Petrogrado em agosto de 1914, pois o nome original soava muito alemão. Em 1924, o nome foi mais uma vez modificado, dessa vez para Leningrado). A greve desencadeou uma grande manifestação de trabalhadores, com tumultos e protestos contra a falta de comida e combustível. Quando os soldados russos foram ordenados a atirar nos desordeiros, eles atiraram em seus oficiais e se uniram aos rebeldes.

Assim como a Revolução de 1905, a Revolução de Março não foi planejada. As derrotas da guerra, o descontentamento do povo e a fragilidade da autocracia czarista foram os causadores da rebelião. Uma semana após o início das revoltas, o czar abdicou em favor do governo provisório, composto por um órgão governamental temporário estabelecido pela Duma.

A Revolução de Março derrubou o czar, mas não estabeleceu um governo forte para substituí-lo, e vários grupos políticos lutavam pelo poder. O Governo Provisório governava oficialmente. Liderados por Alexander Kerensky, era formado por pessoas que haviam adotado as ideias liberais e democráticas do Ocidente. Kerensky queria continuar com a guerra contra a Alemanha e estabelecer um governo parlamentarista nos moldes ocidentais.

Alexander Kerensky
Alexander Kerensky

Competindo pelo poder com o governo provisório estava o Soviete de Petrogrado, poderoso grupo composto de dois a três mil soldados, trabalhadores e intelectuais socialistas. O Soviete de Petrogrado pregava a retirada russa da Primeira Guerra Mundial e a implantação de reformas sociais radicais para ajudar os trabalhadores e camponeses. Logo ficou claro que esse grupo mantinha o poder de fato na Rússia.

No verão de 1917, o povo russo havia perdido a confiança no Governo Provisório e nos líderes moderados do Soviete de Petrogrado. As pessoas queriam mudanças reais - reformas territoriais, um fim à fome e a autodeterminação para os não russos. Mais importante de tudo, eles desejavam o fim do envolvimento russo na Guerra.

Os bolcheviques perceberam que esse era o momento certo para tomar o poder. Na época da queda do czar, os líderes bolcheviques estavam na cadeia ou no exílio. Um mês depois, um trem militar alemão trouxe Lenin e seus companheiros de volta a Petrogrado. Os líderes alemães esperavam que o retorno dos bolcheviques à Rússia iria agravar o tumulto no país e desviar a atenção dos russos da guerra contra a Alemanha.

No final do verão de 1917, havia três diferentes formas de governo oferecidas ao povo russo. Uma delas era o governo parlamentarista, que prometia restaurar a ordem no país por meio de métodos democráticos. Esse era o caminho oferecido pelo Governo Provisório de Kerensky.

Outra escolha, sustentada por alguns membros das antigas classes dominantes, era uma ditadura militar que prometia restaurar a ordem no país. Em setembro, o comandante geral do exército russo tentou depor Kerensky. A tentativa fracassou, pois o Soviete de Petrogrado contava com o apoio da maioria das tropas.

A terceira possibilidade era um governo que seria liderado por trabalhadores e soldados soviéticos. O Soviete de Petrogrado agora estava sob o controle de Lenin e dos bolcheviques. Dentre os líderes da Rússia, Lenin era o único que entendia as exigências dos diversos grupos existentes no país. Aos camponeses ele oferecia terras, que seriam tomadas dos grandes proprietários, e aos trabalhadores, ele oferecia maiores salários e o controle das fábricas. Aos povos não russos oferecia a autodeterminação.

Além do apoio popular, Lenin liderava um partido forte e organizado, formado por líderes cheios de energia e competentes, com aproximadamente 200 mil membros. Diferentes de outros grupos que estavam em busca de poder, os bolcheviques eram disciplinados e unidos. Lenin e seu partido logo ganharam o controle dos soviéticos nas maiores cidades da Rússia.

A Revolução Bolchevique - Revolução de Outubro

Desfile logo após a vitória Bolchevique
Desfile logo após a vitória Bolchevique

No outono de 1917, o povo nas cidades proclamava: "Todo o poder aos Sovietes!". Em 7 de novembro, os seguidores de Lenin, liderados por Leon Trótski, se apossaram das propriedades do governo, em Petrogrado, e prenderam os membros do Governo Provisório. A Revolução Bolchevique, também chamada de Revolução de Outubro, ocorreu em poucas horas, mas mudou a Rússia para sempre.

Leon Trótski
Leon Trótski

Da mesma forma que os czares, Lenin sonhava com uma Rússia forte. Ele igualmente acreditava que uma República Soviética dedicada a criar uma sociedade marxista serviria de modelo para o mundo. Mas, primeiro, Lenin tinha que lidar com os problemas remanescentes do domínio czarista.

A Ditadura Comunista

O caos na Rússia se agravou após a tomada do poder pelos bolcheviques. O país ainda sofria dos males que haviam causado a queda do governo provisório - fome, medo e desordem política. As diferentes nacionalidades estabelecidas no país ameaçaram formar seus próprios estados. Não havia governo ou exército efetivo, e a Rússia não tinha transporte ferroviário ou comércio. Muitas vezes não havia nem mesmo alimentos suficientes para a população.

Os conflitos internos prejudicaram gravemente seus esforços bélicos contra a Alemanha na Primeira Guerra Mundial. No inverno de 1917-1918, a Rússia não conseguiu resistir às tropas alemãs. Os líderes bolcheviques decidiram aceitar os termos de paz da Alemanha e, em março de 1918, os russos assinaram o Tratado de Brest-Litovsk.

mapa - Tratado de Brest-Litovsk

De acordo com o tratado, a Rússia abriu mão da Finlândia e de suas posses na Polônia e nas províncias bálticas da Letônia, Lituânia e Estônia. A Rússia também perdeu a Ucrânia - a região norte do mar Negro que era a região agrícola mais rica do império russo. A derrota da Alemanha, em novembro de 1918, resultou na anulação do Tratado de Brest-Litovsk. Ainda assim, a Finlândia e os estados bálticos conseguiram sua independência e, portanto, permaneceram fora do domínio russo.

Os bolcheviques, que agora se intitulavam comunistas, haviam aprendido uma importante lição durante a Primeira Guerra Mundial: o preço da desunião era a humilhação nacional. Os comunistas concluíram que se quisessem permanecer no poder, teriam que esmagar qualquer oposição que ameaçasse a união nacional russa.

Para aniquilar a oposição, os comunistas recorreram a uma guerra civil. Seus oponentes eram conhecidos como os brancos. Isto incluía uma composição eclética de pessoas: socialistas moderados, pessoas que apoiavam um governo parlamentarista na Rússia, e os defensores da causa czarista. Apesar de incapazes de cooperar, os brancos representavam uma forte resistência aos comunistas vermelhos. Na Ucrânia, os camponeses, chamados de verdes, lutavam contra os brancos e contra os vermelhos na tentativa de adquirir a independência ucraniana.

Exércitos estrangeiros também participaram da guerra civil russa. Os governantes ocidentais estavam alarmados com as políticas de Lênin, especialmente após seu tratado com a Alemanha. Tropas da França, Grã-Bretanha, Estados Unidos e Japão entraram na Rússia para ajudar os brancos. A Polônia, recém-independente, também declarou guerra contra a Rússia.

Para vencer o conflito, Lênin proclamou a ditadura do proletariado e ordenou que a força fosse usada para esmagar a oposição. A polícia secreta comunista começou uma campanha de terror, executando dezenas de milhares de pessoas, consideradas opositores do governo comunista. Entre as vítimas estavam o czar Nicolau, sua esposa, a czarina Alexandra, e todos os seus filhos, que morreram baleados em julho de 1918.

Durante esses anos terríveis, os comunistas deram grandes passos para transformar a Rússia em uma sociedade marxista. Indústrias, bancos e o comércio exterior foram nacionalizados, isto é, passados para o controle do governo. Homens com menos de 50 anos foram recrutados para o trabalho e exército. O governo exigia mão de obra feminina nas fábricas e nos projetos de construções. Além disso, as greves foram proibidas. Para alimentar o exército e a população das cidades, os soldados saqueavam alimentos dos camponeses.

Essas medidas de emergência, chamadas de Guerra Comunista ou Terror Vermelho, apenas provocaram o declínio maior da Rússia. O comércio ficou paralisado e a produção caiu. Milhares de pessoas morreram de fome, de frio e de doenças.

Por volta de 1920, os comunistas venciam a guerra. Os Brancos e os Verdes foram esmagados, e as tropas estrangeiras se retiraram da Rússia. Ainda assim, os comunistas não puderam comemorar a vitória. A crise econômica causava divisões até mesmo entre eles, enquanto os camponeses e operários se rebelavam.

Porto de Kronstadt
Porto de Kronstadt

Em março de 1921, os marinheiros na base naval de Kronstadt, localizada próxima a Petrogrado, começaram a protestar. O governo russo levou semanas para esmagar a revolta, fazendo-o de maneira cruel e sangrenta. Enfrentando grande oposição interna, Lênin abandonou as táticas violentas do Terror Vermelho e introduziu a Nova Política Econômica (NEP). Ao adotar essa nova política, Lênin adiou seus planos de implantar na Rússia uma economia totalmente controlada pelo Estado. Percebendo o quão difícil era estabelecer o socialismo em um país subdesenvolvido como a Rússia, ele autorizou que algumas pequenas fábricas, lojas e fazendas voltassem a ser propriedade privada. O governo ainda mantinha o controle da maioria das indústrias, bancos e meios de comunicação.

O Governo Centralizado

Pouco após a tomada do poder pelos bolcheviques, o governo mudou-se de Petrogrado para o Kremlin - um antigo palácio-fortaleza, em Moscou. O novo governo era liderado pelo Politburo, formado por líderes políticos do Partido Comunista. Os líderes do Potiburo tomaram medidas drásticas para proteger a união do Partido. Quem não concordasse com suas ideias e políticas era expulso do Partido e aprisionado. Todos os outros partidos políticos foram banidos da Rússia.

O Politburo era apoiado por aproximadamente meio milhão de membros do Partido Comunista, que constituíam menos de 1% da população russa, sendo que quase todos haviam sido trabalhadores industriais.

Na teoria, os membros do Partido elegiam líderes para representá-los. Na prática, porém, todas as decisões eram tomadas de forma autocrática, exatamente como havia sido na época do czar. Os líderes do Partido não só controlavam o governo, mas também os sindicatos e outras organizações. Governos locais eram liderados por líderes locais, mas guiados e supervisionados pelo Partido.

A União Soviética

As diversas nacionalidades existentes na Rússia sempre foram um desafio à união nacional. Historicamente, os czares haviam tentado impor a cultura russa sobre todas as nacionalidades que viviam sob seu reinado.

Em 1922, os comunistas, ao tentar unificar essas nacionalidades sob o novo governo, formaram a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS ou União Soviética). Cada uma das 15 repúblicas que constituíam a URSS representava uma grande nacionalidade, tais como os georgianos e os ucranianos. Todas as repúblicas tinham constituições idênticas e eram governadas pelo Partido Comunista. Cada nacionalidade menor faria parte de uma das repúblicas, mas adquiriria uma forma de autogoverno limitado. Dessa forma, os comunistas, teoricamente, permitiram a autodeterminação de outras nacionalidades sem ter que abrir mão, de qualquer poder de fato.

Desde o início de seu governo, o Partido Comunista se opôs à Igreja ortodoxa russa e a todas as outras religiões organizadas. De acordo com os ensinamentos marxistas, a religião era um instrumento que a classe governante utilizava para explorar os trabalhadores. O Partido Comunista também considerava a Igreja Ortodoxa Russa como uma rival, em busca da lealdade do povo russo.

A Igreja Ortodoxa Russa e outros grupos religiosos sofreram tremendamente sob o regime comunista. Um dos primeiros atos dos bolcheviques foi tomar as terras e propriedades da Igreja. Grande parte do clero foi aprisionada, e os líderes religiosos proibidos de exercer sua profissão. As escolas pertencentes à Igreja foram fechadas e as do estado ensinavam as pessoas a não praticar religião alguma.

Além disso, o Partido controlava o país manipulando informações. Para evitar comparações desfavoráveis com os países ocidentais, Lênin aumentou o isolamento russo do resto do mundo. O Partido também fazia uso da censura para silenciar críticos internos.

A população russa sofria uma constante "lavagem cerebral" por parte do governo, que pregava sobre o grande valor de sua ideologia - o marxismo-leninismo, ou seja, um misto dos ideais marxistas e das ideias de Lênin sobre o papel do Partido no desenvolvimento do socialismo. Lênin proclamava à nação que a União Soviética apagaria do mundo os males do capitalismo e lideraria a humanidade a um brilhante futuro socialista.

Lênin também desejava que revoluções comunistas ocorressem no resto do mundo. Incentivava revoluções comunistas onde as pessoas passavam fome, havia muita pobreza, sofrimento e injustiça social. Nesses países, as pessoas começaram a dar ouvidos ao líder soviético. Assim sendo, partidos comunistas foram formados em vários países ocidentais, dentre eles a índia, China, Egito e Turquia.

Lenin que se dirige à parada de Vsevobuch
Lenin que se dirige à parada de Vsevobuch

Em 1919, Lênin fundou uma organização para unir esses partidos comunistas internacionais e utilizá-los como instrumento de política externa soviética. Essa organização, denominada de Terceira Internacional (Internacional Comunista), era com frequência chamada de Comintern e tinha como objetivo fomentar revoluções comunistas pelo mundo. Mas o principal propósito de Lênin continuava sendo o fortalecimento da Rússia soviética.

Governo de Stalin

Entre os associados a Lenin na criação do Estado soviético estavam Leon Trótski e Josef Stalin. Quando Lenin morreu em janeiro de 1924, estes homens tornaram-se rivais pelo comando do Partido Comunista.

Leon Trótski era jornalista, grande orador e um organizador habilidoso. Fora o cérebro por trás da tomada do poder pelos bolcheviques em novembro de 1917 e responsável pela formação disciplinada do Exército Vermelho.

Leon Trótski
Leon Trótski

Josef Stalin, por outro lado, teve um passado mais difícil. Era filho de um sapateiro, e nasceu na província da Geórgia. Enquanto Lenin e Trótski viviam a salvo no exterior, Stalin permaneceu na Rússia e suas ações revolucionárias levaram-no à prisão na Sibéria durante muitos anos.

Joseph Stalin
Joseph Stalin

Em 1922, Stalin tornou-se Secretário geral do Partido Comunista. Lenin logo começou a desconfiar de suas intenções e caráter, e queria que Trótski, e não Stalin, fosse seu sucessor à frente do Partido.

Mas Stalin usou sua posição como secretário geral para obter o controle do Partido. Ele começou a conceder cargos importantes aos que o apoiavam e conseguiu com que Trótski e seus seguidores fossem expulsos do Partido e, finalmente, da União Soviética.

Em 1929, no seu aniversário de 50 anos, Stalin foi proclamado sucessor de Lenin, e "pai" dos povos da União Soviética. Stalin incentivou o povo a glorificá-lo como um herói super-humano. Os que discordavam eram taxados de traidores. Seus rivais tiveram que apoiá-lo, caso contrário, seriam exterminados.

O Plano Quinquenal de Stalin

Stalin trouxe grandes mudanças para a economia soviética. No lugar da Nova Política Econômica, deu início a um programa de industrialização totalmente controlado pelo Estado.

Stalin impôs uma série de planos quinquenais para a industrialização russa. Esses planos estabeleceram quotas para a produção de aço, carvão, petróleo, energia hidroelétrica e bens de consumo. Toda atividade econômica, inclusive a agricultura, estava agora sob o controle do Estado.

O primeiro e mais drástico Plano Quinquenal teve início em 1928. O Plano tinha como objetivo aumentar a produção industrial russa em torno de 250% até 1933. Para alcançar essa meta, a indústria teve que diminuir a produção de bens de consumo. Isto significou uma queda na produção de bens e serviços para os consumidores. Como consequência, o padrão de vida russo caiu bruscamente.

A tentativa de Stalin de realizar mudanças tão drásticas e de forma tão rápida criou sérios problemas. Como o governo dava importância apenas à quantidade produzida, a qualidade dos produtos era negligenciada. As condições de trabalho eram terríveis, e os trabalhadores recebiam baixíssimos salários, eram mal alimentados e viviam em casas superlotadas. Além disso, o governo tinha o poder de forçar os trabalhadores a aceitar qualquer emprego, em qualquer lugar do país.

A Coletivização da Agricultura

Os problemas causados pela industrialização foram enormes, mas as consequências dos programas de Stalin no campo foram ainda mais graves. A exigência de Stalin por maior rendimento agrícola tornou-se uma guerra contra seu próprio povo, na qual milhões de pessoas foram mortas.

O aumento da produção de alimentos era uma parte importante dos planos de industrialização de Stalin. Com um aumento na exportação de alimentos, o governo poderia ajudar a pagar pela construção e operação de novas fábricas. Maior quantidade de alimentos era também necessária para alimentar os operários das fábricas.

Porém, Stalin percebeu que os camponeses não estavam dispostos a produzir as safras exigidas pelo primeiro Plano Quinquenal. Com as lojas vazias por causa da falta de bens de consumo, eles não tinham motivação para trabalhar mais e, possivelmente, ganhar mais dinheiro. Mas Stalin estava decidido a impedir que os camponeses prejudicassem seus objetivos, e assim trouxe a agricultura para o controle do Estado.

Agricultores soviéticos falam do Plano Quinquenal
Agricultores soviéticos falam do Plano Quinquenal

Um novo plano de Stalin implantou fazendas coletivas - a união de pequenas fazendas em unidades maiores. Essas fazendas deveriam utilizar maquinário moderno e métodos de cultivo eficientes para produzir mais alimentos que anteriormente. Os camponeses soviéticos, porém, consideravam isso como uma volta à servidão, e viam a coletivização forçada do campo como a perda de sua liberdade. Eles não iriam desistir de suas terras facilmente.

No inverno de 1929-1930, Stalin utilizou as forças armadas para coletivizar as fazendas dos camponeses. O ditador soviético usava força militar para aterrorizar a sua nação. Seu principal alvo era os kulaks, ou os fazendeiros mais prósperos. Stalin considerava os kulaks como inimigos do socialismo, e declarou ao Partido que eles precisavam ser eliminados. Milhares de kulaks foram mortos ou enviados aos gulags - campos de trabalho forçado. Muitos dos camponeses remanescentes mataram seus animais para não ter que entregá-los aos oficiais do governo de Stalin.

A coletivização resultou em terríveis consequências durante os anos seguintes. A produção nas fazendas caiu drasticamente e a perda de animais causou uma séria escassez de carne, leite, objetos de couro e fertilizantes. Em 1932-1933, uma grave fome atingiu muitas partes da União Soviética. Apesar de seu próprio povo sofrer com a fome, Stalin continuou vendendo alimentos para o exterior. Aproximadamente, dez milhões de pessoas morreram como resultado da coletivização.

Em meados da década de 1930, fazendas coletivas, constituídas por centenas de casas, eram controladas pela União Soviética. Uma vez completada a coletivização, Stalin fez uma concessão aos camponeses. Ele os autorizou a manter pequenos pedaços de terra para uso próprio. Os alimentos destas terras poderiam ser vendidos no mercado livre pelo preço que desejassem. Com esse incentivo, os camponeses trabalharam mais arduamente em suas próprias terras, que se tornaram as mais produtivas da União Soviética.

Terror Político

Por volta de 1930, o poder de Stalin estava começando a ser ameaçado dentro e fora do Partido. Muitas pessoas o culpavam pelas milhões de mortes causadas por seu programa de industrialização e coletivização. As críticas vinham até mesmo de sua família. Sua esposa exigia que ele moderasse suas políticas. Ela morreu em 1932 - aparentemente tendo cometido suicídio.

Os membros do Partido Comunista declararam sua insatisfação durante o Congresso de 1934. Eles alegaram que Stalin havia ido longe demais. Alguns membros até mesmo sugeriram que ele deixasse o cargo e fosse substituído pelo secretário do partido em Leningrado, Serguei Kirov.

Serguei Kirov
Serguei Kirov

Stalin contra-atacou com uma campanha de terror. Em dezembro de 1934, Kirov foi assassinado. Apesar de Stalin ter provavelmente ordenado sua morte, ele alegou que o assassinato de Kirov fazia parte de um golpe contra a liderança soviética. Stalin usou esse acontecimento para justificar um expurgo, ou remoção, de seus inimigos - reais e suspeitos - do Partido e da população soviética.

Entre 1935 e 1939, um período que ficou conhecido como o Grande Expurgo, alguns dos mais importantes líderes comunistas foram levados a julgamento. Eles foram forçados a confessar publicamente crimes que, na realidade, nunca haviam cometido. Após a confissão, eram executados. Com isso, Stalin se livrou dos altos membros do Partido que tinham escolhido Kirov para substituí-lo. Em 1940, assassinos enviados por Stalin mataram Trótski, que estava exilado no México. Os membros do Partido que remanesceram eram burocratas obedientes que não desafiariam Stalin.

Stalin utilizou métodos semelhantes para aterrorizar a população soviética. Ele lançou ataques contra cientistas, intelectuais, trabalhadores, fazendeiros e líderes de movimentos nacionalistas. Assim como outros trabalhadores, a polícia secreta tinha quotas para preencher - um certo número de pessoas para prender. Os presos eram submetidos a dias e noites de interrogatório, frequentemente sob tortura. Os interrogatórios duravam até que os prisioneiros, inocentes ou não, assinavam suas "confissões".

Sob o governo de Stalin, a União Soviética tornou-se um Estado totalitarista - um Estado onde o governo controla todos os aspectos - mesmo privados - da vida dos cidadãos. A liberdade de expressão em qualquer local poderia ser punida como crime contra o Estado.

Sumário

- Lenin e os Bolcheviques
- A Revolução de 1905
- A Revolução de Março
- A Revolução Bolchevique
- A Ditadura Comunista
- O Governo Centralizado
- A União Soviética
- Governo de Stalin
i. O Plano Quinquenal de Stalin
ii. A Coletivização da Agricultura
iii. Terror Político

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