Renascimento

Renascimento

O Renascimento foi um importante movimento cultural, econômico, político, artístico e científico que ocorreu na passagem da Idade Média para a Idade Moderna. O Renascimento surgiu na Itália, no século XIV, e se estendeu por toda a Europa, até o século XVII. O Renascimento não foi, como muitos pensam, uma radical ruptura com o mundo medieval. Em vez disso, o movimento foi inspirado nos valores da Antiguidade Clássica e gerado por transformações econômicas. O Renascimento transformou a vida medieval e deu início à Idade Moderna.

Fatores Geradores do Renascimento

Com o final da Idade Média, chegava ao fim um longo período de guerras, turbulência econômica e epidemias. Um novo espírito de otimismo, criatividade e confiança tomou conta da Europa. Este período marcante da história europeia, conhecido como o Renascimento, foi caracterizado por grandes conquistas culturais ocorridas durante os séculos XIV-XVI.

O Renascimento teve início aproximadamente em 1350, nas cidades-estados do norte da Itália. Estas cidades se beneficiaram de sua localização: eram o centro do comércio entre Europa Ocidental e Oriental e entre Europa e Oriente Médio. Por volta do século XIV, elas haviam-se tornado as cidades mais ricas do continente europeu.

Os mercadores e banqueiros italianos, que admiravam e incentivavam a arte, literatura e a instrução, utilizavam seus recursos financeiros para adquirir bibliotecas e grandes obras de arte. Na Itália, os mais famosos patronos das artes foram os membros da família Médici - banqueiros que mantinham escritórios em cidades por toda a Europa Ocidental. A família Médici se tornou bastante ativa na política de Florença, no século XV, e controlou a cidade durante a maior parte dos três séculos seguintes.

Lorenzo de Médici
Lorenzo de Médici

O mais famoso membro da família Médici foi Lourenço (Lorenzo) de Médici (1449-1492). Conhecido como "o Magnífico", ele era um erudito, poeta e talentoso arquiteto. Para dar às pessoas a oportunidade de estudar literatura clássica, ele expandiu a Universidade de Florença. Contratou pintores, arquitetos e escultores para criar obras de arte - não apenas para si próprio - mas para toda a cidade. Muitos desses trabalhos artísticos existem ainda hoje, fazendo de Florença uma das mais belas cidades do mundo.

A cidade de Florença
A cidade de Florença

Uma das principais características do Renascimento é o Humanismo, interpretado comumente como sinônimo de antropocentrismo ou valorização do ser humano. O verdadeiro sentido do humanismo renascentista, porém, era o estudo de Humanidades, isto é, da língua e literatura antigas. Durante o Renascimento, a matemática e a música também eram bastante estudadas.

Francisco Petrarca, um poeta italiano nascido em 1304, liderou o surgimento do Renascimento humanista. Ele estudou a literatura e filosofia romana, estimulando vários outros a fazerem o mesmo. Em suas obras, ele discutia as ideias de escritores romanos e copiava seus estilos. Também escreveu centenas de poemas românticos em italiano.

Como estudamos anteriormente, os pensadores da Idade Média tentaram usar as ideias de antigos escritores para apoiar e esclarecer os ensinamentos da Igreja. Em contrapartida, Petrarca e outros humanistas do Renascimento tentaram compreender toda a civilização do mundo antigo. Os pensadores medievais achavam que a vida na Terra era apenas um preparo para a vida pós-morte. Os renascentistas, em contrapartida, davam mais importância à vida terrestre.

A cultura do período renascentista se caracterizava por uma intensa apreciação do indivíduo. Os pensadores se interessavam em aprender sobre as características únicas que distinguiam cada pessoa. Assim como os romanos, eles almejavam fama e sucesso; como os gregos, eles acreditavam que seres humanos tinham a capacidade de realizar grandes feitos. Tais atitudes incentivaram um espírito de curiosidade e aventura entre o povo europeu.

Os homens e mulheres que compunham a classe alta europeia eram os que mais desfrutavam do espírito do Renascimento, pois tinham tempo e dinheiro para fazê-lo. O pensamento renascentista considerava que a pessoa ideal era aquela dotada de vários talentos e habilidades: inteligência, cultura, criatividade, habilidades atléticas, etc.

Como os antigos gregos e romanos, a classe alta italiana prestigiava aqueles que beneficiavam a sociedade. Valorizavam o estudo das Ciências Humanas e a aquisição de talentos que eram valiosos para líderes políticos e sociais, como o dom da oratória, boas maneiras e um estilo de escrita elegante.

O clima político na Itália renascentista era de intensa competição pelo poder. O Papa, o Sacro Imperador Romano e os governantes da França e Espanha - todos famintos de poder - estudavam em livros que supostamente ensinavam como ter sucesso na política. O mais famoso desses livros foi escrito por Nicolau Maquiavel de Florença, um diplomata e assíduo estudante de política. Maquiavel, que viveu durante 1469-1527, utilizou-se de exemplos da história romana para estabelecer normas de um governo eficaz, e alegou que um governante devia fazer o que fosse necessário para obter e manter o poder. Em seu famoso livro "O Príncipe" (1513), hoje um grande clássico da política, Maquiavel escreveu que líderes frequentemente enganavam uns aos outros por meio de mentiras, por quebras de promessas e até mesmo através de assassinatos. Segundo o autor, na política as ações deveriam ser julgadas não por questões morais, mas sim por suas consequências. Até hoje, as visões e ensinamentos polêmicos de Maquiavel são discutidos no estudo de História e Política.

Curiosidade: Séculos após a publicação de "O Príncipe", as ideias de Maquiavel continuam a ser debatidas. Para muitos, ele foi um gênio político; para outros, foi um defensor de mentiras, decepções e traições. Hoje, a palavra "maquiavélico" é usada para descrever ações astutas ou fraudulentas.

As mulheres que viveram durante o Renascimento europeu fizeram uso de sua educação formal e talentos artísticos em sua própria residência. Jovens da alta classe europeia estudavam poesia, línguas e música com o propósito de entreter seus convidados e, desta forma, demonstrar respeito pelos maridos.

A Imprensa

O Renascimento foi também uma era de grandes avanços tecnológicos. Johann Gutenberg, um gráfico alemão, inventou uma máquina impressora com caracteres móveis de metal. Gutenberg começou a trabalhar em sua invenção por volta de 1440 e montou uma oficina de impressão em Mainz, Alemanha, em 1450. O primeiro livro impresso por Gutenberg foi a Bíblia.

Gutenberg
Gutenberg

A invenção de Gutenberg é considerada por muitos como sendo o mais importante avanço tecnológico do Renascimento europeu. A imprensa permitiu que livros fossem impressos a custos relativamente baixos, fomentando a leitura mesmo entre as classes menos favorecidas, na Europa. À medida que o processo de impressão se tornava mais rápido, dezenas de livros podiam ser publicados, permitindo que um número cada vez maior de pessoas pudesse adquirir uma grande variedade de livros. Quanto mais livros eram publicados, mais conhecimento era disseminado na Europa, resultando em progresso e avanços tecnológicos.

O Renascimento no Norte

A imprensa de Gutenberg facilitou a divulgação de ideias do Renascimento italiano para outros países no norte europeu. Mas, ainda que os povos desses países admirassem os ideais do movimento renascentista, interessavam-lhes mais os assuntos religiosos.

O mais influente humanista do Renascimento do norte europeu foi Desidério Erasmo. Nascido em torno de 1466 em Roterdã, Holanda, Erasmo tornou-se padre católico e estudou tanto os ensinamentos humanistas como os cristãos. Erasmo alegava que a Igreja se tornara uma organização corrupta e gananciosa e, portanto, ele estimulava o retorno à simples fé do cristianismo.

Desidério Erasmo
Desidério Erasmo

Erasmo escreveu a obra "Elogio da Loucura" (1509) na qual criticava os eruditos, cientistas, filósofos e o clero da época, acusando-os de terem mentes fechadas. Seu trabalho teve grande influência na Europa; ele foi um dos primeiros autores europeus a ter seus livros lidos por milhares de pessoas.

Outro importante mestre do Renascimento no Norte foi Thomas More, um estadista inglês, amigo de Erasmo. More era católico fervoroso e estudava a doutrina da Igreja e do humanismo. Seu livro Utopia (que significa "lugar algum" em grego), publicado em 1516, descreve uma sociedade ideal e pacífica. O livro também contém críticas a respeito da política, religião e sociedade da época.

Thomas More
Thomas More

Renascimento Cultural

A Literatura Renascentista

O maior escritor espanhol do Renascimento foi Miguel de Cervantes Saavedra. Cervantes (1547-1616) serviu como soldado contra os turcos, tendo sido aprisionado durante cinco anos por piratas no norte da África. Após a sua libertação, Cervantes trabalhou como coletor de impostos na Espanha.

Miguel de Cervantes Saavedra
Miguel de Cervantes Saavedra

As experiências aventureiras de Cervantes serviram como fonte de ideias para a sua obra-prima literária, Dom Quixote de La Mancha, publicado em 1605. O protagonista do livro, Dom Quixote, é um cavalheiro, velho e gentil, que passa tanto tempo lendo contos medievais que acaba perdendo o senso da realidade e decide tornar-se um cavaleiro, a fim de realizar atos heroicos. Dom Quixote embarca então numa série de aventuras cômicas.

Na Inglaterra, a literatura do Renascimento alcançou o seu ápice com o trabalho de William Shakespeare (1564-1616). Shakespeare era escritor, ator e poeta. Várias de suas peças, como "Rei Lear", "Júlio César" e "Romeu e Julieta" estão entre os maiores clássicos da literatura inglesa. Os personagens e enredos de Shakespeare são complexos e fascinantes. Até hoje, ele é considerado o maior autor teatral de todos os tempos.

William Shakespeare
William Shakespeare

A Arte Renascentista

Os artistas do Renascimento buscavam inspiração nas antigas artes gregas e romanas. Artistas medievais haviam usado a sua criatividade para servir à Igreja e expressar sentimentos religiosos. Em contraste, a arte do Renascimento simbolizava os interesses da época: celebrava o ser humano, geralmente retratando rostos e figuras humanas.

Os arquitetos do Renascimento não apreciavam o estilo gótico em que tinham sido construídas as catedrais da Europa. Eles voltaram a construir igrejas no estilo romanesco, contendo domos, janelas e sacadas para permitir a ampla entrada de luz e ar. Projetavam as igrejas para que parecessem perfeitamente equilibradas em termos de tamanho e forma.

O Renascimento também produziu grandes gênios artísticos. Três dos maiores foram Rafael, Michelangelo e Leonardo da Vinci. Os três eram italianos e nasceram no fim do século XV.

Leonardo da Vinci
Leonardo da Vinci

Rafael combinou a arte religiosa com o espírito artístico renascentista e é famoso por suas pinturas de madonas - retratos de Maria, mãe de Jesus. Ao invés de retratar Maria de uma forma angelical, Rafael a pintava como uma mulher humana e afável. Rafael era também um mestre do design, usando sua habilidade para criar um senso de espaço e equilíbrio em suas pinturas.

Michelangelo foi o artista que melhor representou o ideal do homem do Renascimento: era um hábil pintor, poeta e arquiteto e, acima de tudo, um mestre da escultura. Michelangelo foi aluno de Donatello, um artista extraordinário capaz de produzir belíssimas esculturas com praticamente qualquer matéria prima.

Michelangelo
Michelangelo

No ano de 1508, o Papa Júlio II pediu que Michelangelo fosse ao Vaticano - o palácio papal em Roma - e decorasse o teto da Capela Sistina com pinturas em aquarela. As pinturas deveriam retratar eventos bíblicos, desde a Criação do mundo à história da Arca de Noé.

Capela Sistina

Capela Sistina

Durante os quatro anos seguintes, Michelangelo trabalhou no teto da Capela Sistina, deitado de costas por muitas horas seguidas, pintando dia e noite. Ele produziu uma verdadeira obra-prima e suas pinturas na Capela Sistina lhe consagraram como o maior artista de Roma.

Leonardo da Vinci (1452-1519) tinha menos renome do que Michelangelo, mas é hoje considerado um gênio. Leonardo pintou obras extremamente conhecidas, como "A última Ceia" e a mais famosa de todas, "Mona Lisa". Leonardo era, também, engenheiro, cientista e inventor. Seus escritos revelam que ele estava trabalhando em diversas invenções: o avião, o submarino, o paraquedas e a metralhadora.

Artistas do Renascimento no Norte Europeu

Os pintores do norte europeu não compartilhavam o interesse dos artistas italianos por temas e estilos clássicos. Ao contrário, eles enfatizavam detalhes precisos e realistas e o uso de luz e sombra em suas obras. O centro artístico do Renascimento do norte europeu foi a Holanda. Um dos mais destacados artistas holandeses foi Jan Van Eyck, o primeiro mestre da pintura a óleo. Na Dinamarca, o mais consagrado pintor foi Rembrandt (Van Rijn - século XVII), cujas obras artísticas se tornaram famosas pela maestria no emprego do contraste luz-sombra.

Jan Van Eyck e Rembrandt Van Rijn
Jan Van Eyck e Rembrandt Van Rijn

Na Alemanha, o maior artista do Renascimento foi Albrecht Dürer, famoso por suas pinturas e gravuras. Dürer foi o pintor da corte do Sacro Império Romano, entre 1512 e 1528.

Albrecht Dürer
Albrecht Dürer

Sumário

- A Imprensa
- O Renascimento no Norte
- Renascimento Cultural