Primeira Guerra Mundial

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A Primeira Guerra Mundial, conflito que ocorreu entre 1914 e 1918, foi a primeira guerra do século XX e foi considerada na época como a mais terrível das guerras. Por esse motivo, foi chamada por muito tempo de “A Grande Guerra”. A Primeira Guerra Mundial foi resultado de transformações que ocorreram na Europa e que fizeram com que diferentes países entrassem em choque.

mapa Europa 1914 e primeira guerra mundial
Divisão política em 1914 e na Primeira Guerra Mundial

Após a Alemanha vencer a Guerra Franco-Prussiana em 1871, ela conquistou a região francesa da Alsácia-Lorena. O chanceler alemão, Otto von Bismarck, afirmava que a França tentaria recuperar essa região. Para evitar que isso acontecesse, Bismarck começou a firmar alianças com outros governos europeus. As primeiras alianças, firmadas com a Áustria-Hungria e Itália, em 1882, foram denominadas de Tríplice Aliança e estabeleciam que os três países ajudariam uns aos outros, se fossem atacados. Bismarck também fez um pacto com a Rússia, em 1887. Contudo, essa aliança ficou enfraquecida, pois Rússia e Áustria eram inimigas em potencial.

Otto von Bismarck
Otto von Bismarck

Em 1888, um novo kaiser chamado Guilherme II ascendeu ao trono alemão. Invejoso do poder de Bismarck, Guilherme II afastou-o do cargo de chanceler. O novo kaiser tomou novas medidas: passou a perseguir uma política internacional agressiva, fortaleceu a marinha alemã e buscou adquirir mais posses coloniais. Sob sua liderança, a Alemanha abandonou o seu acordo com a Rússia e aproximou-se da Áustria-Hungria, considerada um aliado mais confiável.

A Tríplice Entente

A França havia sido humilhada pela derrota de 1871 e estava ciente de que sozinha não tinha o poder de enfrentar a Alemanha. Temendo o crescente poder militar e a forte indústria alemã, a França também passou a buscar alianças com outros países europeus. Em 1894, após o distanciamento entre Rússia e Alemanha, a França aliou-se à Rússia.

A França, então, se aproximou de seu rival histórico - a Grã-Bretanha. Há anos, os britânicos haviam evitado alianças, acreditando serem suficientemente fortes por si próprios. Mas a Alemanha ameaçava o controle dos mares e as posses coloniais britânicas na África. Isso levou a Grã-Bretanha a cooperar com a França e, em 1904, os dois países formaram a Entente Cordiale - que significa em francês "Acordo Amigável".

A França tentou melhorar o relacionamento entre Grã-Bretanha e Rússia. Apesar de britânicos e russos competirem por colônias na Ásia Ocidental, ambos desconfiavam das intenções da Alemanha. Portanto, em 1907, Grã-Bretanha e Rússia assinaram um acordo chamado de Tríplice Entente. O acordo - que envolvia Grã-Bretanha, Rússia e França - era um tratado de amizade, não um pacto militar. Os alemães, porém, consideraram a Tríplice Entente uma aliança hostil que ameaçava seu país, em ambas as fronteiras, a leste e oeste.

Por volta de 1914, existia na Europa um falso sentimento de paz entre as nações. O sistema de alianças agravou a tensão entre países europeus, pois uma nação que se sentia confiante devido às suas alianças estava mais propícia a agir agressivamente durante uma crise. Além disso, o sistema de alianças poderia resultar numa "reação em cadeia": qualquer conflito entre dois países se expandiria, pois envolveria seus respectivos aliados também.

Tensão e Nacionalismo na Europa

Outra razão para o aumento de tensão na Europa era o crescente sentimento de militarismo - uma política de glorificação da guerra e preparação das forças armadas para eventuais conflitos. O militarismo incentivou um constante acúmulo de armas e tropas.

Durante anos, os principais poderes da Europa haviam gasto grandes quantias de dinheiro em armamentos - armas e suprimentos militares. Se um país aumentasse seu exército ou construísse novos e maiores navios de guerra, outros países faziam o mesmo. Essas políticas militares tinham forte apoio público.

O imperialismo foi outra fonte de conflitos na Europa. Os países europeus competiam ferozmente para conquistar novas colônias, novos mercados e novas fontes de matéria-prima. Nações ambiciosas como Alemanha e Itália, que demoraram a entrar na corrida pela aquisição de colônias, desejavam alcançar a Grã-Bretanha e França em posses coloniais. Essa rivalidade resultou em inveja e desconfiança.

Sentimentos de nacionalismo extremo também geravam tensões entre as nações europeias. Os nacionalistas franceses estavam determinados a recuperar a Alsácia-Lorena enquanto que os nacionalistas alemães desejavam estender seu poder e adquirir territórios. Enquanto isso, os pan-eslavistas russos queriam que a Rússia governasse os eslavos da Europa Oriental.

Outro movimento nacionalista eslavo se formou na Sérvia. A Sérvia e outros estados dos Bálcãs adquiriram sua independência do Império Otomano, em 1878. Porém, os eslavos na Bósnia e Herzegovina passaram a fazer parte do domínio austríaco. Os sérvios desejavam criar uma "Grande Sérvia" unindo-se a outros estados eslavos e aos milhões de eslavos do sul, que viviam em terras controladas pela Áustria.

O sonho da Grande Sérvia gerou muita preocupação na Áustria, um país constituído por várias nações. Os líderes austríacos temiam que uma revolta dos eslavos do sul resultasse na quebra de seu império. Alguns austríacos exigiram, portanto, a destruição do pequeno reino sérvio.

O Início da Guerra

Um tiroteio fatal, com resultados inimagináveis, ocorreu na Bósnia, em 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo. Um nacionalista sérvio chamado Gavrilo Princip assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando (também chamado de Francisco Fernando, da Áustria), herdeiro do trono da Áustria-Hungria. Ao matar o arquiduque, Princip e outros nacionalistas esperavam preparar o caminho para a revolução eslava. As autoridades austríacas, porém, usaram o assassinato como pretexto para atacar a Sérvia.

Gavrilo Princip
Gavrilo Princip

Antes de agir contra a Sérvia, a Áustria pediu apoio à Alemanha, sua aliada. Os líderes alemães estavam receosos quanto ao ataque austríaco contra os sérvios. Eles sabiam que o ataque iria alarmar a Rússia, que temia o controle austríaco sobre os Bálcãs. Se a Áustria atacasse a Sérvia, a Rússia e seu aliado - a França - poderiam entrar no conflito. Não obstante, a população alemã insistia que seu país deveria proteger a Áustria, pois a aliança com os austríacos era importante para a segurança alemã. Ambos os países, Áustria e Alemanha, decidiram lançar um ataque rápido contra a Sérvia, antes que outras nações viessem a socorrê-la.

mapa da Sérvia

Assegurada do apoio alemão, a Áustria deu um ultimato à Sérvia em 23 de julho de 1914. A Áustria ordenou o país a encerrar todas as suas atividades antiaustríacas e deixar que oficiais austríacos investigassem o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando. A Áustria deu à Sérvia 48 horas para cumprir essas exigências.

A Áustria havia propositalmente tornado o ultimato difícil de ser aceito pela Sérvia. Ainda assim, os sérvios concordaram com todos os termos, exceto com aquele sobre as investigações do assassinato. Os austríacos, porém, consideraram a proposta sérvia insuficiente.

Em 28 de julho de 1914, a Áustria declarou guerra contra a Sérvia. Dois dias depois, a Rússia ordenou que seu exército se preparasse para a batalha. Quando os russos ignoraram as ameaças alemãs exigindo que o país não mobilizasse suas tropas, a Alemanha declarou guerra contra a Rússia no dia 1 de agosto. Dois dias depois, os alemães também declararam guerra contra o principal aliado da Rússia - a França. O conflito na Europa expandiu-se rapidamente devido ao sistema de alianças que levou a uma reação em cadeia.

Os alemães planejaram cercar os exércitos franceses ao longo da fronteira franco-alemã ao invadir a França pela Bélgica. Quando a Bélgica se recusou a permitir a entrada de tropas alemãs em seu país, a Alemanha invadiu o país em 3 de agosto. Essa invasão resultou na entrada da Grã-Bretanha na guerra, pois os britânicos haviam se comprometido a garantir a neutralidade belga. Além disso, a Grã-Bretanha percebeu que se a Bélgica e a França fossem conquistadas pelos alemães, a Alemanha passaria a controlar a Europa Ocidental. Em 4 de agosto, a Grã-Bretanha entrou na guerra ao lado de seus aliados - Rússia e França. Dois dias depois, a Áustria declarou guerra contra a Rússia.

Menos de seis semanas após o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, a maioria dos grandes governos da Europa, além de outras nações menores, haviam se envolvido na Primeira Guerra Mundial. De um lado estavam a Áustria-Hungria e a Alemanha. Do outro, estavam a Sérvia, França, Rússia, Grã-Bretanha e Bélgica. Muitos outros países também acabariam participando da Guerra antes de seu encerramento, em 1918.

Alianças na Primeira Guerra Mundial

Quando a guerra irrompeu na Europa em agosto de 1914, a maioria dos generais e líderes políticos estava seguro de que o conflito não duraria muito tempo. A população dos países em guerra compartilhava dessa opinião e demonstrava lealdade às suas respectivas nações. Muitos sonhavam com aventura e glória e poucos pensavam nos horrores resultantes da guerra.

Com o desenrolar da guerra, os países da Tríplice Entente - França, Grã-Bretanha e Rússia - vieram a ser chamados de Aliados. A Alemanha e a Áustria - membros da Tríplice Aliança - eram chamadas de Impérios Centrais (ou Potências Centrais). A Itália, também membro da Tríplice Aliança, primeiramente permaneceu neutra na guerra, mas em 1915, o país se uniu aos Aliados.

A Primeira Guerra Mundial se expandia constantemente. O Império Otomano e a Bulgária uniram-se aos Impérios Centrais. Em 1917, os Estados Unidos entraram na guerra ao lado dos Aliados. Outros países na Europa, Ásia e América Latina também se envolveram no conflito, apesar de a maioria não ter enviado tropas para batalha.

A Frente Ocidental da Guerra

O exército alemão esperava uma vitória rápida quando invadiu a Bélgica em agosto de 1914. De acordo com o plano de guerra alemão, a maioria de seu exército invadiria a França pela Bélgica e capturaria Paris. Trens então rapidamente transportariam as tropas alemãs à frente oriental, onde expulsariam as tropas russas. No plano de guerra alemão, tudo dependia da velocidade de sua campanha militar.

Porém, esse plano alemão fracassou. As tropas russas se moveram com mais rapidez que o esperado pela Alemanha, e invadiram a Prússia Oriental no final de agosto. A Alemanha foi então obrigada a retirar algumas de suas tropas da França e levá-las ao oriente.

As tropas alemãs remanescentes na frente ocidental avançaram e chegaram a 70 quilômetros de Paris. Mas um contra-ataque do exército francês repartiu os exércitos alemães. Ao invés de conquistar uma rápida vitória, as tropas alemãs enfrentaram uma forte resistência de britânicos e franceses ao longo do rio Marne. Os alemães tentaram, então, alcançar a costa do Canal da Mancha, capturar as cidades portuárias e voltar a atacar Paris. Mas novamente eles foram interceptados, e enfrentaram uma batalha árdua que ocorreu próxima a Ypres, uma cidade na Bélgica.

Cidade de Ypres
Cidade de Ypres

Nos primeiros quatro meses de guerra (agosto-novembro de 1914), mais de um milhão e meio de soldados foram feridos ou mortos. Com o início do inverno de 1914-1915, ambos os exércitos prepararam-se para uma longa batalha. Os soldados cavaram uma vasta rede de trincheiras por centenas de quilômetros através da França. Entre as linhas opostas existia uma "Terra de Ninguém" (No Man's Land) - uma área abandonada de arame farpado, lama, terra revirada e árvores estilhaçadas. Para atacar as forças opostas, as tropas precisavam sair das trincheiras e correr através dessa "Terra de Ninguém".

O grande número de mortos na guerra de trincheiras foi em parte consequência da nova tecnologia de armamentos. Os tiros rápidos de metralhadoras mataram milhares de soldados que tentavam atravessar as "Terras de Ninguém". Enormes armas de longo alcance atiravam bombas que explodiam dentro das trincheiras. Muitos soldados perderam a visão ou tiveram seus pulmões danificados por gases venenosos que eram utilizados nas batalhas. A Primeira Guerra Mundial foi também o primeiro conflito em que tanques foram utilizados - em 1916 - e em que ocorreram batalhas aéreas entre pilotos.

tanque - Primeira Guerra Mundial

Apesar do grande número de mortos, houve poucas mudanças territoriais na Europa. Nenhum dos dois lados conseguiu adquirir mais que alguns quilômetros quadrados de território. Em fevereiro de 1916, o exército alemão iniciou uma grande ofensiva contra a cidade francesa de Verdun, que era protegida por um círculo de fortes. Porém, apesar de cinco meses de sítio, os alemães conquistaram parte do território francês, mas não conseguiram capturar Verdun. Em dezembro do mesmo ano, os franceses recuperaram suas perdas territoriais. Os países em guerra haviam chegado a um impasse - nenhum dos dois conseguia avançar. À medida que a batalha de Verdun prosseguia, mais de 700 mil soldados franceses e alemães foram mortos. Muitos outros foram feridos.

O impasse continuou durante os anos 1916 e 1917. Centenas de milhares estavam perdendo suas vidas, mas os generais continuavam a enviar mais tropas à frente de batalha, ordenando ataques em massa.

A Frente Oriental da Guerra

Enquanto os alemães atacavam a França em 1914, os russos obtiveram algumas vitórias militares na região oriental da Alemanha. Todavia, os russos sofreram uma grande derrota em Tannenberg, numa batalha contra os exércitos de um comandante alemão, o marechal de campo Paul von Hindenburg. Na primavera de 1915, outro ataque austro-alemão fez com que os russos retrocedessem.

Paul von Hindenburg
Paul von Hindenburg

No final de 1916, a campanha militar russa na Guerra estava à beira do colapso. O exército russo era mal treinado, mal equipado e mal liderado. Além disso, os russos haviam sofrido perdas terríveis - só no ano 1915 mais de dois milhões de soldados haviam sido mortos, feridos ou capturados. Os aliados da Rússia não poderiam enviar mantimentos para o país, pois uma frota alemã bloqueava o Mar Báltico e os otomanos mantinham o controle dos estreitos do Mediterrâneo, no mar Negro.

Os soldados russos também se sentiam desmoralizados. As grandes perdas nas batalhas e a falta de alimento aumentavam o descontentamento russo em relação ao seu governo czarista. Em março de 1917, o czar foi forçado a abdicar e, em novembro, um novo governo assumiu o poder na Rússia. Os novos líderes do país estavam cientes de que a Rússia não mais poderia participar da Guerra e, portanto, assinaram um humilhante tratado de rendimento com a Alemanha, em março de 1918.

Outras Frentes da Guerra

As batalhas ocorridas durante a Primeira Guerra Mundial não se limitaram às frentes ocidentais e orientais. À medida que mais nações ingressaram na Guerra, a luta espalhou-se para outras partes da Europa e para outros países do mundo.

Apesar de ter permanecido neutra no início da Guerra, a Itália, em 1915, firmou um acordo secreto com a França e Grã-Bretanha. Foi prometida à Itália a aquisição de territórios na Áustria e na África em troca por seu apoio aos Aliados na Guerra. Pouco após a Itália ingressar no conflito, batalhas intensas ocorreram na fronteira entre o país e a Áustria. No outono de 1917, as forças alemãs e austríacas atacaram as tropas italianas em Caporetto, forçando o exército italiano a recuar.

Soldados em Caporetto
Soldados em Caporetto

O Japão uniu-se aos aliados em agosto de 1914 - poucas semanas após o início da guerra. Em outubro do mesmo ano, o Japão iniciou a conquista de regiões sob o domínio alemão na península chinesa de Shandong. Os japoneses estavam determinados a conquistar ilhas - também sob o domínio alemão - localizadas no Oceano Pacífico. Em troca pelo apoio da marinha japonesa, os Aliados prometeram apoiar a reivindicação japonesa por esses territórios após o término da Guerra. Durante o conflito, os domínios britânicos da Austrália e da Nova Zelândia adquiriram outras ilhas alemãs no Pacífico.

Algumas das batalhas mais ferozes ocorreram ao longo da costa da Turquia. Os otomanos plantaram minas nas águas de Dardanelos e mantinham uma forte artilharia ao longo das margens desses estreitos. Esses fortalecimentos preveniram a chegada de suprimentos dos Aliados aos portos russos e também mantiveram a frota russa engarrafada no Mar Negro.

Um exército composto por tropas britânicas, francesas, neozelandesas e australianas, desembarcou em Galípoli, Turquia, em 1915. O exército esperava alcançar Constantinopla por terra e tomar controle de Dardanelos. Mas com apoio alemão, os otomanos resistiram fortemente e essa força Aliada recuou após sofrer grandes perdas.

Os Aliados tiveram mais sucesso contra os otomanos nos países árabes do Oriente Médio. Os árabes que habitavam essa região haviam sido dominados pelo Império Otomano por mais de 400 anos. Ávidos por derrubar o poder otomano em seus países, os nacionalistas árabes apoiaram as forças britânicas que protegiam os interesses britânicos no Oriente Médio. Realizando uma série de ataques-surpresa nas cidades e linhas de fornecimentos otomanos, as forças árabes e britânicas tiveram sucesso, expulsando os otomanos, pouco a pouco, de toda a região. Os otomanos retiraram-se da Guerra no final de outubro de 1918.

Na África Ocidental, tropas britânicas e francesas tomaram as colônias costeiras alemãs de Camarões. Ao mesmo tempo, tropas da União da África do Sul se apossaram de uma colônia alemã vizinha - a África Sul ocidental. Na África Oriental Alemã (posteriormente denominada de Tanganica), um pequeno exército alemão nunca foi decisivamente derrotado. Retirando-se para o interior africano, os soldados não se renderam até receberem a notícia do fim da guerra.

A Neutralidade dos Estados Unidos no início da Guerra

No início da guerra, em 1914, o presidente norte-americano Woodrow Wilson anunciou uma política de neutralidade para os Estados Unidos. Contudo, a neutralidade norte-americana foi difícil de ser mantida. Para obter o apoio dos Estados Unidos, a Grã-Bretanha e França disseminavam informações para influenciar a opinião dos norte-americanos a seu favor. Os Aliados descreviam a guerra como sendo uma batalha entre a democracia e o autoritarismo. Notícias vindas da Grã-Bretanha mostravam a Alemanha como sendo uma nação cruel e arrogante.

Presidente Woodrow Wilson
Presidente Woodrow Wilson

A neutralidade norte-americana na guerra foi impossibilitada em razão de ataques sofridos contra seus navios. Durante a Primeira Guerra Mundial, Grã-Bretanha e Alemanha interferiram na navegação de outros países. Para impedir que suprimentos de guerra chegassem à Alemanha, a Grã-Bretanha parava navios mercantes e confiscava suas cargas. A Alemanha, para revidar, tentou cortar o transporte de alimentos e suprimentos à Grã-Bretanha ao atacar navios com seus submarinos chamados de U-boats. Muitos marinheiros e passageiros morreram quando seus navios foram afundados por ataques dos U-boats.

U-boats
U-boats

Em maio de 1915, aproximadamente 1200 pessoas morreram quando um U-boat afundou um navio britânico contendo passageiros civis - o Lusitânia. Dentre os mortos estavam 128 norte-americanos, sendo na sua maioria mulheres e crianças. O governo alemão defendeu essa ação, afirmando que o navio carregava armas e não apenas passageiros. Os norte-americanos ficaram chocados com essa grande tragédia, o que serviu para aproximar a entrada dos Estados Unidos na Guerra.

Motivos econômicos também fizeram com que os Estados Unidos ingressassem na Guerra. Bancos e indústrias norte-americanas haviam emprestado $1.5 bilhão para os governos Aliados. Uma grande parte desse dinheiro era utilizada para comprar suprimentos dos Estados Unidos. Os banqueiros e industrialistas norte-americanos perceberam que provavelmente perderiam todo esse dinheiro caso os Aliados perdessem a Guerra.

Os Estados Unidos ingressam Guerra 

No início de 1917, um incidente provocou a entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra Mundial. Em um telegrama secreto codificado, um diplomata alemão chamado Arthur Zimmerman tentou fazer uma aliança entre Alemanha e México. Ele prometeu que se o México ajudasse a Alemanha a vencer a guerra, os alemães ajudariam os mexicanos a retomarem o Texas e outras partes do sudoeste norte-americano. Os britânicos quebraram o código alemão e passaram a mensagem aos Estados Unidos. Apesar de o México permanecer neutro e não se aliar à Alemanha, o "telegrama de Zimmerman" enfureceu os norte-americanos.

Em abril de 1917, os Estados Unidos declaram guerra contra a Alemanha. Com a entrada dos Estados Unidos na Guerra, a Alemanha tentou encerrar o conflito rapidamente, antes que um grande número de tropas norte-americanas fosse treinado e enviado à França.

A retirada russa da Guerra - ocorrida na primavera de 1918 - liberou as tropas alemãs da frente oriental do conflito. Agora, esses soldados se deslocaram a oeste, em direção à França e uniram-se a outros soldados alemães que marchavam em direção à Paris. Os soldados britânicos e franceses não conseguiam impedir o avanço alemão. Uma grande vitória alemã parecia iminente.

General John J. Pershing
General John J. Pershing

No início do verão do mesmo ano, porém, tropas norte-americanas começaram a chegar à França. Sob o comando do General John J. Pershing, os soldados norte-americanos uniram-se às Forças Aliadas. Em junho de 1918, os Aliados impediram a ofensiva alemã em Château-Thierry, no Rio Marne. De fato, o ingresso dos Estados Unidos na Guerra provou ser um fator decisivo, resultando na vitória Aliada.

O Armistício

A Alemanha havia utilizado todos os seus últimos recursos nesse último, porém malsucedido ataque. Agora, seu exército enfrentava uma severa escassez de comida, medicamentos e armamentos. As tropas Aliadas dirigiam-se a leste em um contra-ataque maciço. Ficou claro aos generais alemães que a guerra estava perdida. No final de setembro, eles forçaram seu governo a pedir por um armistício - o fim das lutas.

A posição alemã se agravava constantemente. Em outubro e novembro de 1918, o Império Otomano e a Áustria-Hungria renderam-se e rebeliões na Alemanha forçaram o kaiser a abdicar seu trono. O governo da recém-estabelecida república alemã rapidamente concordou com os termos do armistício.

Em 11 de novembro de 1918, o armistício foi assinado. Os soldados de ambos os lados saíram das trincheiras e comemoraram. Os inimigos se abraçaram, felizes pelo fim da guerra.

Os Tratados de Paz 

O armistício de novembro de 1918 encerrou a mais terrível guerra já presenciada pelo mundo. Em janeiro de 1919, representantes das nações vitoriosas reuniram-se em Paris para firmar um acordo de paz. Vinte e sete nações europeias e asiáticas participaram das negociações de paz. Porém, a maioria das decisões foi tomada pelos líderes das quatro principais nações Aliadas. Esses homens foram David Lloyd George da Grã-Bretanha, Georges Clemenceau da França, Woodrow Wilson dos Estados Unidos, e Vittorio Orlando da Itália.

David Lloyd George da Grã-Bretanha, Georges Clemenceau da França, Woodrow Wilson dos Estados Unidos, e Vittorio Orlando da Itália

A Conferência de Paz de Paris

Em janeiro de 1918, o Presidente dos Estados Unidos, Woodrow Wilson, relatou um plano de paz em discurso para o Congresso norte-americano. Sua proposta, conhecida como os Quatorze Pontos, foi baseada em cinco ideias principais:

1. Autodeterminação

Toda nação deveria ter o direito de estabelecer seu próprio governo, livre de controle externo. As terras austríacas habitadas pelos italianos pertenceriam à Itália. Os eslavos do sul e os checos na Áustria-Hungria seriam livres para formar seus próprios estados.

2. "Paz sem vitória"

O Presidente Wilson declarou que o fim da guerra deveria trazer a "paz sem vitória", ou seja, os Aliados deveriam tratar seus antigos inimigos com generosidade. Wilson acreditava que uma punição severa levaria a Alemanha a buscar vingança no futuro. Ele esperava que um acordo justo incentivasse as nações derrotadas a trabalharem com os Aliados para construírem um mundo melhor. Ele também esperava que as nações permitissem livre comércio nos mares de todo o mundo.

3. Desarmamento

O Presidente Wilson acreditava que não haveria uma paz duradoura até que o militarismo se tornasse um fenômeno do passado. Ele queria que todas as nações se desarmassem para que nenhum país viesse a temer seus vizinhos ou tentar invadi-los.

4. Tratamento justo com a população das colônias

O Presidente Wilson também pedia às nações imperialistas que cuidassem do bem-estar do povo de suas colônias. Ele defendia que os interesses dessas pessoas deveriam ser tão respeitados quanto os interesses dos governantes.

5. A Liga das Nações

O Presidente Wilson incentivou a formação de uma organização internacional, chamada de "A Liga das Nações". Ele esperava que isto ajudasse tanto as grandes como as pequenas nações a resolverem suas disputas. Wilson acreditava que uma diplomacia aberta, ao invés de acordos secretos, pudesse melhor preservar a paz.

O Presidente Wilson trabalhou arduamente para que suas ideias fossem incluídas no acordo de paz negociado em 1919. Porém, os Aliados vitoriosos não compartilhavam do mesmo idealismo. De fato, a guerra havia causado grande tristeza e ódio entre as nações europeias.

A França, em particular, se opôs às ideias de Wilson. A maioria das batalhas na frente ocidental foi travada em território francês, e aproximadamente um milhão e meio de soldados morreram. Mais de três milhões de franceses foram feridos. A França temia um futuro ataque alemão e não compartilhava do idealismo do Presidente Wilson. Os franceses queriam punir, e também impedir que os alemães começassem uma nova guerra no futuro. A França também exigia compensação por suas indústrias e fazendas que haviam sido arruinadas durante a Guerra.

O ideal de autodeterminação das nações, sugerido pelo Presidente Wilson, não foi bem aceito na Europa. Diferentes nacionalidades viviam na Europa, e determinar as fronteiras de uma nação sempre entrava em conflito com os interesses de outra. Além disso, acordos secretos, aos quais o Presidente Wilson havia se oposto, foram feitos durante a Primeira Guerra Mundial: os Aliados europeus já haviam decidido a divisão dos territórios ganhos durante a guerra.

O acordo de paz feito em Paris foi constituído por cinco tratados diferentes - um para cada estado que havia sido derrotado: Alemanha, Áustria, Hungria, Bulgária e Império Otomano. (A dupla monarquia da Áustria-Hungria havia sido dissolvida após a assinatura do armistício com os Aliados). O acordo com a Alemanha, chamado de Tratado de Versalhes (junho de 1919) foi o tratado mais importante.

A política das alianças (1873-1918)

O Tratado de Versalhes

O Tratado de Versalhes concedeu à França muitas de suas exigências. A Alemanha foi obrigada a devolver a Alsácia-Lorena e a conceder à França o controle das minas de carvão localizadas na região do Sarre durante os 15 anos seguintes. A Alemanha também perdeu território para a Polônia. Para que a Polônia tivesse acesso ao Mar Báltico, foi criado o Corredor Polonês - uma faixa de terra que separava a Prússia Oriental do resto da Alemanha. O porto de Danzig, no Mar Báltico, tornou-se de livre comércio sem controle da Polônia ou Alemanha.

O território alemão em ambos os lados do rio Reno foi desmilitarizado e, portanto, não podia contar com tropas ou fortificações militares. Para impedir que a Alemanha voltasse a representar uma ameaça militar, o tratado reduziu o exército alemão a 100 mil homens. As forças armadas não poderiam mais possuir artilharia pesada, tanques ou aviões de guerra. O recrutamento militar foi abolido e o exército passou a ser constituído por poucos voluntários. A marinha ficou limitada a uma pequena frota e os submarinos foram proibidos.

A Alemanha também perdeu territórios na África, na Ásia e no Oceano Pacífico. Suas colônias tornaram-se mandatos franceses e britânicos. (Um mandato é uma região administrada por outro país até que esteja preparada para obter sua independência). O Japão ganhou mandato sobre algumas ilhas no Oceano Pacífico, mas suas demandas pela Península de Shandong, na China, não foram resolvidas.

O Tratado de Versalhes responsabilizou a "agressão da Alemanha e de seus aliados" pela guerra. Na conferência de paz, o primeiro-ministro britânico prometeu punir a Alemanha. De fato, assim foi feito: o acordo de paz exigia que a Alemanha pagasse reparações pelos danos de guerra impetrados contra outras nações. A Alemanha tinha que compensar as nações Aliadas pelas perdas de fábricas, fazendas, navios e outras propriedades destruídas na guerra. Foi determinado, em 1921, que a Alemanha seria obrigada a pagar $33 bilhões (dólares americanos) como reparação de guerra.

Essa dura exigência financeira dos Aliados causou enorme ressentimento entre o povo alemão, pois consideravam que a quantia a ser paga excedia a capacidade financeira de seu país. Os alemães também acreditavam que todos os países participantes da Primeira Guerra Mundial eram responsáveis pelo conflito e suas consequências.

As perdas territoriais da Alemanha não foram as únicas mudanças territoriais resultantes da guerra. Após o fim da guerra, as diversas nacionalidades do antigo Império Austro-Húngaro estabeleceram seus próprios estados independentes. Os checos e eslavos formaram um novo país - a Checoslováquia. Os croatas e os eslovenos uniram-se à Sérvia para formar a Iugoslávia. Itália e Romênia também adquiriram territórios do antigo império, e a Hungria tornou-se uma nação separada. A nova Áustria - enormemente reduzida em tamanho e poder - foi proibida de se unir à Alemanha.

Mudanças territoriais também reformularam o Oriente Médio. O Império Otomano perdeu suas posses territoriais fora da Turquia. Alguns países do Oriente Médio obtiveram sua independência e outros se tornaram mandatos britânicos, franceses ou gregos. Na Turquia, nacionalistas depuseram o sultão otomano.

O Império Otomano perdeu suas posses territoriais fora da Turquia

Como esperava o Presidente Wilson, o Tratado de Versalhes formou a Liga das Nações. Os membros da Liga concordaram em respeitar as fronteiras territoriais de outros integrantes da organização. Qualquer disputa entre os membros seria resolvida na própria Liga das Nações. Com o passar do tempo, mais de 60 países integraram a Liga das Nações.

Todavia, para descontentamento do presidente Wilson, os Estados Unidos não ingressaram na Liga das Nações. O isolacionismo - o desejo de permanecer fora de conflitos estrangeiros - ganhou força entre os norte-americanos após a guerra. Temendo que sua associação à Liga das Nações levasse os Estados Unidos a participar de futuros conflitos europeus, o Senado norte-americano se recusou a ratificar o Tratado de Versalhes.

A justiça do Tratado de Versalhes - especialmente em relação à Alemanha - foi debatida durante muitos anos. Críticos do acordo argumentavam que o governo do kaiser já havia sido deposto e que o terrível ônus do tratado ameaçava a estabilidade e sobrevivência do novo governo democrático alemão. Defensores do acordo, porém, afirmavam que a economia alemã havia se recuperado rapidamente e que a Alemanha estava produzindo ferro, aço e carvão em maior quantidade que antes da guerra.

As Consequências da Guerra

A Primeira Guerra Mundial, chamada na época de "Grande Guerra", teve impacto crucial na história do mundo. As mudanças resultantes da guerra e suas consequências negativas influenciaram o futuro de muitos países e nações.

No mínimo 10 milhões de soldados morreram durante a Primeira Guerra Mundial e 21 milhões de pessoas foram feridas. A guerra custou a vida de uma geração inteira de jovens. Populações civis, mesmo não participando das batalhas, morreram em consequência do conflito: alguns de fome, outros de uma gripe epidêmica que atingiu vários países europeus.

Populações civis fizeram grandes sacrifícios para assegurar que seus exércitos fossem providos com suprimentos suficientes. Os jornais eram censurados para evitar que noticiassem derrotas de seus exércitos nacionais. Os governos também tomavam mais e mais controle da economia e voltavam todas as fontes de produção para os esforços de guerra.

No início da guerra, líderes feministas na Grã-Bretanha e Estados Unidos adiaram sua luta por igualdade e trabalharam para ajudar seus países. Para permitir que os homens servissem nas forças armadas, muitas mulheres se empregaram em escritórios, fábricas, fazendas e indústrias. Durante a guerra, muitos líderes políticos demonstraram-se favoráveis a conceder o direito de voto às mulheres. De fato, no final da guerra, havia pouca oposição para garantir às mulheres direitos políticos. Em 1918, as mulheres britânicas com idade acima de 30 anos conquistaram o direito do voto. Em 1928, o Parlamento inglês permitiu que tanto as mulheres como os homens, com mais de 21 anos pudessem votar. Em 1919, o Congresso dos Estados Unidos aprovou uma emenda constitucional estendendo o direito de voto às mulheres. A Décima Nona Emenda tornou-se lei nos Estados Unidos, em 1920. Na mesma época, em muitos outros países do mundo - inclusive na Europa e na Rússia - as mulheres adquiriram o direito de voto.

Problemas resultantes da Guerra

Enquanto a Primeira Grande Guerra resultou em diversas mudanças políticas, também causou o agravamento de sentimentos nacionalistas. O militarismo cresceu, especialmente nos países que se ressentiram com os termos do acordo de paz. Na década após a guerra, extremistas formaram partidos políticos que glorificavam conflitos e violência. Esses partidos permitiram a ascendência de líderes militaristas em alguns países europeus.

O imperialismo e as rivalidades nacionalistas persistiram mesmo após o encerramento da guerra. Alguns alemães juraram que iriam anular o Tratado de Versalhes e reconquistar territórios perdidos. A Itália, apesar de ter vencido a guerra, alegava que merecia receber mais territórios austríacos e parte das colônias alemãs na África. Já os japoneses estavam desapontados com os acordos territoriais em relação à Ásia.

A Liga das Nações não foi capaz de agir com eficiência para impedir que surgissem conflitos entre seus membros. Nos anos seguintes, a paz novamente foi quebrada e o mundo foi tomado pela maior e mais devastadora guerra de sua história.

Sumário

- A Tríplice Entente
- Tensão e Nacionalismo na Europa
- O Início da Guerra
- Alianças na Primeira Guerra Mundial
- Os Aliados e os Impérios Centrais
- A Frente Ocidental da Guerra
- A Frente Oriental da Guerra
- Outras Frentes da Guerra
- A Neutralidade dos Estados Unidos no início da Guerra
- Os Estados Unidos ingressam na Guerra
- O Armistício
- Os Tratados de Paz
- A Conferência de Paz de Paris
- O Tratado de Versalhes
- As Consequências da Guerra
- Problemas resultantes da Guerra