Iluminismo

Iluminismo

O Iluminismo foi um movimento cultural que se desenvolveu na França, Inglaterra e Holanda nos séculos XVII e XVIII. A influência da Revolução Científica havia se espalhado além do mundo da Ciência. Filósofos admiravam Isaac Newton, pois ele lançava mão da lógica para explicar as leis que governam a natureza. Pensadores logo procuraram entender as leis que governam o comportamento humano. Objetivavam aplicar a razão e o conhecimento científico para estudar os fenômenos da sociedade humana abrangendo o governo, a economia e a educação. O Iluminismo incluiu ideias centradas na razão como principal fonte de autoridade e legitimidade e defendia ideais como liberdade, progresso, tolerância, governo constitucional e a separação entre Igreja e Estado.

 

Isaac Newton
Isaac Newton

Duas Visões de Governo

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes, filósofo inglês do século XVII, estabeleceu os estudos iniciais das ciências políticas. Após presenciar os horrores da Guerra Civil Inglesa, Hobbes concluiu que os conflitos fazem parte da natureza humana e que com a ausência de governantes haveria "guerra de todos contra todos". Em seu livro Leviatã ou a essência, forma e poder de uma comunidade eclesiástica e civil (1651), Hobbes descreveu que para evitar conflitos contínuos, as pessoas deveriam abrir mão de seus direitos e cedê-los a fortes governantes que garantiriam a lei e a ordem. Hobbes denominou este acordo entre o povo e seus governantes de Contrato Social.

Thomas Hobbes
Thomas Hobbes

Hobbes argumentou que o ser humano é, por definição, egoísta e, portanto, um governante precisaria do poder absoluto para manter seus cidadãos sob controle. Ele acreditava que independentemente de quão cruel ou injusto fosse um líder, todos os cidadãos deveriam obedecê-lo; qualquer rebelião contra o líder político resultaria na formação de uma sociedade sem leis.

John Locke

As ideias mais importantes de ciências políticas que surgiram durante o Iluminismo foram apresentadas por John Locke (1632-1704). Ao contrário de Hobbes, John Locke não acreditava que os seres humanos eram naturalmente egoístas e violentos. Acreditava que o caráter das pessoas era constituído e moldado por suas experiências de vida e que as pessoas poderiam aprender e se autoaperfeiçoar através de experiências passadas. Portanto, Locke era partidário da ideia de autogoverno.

John Locke
John Locke

Segundo Locke, todas as pessoas nascem livres e iguais, e imbuídas de três direitos naturais - vida, liberdade e propriedade. Ele afirmava que o propósito do governo é proteger tais direitos, e caso venha a falhar, os cidadãos têm o direito de removê-lo do poder.

A teoria de Locke exerceu profunda influência no pensamento político moderno. Sua afirmação de que o poder de um governo provém do consentimento de seu povo é o pilar da democracia moderna. As ideias de que o governo deve ser eleito baseado no consentimento popular e de que as pessoas têm o direito de se rebelar contra líderes injustos inspiraram as lutas por liberdade na Europa e nas Américas.

Os Filósofos

O Iluminismo alcançou o seu ponto mais alto na França, em meados do século XVIII. Paris, a capital francesa, se tornou o local de encontro dos maiores pensadores da época. Os críticos sociais eram representados pelos filósofos.

Os filósofos tentavam aplicar a razão a todos os aspectos da vida. Eles se opunham aos ideais de monarquia e direito Divino e protestavam contra os privilégios da nobreza e do clero, sendo que estes dois grupos controlavam a maior parte da riqueza francesa, mas, ao mesmo tempo, eram os que menos impostos pagavam.

A maioria dos filósofos não seguia as tradicionais crenças religiosas europeias. Eles baseavam seu conhecimento na lógica e na razão, e não nos ensinamentos da Igreja. Alguns filósofos eram ateus - pessoas que negam a existência de Deus. A maioria deles acreditava no Criador, mas rejeitava os rituais da Igreja e a autoridade do clero.

Um dos mais brilhantes e influentes filósofos da época foi François-Marie Arouet (1694-1778). Tendo adotado o nome de Voltaire, publicou mais de 70 livros sobre Ciência Política, Filosofia, História e Teatro.

Voltaire (François Marie Arouet)
Voltaire (François Marie Arouet)

Voltaire atacava e ridicularizava com frequência seus oponentes: o clero, os aristocratas e o governo. Apesar de ter sido preso duas vezes por insultar os nobres, nunca parou de lutar pela tolerância, razão e pelo estabelecimento de limites ao poder dos governantes. Voltaire foi um grande defensor do direito de livre expressão, externado em sua célebre frase: "Eu não concordo com o que você diz, mas defendo até a morte seu direito de dizê-lo".

Outro brilhante filósofo foi o advogado e aristocrata, Barão de Montesquieu. Após estudar o sistema inglês de governo que tanto admirava, Montesquieu escreveu "O Espírito das Leis" (1748). Nesta obra, até hoje estudada nos principais cursos de direito do País, Montesquieu argumentou em favor da separação dos poderes governamentais que resultaria numa divisão de autoridade entre diferentes repartições do governo. Uma destas divisões, o poder legislativo, criaria as leis. A segunda divisão, o poder executivo, garantiria o cumprimento das leis. A terceira divisão, o poder judiciário, interpretaria as leis. Montesquieu acreditava que a separação dos poderes impediria qualquer indivíduo ou grupo de obter controle absoluto do governo. Com uma divisão de poderes, a liberdade da população seria preservada contra possíveis líderes absolutistas e corruptos.

Barão de Montesquieu
Barão de Montesquieu

Outro importante filósofo foi Jean-Jacques Rousseau, que, ao contrário da grande maioria, afirmava que as artes e a ciência corrompiam a bondade natural das pessoas. Segundo Rousseau, os habitantes das sociedades ditas civilizadas são infelizes, inseguros e egoístas. Rousseau dizia que as pessoas deveriam viver ao ar livre, em harmonia com a natureza.

Em 1762, Rousseau resumiu sua filosofia política num livro chamado "Do Contrato Social". De acordo com a obra, o povo não daria a um governante ou representante o poder de criar leis para a sociedade. Ao invés disto, seria estabelecida uma forma de democracia direta: a aprovação de toda e qualquer lei seria votada por todos os membros da sociedade.

Reformas Políticas

Apesar de os filósofos admirarem o sistema inglês de governo, poucos como Locke e Rousseau, apoiavam a democracia. Voltaire assim escreveu: "A partir do momento em que pessoas comuns começarem a raciocinar, tudo estará perdido. Eu não suporto a ideia de um governo de massas". Segundo Voltaire, a melhor forma de governo seria uma monarquia na qual o governante compartilharia as ideias dos filósofos e respeitaria os direitos do povo. Um monarca "iluminado" introduziria reformas e governaria de forma justa.

Apesar de os filósofos representarem um pequeno grupo de pessoas, exerceram grande influência na sociedade europeia. Ao final do século XVIII, diversos monarcas, entre eles José II, imperador do Sacro Império Romano Germânico, Frederico II da Prússia, e Catarina, a Grande, da Rússia introduziram reformas governamentais que refletiram o espírito do Iluminismo. Estes líderes ficaram conhecidos como déspotas iluminados ou déspotas esclarecidos.

Os déspotas iluministas apoiavam muitas ideias dos filósofos, mas não conseguiram implementar reformas políticas duradouras. No entanto, praticaram a tolerância religiosa e acabaram com a censura em seus países. Esses líderes acabaram com a escravidão, simplificaram as leis e promoveram a educação. Porém, como seu próprio poder dependia do apoio dos nobres, estes não perderam seus privilégios.

A Disseminação de Ideias

Refletindo o entusiasmo pela educação, vários filósofos compilaram a Enciclopédia - uma obra de 28 volumes com diversos tópicos, a maioria versando sobre ciência e tecnologia. O editor-chefe da Enciclopédia foi Denis Diderot. Outros filósofos, como Voltaire e Montesquieu, também contribuíram com artigos.

Denis Diderot
Denis Diderot

Diderot começou a publicar os primeiros volumes da Enciclopédia em 1751. No entanto, os críticos do governo francês e da Igreja baniram a obra, declarando que menosprezava o poder da monarquia e incentivava o espírito de revolta, fomentando "corrupção moral, sentimentos antirreligiosos e falta de crença". Posteriormente, Diderot obteve permissão para continuar publicando a Enciclopédia; novos volumes foram periodicamente lançados até o ano de 1772.

A Enciclopédia serviu de fórum para que os filósofos atacassem as injustiças da sociedade. Um de seus artigos condenava a escravidão, declarando que ninguém tinha o direito de privar qualquer pessoa de sua liberdade.

A Contribuição das Mulheres para o Iluminismo

No século XVIII, as mulheres tinham pouca oportunidade de obter uma educação formal e participar ativamente dos estudos de ciência e filosofia. Mesmo assim, as mulheres desempenharam um papel importante na disseminação de ideias do período iluminista. Em Paris, mulheres da alta sociedade organizavam saraus - reuniões sociais onde escritores, filósofos e artistas se encontravam regularmente. Nos saraus, tocavam músicas, liam poesias e discutiam ideias.

As Artes durante o Iluminismo

Haydn, Mozart, Beethoven

A admiração iluminista pela ordem e pela razão refletia-se nas artes. A arte europeia dos séculos XVI e XVII fora marcada pelo Barroco - estilo grandioso e floreado. Os monarcas construíram palácios elaborados e os artistas criaram pinturas ricas em cores e detalhes.

Sob a influência do Iluminismo, os estilos de arte começaram a mudar, refletindo novas ideias de ordem e equilíbrio. Artistas e arquitetos passaram a utilizar estilos simples e elegantes, derivados da Grécia e Roma clássicas. Desta feita, o estilo do final do século XVIII passou a ser chamado de Classicismo.

Três das maiores figuras do período clássico foram os músicos Joseph Haydn, Wolfgang Amadeus Mozart e Ludwig van Beethoven. Haydn foi particularmente importante no desenvolvimento de novas formas musicais, como a sonata e a sinfonia. Mozart compôs mais de 600 obras, apesar de ter vivido apenas 35 anos. Beethoven compôs belíssimas músicas para piano, quartetos de cordas e sinfonias. A obra desses três artistas é mundialmente conhecida e apreciada, e se mantém como um grande legado do iluminismo.

Sumário

- Duas Visões de Governo
i. Thomas Hobbes
ii. John Locke
- Os Filósofos
- Reformas Políticas
- A Disseminação de Ideias
- A Contribuição das Mulheres para o Iluminismo
- As Artes durante o Iluminismo