Idade Média

Idade Média

A Idade Média ou Idade Medieval foi um período que durou aproximadamente de 500 a 1000 d.C. Após a queda de Roma, os impérios bizantino e islâmico se desenvolveram nas regiões orientais do antigo Império Romano. Na Europa Central e Ocidental, o declínio da autoridade romana levou ao surgimento da Idade Média.

O declínio do Império Romano causou um grande caos na Europa Central e Ocidental. Não havia mais um governo forte e a vida econômica era turbulenta. Apesar da formação de reinos germânicos, foi a Igreja Cristã quem deu aos europeus um senso de união.

Por volta do quinto século, os povos germânicos haviam estabelecido reinos ao norte da África, Itália, Espanha, Gália e Inglaterra - todos os reinos foram estabelecidos em terras que haviam pertencido a Roma. A vida política germânica era muito diferente da romana. Os povos germânicos eram divididos em tribos; cada pessoa era leal apenas a seu chefe tribal. Cada reino germânico era considerado propriedade pessoal de seu governante e essa terra era herdada por seus filhos - uma prática que frequentemente ocasionava guerras civis. O Império Romano havia-se caracterizado por suas grandes cidades e sua rica cultura. Em contrapartida, os povos germânicos eram rurais e não tinham a intenção de construir novas cidades nem de reconstruir aquelas que haviam sido destruídas.

Além disso, o sistema legal romano era codificado. As tribos germânicas, por outro lado, não possuíam sistema legal por escrito. Nas cortes romanas, os juízes estudavam evidências e buscavam provas antes de dar um veredicto. Os germânicos usavam métodos macabros para tentar descobrir se a pessoa era inocente ou culpada. Por exemplo, amarrava-se o indivíduo acusado de um crime, jogando-o no rio: se afundasse, era inocente, mas se flutuasse, era culpado.

Após a queda do Império Romano, o ensino nas escolas na Europa decaiu, subitamente. Com exceção do clero, poucas pessoas sabiam ler ou escrever. O latim já não era a língua mais falada nas províncias romanas. O conhecimento do grego estava quase perdido, e mesmo que as tribos germânicas tivessem grande tradição oral de canções e lendas, a língua escrita não existia.

A Igreja na Idade Média

Igreja da Idade Média
Igreja da Idade Média

Apesar do tumulto causado pelo colapso do Império Romano, as tradições germânicas, romanas e cristãs estavam-se fundindo em uma única civilização medieval. (A palavra "medieval" vem do latim e significa "idade média"). Um elemento que modelou a nova civilização foi o cristianismo. Muitos povos germânicos se converteram à fé cristã, havendo a realização de conversões em massa, por missionários, após a queda de Roma.

Sediada em Roma, a Igreja era a maior potência da sociedade medieval, considerada por muitos como guardiã e intérprete da fé religiosa. Os povos medievais acreditavam que a passagem para o Paraíso só era possível através da Igreja.

Nos últimos anos do Império Romano, a Igreja havia criado uma hierarquia religiosa, conhecida como clero. Alguns homens e mulheres dedicavam a vida à Igreja, servindo em ordens religiosas que eram comunidades de monges e freiras. Eles viviam à parte da sociedade, apenas se dedicando à oração e à realização de boas ações. A mais antiga ordem religiosa foi fundada por um monge italiano chamado São Benedito. O Mosteiro Beneditino em Monte Cassino, na Itália, foi construído no ano 529, sendo o mais famoso da era medieval.

Monges e freiras contribuíam à sociedade medieval: ensinavam habilidades profissionalizantes aos camponeses que trabalhavam nas terras da Igreja. Eles também criavam hospitais nos mosteiros, providenciavam abrigo a viajantes e mantinham a escolaridade viva na Europa, ao ler e escrever em latim e estudar antigos manuscritos.

Os mosteiros da Inglaterra e Irlanda foram especialmente importantes na preservação do aprendizado. São Patrício havia convertido os irlandeses ao cristianismo, no início do século V. Na Irlanda, a língua latina, em vias de extinção, tornou-se a língua da Igreja e dos eruditos. De fato, o latim sobreviveu na Irlanda mesmo após ter desaparecido em outras partes da Europa Ocidental.

Um outro segmento hierárquico do clero eram os padres. Eles administravam os sacramentos, que eram cerimônias religiosas tais como o batismo, a comunhão e o casamento. Eram os membros do clero quem tinha maior contato com o povo. Ofereciam aconselhamento, ensinavam as pessoas sobre o certo e o errado e tentavam ajudar os doentes e os pobres. As igrejas costumavam ser o centro dos vilarejos.

No clero, os arcebispos e os bispos eram os membros mais importantes: os bispos supervisionavam os padres em seus distritos e resolviam disputas religiosas. Os arcebispos, em contrapartida, supervisionavam os bispos. Acima dos arcebispos estava o líder da Igreja, em Roma, que seria futuramente chamado de Papa. Os Papas acreditavam ser responsáveis pela alma de todos os cristãos.

Um dos primeiros e mais importantes Papas foi Gregório I, também conhecido como Papa Gregório, o Grande. Ele permaneceu no cargo de 590 a 604. Sob o papado de Gregório, a Igreja exerceu poderes governamentais. Durante vários séculos a seguir, a Igreja manteve papel importante na vida política europeia.

Os Reinos Francos

Com o declínio do domínio romano, uma nova forma de governo apareceu no reinado dos francos. Estes eram um povo germânico que havia migrado para o Ocidente do Vale do Rio Reno. Nos séculos IV e V, tribos de francos estabeleceram-se em território romano.

Estima-se que no ano de 481, um governante franco chamado Clóvis uniu seu povo e conquistou os germânicos e romanos no norte da Gália. Alguns anos depois, ele capturou parte do reino visigodo, desta vez no sul da Gália.

Após a morte de Clóvis, em 511, seus filhos dividiram as terras francas. Os governantes locais lentamente foram perdendo poder para os nobres, que eram donos de grandes extensões de terra. Em cada reino franco, o poder era exercido por chefes oficiais do rei, que levavam o título de "Prefeito do Palácio".

Um dos Prefeitos do Palácio foi Pepino de Herstal (Pepino II), que reunificou as terras francas. De 687 a 714, Pepino governou todos os francos. Seu filho, Carlos Martel (ou Carlos Martelo) herdou o título e as terras de seu pai. Durante os anos 717-741, ele governou sobre a maioria da Gália como Prefeito do Palácio. Em 732, as forças de Carlos Martel derrotaram um exército muçulmano na Batalha de Poitiers, conhecida também como a Batalha de Tours. Esta vitória impediu outros avanços muçulmanos na Europa Ocidental.

No ano de 751, Pepino o Breve (conhecido também como Pepino o Moço ou Pepino III), filho de Carlos Martel, recebeu o título de "Rei dos Francos" em vez de "Prefeito do Palácio". O Papa e os nobres francos aprovaram a mudança e assim começou o governo da Dinastia Carolíngia, que duraria até o século X.

A razão do apoio do Papa a Pepino foi que ele esperava que os francos protegessem a Igreja contra os lombardos, um outro povo germânico. Os lombardos haviam conquistado parte do norte da Itália, no século VI, e estavam ameaçando as terras da Igreja ao redor de Roma. Pepino invadiu a Itália, derrotou os lombardos e deu ao Papa o território entre Roma e Ravena. Esta região ficou então conhecida como os Estados Papais (também conhecidos como os Estados Pontifícios ou Estados da Igreja).

O Império de Carlos Magno

Império de Carlos Magno
Império de Carlos Magno

No ano de 786, o filho de Pepino, Carlos Magno, também conhecido como Carlos, o Grande, tornou-se rei dos francos. Chamado de "pai da Europa", Carlos Magno foi uma figura extraordinária na história medieval. Era cristão devoto e um forte simpatizante da Igreja. Através de conquistas militares, expandiu a fé cristã, chegando a construir uma bela igreja em Aachen (ou Aquisgrão), sua capital, onde comparecia regularmente à missa.

Carlos Magno admirava a cultura das antigas Roma e Grécia e, apesar de nunca ter aprendido a escrever, incentivou o ensino na Europa, trazendo diversos eruditos para sua escola em Aachen. Sob a supervisão de um monge inglês chamado Alcuin, eles coletaram livros e leram os trabalhos dos antigos romanos, tendo também escrito histórias, textos religiosos e poemas, sempre imitando o estilo literário romano.

Carlos Magno dedicou grande parte de seu reinado à expansão do império. Derrotou o rei dos lombardos na Itália e conquistou parte do norte da Espanha aos muçulmanos. Tomou também para si parte das terras que hoje constituem a Alemanha e forçou o povo a se submeter ao seu governo e a se converter ao cristianismo. Estas conquistas unificaram a Europa Ocidental pela primeira vez, desde o auge do Império Romano.

No dia de Natal do ano de 800, o Papa Leão III coroou Carlos Magno como "Imperador dos Romanos". Deve-se notar, porém, que Carlos Magno não pretendia fazer renascer o Império Romano. Ao invés disso, seu novo império formou uma nova civilização - que combinava as culturas dos povos germânicos com o cristianismo e a cultura greco-romana. Esta combinação caracterizaria a Europa na Idade Média.

A Cultura Medieval

Durante a Idade Média, o comércio exterior resultou numa aproximação entre a Europa Ocidental, o Império Bizantino e o mundo muçulmano. Acadêmicos destas civilizações haviam preservado grandes obras gregas de literatura, filosofia e ciências, muitas das quais foram traduzidas para o árabe por eruditos muçulmanos. Na Europa, a Espanha e a Sicília se tornaram grandes centros de estudo, onde estas obras eram traduzidas para o latim - a língua dos acadêmicos europeus.

O crescimento das cidades na Europa e o desenvolvimento de sua classe média incentivaram o renascimento do estudo e da cultura. A população das cidades agora possuía meios financeiros para pagar pelos estudos; à medida que crescia a população urbana, aumentava a necessidade de alfabetizar as pessoas.

Buscando uma boa educação, os jovens passaram a estudar com os eruditos, que eram, em sua maioria, monges e padres. Com o passar do tempo, estes encontros acadêmicos entre alunos e professores levaram à criação das universidades. Uma das primeiras universidades da Europa foi fundada em Bolonha, Itália, em 1088. Por volta do ano 1200, já haviam sido fundadas outras em Paris (França), Oxford (Inglaterra) e Salerno (Itália).

As universidades instituíam programas acadêmicos e supervisionavam alunos e professores. Para que um aluno recebesse o grau de "mestre" e tivesse permissão de ensinar, precisaria passar pelos exames universitários e elaborar um trabalho acadêmico.

O currículo básico de uma universidade - seu programa de estudos - incluía sete matérias. Eram elas: gramática (língua e literatura latina), retórica (composição e discurso), lógica (a arte da razão), aritmética, geometria, astronomia e música. As universidades também ofereciam cursos mais avançados, nas seguintes áreas: religião, direito e medicina. Todas as palestras e exames universitários eram proferidos em latim.

Alguns dos principais eruditos da Idade Média se dedicavam ao estudo da Bíblia e de outros textos religiosos. Eles consideravam o cristianismo como sendo a base de todo o conhecimento humano. Quando os ensinamentos filosóficos e científicos dos antigos gregos foram disseminados na Europa, esses grandes acadêmicos se depararam com um conflito: a filosofia e sabedoria grega contradiziam muitas das ideias cristãs. Muitos desses acadêmicos passaram a rejeitar a filosofia grega e a menosprezar aqueles que a estudavam. Para esses estudiosos, a fé cristã estava absolutamente acima da lógica grega.

Contudo, outros acadêmicos medievais, conhecidos como os escolásticos, discordavam e alegavam que a razão poderia ser usada para explicar os ensinamentos cristãos. O mais brilhante dos escolásticos foi Tomás de Aquino, um integrante da ordem Dominicana de monges, no século XIII. Aquino afirmava que a razão e os ensinamentos cristãos eram divinos e, portanto, a lógica e a fé se complementavam. Seu livro, Suma Teológica, usou da metodologia lógica do grande filósofo grego Aristóteles para explicar alguns conceitos do cristianismo. Sua obra exerceu uma influência fundamental sobre as ideias e os ensinamentos de futuros pensadores cristãos.

Tomás de Aquino
Tomás de Aquino

Tomás de Aquino e outros acadêmicos medievais também perseguiram o estudo da ciência. Um dos maiores cientistas da época foi Roger Bacon (1214-1294). Monge e filósofo inglês, ele alertava que a maioria dos pensadores errava ao negligenciar o estudo da ciência, pois as descobertas científicas poderiam melhorar a vida das pessoas.

Vários acadêmicos medievais perseguiram o estudo da ciência, mesmo que alguns deles de forma pouco convencional. Alguns estudavam astrologia - uma ciência pouco ortodoxa que busca relacionar a influência dos movimentos dos astros e planetas sobre os acontecimentos na Terra. Outros estudiosos se dedicaram à alquimia - à procura de fórmulas mágicas que transformariam chumbo em ouro. Mesmo sendo menosprezada pela ciência, a alquimia contribuiu para o desenvolvimento da Química moderna.

O Estudo de Humanas

A grande maioria das pessoas ainda não sabia ler ou escrever, apesar de ter ocorrido durante a Idade Média um renascimento no aprendizado.

Desde o Império Romano, o latim era a língua da Igreja e dos eruditos. No entanto, durante a Idade Média, o latim deixou de ser a língua cotidiana - até mesmo na Itália. As pessoas passaram a falar outros idiomas, como francês, espanhol, italiano e português. Como estas línguas originaram do latim - a língua dos povos romanos - elas foram denominadas de línguas românicas. Outro conjunto de línguas, as anglo-germânicas - se desenvolveu no norte da Europa. Todos estes vernáculos, idiomas locais, foram adotados pelos povos europeus e usados na literatura e linguagem cotidiana desse continente.

O maior poeta da Idade Média foi Dante Alighieri, de Florença. Dante, que viveu durante os anos 1265-1321, escreveu poemas românticos para sua amada Beatriz. Sua principal obra foi a Divina Comédia, uma descrição de uma jornada pelo inferno, purgatório (onde os pecadores buscavam o perdão) e finalmente, o paraíso. Em sua obra-prima literária, Dante descreveu diferentes personagens e lugares da Europa medieval. A Divina Comédia foi escrita na língua italiana medieval e ajudou a estabelecê-la como o idioma literário da época.

Dante Alighieri
Dante Alighieri

Assim como Dante, um poeta inglês chamado Geoffrey Chaucer também estimulou o uso do vernáculo na literatura. Chaucer escreveu Os Contos da Cantuária (The Canterbury Tales), um clássico da literatura inglesa, escrita em versos que contam a história de um grupo de peregrinos a caminho da catedral de Canterbury. Chaucer escreveu no dialeto falado pelo povo da Londres medieval. Sua obra, muito lida e disseminada na Inglaterra, exerceu uma forte influência na formação da língua inglesa moderna.

Arte e Arquitetura

Quase todos os artistas da Idade Média criaram obras que demonstrassem sua devoção religiosa. Dois importantes estilos de arquitetura desenvolveram-se na época. O primeiro deles, denominado de estilo romanesco, foi o mais usado durante os séculos IX-XII. Este estilo arquitetônico, adaptado da arquitetura romana, era caracterizado pelo uso de arcos redondos no topo das construções.

A típica estrutura romanesca possuía paredes maciças - necessárias para segurar o teto, e pequenas janelas, com pouca iluminação em seu interior. A construção usava poucas cores e ornamentos, mas as portas e paredes eram decoradas com esculturas religiosas. O estilo romanesco foi utilizado para decorar igrejas, castelos e mosteiros da Europa.

No final do século XI, um novo estilo arquitetônico foi desenvolvido, marcado por construções mais altas e graciosas que as estruturas romanescas. Denominado de gótico, o novo estilo foi utilizado na construção das catedrais da Europa. Em construções romanescas, arcos redondos sustentavam a estrutura; nas góticas, as paredes eram sustentadas por arcobotantes e, portanto, poderiam ser altas e menos maciças, permitindo o uso de vitrais.

Muitas catedrais góticas ainda estão de pé, exibindo a habilidade dos artesãos medievais e demonstrando a importância da religião cristã, à época.

Catedral gótica
Catedral gótica

Sumário

- A Igreja na Idade Média
- Os Reinos Francos
- O Império de Carlos Magno
- A Cultura Medieval