Fim da Idade Média

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 Fim da Idade Média

Os séculos XII e XIII foram os pontos altos da civilização medieval. Mas, no século XIV, a Europa Ocidental sofreu uma fase conturbada, marcada por dificuldades econômicas, diminuição da população, guerras e o enfraquecimento da Igreja. Estes foram alguns dos sinais que anunciaram o fim da Idade Medieval.

Nos últimos anos da Idade Média a Europa Ocidental vivenciou problemas econômicos. Os fazendeiros não sabiam como manter o solo fértil e, em decorrência, tornaram-se improdutivas grandes áreas de cultivo. Um frio incomum atingiu a Europa no século XIV, causando uma redução no cultivo de alimentos. Os europeus tinham pouco para comer e sofreram muito em períodos de fome generalizada.

A maior devastação que atingiu a Europa no século XIV foi a peste bubônica, conhecida como a Peste Negra - uma doença transmitida por ratos. A peste provavelmente atingiu a Ásia em 1331 e se espalhou para o Ocidente, pela Rússia. Navios italianos retornando dos portos do Mar Negro levaram a praga para a Sicília e, em 1348, a epidemia se espalha pela Europa. Estima-se que aproximadamente 20 milhões de pessoas - um terço da população europeia da época - tenham morrido da doença. Mesmo aqueles que não adoeceram entravam em pânico, acreditando que estavam sendo punidos por seus pecados. Muitos tentaram se absolver de seus pecados cometendo autoflagelo. Multidões massacraram os judeus, acusando-os de responsáveis pela Peste Negra.

Milhões de fazendeiros e artesãos morreram da praga e, como consequência, as safras agrícolas e o artesanato decresceram. Diante da queda na oferta de produtos, os preços subiram e os nobres, necessitando de dinheiro, exigiram mais impostos dos camponeses. Em países como Inglaterra, França e Itália, os camponeses se revoltaram, denunciando a desigualdade econômica entre ricos e pobres.

A Guerra dos Cem Anos

A Europa Ocidental foi vitimada pelo conflito histórico entre Inglaterra e França. Em 1328, quando o rei da França morreu sem deixar sucessor, Eduardo III da Inglaterra, um sobrinho do rei francês, decidiu reivindicar o trono francês em 1337, ocasionando uma série de conflitos de grande poder destrutivo, que foram denominados de Guerra dos Cem Anos (1337-1453).

A Guerra dos Cem Anos foi travada quase sempre em solo francês, causando grande sofrimento aos camponeses e cidadãos urbanos do país. Muitos deles foram mortos nos conflitos e grande parte da safra francesa foi destruída. Na Batalha de Agincourt (ou Azincourt), em 1415, os arqueiros do rei inglês, Henrique V, derrotaram os franceses. Com esta vitória, a Inglaterra passou a controlar grande parte do norte da França. Por meio de um tratado assinado em 1420, o rei Henrique casou-se com Catarina de Valois, filha do rei da França, e se tornou herdeiro do trono francês. Isto deu a entender que a França logo estaria sob o domínio inglês.

Durante este ponto crítico na história europeia, uma camponesa de 17 anos de idade, chamada Joana D´Arc, surgiu para salvar a França. O filho do rei francês, Carlos, conhecido como o Delfim, perdeu o trono francês por causa do tratado de paz firmado entre Inglaterra e França. Joana D´Arc convenceu o Delfim a lhe dar um exército, alegando que ela havia sido escolhida pelos Céus para expulsar os ingleses da França.

Joana D´Arc

Joana D´Arc

Vestindo uma armadura e carregando uma bandeira religiosa, Joana D´Arc liderou o exército francês, conduzindo-o à vitória, em Orléans, em 1429. O Delfim foi então coroado rei da França, com o nome de Carlos VII. Joana D´Arc e seu exército obtiveram outras vitórias religiosas, mas, em 1430, ela foi capturada por inimigos do rei francês, sendo entregue aos ingleses. Um tribunal da Igreja julgou-a herege e bruxa; Joana D´Arc foi executada, tendo sido queimada viva. (É importante lembrar que em 1920, a Igreja Católica fez de Joana D´Arc uma santa).

Apesar de sua morte trágica, Joana D´Arc conseguiu fortalecer o sentimento de lealdade do povo francês à Pátria. Ela inspirou as tropas francesas a lutarem com mais coragem e determinação contra a Inglaterra e, por volta de 1453, os ingleses haviam perdido todas as suas posses territoriais na França, com exceção da cidade portuária de Calais.

Além de resultar numa maior união francesa, a Guerra dos Cem Anos aumentou o poder da monarquia na nação. Durante o conflito, reis franceses introduziram novos impostos que aumentaram muito a receita da monarquia. Os reis utilizavam esse dinheiro para contratar soldados, não precisando, assim, depender das tropas pouco leais, que eram fornecidas pelos senhores feudais.

Em 1461, Luís XI tornou-se rei da França e, usando de diplomacia, suborno e força, foi capaz de trazer muitos territórios franceses sob o seu controle. Isto permitiu que ele estabelecesse a monarquia absolutista na França.

Para a Inglaterra, porém, a Guerra dos Cem Anos teve consequências bem diferentes. A perda dos territórios franceses e um acordo de paz mal aceito pelos ingleses criaram descontentamento no país. Além disso, a família real inglesa se dividiu em duas facções rivais, em 1455. A luta pelo trono tornou-se conhecida como a Guerra das Duas Rosas - devido ao símbolo utilizado pelos dois grupos: um deles adotou uma rosa vermelha e o outro, uma rosa branca.

Durante esta guerra interna, que durou 30 anos, quatro reis ascenderam ao trono inglês, mas foram posteriormente depostos, assassinados, ou mortos em batalha. Centenas de nobres, muitos deles das mais poderosas famílias da Inglaterra, morreram na Guerra das Duas Rosas, enfraquecendo assim a nobreza inglesa.

As guerras terminaram em 1485, quando Henrique Tudor se tornou rei da Inglaterra, adotando o título de Henrique VII. Durante seu reinado (1485-1509), ele se dedicou à unificação da Inglaterra. Para facilitar este processo, ele se casou com uma representante da facção de oposição e iniciou a Casa de Tudor - uma dinastia de monarcas britânicos. Membros desta família governaram a Inglaterra até 1603. A partir de Henrique VII, a Inglaterra, assim como a França, passou a ter uma monarquia sólida.

A Perda de Autoridade do Papa

Durante os últimos anos da Idade Média, enquanto os monarcas conquistavam mais poder, o papado perdia autoridade e força política. Este fenômeno se tornou ainda mais visível quando, em 1296, o Papa Bonifácio VIII entrou em conflito com o rei Filipe IV, o Belo, da França. O rei francês exigiu impostos de igrejas francesas e, em outro episódio historicamente marcante, ele levou a julgamento um bispo, aprisionando-o. Ambos os atos do rei Filipe IV foram violações à lei da Igreja.

Em 1302, o Papa Bonifácio VIII declarou que o Papa tinha autoridade suprema sobre todos os demais governantes. Ultrajado com a declaração, o rei Filipe IV enviou soldados para prender o Papa. O líder da Igreja foi logo libertado, mas morreu de velhice um mês depois.

Papa Bonifácio VIII
Papa Bonifácio VIII

Em 1305, foi eleito Papa Clemente V, arcebispo francês e amigo do rei Filipe IV. Em vez de mudar-se para Roma, o novo Papa se estabeleceu em Avignon, França. Durante os anos 1309-1377, todos os Papas eram franceses e governavam de Avignon, e não de Roma, sendo frequentemente obrigados a apoiar as políticas do rei francês. Os romanos denominaram esse período de papado como o Cativeiro na Babilônia (ou Exílio Babilônico), fazendo uma comparação com a época em que o povo judeu foi exilado da antiga Israel para a Babilônia (atual Iraque).

O papado retornou à Roma em 1377, mas os conflitos políticos e religiosos continuaram. Em 1378, os romanos exigiram a eleição de um papa italiano, Urbano VI. Mas o novo Papa logo entrou em conflito com os cardeais que o haviam escolhido. Como resposta, os cardeais, em sua maioria, franceses, deixaram Roma e elegeram Clemente VII como novo Papa em Avignon. Para o desagrado de muitos cristãos, agora havia dois Papas, ambos se recusando a abdicar de sua posição. Começava então o Grande Cisma do Ocidente, uma divisão dentro da Igreja que duraria 40 anos. Em 1417, porém, ambos os lados rivais concordaram em eleger um novo Papa que viveria e governaria a Igreja a partir de Roma.

Mas a Igreja foi forçada a enfrentar outros problemas. Muitos cristãos sentiam que os papas desempenhavam papéis políticos - não religiosos ou espirituais. Muitos cristãos acreditavam que o papado não deveria intervir na política e no governo da monarquia. Reformistas criticavam a Igreja por possuir tamanha fortuna e afirmavam que o clero tinha a obrigação de respeitar as leis do Estado. Um renomado reformista foi John Wycliffe, erudito da Universidade de Oxford, na Inglaterra. Wycliffe questionou a crença de que uma pessoa só conseguiria adquirir salvação através da Igreja e afirmou que a Bíblia, e não a Igreja, era a fonte suprema de autoridade religiosa. Para que todas as pessoas pudessem ler a Bíblia, Wycliffe e seus seguidores fizeram a primeira tradução do Livro Sagrado para a língua inglesa.

John Wycliffe
John Wycliffe

Wycliffe e seus seguidores foram condenados como hereges, sendo então excomungados. Alguns deles foram queimados vivos. Apesar desta brutalidade, o descontentamento popular com a Igreja cresceu e se espalhou pela Europa. A História mostraria, posteriormente, que isto levou muitos cristãos a deixarem a Igreja Católica e fundarem novas Igrejas Cristãs.

O Fim da Idade Média

Durante muito tempo, a Idade Média foi considerada um "período negro" na história da humanidade. Mas, hoje em dia, historiadores contemporâneos expressam admiração pela civilização medieval e apontam as importantes mudanças ocorridas durante o período: no século XV, Inglaterra e França se estabeleceram como estados fortes e unificados; apesar dos governantes da época terem muito poder, o povo começou a participar no governo, como no parlamento inglês; formou-se uma nova classe média com riqueza e influência; apesar da Igreja exercer um forte domínio sobre a vida das pessoas, seu poder começou a decair, permitindo uma maior democratização política e religiosa na Europa. Todos estes sinais indicavam que a Idade Medieval estava chegando ao fim.

Sumário

- A Guerra dos Cem Anos
- A Perda de Autoridade do Papa
- O Fim da Idade Média