Tomás de Aquino

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Contexto Histórico

Após a queda do Império Romano, o caos reinava na Europa. Não havia governos fortes, a vida econômica era turbulenta e poucas pessoas sabiam ler e escrever. Apesar da formação de reinos germânicos, foi a Igreja Cristã quem deu aos europeus um senso de união. Muitos povos germânicos se converteram à fé cristã.

Sediada em Roma, a Igreja era a maior potência da sociedade medieval, considerada por muitos como guardiã e intérprete da fé religiosa. Os povos medievais acreditavam que a passagem para o Paraíso só era possível por meio da Igreja.

Com exceção do clero, poucas pessoas eram alfabetizadas. Portanto a Igreja monopolizava o saber e a cultura.

Com o crescimento das cidades da Europa e o desenvolvimento de uma classe média europeia, ocorreu um renascimento do estudo e da cultura. A população das cidades agora possuía os meios financeiros para financiar seus estudos. À medida que crescia a população urbana, aumentava a necessidade de alfabetizar as pessoas.

Buscando uma boa educação, os jovens passaram a estudar com os eruditos, que eram, em sua maioria, monges e padres. Com o passar do tempo, esses encontros acadêmicos entre alunos e professores levaram à criação das universidades.

Alguns dos principais eruditos da Idade Média se dedicavam ao estudo da Bíblia e de outros textos religiosos. Eles consideravam o cristianismo como sendo a base de todo o conhecimento humano. Quando os ensinamentos filosóficos e científicos dos antigos gregos foram difundidos na Europa, esses grandes acadêmicos se depararam com um conflito: a filosofia e sabedoria grega contradiziam muitas das ideias cristãs. Muitos desses acadêmicos passaram a rejeitar a filosofia grega e a menosprezar aqueles que a estudavam. Para esses estudiosos, a fé cristã estava absolutamente acima da lógica grega.

Contudo, outros acadêmicos medievais, conhecidos como os escolásticos, discordavam com esse ponto de vista. Alegavam que a razão poderia ser utilizada para explicar os ensinamentos cristãos. O mais brilhante dos escolásticos foi Tomás de Aquino – um integrante da ordem Dominicana de monges, que viveu no século XIII. Aquino afirmava que ambos a razão e os ensinamentos cristãos eram Divinos e que, portanto, a lógica e a fé se complementavam.

Escolástica: teoria filosófica que procurou conciliar a doutrina cristã com a lógica de Aristóteles. 

A Vida de Tomás de Aquino

Filósofo e teólogo, São Tomás de Aquino nasceu em 1225, na cidade de Roccasecca, na Itália. Nasceu em uma família nobre do Reino da Sicília e era o mais novo entre nove filhos. Relata-se que aos cinco anos de idade, Tomás foi enviado a um monastério para estudar com os monges beneditinos. Ele lá permaneceu até os 13 anos.

Tomás de Aquino

Tomás de Aquino deixou o monastério e retornou à Nápoles, onde estudou, pelos próximos cinco anos, no Lar Beneditino, que era afiliada à Universidade de Nápoles. Em 1239, ele passou a cursar essa universidade, onde estudou os ensinamentos de Aristóteles. Os escritos desse filósofo grego tiveram grande influência sobre os ensinamentos de Tomás de Aquino. Este usou os pensamentos de Aristóteles para explicar os fundamentos da fé cristã.

Tomás de Aquino desenvolveu interesse pela Ordem Dominicana, adentrando-a, secretamente, em 1243. Ele era atraído pela ideia de uma vida dedicada ao serviço espiritual e desapegada de riqueza material. Os monges beneditinos viviam um estilo de vida protegido. Quando sua família descobriu, sentiu-se tão traída pelo fato de ele não ter adentrado a Ordem Beneditina que o sequestraram, mantendo-o preso por um ano, para tentar mudar suas crenças. Queriam que ele levasse uma carreira eclesiástica respeitável como abade no Mosteiro Beneditino, o que melhoraria tanto a fortuna da família como a sua própria.

Quando foi solto, Tomás de Aquino retornou à Ordem Dominicana. Ele foi ordenado em 1250, na Alemanha, e mudou-se para Paris para ensinar Teologia na Universidade de Paris.

Tomás de Aquino fez doutorado em Teologia. Após completar seus estudos, dedicou sua vida a viajar, escrever, discursar e pregar.

Em 1272, retornou a Nápoles para iniciar um programa de estudos de Teologia no Lar Dominicano, próximo à universidade. Nessa época, escrevia prolixamente, mas a qualidade de suas obras passou a piorar.

Durante a Festa de São Nicolau em 1273, São Tomás Aquino teve uma visão mística que fez com que ele perdesse o interesse em seus escritos. Ele afirmou que durante a missa ouviu um voz originando do crucifixo que disse: “Bem tem você escrito sobre mim, Tomás. O que devo te dar em recompensa?” São Tomás Aquino respondeu: “Ti mesmo, meu Senhor”. Após esse incidente, São Tomás nunca mais voltou a escrever.

São Tomás Aquino faleceu em 1274. Ele foi canonizado pelo Papa João XXII em 1323.

Suas Obras

Escritor prolixo, São Tomás de Aquino escreveu quase 60 obras. Cópias de seus manuscritos foram distribuídas pelas bibliotecas da Europa. Seus escritos filosóficos e teológicos tratam de uma diversidade de assuntos.

São Tomás de Aquino reconciliou as duas concepções filosóficas fundamentais da época: a visão grega da lógica e a visão cristã da fé. Ao mesclar os princípios teológicos da fé com os princípios filosóficos da razão, São Tomás de Aquino se tornou um dos pensadores escolásticos mais influentes.

São Tomás de Aquino vivia em uma época em que as pessoas não sabiam como conciliar a Revelação (conhecimento religioso) e a informação que obtinham por meio da mente e dos sentidos (conhecimento laico). O filósofo ensinava que ambos a razão e os ensinamentos cristãos eram Divinos e que, portanto, a lógica e a fé se complementavam.

Conforme os ensinamentos de Aquino, a lógica e a fé, além de não serem incompatíveis, podem agir em conjunto. Ele acreditava que a Revelação poderia guiar a razão e preveni-la de cometer erros, ao passo que a razão poderia esclarecer e desmistificar a fé.

Em sua obra, Suma Teológica, utilizou a metodologia lógica de Aristóteles para explicar alguns conceitos do cristianismo. Sua obra exerceu uma influência fundamental sobre as ideias e os ensinamentos de futuros pensadores cristãos.

A obra de São Tomás de Aquino discute a fé e os papel da razão em perceber e provar a existência de Deus.

Suma Teológica

Em Suma Teológica, Tomás de Aquino tentou resolver os pontos de conflito entre a fé e a razão. Ele passou sete anos escrevendo essa obra, que nunca foi terminada.

Ao adotar princípios e conceitos do filósofo grego Aristóteles, Aquino tentou explicar a origem, o funcionamento e o propósito do universo. Ele nunca duvida da verdade dos princípios de sua fé. Em vez disso, emprega técnicas de argumentação que aprendeu dos ensinamentos de Aristóteles para afirmar, defender e elaborar tais princípios.

A grande importância de Suma Teológica se deve à crença de Aquino de que uma parte significativa da teologia pode ser expressada por meio de um sistema abrangente e racional.

Suma Teológica, como o próprio título indica, é um “resumo teológico”. O objetivo da obra é descrever o relacionamento entre Deus e o homem e explicar como a reconciliação do homem com o Divino se torna possível por meio de Cristo.

Suma Teológica é dividida em três partes, e cada uma delas contém várias subdivisões. Na primeira parte, cujo principal tema é Deus, Aquino cita provas de Sua existência e delineia Seus atos e Sua natureza. A segunda parte da obra examina a natureza e o ser humano e discute questões como o propósito do homem na terra, tipos de leis, vícios e virtudes, prudência e justiça, coragem e temperança, graça, ira, etc. A terceira e última parte da obra é dedicada ao assunto da natureza de Cristo e o papel dos sacramentos ao servir como ponte entre Deus e o homem.

Aquino tentou apresentar uma visão universal e racionalista de toda a existência.

Em Suma Teológica, SãoTomás de Aquino cita as virtudes morais: prudência, temperança, justiça e fortaleza.

A Prudência

Em Suma Teológica, Tomás de Aquino afirma que a prudência é uma das virtudes morais – uma virtude indispensável para que o ser humano aja corretamente e pelos motivos certos.  

Para agir corretamente, é necessário ponderar antes de agir. Esse tipo de comportamento está associado à prudência, que Aquino define como “sabedoria a respeito dos assuntos do homem”. Aquino ensinava que para se tomar boas decisões morais, é necessário ter conhecimento de duas coisas: os princípios morais que guiam as ações e as circunstâncias particulares de cada situação que exige que uma decisão seja tomada. A boa ação, guiada pela prudência, parte de uma análise correta da realidade (uso da razão) e é essa análise que possibilita tomar a decisão correta numa dada situação específica.

A prudência é uma virtude que possibilita ao ser humano encontrar o “caminho certo”. A prudência se apresenta, ao lado da razão, como caminho para a felicidade, já que possibilita ao homem agir corretamente.

Por ser uma virtude cardeal, a prudência é a base de várias outras excelentes virtudes. Estas são: memória, inteligência, docilidade, astúcia, razão, presciência, circunspecção e cautela. Na ausência dessas excelentes virtudes, o indivíduo pode cometer erros cognitivos, o que pode preveni-lo de agir de forma moral e correta. Por exemplo, ele pode rejeitar bons conselhos, tomar decisões precipitadamente ou agir sem pensar.

A prudência é uma virtude do indivíduo.

A Temperança

Temperança tem um duplo significado. Em geral, significa um tipo de moderação, que é uma qualidade que todas as virtudes morais possuem. Em um sentido mais restrito, temperança significa moderar os prazeres, especialmente os ligados aos alimentos, à bebida e às relações sexuais.

A coragem

A virtude de coragem trata das emoções de medo e confiança. É uma das virtudes que aperfeiçoa o apetite irascível. Por “apetite irascível”, Aquino se referiu ao desejo por algo que seja difícil de obter ou evitar. Precisamos de coragem para restringir nossos medos, para que possamos suportar situações angustiantes. Sem coragem, o ser humano é controlados por medos irracionais ou por uma falta de responsabilidade, que rejeita bons conselhos, tornando-o vulnerável a maus desnecessários.

A Justiça

As virtudes discutidas acima dizem respeito ao homem consigo mesmo. A virtude da justiça, por outro lado, trata dos relacionamentos entre um ser humano e os demais. A justiça é uma das virtudes que aperfeiçoa a vontade. A justiça governa as relações de um ser humano com outras pessoas e com seus concidadãos.

Por exemplo, o objetivo de um sistema legal é governar os atos das pessoas para que sejam benéficos à sociedade. Espera-se que uma comunidade adote leis que sejam respeitadas por seus membros para o benefício de todos.

A Existência de Deus

São Tomás de Aquino acreditava que a existência de Deus pode ser provada de cinco formas:

1 - Primeiro Movedor – ao observar o movimento no mundo, que serve como prova de que Deus é o Movedor Imóvel.
2 - Causa Eficiente – ao observar a relação de causa e efeito e identificar Deus como a causa de tudo.
3 - Existência necessária e contingente – concluir que a temporariedade dos seres prova a existência de um Ser necessário, Deus, que origina apenas de Si mesmo. 
4 - Graus de Perfeição – perceber os vários níveis de perfeição humana, o que leva à conclusão de que deve haver um Ser supremo e perfeito.
5 - A finalidade do ser – saber que os seres vivos não poderiam ter inteligência se não houvesse sido dada por Deus.

Depois de defender a ideia de que as pessoas têm a habilidade de naturalmente perceber as provas sobre a existência de Deus, São Tomás Aquino tratou do desafio de proteger a imagem de Deus como um ser Todo Poderoso.

Ao mesclar princípios tradicionais da Teologia com o pensamento filosófico moderno, os tratados de São Tomás Aquino abordaram as perguntas e as dificuldades dos intelectuais medievais, das autoridades eclesiásticas e de leigos. Seus ensinamentos tiveram uma influência singular na época e ainda hoje são estudados, tanto por teólogos como por filósofos.

Sumário

- Contexto Histórico
- A Vida de Tomás de Aquino
- Suas Obras
i. Suma Teológica
ii. A Existência de Deus

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