O Existencialismo

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O Existencialismo

O Existencialismo é um movimento na Filosofia e na Literatura que enfatiza a existência individual, a liberdade e o livre arbítrio. Iniciado em meados do século XIX, o ápice do movimento existencialista ocorreu em meados do século XX, na França. O Existencialismo se fundamenta no conceito de que os seres humanos definem o significado de sua vida e tentam tomar decisões racionais apesar de viverem em um universo irracional.

O foco do Existencialismo é a questão da existência humana e o sentimento de que não há propósito ou explicação no cerne da existência. O Existencialismo acredita que os indivíduos têm total liberdade e que devem assumir responsabilidade pessoal. Ensina que a ação, a liberdade e o poder de tomar decisões são fundamentais para que o ser humano supere a condição essencialmente absurda da humanidade. O Existencialismo acredita que a responsabilidade leva à profunda angústia ou ao temor e que a vida é caracterizada pelo sofrimento e pela inevitabilidade da morte. 

Os conceitos existencialistas de liberdade e valor derivam da forma como esse movimento filosófico encara o indivíduo: já que, essencialmente, todos os seres humanos são sozinhos – ilhas isoladas de subjetividade habitando um mundo objetivo – todos têm absoluta liberdade sobre sua natureza interna.  

Para o Existencialista, a situação humana é caracterizada pelos seguintes conceitos:

1. Facticidade: Vivemos em um mundo que não criamos e que é indiferente às nossas preocupações. Os seres humanos se encontram em um mundo que não controlam e que não escolheram.

2. Ansiedade: Os seres humanos se defrontam com a falta de uma fonte externa de valores e determinismo. Enfrentam a responsabilidade de escolher sua própria natureza e valores por meio de suas escolhas.

3. Desespero: Os seres humanos, ao perceberam o contraste entre o mundo em qual habitam – e sobre o qual não exercem controle – e a liberdade absoluta que possuem para se autocriarem, devem desistir do determinismo e se restringir ao que está sob seu controle.

Muitos filósofos existencialistas não se identificavam com o movimento e nunca utilizaram o termo “existencialismo”. O filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard (século XIX) e o filósofo alemão Friedrich Nietzsche são considerados filósofos pré-existencialistas, tendo sido os precursores do movimento.

Kierkegaard e Nietzsche se interessam pelo fato de as pessoas ocultarem a falta de significado da vida e utilizarem distrações para fugir da monotonia.

Alguns existencialistas, como Nietzsche, proclamaram a “morte de Deus”, afirmando que o conceito de Deus estava obsoleto. Outros, como Kierkegaard, eram profundamente religiosos. O conceito mais importante para os existencialistas era o livre arbítrio. Por exemplo, o direito que o homem tem de escolher acreditar em Deus ou não.

O Existencialismo amadureceu em meados do século XX, graças às obras eruditas e fictícias de existencialistas franceses, como Jean-Paul Sartre (1905-1980), Albert Camus (1913-1960) e Simone de Beauvoir (1908-1986). As obras de tais pensadores popularizam temas existencialistas, como o pavor, a monotonia, a alienação, a ansiedade, o sofrimento e o absurdo.

Escritores como o russo Fiodor Dostoievski (1821-1881) e o tcheco Franz Kafka (1883-1924) exerceram grande influência sobre o movimento. 

Søren Kierkegaard

Søren Kierkegaard
Søren Kierkegaard

Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855) nasceu na Dinamarca no século XIX e foi filósofo, teólogo e satirista. Muitos o consideram o “pai” do Existencialismo. Sua família era rica, o que permitiu que ele dedicasse sua vida a interesses intelectuais.

Kierkegaard é considerado por muitos como tendo sido um opositor de Hegel e dos filósofos hegelianos.

Kierkegaard foi um autor pseudônimo: algumas de suas mais famosas obras foram escritas por meio de nomes fictícios. O filósofo acreditava que uma obra deveria ser valorizada por sua qualidade e que sua apreciação não deveria ser influenciada pela autoridade de seu autor.

Kierkegaard acreditava que as massas estavam sempre erradas. Ele afirmava que não é correto solicitar a opinião de outras pessoas, pois isso significa evitar assumir responsabilidade pelo conteúdo e pela justificação de convicções. O filósofo também acreditava que o indivíduo deveria agir sem contar com o apoio ou o consentimento de outros.

Em seus escritos, Kierkegaard abordou temas como a monotonia, a ansiedade e o desespero.

De acordo com Kierkegaard, a ansiedade é a única forma correta de se reagir emocionalmente à condição de liberdade humana. Isto é, o fato de o ser humano saber que tem liberdade para pensar e agir causa, naturalmente, com que ele sinta um medo profundo a respeito de como pensará e agirá.

Kierkegaard acreditava que a racionalidade era o mecanismo que os seres humanos utilizavam para lutar contra a ansiedade existencial – o medo de estar presente no mundo. O filósofo enfatizou que os indivíduos precisam escolher seu próprio caminho na vida, sem depender de padrões universais e objetivos.

Kierkegaard fez uma distinção teórica entre a verdade objetiva e a subjetiva. Para o filósofo, o que vale na vida é a verdade subjetiva. Esta é pessoal. Isto é, a forma como acreditamos em algo importa muito mais do que em que acreditamos. Além dos fatos e teorias, precisamos também nos relacionar de forma correta aos fatos – precisa haver uma relação correta entre o conhecedor e o que é conhecido. Em contraste com Kierkegaard, a tradição racional objetiva excluir o pensador individual, pois objetividade significa algo que independe de qualquer ponto de vista. A principal crítica de Kierkegaard à filosofia hegeliana é o fato de ela não levar em consideração a subjetividade humana.

Na obra que foi provavelmente a sua primeira, Either/Or (A Alernativa) (1843), Kierkegaard sugere que as pessoas podem escolher viver dentro de uma das duas “esferas da existência”. Ele denominou essas “esferas” estética e ética.

A esfera estética é o âmbito de experiências sensórias e de prazeres. Kierkegaard acreditava que o “prazer”, a “novidade” e o “individualismo romântico” levavam à decadência ou se tornariam insignificantes. Isso inevitavelmente levaria à monotonia e à frustração.

De acordo com o filósofo, vidas éticas eram aquelas vividas conforme a obrigação de respeitar as normas “sociais”. De certa forma, esse tipo de vida era fácil de se viver, mas significava abrir mão de capacidades e potenciais humanos. Kierkegaard argumentava que a obediência à obrigação não alivia a ansiedade, pois a obrigação e a inclinação são forças opostas e o ser humano logo aprende que obrigação significa aquilo que contrasta com seus desejos. O filósofo também ensinava que a culpa pertence à vida ética e que ninguém cumpre suas obrigações perfeitamente. Mesmo quando há sucesso, pensamentos de prazeres alheios e desejos obscurecem motivos éticos. Na vida ética, vivencia-se o problema da liberdade e da contradição entre o prazer e o dever.

Kierkegaard ensinava que o tipo de pessoa que alguém se torna depende das escolhas de vida que toma e da forma como vive. Kierkegaard acreditava que nenhuma das duas “esferas de existência” que ele havia identificado oferecia uma vida totalmente satisfatória aos seres humanos.

Em suas obras posteriores, o filósofo sugeriu que havia uma terceira “esfera”, a religiosa. Nessa esfera, as pessoas aceitavam que poderiam “viver na verdade” como “indivíduos perante o Eterno”, a quem pertenciam. Ao viver nessa verdade, as pessoas poderiam alcançar uma união completa de propósito com todas as outras pessoas que também estivessem vivendo, individualmente, a mesma verdade.

Kierkegaard também escreveu sobre o desespero. O filósofo definiu o desespero como sendo o resultado da tensão entre o finito e o Infinito: os seres humanos temem morrer, mas também temem viver eternamente. De acordo com o filósofo, a única forma de escapar tal desespero é ter fé total em D’us. Essa foi a escolha que Kierkegaard fez em seus esforços de viver uma vida significativa.

Nietzsche

Friedrich Nietzsche
Friedrich Nietzsche

Friedrich Nietzsche (1844-1900) foi um filósofo alemão que viveu no final do século XIX e que desafiou os fundamentos do cristianismo e a moralidade tradicional. Ele se interessava pelo engrandecimento do indivíduo e valorizava a vida, a criatividade, o poder e as realidades do mundo em que vivemos, e não as de algum mundo além do nosso.

Friedrich Nietzsche falava da “morte de D’us” e previa a dissolução da religião tradicional e da metafísica.

Friedrich Nietzsche dizia que o ser humano exemplar deveria moldar sua própria identidade por meio da autorrealização e fazê-lo sem depender de qualquer coisa que transcendia a vida – como D’us ou a alma.

Friedrich Nietzsche acreditava que o impulso dominante inerente a todos os seres vivos, inclusive o homem, é a vontade de permanecer vivo. Isso significa a vontade de ter poder sobre todas as forças que tornam a vida difícil ou impossível. Também argumentava que os seres humanos devem se esforçar para controlar seu ambiente e, portanto, fazer uma distinção até maior entre os homens e a as raças inferiores de animais.

Friedrich Nietzsche afirmava que todos os esquemas morais nada mais são que esforços para codificar leis que algumas pessoas acreditavam serem úteis para ajuda-las a permanecer vivas. O filósofo afirmava que apesar da alegação e crença que esses códigos foram criados por algum ser sobrenatural, na realidade, foram criados e impostos pelo homem. Ele acreditava que esses “códigos” deveriam mudar à medida que mudassem as condições da existência humana. Ele acreditava que qualquer código que não mudasse à medida que mudassem as circunstâncias representava uma força contra o progresso e a eficiência. Portanto, toda religião, cujo objetivo principal é a proteção de códigos morais contra a mudança, representa forças contra a vida e o bem estar de homens saudáveis e eficientes. Ele também afirmava que todas as ideias que originavam de tais religiões – como, por exemplo, as ideias cristãs de humildade, autos sacrifício e irmandade – eram antagônicas à vida.

Nietzsche acreditava que as pessoas que pertenciam à classe dominante deveriam rejeitar todas as religiões – suas ideias e os conceitos de moralidade que ensinavam – e retornar ao instinto primário, que permite que todo indivíduo possa diferenciar entre o que é benéfico e maléfico para si.

Nietzsche escreveu sobre o super-homem, German Übermensch, o homem superior, em Also sprach Zarathustra (1883–85). O homem superior não seria o produto de uma longa evolução e sim, surgiria quando qualquer homem com potencial superior se tornasse um mestre sobre si mesmo, atingisse superioridade e transcendência e se livrasse da convencional “moral de rebanho” do cristianismo, para criar para si seus próprios valores, que estão enraizados na vida nesta terra.

Sartre

Jean-Paul Sartre
Jean-Paul Sartre

Jean-Paul Sartre (1905-1980) é talvez o mais conhecido filósofo existencialista. É um dos poucos que aceitou ser chamado de “existencialista”.

Para Sartre, a essência da existência humana residia na liberdade – na obrigação da autodeterminação e do livre arbítrio. Sartre enxergava a racionalidade como uma forma de “fé ruim” – uma tentativa do homem de impor estrutura em um mundo fundamentalmente irracional e randômico. De acordo com o filósofo, essa “fé ruim” nos previne de encontrar significado na liberdade e nos restringe à experiência do dia a dia. Sartre, portanto, se dedicou a descrever a tendência humana à “fé ruim”, que é refletida na tentativa perversa da humanidade de negar sua própria responsabilidade e fugir da verdade de sua inescapável liberdade.

Ser e Nada (1943) é sua obra mais importante. Seus romances e peças, entre elas, Nausea (1938) e Sem Saída (1944) tornaram o movimento mais conhecido.

Sartre alegou que “A existência precede a essência”. Esse slogan se opõe a visão tradicional de que a Essência precede a Existência: de que possuímos uma certa natureza que determina o que somos e qual será nosso maior propósito ou valor. “A existência precede a existência” significa que não possuímos nenhuma natureza predeterminada ou essência que controla o que somos, o que fazemos ou o que valorizamos. Temos total liberdade para agir independentemente de influência externas. Nós criamos nossa própria natureza humana e nossos valores por meio dessas livres escolhas. De acordo com o ponto de vista existencialista, quando somos lançados para dentro da existência, não possuímos uma natureza predeterminada e é apenas mais tarde que construímos, por meio de nossos atos, nossa natureza ou essência.

Sartre acreditava na liberdade essencial dos indivíduos. Ele também acreditava que como seres livres, as pessoas são responsáveis por todos os elementos dentro delas, suas consciências e atos. Isto significa que a total liberdade deve ser acompanhada pela total responsabilidade.

Sartre definiu dois tipos, ou caminhos, de ser: en soi, ou em-si, e pour-soi, para-si. Ele utiliza o en-soi para descrever as coisas que possuem uma essência definível e completa, mas que não são conscientes de si ou de sua totalidade. Árvores, pedras e pássaros, por exemplo, são classificados nessa categoria. Sartre utiliza o pour-soi para descrever seres humanos, que são definidos por possuírem consciência e, mais especificamente, por estarem conscientes de sua própria existência. Esse estado de para-si não existiria sem autoconsciência. No sistema filosófico de Sartre, a relação e diferença entre essas duas maneiras de ser é um ponto de discussão constante e indispensável. 

Albert Camus

Albert Camus
Albert Camus

Albert Camus (1913-1960) foi um existencialista francês-algeriano. Vencedor do Prêmio Nobel, foi jornalista, escritor de peças e romances e de ensaios filosóficos.

Seus temas mais comuns são o absurdo, a alienação, o suicídio e a rebeldia.

Em O Mito de Sísifo (1942), Albert Camus utiliza a analogia do mito grego de Sísifo – que é condenado a rolar, por toda a eternidade, uma pedra para cima da montanha para esta rolar para baixo toda vez – para exemplificar a falta de sentido na existência. Mas Camus demonstra que Sísifo eventualmente encontra propósito e significado em seu trabalho, simplesmente ao se dedicar constantemente a ele.

De acordo com Camus, quando o desejo de um ser humano por ordem se choca com a falta de ordem do mundo real, o resultado é o absurdo. Os seres humanos são, portanto, personagens em um universo indiferente, ambíguo e absurdo, em que o significado não é fornecido pela ordem natural, mas pode ser criado (mesmo que provisoriamente e de forma instável) por atos e interpretações humanas.

Sumário

- Søren Kierkegaard
- Nietzsche
- Sartre
- Albert Camus

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