Filosofia no Renascimento

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Filosofia no Renascimento

O Renascimento

Dá-se o nome de Renascimento ao movimento de renovação intelectual ocorrido na Europa dentro da transição do feudalismo para o capitalismo. Esse período marcante da história europeia foi caracterizado por grandes conquistas culturais, ocorridas durante os séculos XIV-XVI.

Não se pode entender o Renascimento como limitado às Artes e às Ciências, mas sim, como uma mudança nas formas de sentir, pensar e agir em relação aos padrões de pensamento e comportamento vigentes na Idade Média. 

Uma das principais características do Renascimento é o Humanismo, interpretado comumente como sinônimo de antropocentrismo ou valorização do ser humano. O verdadeiro sentido do humanismo renascentista, porém, era o estudo das Humanidades, isto é, da língua e literatura antigas. Durante o Renascimento, a Matemática e a Música também eram bastante estudadas.

Em termos filosóficos, o Renascimento representa um distanciamento do cristianismo e da lógica e uma aproximação ao Humanismo. Os Humanistas do Renascimento redescobriram as obras clássicas latinas e gregas. (“Renascimento” significa o renascer do mundo clássico). A filosofia humanista enfatizava a dignidade da humanidade: o intelectualismo passou a ser dedicado ao estudo do ser humano, e não mais à Teologia e Lógica. Os humanistas davam importância aos assuntos temporais e pessoais em vez de enxergar o mundo como um portal para a pós vida cristã.

Um novo senso crítico surgiu, que valorizava a contribuição dos antigos gregos, mas que também preparava o terreno para o nascimento da Filosofia Moderna na Era da Razão (Iluminismo). Os humanistas influenciaram o Renascimento Europeu e abriram caminho para o surgimento de um mundo laico e moderno.

Filosofia Renascentista

A cultura do período renascentista se caracterizava por uma intensa apreciação do indivíduo. Os pensadores se interessavam em aprender sobre as características únicas que distinguiam cada pessoa. Assim como os romanos, almejavam fama e sucesso. Como os gregos, acreditavam que seres humanos tinham a capacidade de realizar grandes feitos. Tais atitudes incentivaram um espírito de curiosidade e aventura entre os europeus.

Os homens e mulheres que constituíam a classe alta europeia eram os que mais desfrutavam do espírito do Renascimento, pois tinham tempo e dinheiro para fazê-lo. O pensamento renascentista considerava que a pessoa ideal era aquela dotada de vários talentos e habilidades: inteligência, cultura, criatividade, habilidades atléticas, etc.

Como os antigos gregos e romanos, a classe alta italiana prestigiava as pessoas que beneficiavam a sociedade. Valorizava o estudo das Ciências Humanas e a aquisição de talentos considerados valiosos para líderes políticos e sociais, como o dom da oratória, boas maneiras e um estilo de escrita elegante.

Alguns filósofos famosos do Renascimento

  • Francisco Petrarca (1304–1374)
  • Desidério Erasmo (1466–1536)
  • Nicolau Machiavelli (1469–1527)
  • Nicolau Copérnico (1473–1543)
  • Thomas More (1478–1535)
  • Francis Bacon (1561–1626)
  • Galileo Galilei (1564–1642)

Francisco Petrarca

Francisco Petrarca, filósofo e poeta italiano, nascido em 1304, liderou o surgimento do Renascimento humanista. Ele estudou Literatura e Filosofia romanas, estimulando vários outros a fazerem o mesmo. Em suas obras, discutia as ideias de escritores romanos e copiava seus estilos. Escreveu centenas de poemas românticos em italiano.

Petrarca acreditava que o estudo de História Antiga e Literatura possuía um imenso valor moral e prático, pois tais assuntos tratavam dos pensamentos e das ações dos seres humanos. Ele reavivou a ética prática, que enfatiza introspecção e experiência.

Os pensadores da Idade Média tentaram usar as ideias de antigos escritores para apoiar e esclarecer os ensinamentos da Igreja. Em contrapartida, Petrarca e outros humanistas do Renascimento tentaram compreender toda a civilização do mundo antigo. Os pensadores medievais achavam que a vida na Terra era apenas um preparo para a vida após a morte. Já os renascentistas davam mais importância à vida terrestre.

Embora o Humanismo tenha sido associado ao secularismo, Petrarca foi um cristão devoto que não acreditava que havia conflito entre a realização do potencial humano e a fé religiosa. Ele se opunha à ideia de que a fé em Deus é um impedimento à busca de realizações laicas, pois acreditava que o vasto potencial humano para buscas criativas e intelectuais foi dado ao homem por Deus para que seja completamente realizado. Petrarca era um forte defensor da continuidade entre a Cultura Clássica e o Cristianismo. Por ter mesclado esses dois ideais, ele é considerado o fundador e o grande representante do Humanismo.

As duas maiores influências sobre Petrarca foram Cícero e Santo Augustinho. Cícero foi um famoso político e orador que viveu durante os últimos anos da República Romana e que escreveu longos tratados sobre Filosofia moral e religiosa e guias sobre a oratória. Ao estudar os ensinamentos de Cícero, Petrarca aprendeu Filosofia e como compor em latim. Ao estudar as obras de Santo Agostinho, desenvolveu suas ideias sobre o relacionamento do homem com Deus.

Petrarca foi um dos primeiros pensadores a chamar a Idade Média de Idade das Trevas. Ele é também considerado o responsável por aperfeiçoar o soneto, que se tornou uma das formas de arte mais populares na história da Europa.

Petrarca foi considerado o maior erudito de sua época. Ele influenciou a Literatura europeia de forma significativa e duradoura. Sua profunda consideração pelo Passado Clássico, como fonte de significado literário e filosófico, exerceu um papel importante na abertura do caminho para o Renascimento.

Nicolau Maquiavel

O Príncipe de Maquiavel

O clima político na Itália renascentista era de intensa competição pelo poder. O Papa, o Sacro Imperador Romano e os governantes da França e Espanha - todos famintos de poder – estudavam livros que supostamente ensinavam como ter sucesso na política. O mais famoso desses livros foi escrito por Nicolau Maquiavel de Florença, um diplomata e assíduo estudante de política. Maquiavel, que viveu durante os anos 1469-1527, utilizou exemplos da história romana para definir a o modus operandi de um governo eficaz. Ele ensinava que um governante deveria fazer o que fosse necessário para obter e manter o poder. Em seu famoso livro "O Príncipe" (1513) – um grande clássico da política –, Maquiavel escreveu que líderes frequentemente enganavam uns aos outros por meio de mentiras, quebras de promessas e até assassinatos. Segundo o autor, na política, as ações deveriam ser julgadas não por sua moralidade, e sim, por suas consequências. Até hoje, as visões e ensinamentos polêmicos de Maquiavel são discutidos no estudo de História, Política e Filosofia.

Estudaremos mais sobre Maquiavel em uma aula futura.

Erasmo de Noterdã

O mais influente humanista do Renascimento do norte europeu foi Desidério Erasmo, também conhecido como Erasmo de Norterdã. Nascido em torno de 1466, em Roterdã, Holanda, Erasmo se tornou padre católico e estudou tanto os ensinamentos humanistas como os cristãos. Editor da primeira edição publicada do Novo Testamento Grego, ele foi um autor prolixo e influente, que escreveu sobre uma grande variedade de assuntos.

Em sua obra Elogio da Loucura (1509), Erasmo criticou os eruditos, os cientistas, os filósofos e o clero da época, acusando-os de terem mentes fechadas. Seu trabalho exerceu grande influência na Europa: ele foi um dos primeiros autores europeus cujas obras foram lidas por milhares de pessoas.

Erasmo alegava que a Igreja se tornara uma organização corrupta e gananciosa.  Ele defendia o retorno à simples fé do cristianismo.

Erasmo viveu durante a Reforma e contribuiu para o desenvolvimento dessa grande sublevação religiosa, mesmo que ele próprio nunca a tenha abraçado. Desde jovem, manifestava-se em prol de reformas na Igreja, mas sempre insistiu que esta deveria se manter unida e que as reformas deveriam ser feitas pacífica e gradualmente, sendo implementadas pela própria Igreja, e não por instituições não tradicionais. Erasmo foi severamente criticado por católicos tradicionalistas, que não levavam a sério suas críticas a Martinho Lutero e que o acusavam de ter aberto caminho para a Reforma. Mas Erasmo foi também muito criticado por Protestantes zelosos, que o acusavam de covardia: afirmavam que ele se recusava a endossar abertamente o que acreditava e ensinava.

Mas Erasmo também contava com admiradores em ambos os lados do espectro religioso. Era admirado principalmente por aqueles que, como ele, tentavam encontrar alguma forma de conciliação que restauraria a união cristã e tornaria a igreja – liderada por uma nova geração de clérigos, com mais preparo educacional –, em uma instituição dedicada a servir às necessidades do povo. Erasmo desejava que a Igreja se dedicasse às suas obrigações, tanto educacionais como pastorais, em vez de buscar o acúmulo de poder, fortuna e prestigio.  

Após seu falecimento, em 1536, os líderes conservadores triunfaram sobre os moderados, assumido a liderança da Igreja Católica Romana. Uma das consequências disso foi que o prestígio de Erasmo na Europa Católica despencou. Em países como a Espanha – em que, durante a década de 1520, suas obras eram traduzidas e admiradas –, tornou-se perigoso possuir ou citar seus escritos. 

Em 1559, o Papa Paulo IV incluiu todas os escritos de Erasmo, sem exceção, na lista de obras proibidas.

Thomas More (Tomás Morus)

Outro importante mestre do Renascimento foi Thomas More, um estadista inglês e colega de Erasmo. More era um católico fervoroso e estudava a doutrina da Igreja e do Humanismo.

Thomas More
Thomas More

Thomas More foi o chanceler de Henrique VIII, rei da Inglaterra. Apesar de sua carreira política, que consumia muito seu tempo, era um erudito e um escritor prolixo. Escreveu sobre diversos assuntos: a natureza humana, a melhor forma de viver a vida, a origem da sociedade, a fonte e os limites da autoridade, regimes políticos, os fundamentos da lei e o papel da educação.

Thomas More era um humanista cristão. Ele buscou reexaminar e revitalizar a teologia cristã por meio do estudo da Bíblia e dos escritos dos Pais da Igreja, à luz da literatura clássica grega e das tradições filosóficas. Era um defensor da tolerância religiosa.

Em 1516, escreveu sua mais famosa e polêmica obra, Utopia, que, em grego, significa “lugar algum”. Nesse romance, um viajante descreve as condições políticas – uma sociedade ideal e pacífica – de um país imaginário, denominado Utopia. O livro, que contém críticas a respeito da política, religião e sociedade da época, descreve um lugar imaginário sem propriedade privada nem dinheiro, onde há tolerância religiosa e onde prevalece a preocupação com a felicidade coletiva. É importante ressaltar que More foi uma das principais figuras intelectuais no desenvolvimento de ideias socialistas.

Apesar de sua tolerância religiosa, More não aceitava o ateísmo. Argumentava que não se pode confiar em pessoas que não acreditam em Deus ou no conceito do pós vida, pois tais indivíduos não aceitam qualquer princípio ou autoridade além deles próprios.

Assim como Erasmo, More defendeu o hedonismo ético por meio de argumentos religiosos. (Hedonismo significa a busca pelo prazer). Explicou que “a maior parte da felicidade de uma pessoa depende do prazer” e argumentou que Deus não apenas criou o homem para ser feliz, mas que Ele utiliza nosso desejo por felicidade para nos motivar a nos comportarmos de forma moral. É importante ressaltar que More fez uma clara distinção entre os prazeres da mente e os do corpo, dando menos ênfase aos prazeres físicos e mais aos intelectuais.

Hedonismo é o nome dado à classe de sistemas éticos que afirma que sentimentos de prazer e felicidade são o principal objetivo da vida humana. Portanto, atos que aumentam o somatório do prazer são corretos e os que aumentam a dor, errados.

Em 1935, More foi canonizado, tornando-se São Sir Thomas More. Ele é considerado um mártir: apesar de ser o chanceler de Henrique VIII, rei da Inglaterra, recusou-se a aprovar o divórcio do monarca, que se divorciou da Rainha Catarina de Aragão (1527) para se casar com Ana Bolena. Por ter se recusado a aceitar o rei Henrique VIII como líder supremo da Igreja Anglicana, foi aprisionado e subsequentemente julgado, condenado e executado. 

Sumário

- O Renascimento
- Filosofia Renascentista
i. Francisco Petrarca
ii. Nicolau Maquiavel
iii. Erasmo de Noterdã
iv. Thomas More (Tomás Morus)

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