Redação Puc-GO 2010-2

A palavra é um sistema simbólico criado e recriado pelo homem, no decorrer dos séculos. Uma palavra pode ganhar sentidos diversos de acordo com seu contexto e tempo histórico. Pode-se afirmar que os códigos de outras linguagens também são invenções, tais como as linguagens visuais, as corporais e as sonoras. A exploração das linguagens artísticas pode desvelar nascentes subjetivas relacionadas com um modo singular de percepção do mundo. A criação é fruto dessa visão, porque cada pessoa constrói seus conhecimentos a partir de sua história de vida, da cultura, do contexto e das relações humanas alimentadas dia após dia. Vertiginosamente embaralhado no meio urbano, o homem descobre que lidar com a linguagem implica lidar com múltiplos universos de signos. Então, o Caos guia o Cosmos. Fiat Lux!

A prova de redação apresenta duas propostas de construção textual. A seguir, você lerá uma coletânea com quatro textos temáticos. o tema é único para as duas propostas e deverá ser desenvilvido conforme a sua escolha (1 ou 2).

Esta prova terá nota igual a zero, em caso de fuga ao tema ou de cópia da coletânea.

Não assine a Folha de Redação definitiva.

Coletânea

Texto 01
Pinturas

Os pincéis tingem de pedra as cores.
O céu derrama anil nos olhos.
Os morros bebem o verde
Brotam os cajuzinhos vermelhos
e amarelos no campo cerrado.
Tudo ecologia e arte...

A natureza exposta ao fogo
tela da vegetação em formas
pequenas árvores ralas... [...]

São troncos retorcidos e de bizarras formas...
Expostos assim, em consequência
da destruição
das gemas termais
pelas queimadas
ou pelo ataque dos insetos.

Nós
também tornamo-nos “cascas grossas”
pessoas calejadas de tanto sofrer
pelos ataques
das desgraças sociais
e misérias (des)humanas ...
[...]

Os frutos carregam destinos...
A natureza nas mãos da gente que sofre.
Retorce, contorce, persiste e queima...

A vida é da natureza do cerrado.
Tudo arte e economia em germinação e sustento.
Frutos colhidos nos primeiros raios do sol.
Infância jogada no trabalho sem lazer...

(PAIVA. Divina. Pinturas. In: ______. Caminhos de Pedras. Goiânia: Ed. da UCG, 2006. p. 13-14.)

Texto 02

Se eu fosse pintor

Se eu fosse pintor começaria a delinear este primeiro plano de trepadeiras entrelaçadas, com pequenos jasmins e grandes campânulas roxas, por onde flutua uma borboleta cor de marfim, com um pouco de ouro nas pontas das asas.

Mas logo depois, entre o primeiro plano e a casa fechada, há pombos de cintilante alvura, e pássaros azuis tão rápidos e certeiros que seria impossível deixar de fixá-los, para dar alegria aos olhos dos que jamais os viram ou verão.

Mas o quintal da casa abandonada ostenta uma delicada mangueira, ainda com moles folhas cor de bronze sobre a cerrada fronde sombria.

[...]

Mas por detrás estão as velhas casas, pequenas e tortas, pintadas de cores vivas, como desenhos infantis, com seus varais carregados de toalhas de mesa, saias floridas, panos vermelhos e amarelos, combinados harmoniosamente pela lavadeira que ali os colocou. Se eu fosse pintor, como poderia perder esse arranjo, tão simples e natural, e ao mesmo tempo de tão admirável efeito?

[...]

Sinto, porém, que tudo isso por onde vão meus olhos, ao subirem do vale à montanha, possui uma riqueza invisível, que a distância abafa e desfaz: por detrás dessas paredes, desses muros, dentro dessas casas pobres e desses castelinhos de brinquedo, há criaturas que falam, discutem, entendem-se e não se entendem, amam, odeiam, desejam, acordam todos os dias com mil perguntas e não sei se chegam à noite com alguma resposta.

Se eu fosse pintor, gostaria de pintar esse último plano, esse último recesso da paisagem. Mas houve jamais algum pintor que pudesse fixar esse móvel oceano, inquieto, incerto, constantemente variável que é o pensamento humano?

(Cecília Meireles)

Texto 03

Redação Puc-GO 2010-2

Texto 04

O tempo das coisas e das pessoas

Cíntia Moscovich

Se fosse uma pessoa, a casa em que moro há 24 anos seria uma senhora com idade para ser avó. Ou bisavó. É da década de 30, o pai a comprou nos anos 70 e eu vim morar nela com meu marido na década de 80. É uma das poucas do Moinhos de Vento que resistem às ofertas das construtoras e à pressão das instituições vizinhas que derrubam árvores para estacionar carros.

Por 21 anos, minha casa foi um canteiro de obras: dá-lhe a trocar encanamento, fiação, escoras do telhado. Tratei dar novo viço a uma mangueira e a uma cerejeirada-terra, árvores centenárias do terreno. Plantei jasmim, pés de laranja, limão, bergamota, jabuticaba – e dezenas de mudas exóticas e nativas.

Hoje em dia, a casa está pintada de azul-hortênsia. O telhado, antigo viveiro de musgos, ficou intocado. Um arquiteto sugeriu que lavássemos as telhas. rechaçamos a ideia. Sempre achei bonito o rastro de décadas de orvalho e de chuva, os fungos brotando entre as fendas das telhas: o tempo pintou nosso telhado com uma solenidade aconchegante e digna.

Estava pensando nisso, nas coisas, enquanto aguava as floreiras em frente da casa, no final da tarde, hora de raro sossego na redondeza. Foi quando apareceu essa senhora, que passeava com doi-s cachorrinhos. Os três, gente e bichinhos, pareciam ter muita idade e caminhavam devagar. A senhora era pura distinção: a golinha rendada e o cabelo branco de reflexos azulados davam-lhe um ar recatado, quase antigo. Ela falou:

– Adoro passar aqui. Como ficou bonita a rua depois da reforma de vocês.

Eu agradeci. Ela, no entanto, não se conteve:

– Só não entendi por que vocês não lavaram o telhado.

Eu pensei, pensei, pensei, porque queria que ela entendesse. respondi:

– É que o telhado é a cabeleira da casa, que é uma senhora já de idade.

Ela fez cara de quem não entendeu. Eu esclareci:

– Acho que a gente deve respeitar os cabelos brancos de uma pessoa idosa, a senhora não acha?

Ela olhou para mim, olhou para o telhado, olhou para os bichinhos: refletia. Daí fez um ar sério, de quem conclui com grande seriedade:

– É.

E foi embora. Antes de dobrar a esquina, ela parou e olhou para trás, para o alto, para o telhado. Passou os dedos entre os cabelos, ajeitou um dos brincos. Falou uns mimos para os bichinhos. E tomou seu rumo, com uma dignidade de dar inveja.

A mim, só me restou enrolar a mangueira e concluir que as casas talvez pertençam às pessoas, mas o tempo nelas escrito é rigorosamente de todos.

(MOSCOVICH, Cintia. Zero Hora, Porto Alegre, n. 16.256, 24 fev. 2010.)

PRODUÇÃO TEXTUAL: PROPOSTAS
Escolha apenas uma das duas propostas a seguir (1 ou 2).

Proposta 1
Após ler atentamente os textos da coletânea, reflita sobre eles e, em seguida, produza um texto em primeira pessoa, no qual predomine o gênero narrativo, cuja estória apresente impressões sensoriais e sugestões para uma possível reorganização do mundo em que vivemos, considerando as relações interpessoais e as estabelecidas entre o homem e o seu meio.

Proposta 2

Produza um texto argumentativo, versando sobre a caoticidade verificada no início do século XXI. Seu texto deverá abordar pelo menos dois dos seguintes aspectos:
• valorização do provisório e do descartável;
• culto à não-identidade;
• problematização pela reflexão crítica;
• banalização de sentimentos.

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