Redação FGV Relações Internacionais - 2020

Revelado: populistas são muito mais propensos a acreditar em teorias da conspiração.

O YouGov-Cambridge Globalism Project lança nova luz sobre uma parte da população mundial que parece ter uma confiança muito limitada em especialistas científicos e em democracia representativa. A análise da pesquisa descobriu que a tendência mais clara entre as pessoas com atitudes populistas muito resistentes era a crença em teorias da conspiração, crença essa tanto mais forte quanto mais essas teorias eram desmentidas pela ciência ou por evidências factuais. A pesquisa pode, de certa forma, ajudar a compreender o sucesso de populistas de direita em todo o mundo, os quais alimentaram teorias conspiratórias as mais variadas, minaram esforços para enfrentar o aquecimento global e rejeitaram o jornalismo baseado em fatos, acusando-o de propagar notícias falsas [fake news]. A pesquisa - de mais de 25.000 pessoas em quase duas dúzias de países - abrange partes da Europa, das Américas, da África e da Ásia, representando, no total, 4,7 bilhões de pessoas. Entre as 19 grandes democracias pesquisadas, o Brasil revelou-se o país mais populista, seguido pela África do Sul. Os cientistas políticos afirmam que havia razões para se esperar uma relação próxima entre algumas teorias da conspiração e o populismo1 - uma vez que este,tipicamente, envolve a crença de que elites amorais estão em conluio, explorando as pessoas comuns para seus próprios interesses. Os dados mostraram também que a descrença dos populistas nas evidências científicas tem menos a ver com suas deficiências educacionais do que com raiva e desconfiança em relação às elites e aos especialistas.

The Guardian, 02/05/2019. Adaptado.

Teorias da conspiração ajudam o populismo de direita

Deutsche Welle: As teorias da conspiração são diversas: elas podem ser divertidas, porque são inofensivas, como Elvis, que supostamente vive numa ilha solitária, ou ridículas, quando dizem que Angela Merkel é uma alienígena. Quando uma teoria da conspiração se torna problemática?

Michael Butter: Mesmo uma teoria da conspiração inofensiva à primeira vista pode ser problemática, como quando alguém acredita que Angela Merkel é uma alienígena e acha que precisa fazer algo a respeito. Em geral, elas não são inofensivas quando são dirigidas contra os mais fracos ou minorias, como refugiados ou, historicamente, contra os judeus. Ao mesmo tempo, as teorias da conspiração podem, claro, ser perigosas para nossa coexistência democrática.

DW: Pelo fato de que a desconfiança em relação à política fica fora de controle?

MB: Se alguém acredita que os nossos políticos estão todos em um grande conluio e que não faz diferença alguma votar na CDU ou no SPD ou nos Verdes ou na Esquerda2, porque eles são todos marionetes de uma conspiração, então ou a pessoa se retira da cena política e não participa mais de nada – esse seria o famoso desencantamento político – ou a pessoa vota naqueles que se apresentam como uma verdadeira alternativa a essa velha política. E estes são, nos últimos anos, em todo o mundo ocidental e também além dele, os partidos populistas de direita, que na realidade também não contribuem realmente para a solução dos problemas.

DW: O que torna os defensores das teorias da conspiração tão resistentes aos fatos?

MB: Estudos dos EUA mostram que os teóricos da conspiração acreditam ainda mais em suas teorias da conspiração depois que são confrontados com evidências conclusivas que as desmentem. As teorias da conspiração são extremamente importantes para a identidade daqueles que acreditam nelas. Elas são uma oferta de explicação de como o mundo funciona. E nelas tudo funciona, não há coincidências, uma engrenagem encaixa na outra. A crença e a propagação das teorias da conspiração tornam possível à pessoa se destacar da multidão. Os defensores de teorias da conspiração dizem de si mesmos: “Entendemos como o mundo realmente funciona. Nós acordamos, abrimos nossos olhos, enquanto outros estão andando pelo mundo dormindo.” Por isso, a identidade deles é muito dependente das teorias da conspiração.

DW: Mesmo mudanças que são percebidas pela maioria das pessoas como conquistas e coisas óbvias, como a igualdade de gênero, são usadas para teorias da conspiração. Será que a realidade é liberal demais para os seguidores dessas teorias?

MB: As teorias da conspiração frequentemente têm um forte ímpeto conservador no sentido de preservar uma ordem ameaçada ou trazer de volta uma ordem abolida pelos supostos conspiradores. Este é também um paralelo em relação ao populismo. Tanto teóricos da conspiração como populistas são movidos por uma nostalgia pelo passado. Tomemos como exemplo o medo de homens brancos nos EUA que veem sua posição social sendo minada cada vez mais. Mesmo quando eram pobres, ficaram por muito tempo acima de todos os que não eram brancos – e ficavam acima das mulheres. E agora eles mesmos são desafiados. Esta é uma defesa contra uma mudança social que certas pessoas não querem aceitar e que passam a tomar como efeitos de uma conspiração, contra a qual seria perfeitamente legítimo lutar, já que essa luta seria apenas a defesa contra um complô.

1 - Populismo: aqui, no sentido de conjunto de práticas políticas que se justificam por um apelo direto ao “povo”, geralmente contrapondo esse grupo às “elites” e às instituições.
2- Partidos políticos na Alemanha.

Entrevista de Michael Butter* a Deutsche Welle, 20/06/2019. Adaptado.

* Professor de Literatura e História da Universidade de Tübingen.

A crença em “teorias da conspiração”, considerada em suas relações com a vida social e a política, tornou-se, nos últimos anos, uma questão relevante tanto nacional como internacionalmente.

Com base nos textos aqui reproduzidos, que tratam desse assunto, bem como em outras informações que você considere pertinentes, redija uma dissertação em prosa sobre o tema:

As “teorias da conspiração” na atualidade: inofensivas ou perigosas?

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