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Ao vencedor, as batatas
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O repórter para assuntos de ciências Marcelo Leite, numa de suas colunas de jornal, publicou matéria sob o título de “Ao vencedor, as batatas”. Essa frase sintética adquiriu fama a partir do romance Quincas Borba, de Machado de Assis, onde a certa altura se lê: “Ao vencido, ódio ou compaixão; ao vencedor, as batatas” – com isso lembrando o romancista a seus leitores que, na vida, é implacável a batalha humana pelas “batatas” (ou seja: pela sobrevivência física, pelo dinheiro, pelo sucesso, pela promoção etc.). Já em seu texto, o jornalista toma as “batatas” em sentido literal, e tem informações interessantes: “Ao vencedor as batatas... e tomates, milho, chocolate, mandiocas, abacaxis, morangos, mamões, abacates etc. A chegada dos conquistadores europeus às Américas, no século 15, deu início ao que cinco séculos depois se chamaria globalização. Os portugueses, com seus hortos e jardins de aclimação, deram a largada num intercâmbio vegetal que continua até hoje. Já se acreditou que as batatas fossem naturais da Irlanda: esses tubérculos eram tão cruciais para a segurança alimentar daquele país no século 19 que a doença causada pelo fungo Phytophthora infestans arrasou plantações das quais dependiam dois quintos da população. A tragédia de 1845 ficou conhecida como Grande Fome... Mas por mais importante que fosse para a Irlanda e a Europa em geral, a batata não se originou por lá. A batata, ou a Solanum tuberosum, foi domesticada nos Andes, milênios antes do conquistador Francisco Pizarro.” Durante as agruras da Segunda Guerra, muita gente sobreviveu em meio à fome valendo-se das batatas do quintal, tesouro enterrado capaz de nutrir e de salvar vidas. Essa importância transportou a batata da condição de tubérculo fundamental para símbolo das magnas recompensas. A frase de Machado de Assis merece ser entendida em suas várias acepções simbólicas. Para Júlio César, Napoleão Bonaparte e Hitler, as batatas seriam o poder absoluto; para os físicos Galileu, Newton e Einstein, seriam o conhecimento dos princípios que regem o universo; para os líderes revolucionários, franceses ou russos, a entrada numa nova ordem política e social; para a Revolução Industrial, a mecanização potenciada do trabalho; para Darwin, a teoria da evolução das espécies com base em sua adaptabilidade ao meio. Também não há artista que não tenha suas batatas no horizonte. Ao que tudo indica, as inscrições rupestres nas cavernas da Pré-história eram também lições para o sucesso na caça de alimentos; o mármore grego, trabalhado pelos escultores, ia atrás do equilíbrio, da simetria, das formas perfeitas, princípios a serem retomados e revalorizados no Renascimento e no Iluminismo. Os românticos tomavam o extremo de suas paixões como motivo para um viver e um morrer com os sentimentos mais exacerbados. No século XX, o cinema tomou para si a tarefa de documentar os lances da vida real ou das aventuras imaginárias como narrativas por meio de imagens. Também nesse mesmo século, e alcançando o nosso, a tecnologia e as ciências aplicadas desenvolveram-se numa progressão jamais vista: os nascidos de hoje têm como batatas o último game, a digitalização organizando uma nova concepção de tempo, a conectividade a distância promovendo a proximidade − às vezes, intimidade − virtual. Não sabemos que batatas se anunciam no horizonte imediatamente próximo. Mas a frase de Machado de Assis tinha mais coisas a dizer: não falava apenas dos vitoriosos, que ganham e desfrutam as batatas; falava também dos vencidos, que sucumbiam na luta por elas. Lá estão os escravos egípcios, gregos, romanos e de todas as épocas levantando os grandes templos, os suntuosos monumentos, os edifícios altíssimos; o trabalho anônimo, com seu sofrimento, foi sempre a escora invisível das grandes riquezas, do luxo, do conforto. Lá foram os soldados para todas as guerras defender com a vida grandes interesses econômicos e políticos ameaçados. Vendo as multidões apressadas das metrópoles modernas, as trágicas migrações coletivas, os exilados das guerras e da fome, tem-se a certeza de que não há batatas para todos – ao menos enquanto houver aqueles que as querem todas para si. A infelicidade dos vencidos tem sido, ao longo da história, o tributo prestado a quem se farta com as batatas. Menos mal que haja ainda os que fazem crer, com seu empenho nas artes, nas ciências, no ativismo político afirmativo, na possibilidade de que acima de vencedores e vencidos surja a oportunidade histórica de que o homem seja capaz de moderar seus anseios para que os bens da vida humana alcancem a melhor distribuição possível. (Péricles Eugênio Tavares, inédito) |
REDAÇÃO
INSTRUÇÕES GERAIS
I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:
1. Leia atentamente as propostas, escolhendo uma das três para sua prova de Redação.
2. Escreva, na primeira linha do formulário de redação, o número da proposta escolhida. A colocação de um título é optativa, a não ser quando expressamente solicitada.
3. Redija seu texto a tinta (em preto).
4. Apresente o texto redigido com letra legível (cursiva ou de forma), em padrão estético conveniente (margens, paragrafação etc.).
5. Não coloque o seu nome na folha de redação.
6. Tenha como padrão básico o mínimo de 30 (trinta) linhas.
II. Da elaboração da redação:
1. Atenda, com cuidado, em todos os seus aspectos, à proposta escolhida. Às redações que não atenderem à proposta (adequação ao tema e ao tipo de composição) será atribuída nota zero.
2. Empregue nível de linguagem apropriado à sua escolha.
3. Estruture seu texto utilizando recursos gramaticais e vocabulário adequados. Lembre-se de que o uso correto de pronomes e de conjunções mantém a coesão textual.
4. Seja claro e coerente na exposição de suas idéias.
III. Das propostas:
DISSERTAÇÃO I
Leia o editorial abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido. Em seguida, elabore uma dissertação, na qual você exporá, de modo claro e coerente, suas ideias acerca desse tema.
A despeito de algumas dúvidas quanto a seus efeitos, o texto da nova Lei de Migração, aprovado pelo Congresso Nacional, é meritório e merece a sanção presidencial.
Sua virtude mais indiscutível é aposentar o arcaico Estatuto do Estrangeiro, legislação dos tempos da ditadura militar repleta de dispositivos inspirados por preocupações caducas − como os que proíbem os não brasileiros de participar de atividades políticas, incluindo "desfiles, passeatas, comícios e reuniões de qualquer natureza".
O projeto votado pelo Legislativo pode ser descrito como uma peça moderna e generosa, que desburocratiza as exigências para a entrada de imigrantes e procura combater a xenofobia e o racismo.
Não obstante, o texto tem sido alvo de ataques veementes de grupos mais conservadores, que chegam a pedir que o presidente Michel Temer (PMDB) o vete por inteiro.
Há grande dose de exagero nas críticas. Parece difícil sustentar, por exemplo, que o novo diploma escancare as fronteiras do país para terroristas e traficantes.
Sua redação mostra especial cuidado em evitar a entrada de pessoas condenadas ou processadas por crimes dessa natureza − ou mesmo que simplesmente figurem como suspeitos de tais atividades em listas de órgãos internacionais.
A novidade é exigir que as autoridades apresentem razões objetivas para negar a entrada de alguém no país. Isso, convenhase, é princípio que deveria nortear todos os atos administrativos.
Outro temor é que a extensão aos imigrantes de todos os direitos garantidos aos brasileiros − já prevista, embora de maneira menos explícita, na legislação hoje em vigor − cause grande pressão sobre as finanças públicas.
Entretanto nada indica que o Brasil, cujo retrospecto econômico está longe de despertar a admiração global, corra o risco de receber multidões em busca do acesso ao SUS ou ao Bolsa Família.
É possível que surjam dificuldades decorrentes da maior liberalização, mas só as conheceremos na prática. Muitas delas, ademais, provavelmente serão solucionáveis com mudanças na regulamentação da lei, sem que seja necessário sacrificar os princípios que a norma enuncia.
Não raro o senso comum vê estrangeiros como ameaça; vários estudos acadêmicos mostram, porém, que sua atração traz mais efeitos positivos do que negativos para o progresso da sociedade.
Especialmente num momento em que boa parte do mundo se fecha aos imigrantes, é importante que o Brasil, historicamente forjado por um mosaico de povos e culturas, demonstre entender a importância da contribuição deles.
(Folha de S. Paulo. 13/05/2017)
DISSERTAÇÃO II
Leia atentamente os textos abaixo.
Texto I
Nas escolas, públicas ou particulares, alunos e professores não devem se envolver em questões políticas, para que não confundam o que deve ser uma prática estrita da educação formal com o ativismo social. As ideologias dividem as pessoas, ao passo que os valores da ciência e da cultura são inquestionáveis em si mesmos.
Texto II
Nas escolas, públicas ou particulares, alunos e professores podem tomar as ideias e os fatos políticos para uma reflexão conjunta, na qual se preserve o direito à opinião e o hábito da discussão. As diferenças não devem ser silenciadas, mas trazidas a um debate para que ganhem forma e consistência no processo educacional.
Redija uma DISSERTAÇÃO, na qual você avaliará as diferentes posições expostas nesses dois textos.
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