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Um antigo colega criou e organizou um site sobre nossos anos de colégio, que já vão longe. Visitei ontem as páginas virtuais de uma experiência real, vivida longamente numa velha escola, sólida tanto na construção como no ensino. A pesquisa do meu colega é bastante rica: documenta com detalhes pessoas e espaços que nos foram muito familiares. Detive-me logo na sequência dos professores, como se de novo estivesse a ouvir suas vozes e a ver seus gestos, projetados do tablado em que ficava a mesa, junto ao quadro-negro. Dona Alzira, de matemática. Óculos grossos, de aro escuro, contrastando com a pele clara. Paciente, repetia o que fosse necessário de uma lição de álgebra ou geometria. Eu me divertia com as palavras novas, que logo transformava em apelidos dos colegas: Maria Clara ficou sendo a Hipotenusa, por ser comprida e magra, e o Zé Roberto passou a ser Cateto, por conta do nariz comprido. As palavras prestam-se a associações estranhas, talvez arbitrárias. O frequente vestido de folhas vermelhas de Dona Alzira me parecia bandeira vistosa das minhas dificuldades com as equações e os teoremas. Dava-me melhor em Português. Não tanto com a Gramática das regras severas e nomenclatura difícil, mas com os textos bonitos que nos levavam para fora da escola, na viagem da imaginação. Descobri com seu Alex, professor grandalhão de voz grave e dicção perfeita, o encantamento de versos ou frases em prosa ditos com muita expressão, valorizados em cada sílaba. E me iniciei em alguns autores que acabaram ficando, como Fernando Pessoa. A História, ao que me lembro, dividia-se em Geral, da América e do Brasil. Tive mais de um professor, o mais entusiasmado e entusiasmante era o seu Euclides, quase nunca imparcial, admirador dos gregos, não tanto dos romanos, capaz de descrever as viagens marítimas dos portugueses e espanhóis como se fosse um tripulante. Não deixava de admirar Napoleão, acentuando a incomensurável diferença entre o tio e o sobrinho. Na História do Brasil, enfatizava as insurreições populares e censurava o Estado Novo. Clicando aqui e ali (quem diria que havíamos de conhecer e usar esse tal de computador?) chego a outros mestres, a outras aulas inesquecíveis. As meninas torciam o nariz nas de Química: o professor fazianos usar o laboratório e praticar reações (com sulfato? com sulfeto?) que não cheiravam nada bem. As mais frágeis simulavam desmaios... Havia as salas-ambiente, destinadas e aparelhadas para disciplinas específicas. Na de Geografia, grandes mapas, projetor de slides, maquetes e figuras em alto relevo; na de Biologia, acreditem: um esqueleto completo, de verdade, apelidado de Toninho (dizia-se que de um indigente, morto há várias décadas); na de Física, armários com instrumentos que lembravam ilustrações de Da Vinci. O professor Geraldo não era exatamente uma grande vocação de pedagogo: com ele a Física ficava mais difícil do que já é. Dividia o curso em três partes: Cinemática, Estática e Dinâmica, mas não sobrava quase nada de nenhuma. Como ficava ao lado da sala de Música, distraía-nos o piano de Dona Mariinha, que punha seus alunos para cantar peças do folclore nacional, das cirandas e emboladas do nordeste às danças gauchescas. E havia, é claro, os pátios de recreio, movimentados nos intervalos. A moralidade da época recomendava dois pátios: um para os meninos, outro para as meninas. As turmas eram mistas, mas o convívio evitado tanto quanto possível. Regulava-se o comprimento das saias, que algumas colegas enrolavam sorrateiramente na cintura. Afinal, a moda era a míni... Discos recém-lançados de Roberto Carlos e dos Beatles animavam o intervalo maior, colocados na vitrola reivindicada e conseguida pelo centro estudantil. Volta e meia aparecia um jornalzinho dos estudantes, de corpo editorial instável e de vida curta. Como esquecer, ainda, as figuras dos nossos inspetores de alunos? Seu Alípio, baixinho e bravo, vociferando por nada; dona Gladyr, apelidada de Arco-íris por conta das roupas multicoloridas; dona Gervásia, a mais velha funcionária da escola, contadora de “causos”; Albertina, moça vigilante e de poucas palavras, encarregada do portão de entrada das meninas. Na cantina, os três irmãos proprietários (“os três mosqueteiros ou os três patetas?”, brincávamos) atendiam a todos com desenvoltura e bom humor. E, por todo lado, as criaturas mais antigas e veneráveis: os flamboyants copados, os plátanos, as duas figueiras. Provavelmente ainda todas vivas, florescendo. De clique em clique armou-se na tela do monitor, em grande angular, a imagem da preciosa e velha biblioteca da escola. Sim, tinha bibliotecária: uma senhora idosa e prestativa, sempre perfumada, rigorosa na disciplina: dona Augusta, de hábitos e gosto conservadores. Na “sua” biblioteca não entrava “esse tal de Sartre, francês ateu e comunista que desencaminha a juventude”. Recomendava-nos Coelho Netto e Olavo Bilac, Machado de Assis e Euclides da Cunha, e parava por aí: nenhum entusiasmo pelos modernos. Mas lá estavam Bandeira, Drummond, Clarice, Graciliano, Guimarães Rosa, que íamos descobrindo aos poucos. A biblioteca tinha algumas preciosidades do século XIX, encadernadas e dispostas nas prateleiras mais altas. Ah, a educação física... Luxos dos luxos: um ginásio de esportes, com boa quadra e pequena arquibancada, e um campo gramado de futebol, com traves oficiais e rede, instalada apenas nos jogos importantes. Lembro-me quando a seleção da escola recebeu o time do Seminário Presbiteriano, uns jovens educadíssimos, diante dos quais parecíamos uns trogloditas. Pois nos deram uma goleada, com todo o respeito. Nosso comentário ressentido: − Mas também esses caras vivem concentrados... Velha escola. Por ironia, a tecnologia moderna me leva ao passado e materializa reminiscências que pareciam condenadas à pura e desmaiada memória. Ao som das músicas daquela época, as jovens colegas continuam moças e bonitas, e os rapazes ensaiam seus flertes... Palavras antigas. Mas está tudo lá: no site do colégio, aberto à participação de moços e velhos, história organizada de uma década perdida no século XX. Lembrei-me agora de uma cena do filme Sociedade dos poetas mortos. O professor leva seus corados alunos a um saguão da escola, onde estão fotos amareladas de alunos de outrora, que já nem estão neste mundo. Aos moços atentos àquelas imagens pergunta o professor: − Sabe o que dizem esses jovens das fotos? Dizem: carpe diem, em latim. Ou: aproveita bem o dia que passa. (Rinaldo Antero da Cruz, inédito) |
REDAÇÃO
INSTRUÇÕES GERAIS
I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:
1. Leia atentamente as propostas, escolhendo uma das três para sua prova de Redação.
2. Escreva, na primeira linha do formulário de redação, o número da proposta escolhida. A colocação de um título é optativa, a não ser quando expressamente solicitada.
3. Redija seu texto a tinta (em preto).
4. Apresente o texto redigido com letra legível (cursiva ou de forma), em padrão estético conveniente (margens, paragrafação etc.).
5. Não coloque o seu nome na folha de redação.
6. Tenha como padrão básico o mínimo de 30 (trinta) linhas.
II. Da elaboração da redação:
1. Atenda, com cuidado, em todos os seus aspectos, à proposta escolhida. Às redações que não atenderem à proposta (adequação ao tema e ao tipo de composição) será atribuída nota zero.
2. Empregue nível de linguagem apropriado à sua escolha.
3. Estruture seu texto utilizando recursos gramaticais e vocabulário adequados. Lembre-se de que o uso correto de pronomes e de conjunções mantém a coesão textual.
4. Seja claro e coerente na exposição de suas idéias.
III. Das propostas:
PROPOSTA I − DISSERTAÇÃO
Leia o editorial abaixo procurando apreender o tema que nele está desenvolvido. Em seguida, elabore uma dissertação em que você exponha, de modo claro e consistente, suas idéias acerca desse tema.
Sobram razões para o poder público combater o hábito de jogar lixo nas ruas. Não só porque uma cidade suja torna-se um lugar desagradável para moradores e visitantes, mas também porque os dejetos entopem bueiros, agravam os efeitos das enchentes e favorecem a proliferação de ratos e insetos, que são vetores de doenças.
Nem todos estão de acordo, todavia, quanto aos melhores meios para alcançar esse fim.
De um ponto de vista pragmático, a melhor maneira de patrocinar uma mudança comportamental é transformar em infração administrativa, passível de multa, o costume que se quer inibir. O bolso, como diz o senso comum, é o órgão mais sensível do cidadão.
Pela velocidade com que tende a produzir efeitos, essa estratégia é a favorita dos políticos. Foi o caminho escolhido pela Prefeitura do Rio de Janeiro, que acaba de lançar sua campanha de limpeza. A partir de agora, jogar lixo nas ruas cariocas pode render multas de até R$ 3.000,00.
O problema é que os resultados muitas vezes são efêmeros. Embora haja exceções − como a Lei Cidade Limpa, implantada em São Paulo ou a obrigatoriedade do cinto de segurança −, o mais comum é que o comportamento virtuoso ande em estreita correlação com a fiscalização.
Como não dá para manter por longos períodos um exército de fiscais comprometidos com uma única causa, muitos advogam pela busca de genuína mudança de mentalidade. Nesse caso, para que o novo comportamento perdure, seria preciso convencer o cidadão de que a meta estabelecida é racional e serve a seus interesses.
Na ausência da punição, o indivíduo sem dúvida agiria movido por princípios éticos. Evidente, porém, que essa mudança de mentalidade é algo muito mais fácil de desejar do que de promover.
O ideal é que as pessoas sigam normas por reconhecer-lhes a justeza, mas é inegável que, na prática, muitos refutam esse tipo de raciocínio. Para estes, a única opção é a multa − mas o valor mínimo no caso carioca, de R$ 157,00, é excessivo. E, mesmo para os demais, a sanção administrativa pode funcionar como um marco zero da transformação comportamental.
Ações educativas têm papel relevante a cumprir e, num país conhecido pelo desprezo sistemático a normas legais, manter a fiscalização é primordial. Sem isso, o programa Lixo Zero poderá não passar de simples operação de marketing.
(Adaptado de Folha de São Paulo, Editorial, 22 de agosto de 2013, p. A 2)
PROPOSTA II − DISSERTAÇÃO
Leia com atenção os textos seguintes:
I. Todo protesto de natureza política deve ter um objetivo preciso. As insatisfações devem evidenciar-se com clareza, caso contrário haverá a possibilidade de que, numa manifestação pública, muitos gritem sem saber contra o que estão gritando, ou então gritem por um acúmulo de razões que sequer identificam. Tais protestos são inúteis: na falta de um alvo preciso, anulam-se por si mesmos, prejudicando assim manifestações mais justificadas e objetivas.
II. Quando as insatisfações sociais atingem um certo patamar, é evidente que elas precisam se manifestar. Nas manifestações públicas recentes, nota-se que há uma grande variedade de causas e objetivos, e por isso mesmo elas ganham a força de uma luta ampla, por muitas mudanças. É importante que esses protestos se somem, ainda que caoticamente, para que todas as demandas sociais surjam ao mesmo tempo e com a mesma força.
Redija uma dissertação em prosa, na qual você deverá desenvolver argumentos em favor do ponto de vista defendido em um dos textos acima.
PROPOSTA III − NARRAÇÃO
Leia com atenção o texto seguinte:
Num semáforo fechado, ouve-se de um carro uma música pesada, em altíssimo volume. Um senhor idoso, no volante do carro ao lado, busca protestar, mas o rapaz responsável pelo som não lhe dá atenção. Um ciclista encosta ao lado do rapaz. Um guarda que passava também se aproxima. Duas estudantes adolescentes resolvem entrar em cena. Uma senhora sai à janela do sobrado ao lado.
Desenvolva uma narração a partir da situação mostrada acima. Procure dar voz a todas as personagens envolvidas. Busque caracterizar diferentes pontos de vista e níveis de linguagem.
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