REDAÇÃO
Um assunto recorrente nos debates sobre a sociedade contemporânea é a relação que os indivíduos estabelecem com o tempo no seu cotidiano, como ilustrado nos fragmentos a seguir:
“Não sei mais calcular a cor das horas.
As coisas me ampliaram para menos.”
BARROS, Manoel. Livro das ignoranças. Rio de Janeiro: Record, 1997.
“Instantaneidade” significa realização imediata, “no ato” – mas também exaustão e desaparecimento do interesse. A distância em tempo que separa o começo do fim está diminuindo ou mesmo desaparecendo [...] Há apenas “momentos” – pontos sem dimensões.”
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2001. p. 137-138.
“Na literatura sobre o tempo e sobre as “conciliações” entre vida profissional e vida privada, tem-se a impressão de que a vida das pessoas ou se resume a intermináveis jornadas de trabalho, em permanente disponibilidade às empresas, ou não passa de uma corrida frenética de um lado para outro, no cumprimento de obrigações profissionais e na assistência aos filhos ou aos pais idosos. Subitamente, é como se esses adultos não tivessem vida amorosa e sexual, que pede tempo de convivência e distensão para que possa ser fonte de alegria.”
OLIVEIRA, Rosiska Darcy de. Reengenharia do tempo. Rio de Janeiro: Rocco, 2003. p. 57.
REQUERIMENTO
Adriana Falcão
Caro Senhor Tempo,
Espero que esta o encontre passando bem, ou melhor, passando o mais devagar possível.
Por aqui vai-se indo, como o Senhor quer e consente, meio rápido demais para o meu gosto, e quando vi já era dezembro.
Foi-se mais um ano.
E com ele foram-se uma quantidade incalculável de amores, cores, idades, alguns amigos, não sei quantos neurônios, memórias, remorsos, desvarios, cabelos, ilusões, alegrias, tristezas, várias certezas (se não me engano treze), algumas verdades indiscutíveis, umas calças que não fecham mais e aquele vestido de que eu gostava tanto.
[...]
Não pensa em tirar umas férias, dar uma pausa, respirar um pouco? Não lhe agrada a ideia de mudar o andamento? Diminuir o ritmo? Em vez de tic-tac, inventar uma palavra mais comprida para compasso, mantra, ícone, diagrama?
Me diga sinceramente: para que tanta pressa?
Anda difícil acompanhar seus passos ultimamente.
[...]
Calma, Tempo! Espera só um minutinho para eu explicar melhor o meu ponto de vista.
Nem todo mundo é pedra, concorda?
Dito isso, imagine então quantos pobres mortais sofrem da mesma agonia diária: giros e mais giros nos ponteiros, os cantos dos cucos, as denúncias das sombras, os grãos de areia escorregando (parece até hemorragia crônica), tudo escapulindo, descendo, subindo, o frenesi dos dígitos, um, dois, três, quatro, cinco, cem, o Senhor vai tirar o pai da forca? Está fugindo de alguém? De quem? De mim? De ontem?
Eu conheço de cor suas obrigações.
Estou convencida de suas utilidades.
Não fosse o Senhor, não existiriam saudade, retrato, suvenir, antiguidade, história, época, período, calendário, outrora, passatempo, novidade, creme anti-rugas, disputa por pênaltis, antepassado, descendente, dia, noite, nada, não existiria sabedoria, eu sei disso.
[...]
OBJETOS DE USO PESSOAL
http://bloglog.globo.com/miguelpaiva/
E você? Como vê a relação ser humano – tempo hoje em dia?
Produza um texto dissertativo–argumentativo de aproximadamente 25 linhas, apresentando um ponto de vista sobre o assunto.
Suas ideias devem ser claras, coerentes e bem fundamentadas.
Recomenda-se que a coletânea sirva apenas de auxílio à reflexão e que não ocorra cópia de trechos dos fragmentos expostos. Serão valorizadas a pertinência e a originalidade de seus argumentos.