A dimensão continental do território brasileiro naturalmente favorece a ocorrência de diversos usos sociais da Língua Portuguesa falada no Brasil. Nesse contexto, verificam-se tanto tentativas de padronização da língua nacional, quanto preconceitos em relação às manifestações linguísticas que divergem da variedade considerada culta. A esse respeito, leia a coletânea de textos a seguir.

Texto 1

A origem do preconceito linguístico, de acordo com Bagno (2006), está ligada, substancialmente, a uma inversão da realidade histórica da gramática e às confusões e equívocos que foram criados, ao longo dos tempos, entre língua e gramática normativa - que não é a língua, mas apenas uma descrição parcial dela. De forma mais precisa: as gramáticas foram escritas precisamente para descrever e fixar como “regras” e “padrões” as manifestações linguísticas usadas espontaneamente pelos escritores considerados dignos de admiração, modelos a ser imitados. Ou seja, a gramática normativa é decorrência da língua, é subordinada a ela, dependente dela. Como a gramática, porém, passou a ser um instrumento de poder e de controle, surgiu essa concepção de que os falantes e escritores da língua é que precisam da gramática, como se ela fosse uma espécie de fonte mística invisível da qual emana a língua “bonita”, “correta” e “pura”. A língua passou a ser subordinada e dependente da gramática. O que não está na gramática normativa “não é português”. E os compêndios gramaticais se transformaram em livros sagrados, cujos dogmas e cânones têm de ser obedecidos à risca para não se cometer nenhuma “heresia” (BAGNO, 2006, p. 64). A gramática passa, então, a ser desenvolvida de forma a estabelecer as normas da língua considerada a ideal, e os gramáticos passam a querer impor suas regras a todos. O processo educacional, mais precisamente a escola, torna-se, na sociedade moderna, a instituição que impõe a gramática e a língua padrão em contraposição à linguagem considerada popular ou coloquial (VIANA, 2009). Porém, conforme Stubbs (2002), os sistemas educacionais modernos cada vez mais se defrontam com a diversidade linguística e cultural, e se tal diversidade for percebida e estigmatizada como um problema, então a própria percepção se torna ela mesma parte do problema, significando que a área que se refere à língua na educação está impregnada de superstições, mitos e estereótipos, muitos dos quais têm persistido incessantemente e, às vezes, com distorções deliberadas acerca dos fatos linguísticos e pedagógicos.

VASCO, Edinei Oliveira; PINHEIRO, Veralúcia. Educação e linguagem: elementos para uma introdução crítica ao preconceito linguístico. Rev. educ. PUC-Camp. Campinas, vol. 1, n. 21., jan./abr., 2016. p. 103-115. (Adaptado).

Texto 2

Geograficamente vasto e culturalmente diverso, o sertão brasileiro costuma figurar tanto como espécie de “espaço mítico” quanto como reduto de um Brasil “atrasado,” subdesenvolvido e miserável. O sertão “mítico,” sabemos, atravessa obras literárias fundamentais, retratado e recriado nas páginas de Inocência (1872), de Visconde de Taunay, Os Sertões (1902), de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas (1956), de Guimarães Rosa, entre outros. Neste sertão literário, tem-se projetado uma infinidade de Brasis possíveis, e de lá aparentemente pode-se extrair um sem número de Brasis passados. Basta que pensemos no sertão medievalesco do Movimento Armorial, liderado por Ariano Suassuna, que desde a década de setenta busca celebrar a conexão daquela cultura com um passado remoto e “nobre.” E lembremos de todos os preconceitos contra sotaques nordestinos, com suas peculiaridades linguísticas, não raro tidos como um português “incorreto,” sintomático de uma região que seria ultrapassada e ignorante. Em ambos os casos, seja com o intuito de romantizar ou difamar, dissemina-se com relativa frequência a noção de que no sertão brasileiro encontramos uma língua “congelada,” um português parado no tempo.

CARVALHO, Bruno. Um outro sertão literário: linguajar pantaneiro e espaço nacional em Inocência de Taunay. Revista Investigações. vol. 23, n. 1, jan. p. 137, 2010. (Adaptado).

Texto 3


ANGELI. Lovestórias. Folha de S. Paulo p. 5-1, 8 abr. 1995.

Texto 4

O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.
– Aí, Gaúcho!
– Fala, Gaúcho!
Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?
– Mas o Gaúcho fala “tu”! – disse o aluno Jorge, que era quem mais implicava com o novato.
– E fala certo – disse a professora. – Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos. Os dois são português.
O Jorge fez cara de quem não se entregara. Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.
– O pai atravessou a sinaleira e pechou.
– O quê?
– O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.
A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.
– O que foi que ele disse, tia? – quis saber Jorge.
– Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.
– E o que é isso?
– Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.
– Nós vinha...
– Nós vínhamos.
– Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.
A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com Jorge rindo daquele jeito. “Sinaleira, obviamente, era sinal, semáforo”. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.
– Aí, Pechada!
– Fala, Pechada!

VERISSIMO, Luis Fernando. Pechada. Disponível em: http://revistaescola.abril.com.br/lingua-portuguesa/pratica-pedagogica/pechada-423370.shtml. Acesso em: 15 abr. 2015. (Adaptado).

Usos sociais do Português no Brasil: valorização da norma culta ou preconceito linguístico?

PROPOSTA 1

O artigo de opinião é um gênero textual no qual são apresentados argumentos para convencer os leitores a respeito da validade de um ponto de vista sobre determinado assunto.

De posse dessa orientação, amparando-se na leitura dos textos da coletânea e ainda em sua visão de mundo, imagine-se na função de articulista, de uma revista ou de um jornal de circulação nacional, e escreva um artigo de opinião posicionando-se acerca da questão-tema desta prova.

PROPOSTA 2

O gênero crônica, em sentido atual, é uma narrativa que se caracteriza por basear-se em considerações do cronista acerca de fatos correntes e marcantes do cotidiano. Em torno desses fatos, o autor manifesta uma visão subjetiva, pessoal e crítica.

Tendo em vista essa definição de crônica, e levando em consideração a leitura dos textos da coletânea, escreva uma narrativa, em primeira pessoa, que tematize os diferentes usos sociais da Língua Portuguesa no Brasil. Portanto, sua crônica deverá abordar uma situação em que haja personagens que valorizem a norma padrão do Português ou manifestem preconceito em relação a outras variedades linguísticas existentes no país.

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