Duração: 4 horas

Texto para a prova:

Relativismos e divisões

Costuma ser irritante a expressão “ah, isso é relativo”, especialmente quando aplicada sobre uma verdade que julgamos absoluta. Mas o relativismo vive, exatamente, da desconfiança quanto a qualquer absoluto. O relativista suspende julgamentos definitivos, como Sócrates já fazia nos diálogos com seus pares, na Grécia antiga.

O certo é que os praticantes do relativismo não têm vida fácil. O que foi mais importante no caminho da civilização: o domínio do fogo ou a invenção da roda? Do ângulo da cozinheira ou de um motorista, a resposta não parece difícil, mas um relativista não apenas hesitará na resposta como duvidará do mérito da pergunta. E se tivéssemos que escolher entre o princípio das alavancas ou o da propulsão nuclear? E se formos até à Bíblia, para perguntar: quem pecou mais, Adão ou Eva? O relativista responderá: mas o que é pecado? Numa rebelião popular contra uma ditadura chovem pedras e paus no ar, todo mundo está em risco – e o dono da vidraçaria, apolítico, sorri. Numa eleição é frequente que o relativista se abstenha. Ah, a política, que prato cheio para os relativistas: quem tinha razão na guerra da Criméia? Por que caiu Napoleão? Personalidades conduzem as massas ou estas fundam as lideranças? No Brasil do século passado: a queda do primeiro governo Vargas foi o fim de uma ditadura ou novo golpe? Os historiadores, por vezes, têm que enfrentar o duro dilema da escolha, esta que é o inferno dos relativistas.

O relativismo comparece em todas as áreas. Quem foi maior: o Newton, com suas três leis fundamentais, ou o Einstein, ao demonstrar, entre outras coisas, que “É preciso estar em constante movimento para manter o equilíbrio”? No campo das fábulas, muitas têm duas versões conclusivas, como a da cigarra e da formiga. As religiões dividem-se quanto aos valores e perfis divinos; na política, o embate é a lei, e as posições de classe relativizam o valor de um fato. Aliás o fato também se relativiza, ao ser rebaixado a opinião. O fenômeno contemporâneo das migrações em massa abre discussão sobre o papel ou a existência mesma de fronteiras nacionais. Não era para apagá-las que nasceu a decantada globalização?

No campo das artes, as divisões e os ângulos são incontáveis. Prosa ou poesia? Realismo ou romantismo? A consagração religiosa na disciplina de Bach ou a energia individualista e trágica de Beethoven? Música para ouvir ou para dançar? A revolução russa ganha força num filme histórico ou a denúncia revolucionária se vê melhor num filme de Carlitos? A fotografia e o cinema, fotogramas isolados ou em movimento regular, diminuem a arte da pintura naturalista? A pureza do som digital revela-se mais artificial do que o som das gravações em vinil?

Um teste vocacional parece ser concebido por relativistas. O jovem que faz o teste pode ter como resultado a indicação de duas carreiras muito distintas: biólogo ou economista. Talvez ele acabe fazendo Letras, em vez de se decidir pelas leis de Mendel, decisivas para a compreensão da hereditariedade, ou de Adam Smith, pai do liberalismo econômico. Num de seus maiores contos, Machado de Assis escolheu como protagonista um festejado compositor de polcas, música alegre e dançante, que preferiria ser o autor de sisudas sonatas ou de prelúdios clássicos – e o narrador de Machado concluiu que esse pobre pianista era “uma eterna peteca entre a ambição e a vocação”, amargando esse duro movimento do pêndulo, tão característico das pessoas divididas.

Jornalismo profissional ou redes sociais? Por onde passa a força decisiva das informações, nos dias que correm? A reserva de cotas nas escolas públicas é um duradouro instrumento de justiça ou medida emergencial? O Estado é laico em sentido absoluto ou deve ceder espaço para diferentes manifestações religiosas? Os currículos escolares devem se orientar por princípios centralizadores ou seguir inclinações regionais? Têm os homens algum papel nas afirmações do feminismo? A sexualidade tem a ver com gêneros, e há definições a fixar nesse campo delicado dos desejos e das identidades?

É possível que no século XXI desenvolvam-se as contradições próprias do relativismo: a permanência na posição relativista acaba sendo sua condenação a um absoluto, o do adiamento sistemático da escolha. O intimismo confidencial e a vida privada não combinam muito com a internet e os smartphones; as noções mesmas de interesse público e interesse privado parecem pouco nítidas, ou mesmo desnecessárias. O crescente avanço das ciências e das várias tecnologias parece favorecer uma posição relativista planetária, segundo a qual tudo parece condenado a ser efêmero, tudo parece estar à espera de sua imediata superação. Uma multidão de pessoas entretidas cada uma em seu celular é um cenário que confirma uma orientação geral para a pluralidade de interesses, dentro da qual tudo parece ser tão decisivo quanto relativo. É essa nossa marca de modernos?

(Aristeu Gonçalves Filho, inédito)

REDAÇÃO

INSTRUÇÕES GERAIS
I. Dos cuidados gerais a serem tomados pelos candidatos:
1. Leia atentamente as propostas, escolhendo uma das três para sua prova de Redação.
2. Escreva, na primeira linha do formulário de redação, o número da proposta escolhida. A colocação de um título é optativa, a não ser quando expressamente solicitada.
3. Redija seu texto a tinta (em preto).
4. Apresente o texto redigido com letra legível (cursiva ou de forma), em padrão estético conveniente (margens, paragrafação etc.).
5. Não coloque o seu nome na folha de redação.
6. Tenha como padrão básico o mínimo de 30 (trinta) linhas.

II. Da elaboração da redação:
1. Atenda, com cuidado, em todos os seus aspectos, à proposta escolhida. Às redações que não atenderem à proposta (adequação ao tema e ao tipo de composição) será atribuída nota zero.
2. Empregue nível de linguagem apropriado à sua escolha.
3. Estruture seu texto utilizando recursos gramaticais e vocabulário adequados. Lembre-se de que o uso correto de pronomes e de conjunções mantém a coesão textual.
4. Seja claro e coerente na exposição de suas idéias.

III. Das propostas:

DISSERTAÇÃO I

Leia o texto abaixo procurando apreender o tema nele desenvolvido. Em seguida, elabore uma dissertação, na qual você exporá, de modo claro e coerente, suas ideias acerca desse tema.

Os movimentos politicamente corretos − que irromperam em diversos países, a começar pelos Estados Unidos, a partir do final da década de 1980 − têm provocado uma série de controvérsias em torno dos limites à liberdade de expressão e dos direitos de pessoas ou coletividades a não serem estigmatizadas por meio da linguagem.

Determinadas expressões e manifestações que em outros tempos eram usadas publicamente para se referir a certos grupos sociais, como negros, mulheres e homossexuais, são agora objeto de contestação pelo caráter discriminatório e ofensivo que encerram.

Cada época tem seus padrões de sensibilidade, e os limites do aceitável se alteram ao longo da história. Hoje, procuram-se impor novas normas, nem sempre de maneira razoável, com o objetivo de fazer com que também a linguagem, em sintonia com a sociedade, se torne mais inclusiva.

Não surpreende, portanto, que alguns artistas, como mostrou reportagem desta Folha, venham substituindo algumas formulações que hoje possam soar inadequadas na reedição de suas obras.

O compositor Criolo, por exemplo, decidiu abolir o termo “traveco” da letra de uma de suas canções, ao relançá-la recentemente.

Outros casos ilustram a mesma preocupação: traduções de seriados dos anos 1970 evitam piadas ou palavras tidas como potencialmente ofensivas, e uma nova versão do popular “Os Trapalhões” abandona tiradas jocosas envolvendo negros, gays e nordestinos.

Note-se que essas correções de rumo parecem incentivadas também por um zelo de mercado. Produtores e exibidores não querem correr o risco de ataque e eventuais boicotes a seus produtos.

Em momentos como o atual, de mudanças de costumes, é difícil evitar que exageros entrem em cena − um efeito colateral sem dúvida problemático. No afã de lutar por suas causas e defender seus representados, ativistas não raro assumem papel inquisidor.

Tentativas de interditar manifestações de adversários ideológicos, de fomentar polarizações e de eliminar as possibilidades de diálogo tornaram-se frequentes e agressivas em diversos países, em meio ao que se convencionou chamar de “guerra cultural”.

O tempo, espera-se, vai contribuir para que as tensões em curso deem lugar a um ponto de equilíbrio.

(Folha de S. Paulo, 30/09/2018)

DISSERTAÇÃO II

Leia detidamente o texto abaixo:

Um dos fenômenos sociais recentes é a formação e a participação dos chamados “coletivos” na vida pública. Os coletivos são associações que se formam em torno de uma bem localizada causa comum: o combate à homofobia, a defesa dos direitos da mulher, a luta contra o preconceito racial etc. Multiplicam-se e dividem-se de acordo com suas linhas específicas de ação. Há quem diga que a ação desses coletivos fragmenta e enfraquece demais as grandes causas democráticas, mas há quem ache que há uma nova democracia nascendo justamente da eficácia política desses coletivos.

Redija uma DISSERTAÇÃO em prosa, na qual você argumentará em defesa de sua posição pessoal diante da divergência de opiniões apontada ao final do texto.

PUC-Campinas 2019 - verão

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