REDAÇÃO
Redija uma dissertação a tinta, desenvolvendo um tema comum aos textos abaixo.
Texto I
Ao ler-se em um dicionário, por sinal extremamente bem conceituado, que a nomenclatura “cigano” significa “aquele que trapaceia, velhaco”, entre outras coisas do gênero, ainda que deixe expresso que é uma linguagem pejorativa, ou, ainda, que se trata de acepções carregadas de preconceito ou xenofobia, fica claro o caráter discriminatório assumido pela publicação.
Cléber Eustáquio Neves, procurador
Texto II
Agora há novamente paladinos da sociedade perfeita, o que lá seja isso, que querem censurar dicionários. De vez em quando, aparece um desses. Censurar a lexicografia é uma curiosa inovação. Dicionário é um trabalho lexicográfico, não uma peça normativa. O lexicógrafo não concorda ou discorda do uso de uma palavra ou expressão qualquer. Obedecendo a critérios tão objetivos e neutros quanto possível, constata o uso dessa palavra ou expressão e tem a obrigação de registrá-la. Eliminar do dicionário uma palavra lexicograficamente legítima não só é uma violência despótica, como uma inutilidade, pois a palavra sobreviverá, se tiver funcionalidade na língua, para que segmento seja. João Ubaldo Ribeiro, escritor
Texto III
O Ministério Público entendeu que houve racismo nos itens 5 e 6 do verbete “cigano” e, por isso, entrou com uma Ação Civil Pública contra a Editora Objetiva, que publica o Dicionário Houaiss, e contra o Instituto Antônio Houaiss. O MPF espera conseguir na justiça uma indenização por dano moral coletivo e a retirada de circulação, suspensão de tiragem, venda e distribuição das edições do dicionário que apresentem as expressões que depreciam os ciganos. A significação atribuída pelo Houaiss aos ciganos violaria o artigo 20 da Lei 7.716/89, que tipifica o crime de racismo.
Adaptado do portal de notícias newsrondonia.com.br
Texto IV
Quando a gente pensa que já viu tudo, não viu. Faz algum tempo, dentro do horroroso politicamente correto que me parece tão incorreto, resolveram castrar, limpar, arrumar livros de Monteiro Lobato, acusando-o de preconceito racial, pois criou entre outras a deliciosa personagem da cozinheira Tia Nastácia. [...] Se formos atrás disso, boa parte da literatura mundial deve ser deletada ou “arrumada”. Primeiro, vamos deletar a palavra “negro” quando se refere a raça e pessoas, embora tenhamos uma banda Raça Negra, grupos de Teatro Negro e incontáveis oficinas, açougues, borracharias “do Negrão”, como “do Alemão”, “do Portuga” ou “do Turco”. Vamos deletar as palavras. Quem sabe, vamos ficar mudos, porque ao mal-humorado essencial, e de alma pequena, qualquer uma pode ser motivo de escândalo.
Lya Luft, escritora