Modernismo

O Modernismo foi o principal movimento literário do século XX. O Modernismo surgiu no final da segunda década do século XX e foi responsável por grandes transformações na literatura.

1. Datas

  • Portugal: de 1915 (revista Orpheu) à atualidade.
  • Brasil: de 1922 (Semana de Arte Moderna) à atualidade.

2. Introdução

Costuma-se empregar o termo Modernismo para designar, de maneira geral, as manifestações artísticas que, acompanhando as rápidas mudanças do fim do século XIX e do início do século XX, tentaram traduzir a nova realidade e os novos anseios que se impunham ao "homem moderno" e à sociedade como um todo. Assim, algumas de suas raízes podem ser encontradas já nos movimentos que marcaram a transição entre esses dois séculos, como o Simbolismo, o Impressionismo - e mesmo no Realismo-Naturalismo.

Expressão artística de um mundo em rápida transformação, o Modernismo consistiu, principalmente, no uso de um "código novo", que implicou uma ruptura radical com a influência dos modelos clássicos de arte, tanto no enfoque temático quanto no aspecto formal, e determinou certas atitudes e posturas, entre as quais se podem destacar:

  • o inconformismo político e o espírito revolucionário;
  • uma nova concepção do mundo e do homem;
  • uma atitude de irreverência e iconoclastia em relação aos padrões sociais e artísticos do passado:
  • antiacademicismo, antitradicionalismo, antipassadismo, anticonformismo;
  • a rejeição às normas estéticas consagradas;
  • a incorporação do cotidiano à arte;
  • o moderno como um valor em si mesmo;
  • na literatura, a proposta de inovações linguísticas:
  • versos livres;
  • aproximação entre poesia e prosa;
  • exploração de novos temas;
  • simultaneísmos, sínteses, fusões diversas;
  • uso da linguagem coloquial;
  • humor, ironia, o "poema-piada".

Antecedentes do Modernismo

O início do século XX na Europa foi marcado por uma grande instabilidade, que se refletiu na insatisfação artística e intelectual em relação aos valores do século anterior: o Cientificismo, o Positivismo, o Determinismo, a visão racionalista e investigadora dos problemas sociais, a crítica apoiada na pesquisa materialista, todas essas posturas passaram a ser consideradas ultrapassadas, já que não mais atendiam aos anseios dos novos tempos, marcados por transformações cada vez mais rápidas.

Contribuíram para esse estado de espírito vários acontecimentos históricos que acabaram por influenciar muitos dos comportamentos artísticos no mundo inteiro.

Contexto histórico 

O final do século XIX assistiu à supremacia econômica capitalista de algumas potências europeias, principalmente da Inglaterra, mas logo essa centralização cederia espaço também para a Alemanha e para os Estados Unidos, que se sobrepunham à Inglaterra na produção de aço e ferro. No entanto, como ainda detinha a metade de todos os capitais exportados para investimentos e o maior império colonial da época, a Inglaterra procurava não apenas manter, mas, ainda, ampliar seus domínios, e equipou-se militarmente.

Os conflitos gerados pelos interesses capitalistas, pelo imperialismo e pela ideologia nacionalista terminaram por levar o mundo à Primeira Guerra Mundial e à desestruturação do capitalismo internacional, fatores que, somados às ideias do marxismo, desencadearam a Revolução Russa, em 1917.

Ao final da I Guerra Mundial (1914 a 1918), a Europa estava em ruínas. Mais de 10 milhões de pessoas haviam morrido e 20 milhões ficaram feridas. Além disso, o assombroso prejuízo econômico refletiu-se social e politicamente de maneira desastrosa.

A Guerra desencadeou profundas transformações, que fizeram surgir novas correntes ideológicas, como o nazismo, o fascismo e o comunismo, geradores de crises responsáveis por outro conflito mundial: a Segunda Guerra (1939 -1945).

A Revolução Russa de 1917, que acontecera pouco tempo antes da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra, colocou o poder nas mãos dos líderes do proletariado russo, que comandaram o processo revolucionário, forçando uma inédita ruptura política e social, com desdobramentos internacionais. Sua importância decorre do fato de ela ter provocado a ruptura da ordem econômica capitalista, que se espalhava pelo mundo sob o domínio das grandes potências europeias e dos Estados Unidos (estes, principalmente depois da guerra). Assim, a partir de 1917, a Rússia caminharia no sentido de transformar-se numa das mais importantes potências mundiais, em condições de rivalizar, em muitos setores, com o grande líder capitalista, os Estados Unidos.

Após o término da I Guerra, (1918), os países europeus voltaram a organizar e a desenvolver sua estrutura produtiva e a tomar uma série de medidas protecionistas que acabariam reduzindo as importações de produtos americanos. Enquanto isso, o ritmo da produção industrial e agrícola dos Estados Unidos continuava a crescer aceleradamente, em descompasso com as necessidades de seu mercado interno e das possibilidades de compra do mercado internacional, o que agravaria, mais tarde, a crise com o crak da Bolsa de Valores (1929).

As espetaculares invenções do começo do Século XX substituíram rapidamente o modo de o Homem ver a realidade: surgiram o automóvel, o cinema, as máquinas voadoras, o telégrafo-sem-fio, a velocidade. Inaugurada a época da velocidade, o mundo assistiu a um progresso material espantoso e a uma acelerada disputa pelo poder entre as potências mundiais.

Até a crise de 1929 — o crack da Bolsa de Valores — os Estados Unidos viviam seus dias de glória com a hegemonia econômica mundial. Foi exatamente no período da guerra que surgiu e se divulgou com maior intensidade a sua música negra: o jazz e o blues. A dança agita os salões, floresce o fox-trot, que abre caminho para a música pop, o charleston ocupa os bailes. Desenvolve-se, mais do que nunca, o american way of life, um estilo de vida apresentado como modelo da moderna civilização industrial, que se caracterizava pelo grande aumento na aquisição de automóveis, de eletrodomésticos, de produtos industrializados. Viver bem era sinônimo de ter mais, de consumir as novidades produzidas pela indústria.

Vanguardas Europeias

A máquina, o automóvel, a eletricidade, o avião, a velocidade, a aceleração progressiva e o impacto com que todas essas transformações e conquistas se abateram sobre o Homem determinaram profundas alterações em seu modo de pensar, de apreender o mundo e relacionar-se com esse novo universo. E, como consequência, também tinham de afetar sua maneira de exprimir artisticamente essa nova realidade.

Os períodos que antecederam a Primeira Guerra Mundial, conviveram com ela e a ela sucederam foram marcados, no plano artístico, por inúmeras tendências que se preocupavam em dar novas interpretações à realidade e à sociedade. Retratavam os anseios vividos pelo Homem através de profundas renovações artísticas: foram os movimentos de vanguarda europeia, que se propuseram a romper com o passado, com a chamada "arte clássica", e a expressar o dinamismo do novo tempo que começava.

O nome vanguarda é originário do francês avant-garde e significa "estar à frente, à dianteira de um movimento". Destacam-se, entre as vanguardas europeias ou ISMOS:

  • o Expressionismo;
  • o Cubismo;
  • o Futurismo;
  • o Dadaísmo;
  • o Surrealismo.

Expressionismo

Expressionismo

Contemporâneo do Futurismo e do Cubismo - que você verá a seguir - o Expressionismo é um movimento cultural tipicamente alemão, que surge em 1910 como uma reação ao Impressionismo e ao seu caráter sensorial.

Reagindo à lógica e à objetividade que marcaram o Cientificismo da segunda metade do Século XIX, os expressionistas, guiados pela intuição, procuravam fazer da obra de arte um reflexo da vida interior.

Nesse sentido, os expressionistas rejeitam a aparência externa das coisas e desejam "ir fundo na alma humana", mergulhar em seu interior, nas suas angústias, fazer a leitura dessa alma e retratar tal leitura através da deformação, já que o mundo interior é caótico, angustiado, ilógico, obscuro.

Na pintura, tal mergulho é representado através de pinceladas rápidas mas largas, interrompidas, com contornos muito acentuados, escuros, pretos - ao contrário dos impressionistas. Sua técnica pode ser observada na obra de Van Gogh, Diego Rivera e , no Brasil, principalmente Di Cavalcânti.

Expressionismo

 

Ao contrário de impressão, a expressão significa um movimento de dentro para fora. Desse modo, o Expressionismo significa a materialização de imagens nascidas no interior do indivíduo, gerada, sobretudo, pela atitude de insatisfação, de recusa da sociedade industrial e da alienação provocada por ela.

Por essa razão, a estética expressionista é uma estética do feio e do agressivo, pois representa a contestação e a denúncia, na tentativa de transformar a realidade, como arte engajada que é.

O Expressionismo caracteriza a arte criada sob o impacto do sofrimento humano. Seus representantes pouco se importam com as noções de belo ou de feio: o importante é o registro da expressão do mundo, segundo a visão do artista.

Entre seus princípios, encontram-se os seguintes :

  • A arte não é imitação, mas uma criação livre, subjetiva. É a expressão dos sentimentos.
  • A arte deve ser criada sem obstáculos convencionais, repudiando a repressão social.
  • A realidade que circunda o artista é horrível; por isso, ele deve deformá-la ou eliminá-la.
  • O mundo interior é obscuro e ilógico. A vivência da dor deriva do sentido trágico de existência, o que resulta uma arte deformada, torturada.
  • A arte é a expressão da impressão interior.

Exemplo de texto em que se evidenciam características expressionistas:

Lamento do oficial por seu cavalo morto
Cecília Meireles

Nós merecemos a morte,
porque somos humanos
e a guerra é feita pelas nossas mãos,
por nosso sangue estranho e instável, pelas ordens que
[trazemos por dentro, e ficam sem explicação.
Criamos o fogo, a velocidade, a nova alquimia, os cálculos do gesto,
embora sabendo que somos irmãos.
Temos até os átomos por cúmplices, e que pecados
[de ciência, pelo mar, pelas nuvens, nos astros!
Que delírio, sem Deus, nossa imaginação!
E aqui morreste! Oh, tua morte é a minha, que, enganada,
recebes. Não te queixas. Não pensas. Não sabes. Indigno,
ver parar, pelo meu, teu inofensivo coração.
Animal encantado - melhor que todos nós - que tinhas tu
[com este mundo dos homens?
aprendias a vida plácida e pura, e entrelaçada
em carne e osso, que os teus olhos decifravam...
Rei das planícies verdes, com rios trêmulos de relinchos...
Como vieste morrer por um que mata seus irmãos!

Cubismo

Cubismo

O Cubismo surgiu em 1907, quando o pintor espanhol Pablo Picasso expôs, em Paris, seu quadro Les Demoiselles d’ Avignon. Picasso havia passado por todos os movimentos artísticos, até chegar ao Cubismo através de um estudo com máscaras africanas.

Influenciado por estatuetas negras e polinésicas, Picasso apresenta, na composição desse trabalho, formas geometrizadas, deformadas, principalmente no rosto das figuras que se encontram à direita do quadro.

A partir daí, surgiram outras obras semelhantes, tendo como princípio a decomposição da realidade em fragmentos geométricos que se entrecortam.

A arte cubista rompe com a linearidade criada pelo Realismo e mostra que existem outras maneiras de perceber e interpretar o real: para compreender uma realidade, devem-se observar todos os lados dela. Na pintura, este princípio evidencia-se ao apresentarem-se, no mesmo plano, no mesmo espaço, todos os lados do objeto, através da superposição, do simultaneísmo e da colagem. E assim, rompe com o conceito de espaço: não importa a linearidade, a representação real do espaço, mas o que se pode ver nele.

O Cubismo é facilmente reconhecido nas artes plásticas, principalmente nos quadros de Pablo Picasso, Georges Braque, Léger, Juan Gris e de Anita Malfatti, Tarsila do Amaral e Lasar Segall, no Brasil.

Cubismo

Na literatura, podem-se observar influências cubistas na obra de Guillaume Apollinaire (poeta francês que iniciou a exploração das possibilidades figurativas do verso, redimensionando a palavra poética), de Oswald de Andrade, de Mário de Andrade (notadamente em Macunaíma), de Alcântara Machado e, até, em alguns poemas de Carlos Drummond de Andrade, para citarmos apenas os principais.

  • A transposição do Cubismo para a literatura apresenta traços como:
  • A obra de arte não deve ser uma representação da realidade, mas uma transformação dela, ao mesmo tempo objetiva e subjetiva.
  • A procura da obra de arte deve centralizar-se na realidade pensada, e não na realidade aparente.
  • A obra de arte deve bastar-se a si mesma.
  • Eliminação da sequência lógica do discurso e desordem proposital dos seus elementos.
  • Enumeração aleatória de fragmentos da realidade.
  • Mistura de passado, presente e futuro, na quebra da linearidade cronológica e espacial.
  • Supressão da lógica aparente: evita-se o pensamento lógico, racional, o “pensamento-frase”.
  • Preferência pelo “pensamento-associação”: aquele que se move entre o consciente e o subconsciente.
  • Linguagem predominantemente nominal e um tanto caótica.
  • Valorização dos espaços brancos no papel.
  • Negação da métrica: não deve haver preocupação com o número de sílabas de um verso, nem com a estrofação, nem com rimas ou pontuação.
  • Humor, anti-intelectualismo, instantaneísmo, simultaneidade. 

Exemplos de textos em que se evidenciam características cubistas:

Hípica
Oswald de Andrade

Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

Rio de Janeiro
Blaise de Cendrars

Uma luz deslumbrante inunda a atmosfera
Uma luz tão colorida e tão fluida que os objetos toca
Os rochedos cor-de-rosa
O farol branco que os domina
As cores do semáforo parecem liquefeitas
E eis que agora eu sei o nome das montanhas
[que rodeiam essa baía maravilhosa
O Gigante deitado
A Gávea,
O Bico de Papagaio
O Corcovado
O Pão de Açúcar que os companheiros de Jean de Léry
[chamavam de Pote de Manteiga
E as estranhas agulhas da Serra dos Órgãos
Bom dia vocês.

Futurismo

Futurismo

Em 1909, no jornal parisiense Le Figaro, o italiano Filippo Tommaso Marinetti publica o Manifesto Futurista - primeiro de uma numerosa série -, que causa surpresa nos meios intelectuais europeus pelo caráter violento e radical de suas propostas.

O nacionalismo de Marinetti e sua exaltação da violência e da guerra vão aproximá-lo, mais tarde, de Mussolini e, depois de 1919, fazer com que o futurismo se torne o porta-voz do fascismo italiano.

Sintonizado com a temática da guerra, o Futurismo propôs uma outra forma de arte, dinâmica, com uma imagem veloz do progresso do mundo moderno. E constituiu, acima de tudo, muito mais um programa do que uma obra realizada, o que não diminui sua importância como tomada de posição. É contemporâneo do Cubismo, e vincula a arte à nova civilização técnica, combatendo com veemência o tradicionalismo

Podem-se reconhecer, no Primeiro Manifesto Futurista, alguns postulados:

  • O amor ao perigo, o hábito da energia, a temeridade.
  • A poesia baseada essencialmente na coragem, na audácia, na revolução.
  • A exaltação da guerra, do militarismo, do patriotismo.
  • O canto em poesia das "grandes multidões agitadas pelo trabalho, o prazer ou a rebeldia; as ressacas multicoloridas e polifônicas das revoluções nas capitais modernas".
  • A exaltação da agressividade, da violência, da insônia febril, do perigo.
  • O canto das estações de veículos, as fábricas, as locomotivas, os aeroplanos, os navios a vapor.
  • O canto entusiasmado da velocidade e da tecnologia.
  • A abominação do passado. A exaltação do futuro.
  • No plano da linguagem, o Futurismo prega, entre outras coisas:
  • A destruição da sintaxe.
  • A disposição das palavras ao acaso: palavra em liberdade.
  • A rejeição do adjetivo, para que "o substantivo guarde sua cor essencial".
  • A abolição do advérbio, que "empresta à frase uma cansativa unidade de tom".
  • A diminuição dos elementos conectivos.
  • O emprego dos verbos no infinitivo, a fim de que ele possa adquirir e passar a ideia de continuidade e intuição que pode ser nele percebida.
  • O uso de substantivo seguido imediatamente de outro, que lhe seja analógico: burguês-níquel, multidão-ressaca.
  • A abolição de todas as metáforas descoloridas e de todos os elementos de comparação.
  • A ausência de limites para a pontuação.

Exemplo de texto em que evidenciam características futuristas:

Ode ao burguês (fragmentos)
Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,
O burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!
........................................................................................

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
.........................................................................................

Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando a religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!
Fora! Fu! Fora o bom burguês!

Dadaísmo

Durante a Primeira Guerra Mundial, a Suíça manteve-se neutra. Isso fez com que inúmeros artistas e intelectuais de toda a Europa corressem para lá, abrigando-se em Zurique.

Vários desses "foragidos da guerra" costumavam reunir-se no Cabaret Voltaire, que se tornaria o ponto de encontro e espaço cultural onde surgiu o movimento dadaísta.

O Dadaísmo nasceu em plena guerra, e foi o mais radical dos movimentos de vanguarda europeia. Seu primeiro manifesto foi lançado em Zurique, em 1916, assinado por Tristan Tzara. Entrou em declínio em 1921, após ter tido grande penetração na Europa e nos Estados Unidos.

Criado a partir do clima de instabilidade, medo e revolta provocados pela guerra, o Dadaísmo pretende ser uma resposta à nítida decadência da civilização representada pelo conflito mundial.

Daí provém o deboche, a irreverência, a iconoclastia, a agressividade e o ilogismo próprios dos textos e manifestos dadaístas.

Os dadaístas entendiam que o cultivo da arte enquanto a Europa se banhava em sangue nada mais era que hipocrisia e presunção. Por isso, desejavam ridicularizá-la, agredi-la, destruí-la.

Marcado por atitudes demolidoras, o Dadaísmo desejava fazer a dessacralização da obra de arte: "basta com todas essas imbecilidades!". Assim, pegavam os objetos do cotidiano (um vaso sanitário, por exemplo) e os levavam para os museus.

Provocavam o público com um humor cáustico e uma ironia corrosiva, em reuniões marcadas por palhaçadas e declamações absurdas, além de exposições inusitadas. Realizavam espetáculos-relâmpago nas ruas, em meio a gritos, urros, palavrões e o total desentendimento da plateia.

De acordo com Tristan Tzara, "Dadá não significa nada". Tzara afirmou ter encontrado esse nome ao acaso, em uma página aberta do dicionário Petit Larousse:

"Meu propósito foi criar apenas uma palavra expressiva que através de sua magia fechasse todas as portas à compreensão e não fosse apenas mais um - ISMO."

Na literatura, o Dadaísmo apresenta as seguintes características:

  • É uma tentativa de demolição.
  • Prega a percepção da vida em sua lógica incoerente e primitiva.
  • Propõe a abolição da lógica, da memória, da arqueologia, do futuro.
  • Propõe cortar o nexo de ligação com a realidade vital.
  • Exalta a liberdade total de criação.
  • Tenta a criação de uma linguagem totalmente nova e inusitada.
  • Propõe a livre associação de palavras (técnica da "escrita automática", que seria mais tarde aproveitada pelo Surrealismo) e a invenção de palavras com base na exploração apenas do seu significante.
  • Propõe-se um estilo totalmente antigramatical, uma linguagem simplista, marcada por interjeições.
  • Admite que a arte não precisa ser compreensível: pode reduzir-se a uma gíria de iniciados.

Exemplos de textos em que se evidenciam características do Dadaísmo:

Berr... bum, bumbum, bum...
Ssi... bum, papapa bum, bumm
Zazzau... Dum, bum, bumbumbum
Prä, prä, prä...ra, hä-hä, aa...
Hahol...

Para fazer um poema dadaísta
Tristan Tzara

Pegue um jornal.
Pegue a tesoura.
Escolha no jornal um artigo do tamanho que você deseja dar a seu poema.
Recorte o artigo.
Recorte em seguida com atenção algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco.
Agite suavemente.
Tire em seguida cada pedaço um após o outro.
Copie conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco.
O poema se parecerá com você.
E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.

Surrealismo

Cronologicamente, o Surrealismo é o último movimento da vanguarda europeia, e surgiu com esse nome em 1924, quando Andr - Breton - um dissidente do Dadaísmo - lançou o Manifesto do Surrealismo. A expressão "surrealismo" já havia, no entanto, sido empregada pelo poeta Apollinaire, em 1917.

Diversos pintores aderiram ao movimento, interessados nas propostas artísticas de Breton, ligadas ao subconsciente e à psicanálise (Breton tinha sido psicanalista).

Freud e Bergson, respectivamente na Psicanálise e na Filosofia, já haviam destacado a importância do mundo interior do ser humano, onde se localizam as zonas desconhecidas ou pouco conhecidas da mente. Encaravam o inconsciente, o subconsciente e a intuição como fontes inesgotáveis e superiores de conhecimento do homem, e, assim, punham em segundo plano o pensamento sensível, racional e consciente.

Os aspectos que marcam o Surrealismo em seu início são dois: as experiências criadoras automáticas e o imaginário extraído do sonho.

O automatismo artístico consiste em extravasar diretamente os impulsos criadores do subconsciente, sem qualquer controle da razão ou do pensamento. Significa que o artista deve pôr na tela ou no papel seus desejos interiores profundos, sem se importar com a coerência, com os significados ou com a adequação que eles possam ter.

O outro aspecto que marca o Surrealismo - o onírico (do sonho) - busca a transposição do universo dos sonhos para o plano artístico. Os surrealistas pretendiam criar uma arte livre da razão - arte que fosse a expressão direta das zonas ocultas da mente, onde nascem os sonhos - como se o artista, ao criar, estivesse sonhando acordado.

O movimento surrealista teve repercussão em várias manifestações da arte, e sua rejeição ao mundo burguês, racional, mercantil e moralista levou alguns de seus seguidores a ligações com o marxismo. Na pintura, destacaram-se André Breton, Salvador Dali, Joan Miró.

No Brasil, vários escritores foram influenciados pelas ideias surrealistas: Oswald de Andrade, Mário de Andrade, Murilo Mendes, Jorge de Lima, José Cândido de Carvalho, Guimarães Rosa, entre outros.

  • Entre as principais propostas do movimento, destacam-se:
  • O conflito entre a vida vivida e a vida pensada.
  • O ilogismo, a livre associação de ideias e de palavras.
  • A valorização do inconsciente, do sonho.
  • O automatismo verbal e escrito.
  • A modificação das estruturas da realidade.
  • O humor negro.

Exemplo de texto em que se evidenciam características do Surrealismo:

Pré-história
Murilo Mendes

Mamãe vestida de rendas
Tocava piano no caos.
Uma noite abriu as asas
Cansada de tanto som,
Equilibrou-se no azul,
De tonta não mais olhou
Para mim, para ninguém!
Cai no álbum de retratos.

Características Gerais do Modernismo em Portugal

Tendo-se iniciado em Portugal em 1915, o Modernismo levaria sete anos para começar no Brasil; porém, o movimento modernista, num primeiro momento, apresentou, na literatura, certas características e atitudes que foram comuns aos dois países. Entre elas, destacam-se:

  • inconformismo político - espírito revolucionário;
  • irreverência, iconoclastia;
  • antiacademicismo, antitradicionalismo, antipassadismo, anticonformismo;
  • rejeição das normas estéticas consagradas;
  • proposta de inovações linguísticas:
  • versos livres;
  • aproximação entre poesia e prosa;
  • exploração de novos temas;
  • simultaneísmos, sínteses, fusões diversas;
  • uso da linguagem coloquial;
  • humor, ironia, o "poema-piada";
  • incorporação do cotidiano;
  • o moderno como um valor em si mesmo;
  • nova concepção do mundo e do homem.

A crítica mais atual tem dividido o Modernismo português em fases ou momentos diferenciados entre si pela prevalência de determinadas posturas ou atitudes: o Saudosismo, o Orfismo, o Presencismo, o Neorrealismo e o Surrealismo.

O movimento saudosista começou em 1910, com a revista A Águia, órgão da "Renascença Portuguesa", que circulou até 1932, ao longo de três fases. Teixeira de Pascoaes é seu maior representante. Segundo ele, saudade é uma palavra sem equivalente em outras línguas e é, por isso, uma postura, uma filosofia, uma promessa tipicamente portuguesas, "a promessa de uma nova civilização lusitana".

Coube ao Orfismo, no entanto, o papel de primeiro movimento português realmente moderno. Iniciado em 1915, este movimento reuniu um grupo de jovens entusiastas das novidades culturais europeias e insatisfeitos com o marasmo em que se encontrava a cultura portuguesa. Assim, propunham a equiparação de Portugal à modernidade do resto da Europa, pregando o inconformismo e questionando o provincianismo português de maneira irreverente e iconoclasta; preconizavam, ainda, a atividade poética sobre todas as outras. Suas ideias foram veiculadas pela revista Orpheu, cujos maiores expoentes são Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro e Almada-Negreiros.

Contexto histórico em Portugal 

Portugal vivia, no início do século XX, um clima de profunda insatisfação contra o regime monárquico, que se sustinha no poder sem conseguir resolver os problemas urgentes do país, nem oferecer à nação o progresso necessário à sua equiparação com o restante da Europa. Embora o período conhecido como Regeneração (1851-1910) tivesse trazido alguma estabilidade e certo desenvolvimento ao país, a ditadura de João Franco, entre 1905 e 1906, marcada por arbitrariedades e injustiças, agravou ainda mais o quadro de insatisfação generalizada, que culmina em 1908, com o assassinato do rei D. Carlos e do príncipe herdeiro D. Luís Filipe por um homem do povo. Sobe ao trono o jovem D. Manuel II, que nele se mantém a duras penas até 1910, quando se instala a república portuguesa, sob o governo provisório de Teófilo Braga.

Em relação à nova realidade trazida pela República, formam-se dois grupos opostos entre si. O primeiro a apoia e procura dar-lhe bases e filosofia tipicamente portuguesas; ligado à Renascença Portuguesa, teve como órgão representante a revista A Águia, que veiculou as ideias do Saudosismo. O outro grupo, insatisfeito com a situação, reúne-se em torno de Antônio Sardinha em 1914 e compõe o Integralismo Português, de que se originou o Estado Novo, em 1926.

Esquematizando os fatores que compuseram o contexto histórico da época, temos o seguinte quadro:

  • economia essencialmente agrária, baseada em processos ultrapassados;
  • frustração do projeto de expansão das colônias africanas: Ultimatum inglês de 1890 - ordem para a retirada das tropas portuguesas dos territórios entre Angola e Moçambique - agravamento do descrédito da monarquia;
  • clima de insatisfação generalizada - sucessão de crises - reação patriótica contra a decadência do país - instalação da República em 1910: Teófilo Braga;
  • 1a República (até 1926) - crises diversas;
  • 1926 - intervenção militar - Salazar;
  • 1933 - 1974 - Estado Novo.

Sumário

- Modernismo
i. Datas
ii. Introdução
- Antecedentes do Modernismo
i. Contexto histórico
- Vanguardas Europeias
i. Expressionismo
ii. Cubismo
iii. Futurismo
iv. Dadaísmo
v. Surrealismo
- Características Gerais do Modernismo em Portugal
i. Contexto histórico em Portugal