A descolonização afro-asiática

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O CONCEITO DE DESCOLONIZAÇÃO

A descolonização afro-asiática ganhou impulso após a Segunda Guerra Mundial e resultou na formação de novos países. O primeiro grande movimento de descolonização, que ocorreu durante a década de 1940, atingiu os países asiáticos. Na década de 1950, a África se tornou o novo foco de descolonização. A descolonização afro-asiática foi impulsionada pelo princípio de “autodeterminação dos povos” estabelecido na Carta do Atlântico (1941), na Carta das Nações Unidas (1945) e na Conferência de Bandung (1955).

Os Fatores da Descolonização

Enfraquecimento da economia dos países industrializados com a Segunda Guerra Mundial - crise nas antigas metrópoles.

A guerra deu consciência da força dos países dependentes, ao mesmo tempo em que despertou o nacionalismo.

Carta de São Francisco (ONU) - estímulo às independências por consagrar o direito à autodeterminação dos povos.

Ascensão da URSS e dos EUA (que lutam por hegemonia) - buscam atrair para si o 3º Mundo, disputando as novas nações afro-asiáticas para sua órbita de influência e para seu sistema (o que é justificado pelo embate entre o socialismo e o capitalismo) - disputas na periferia agravam as tensões internacionais no contexto da Guerra Fria.

As Características da Descolonização

Independências via pacífica: concessões feitas de modo gradual pelas metrópoles - ex-colônia e ex-metrópole mantêm boas relações (os novos Estados passavam a fazer parte da área de influência do antigo dominador e a receber sua ajuda econômica).

Independências por via violenta: as ex-colônias romperam totalmente, enfrentando repressão violenta pelas ex-metrópoles - uso de força nos movimentos de libertação nacionais.

Grã-Bretanha - percebendo que a descolonização no Pós-Guerra era um processo irreversível, tratou de manobrar para manter suas colônias como área de influência sua.

  • As independências políticas não significaram, na maioria dos casos, independência econômica.
  • Descolonização gradativa - primeiramente interna, depois também na política externa (como foi o caso da Índia e do Ceilão).
  • França - não pretendia reconhecer as independências, vindo a sofrer inúmeros problemas.
  • Tentou contemporizar a situação - promoveu “reformas” econômicas e sociais.
  • Agravamento da situação por recorrer à violência para conter as agitações que ficaram excessivas (como na Indochina e Argélia).
  • Tratamento violento gerou oposição rancorosa entre colonizados e colonizadores - situação permite o desenvolvimento de grupos armados comunistas (como no Vietnã do Norte, que terminou aderindo ao socialismo).

A DESCOLONIZAÇÃO NA ÁFRICA

Características da Descolonização na África

O Imperialismo deixou marcas profundas no território e na civilização africana.

A estrutura da sociedade primitiva tribal foi destruída, ou descaracterizada, mas sem assimilar o novo modo de vida “europeizante”.

As novas fronteiras não levaram em consideração as divergências tribais.

Nada se fez para integração racial - tendência de agravamento da segregação (como na África do Sul).

A luta ao sul do Saara de forma geral foi pacífica (uso de boicotes organizados, petições e greves).

A África Inglesa

Gana - movimento pacífico liderado por Kwame Nkrumah (em 1957) - eleito presidente, terminou sendo deposto por um golpe militar em 1926 - novo golpe em 1972 conduziu o coronel Acheampong ao poder.

Federação da Nigéria - formada em 1954 por tribos e regiões distintas, mas tendeu ao desmembramento:

  • Camarões do Sul (1961).
  • Nigéria (1963).
  • Biafra tentou separar-se da Nigéria, numa sangrenta guerra civil (1967).

Serra Leoa e Gâmbia - ganham relativa autonomia dos ingleses, sem graves crises, e conseguindo suas independências entre 1961 e 1965.

Quênia - revolta da tribo Mau-Mau (dos Kikuyus), que levou a uma guerra sangrenta devido às terras ocupadas por colonos brancos - independência concedida em 1963.

África Central Inglesa - criação da Federação da Rodésia e da Federação da Niassalândia (nas quais mantêm-se os interesses dos colonos brancos, relativamente bem até 1963) - houve desmembramento em:

  • Independência da Rodésia do Norte (Zâmbia).
  • Independência da Niassalândia (República Malawi).

Tanganica - ficou independente em 1963, mas a manutenção dos privilégios da aristocracia de Buganda levou-a a conflito interno em 1966.

A África Francesa

A França preocupara-se na África com a assimilação da população nativa, formando uma elite afrancesada, ao mesmo tempo mantendo uma enorme massa não integrada.

Concessões francesas tentam em vão manter suas colônias:

  • a ajuda das colônias à França na II Guerra Mundial predispõe o general De Gaulle.
  • Conferência de Brazzaville (1944) - os governadores das colônias francesas optam por maior autonomia e representação no Parlamento Francês, mas sem independência.
  • a Constituição Francesa de 1946 trouxe novas disposições sobre as colônias: direito de representatividade e assembleias locais eleitas por colégio duplo (mistas).

Há rebeldia das colônias francesas mediterrâneas:

  • Argélia - não concorda com o tratamento de colônia no Pós-Guerra - inicia a luta armada (1954/1962), mantendo-se por 9 anos (represália francesa violenta, fazendo muitas vítimas).
  • Marrocos - rebelou-se em 1955, conseguindo a independência em 1956.
  • Tunísia - em 1934, já tentara um movimento de independência liderado por Habib Bourghiba, mas interrompido pela guerra - reata movimento guerrilheiro após a II Guerra Mundial, até sua autonomia em 1953.

A França reacende a contemporização com a Lei de Deferre (1956) - criada para conter o exemplo das colônias mediterrâneas, levando à instituição da fragmentação da África francesa negra.

  • Sufrágio universal.
  • Maior autonomia às assembleias locais.
  • Criação de um conselho governamental em cada localidade.

Em 1958, a França coloca duas opções:

  • associar-se à França numa Federação.
  • caminhar em direção à independência por conta própria (aceita apenas pela Guiné).

Guiné - preferiu optar pela independência, sob a liderança de Sekou Touré, que buscou auxílio no Ocidente e no Oriente - seu exemplo bem-sucedido foi seguido depois por outras colônias (recebeu ajuda da URSS e da China Popular).

A liquidação do Império Colonial Francês (1960), independências do Sudão Francês, Camarões, Madagascar, Togo, Daomé, Niger, Alto Volta, Costa do Marfim, Chade, Congo e Gabão, Mauritânia e Senegal (de Leopold Senghor, que optou pelo socialismo).

A África Belga

Encontrou muitos problemas para consolidar sua independência.

Conseguiu sua independência sob a liderança de Patrice Lumumba - já no início teve que enfrentar um movimento separatista da província de Catanga (liderado por Moise Tchombe).

O Congo Belga passou por duas intervenções:

  • intervenção belga.
  • intervenção militar da ONU (a pedido).

Conseguindo o apaziguamento, Lumumba iniciou um vasto programa de modernização pedindo ajuda soviética - foi destituído por Kasavubu.

O coronel Mobutu aprisiona e assassina Lumumba - surge confusão generalizada - acontece nova intervenção da ONU em 1962.

Em 1965, Mobutu conseguiu depor Kasavubu, tornando-se chefe de Estado - mudou o nome do país para Zaire.

Ruanda e Burundi - os últimos territórios belgas conseguem sua independência em 1962.

A África Portuguesa

O Império Colonial Português foi dos últimos a dissolver-se. A década de 60 conheceu movimentos separatistas em três de suas colônias.

Movimentos angolanos:

  • MPLA de Agostinho Neto.
  • UNITA de Jonas Savimbi.
  • FNLA de Holden Roberto (surgida em 1972).

Movimento da Guiné - PAIGC de Amilcar Cabral.

Moçambique - Frelimo de Eduardo Mondlane.

A Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974): fez a liquidação do Estado salazarista, com nova política colonial. Portugal passa a buscar por acordos para a emancipação.

  • Guiné-Bissau (1974).
  • Moçambique (1975).
  • Angola - deveria ficar independente em 1975, mas devido às más relações, Portugal abandona o território antes do tempo - surge luta interna pelo poder, vencendo o M.P.L.A. de Agostinho Neto (com apoio de tropas cubanas).

Resultados da descolonização para Portugal:

  • grandes perdas materiais e humanas.
  • endividamento com as guerras e perda de arrecadação (resultando em perdas internas).
  • surgimento da questão dos retornos.
  • queda da renda nacional e desemprego.

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A DESCOLONIZAÇÃO NO ORIENTE MÉDIO

A Formação dos Estados Islâmicos Modernos

Os países árabes até o final da I Guerra Mundial pertenciam ao Império Otomano, mas com o seu desmembramento, formaram-se Estados sob a tutela da Inglaterra e da França como a Palestina, Síria, Líbano, Transjordânia e Iraque (o Egito e a Pérsia já eram protetorados britânicos).

A Independência do Egito

Recebe a independência da Inglaterra em 1922, constituindo-se numa monarquia liberal - os ingleses se mantêm em seu território controlando o Canal de Suez e o Sudão - em 1936, ganha melhores condições como país soberano.

A Formação da Liga Árabe

Líderes árabes reunidos em Alexandria (1944) reprovam a intervenção francesa no Líbano e o expansionismo israelense, levando-os a fundar a Liga em 1945 - Egito, Transjordânia, Síria, Líbano, Iraque e Reino Saudita.

O 1º Conflito Árabe x Israelense

A Inglaterra declarou findo o seu mandato sobre a Palestina a 13 de maio de 1948.

Os judeus residentes na Palestina proclamam o Estado de Israel - ataque da Liga Árabe (forte resistência) - resposta israelense com o bombardeio do Cairo.

Paz temporária assinada por intervenção da ONU (1949).

Novo Conflito Egípcio-Inglês (1952)

Surgiu devido a pretensões no Sudão - motivou a queda do rei Faruk por golpe de Estado executado por oficiais liderados pelo Coronel Gama Abdel Nasser, que inaugurou um programa de reformas.

A DESCOLONIZAÇÃO NA ÁSIA

A Independência da Índia

A luta de independência, no seu auge, foi conduzida pelo advogado Mahatma Gandhi, caracterizada pelo princípio da não violência.

Em 1947, a Grã-Bretanha propôs o acordo de divisão da Índia e Paquistão (predomínio de muçulmanos):

  • o Paquistão Oriental ficou separado do Ocidental por mais de 1700 km.
  • o Paquistão Oriental terminou por declarar-se independente, como Bangladesh, em 1971.
  • ainda permanece a disputa entre a Índia e o Paquistão pela Caxemira (norte da Índia).

Após a independência, a Índia passou a fazer parte da Comunidade Britânica - o Estado indiano assumiu um papel importante, organizando planos quinquenais.

Os primeiros governantes hindus: Nerhu, Shastre e Indira Gandhi (1966).

Ceilão

Emancipado pacificamente em 1948, integrando a Comunidade Britânica (como Sri Lanka).

Birmânia

Também independente em 1948, após ocupação do Império Japonês na II Guerra Mundial.

Federação Malásia

Formada em 1946 por vários Estados, tornando-se independente em 1957.

Cingapura

Livre, fez parte da Federação Malásia até 1965.

República Indonésia

Criada em 1945 sob a chefia de Sukarno, mas disputas internas e internacionais conturbaram a situação.

Os holandeses a invadiram, tentando recuperá-la, levando a luta armada até 1947.

As hostilidades recomeçaram e Sukarno foi preso - intervenção da ONU (retirada dos holandeses).

A Independência da Indochina

Constituída pelo Vietnã, Laos e Camboja, foi uma colônia francesa até 1940 - sua independência tem sido marcada por intensa violência:

- foi ocupada pelos japoneses na II Guerra Mundial; em 1945, os japoneses criaram o Estado Autônomo do Vietnã (formado por Tonquim, Anam e Cochinchina) - entronizado o imperador Bao Dai com capital em Saigon.

- a resistência contra os franceses e japoneses já vinha sendo feita por Ho Chi Minh (que fundou o Partido Comunista da Indochina ou Vietminh, em 1931) chegou a tomar o poder no Norte (1941), criando a República Democrática do Vietnã (capital Hanói).

- a ocupação japonesa foi superada por uma coligação entre forças vietnamitas, chinesas e inglesas (que ocuparam temporariamente o território); ao término da II Guerra, a França pretendia recuperar o território, negociando com o Vietaminh, provocando um conflito armado iniciado em 1946.

A guerra da Indochina (1946/1954).

  • os franceses chefiados por Thierry d´Angenlieu (emissário francês na Indochina) apoiaram a proclamação da República da Cochinchina em Hanói (reconhecendo, ao mesmo tempo, dois governos).
  • os franceses interrompem as negociações e tentam impor-se militarmente - Ho Chi Minh passa para a clandestinidade e para a guerrilha (chefiada por Vo Nguyen Giap), após um fracassado golpe vietminh em Hanói (dezembro de 1946).
  • a França propõe a independência do Vietnã dentro da União Francesa (mantendo o imperador Bao Dai), mas não foi aceito por Ho Chi Minh.
  • a internacionalização do conflito (1949 ou 50) - vietminh passa a ser apoiado também pela China Popular (já era apoiada pela URSS) e os EUA passam a dar ajuda militar e financeira à França.
  • a vitória de Gian, sobre os franceses em Dien Bien Phu (07/05/1954) acelerou as negociações - assinatura do Acordo de Genebra (1954); pôs fim ao conflito com a divisão temporária do Vietnã (paralelo 17) até as eleições a serem realizadas em julho de 1956; o imperador nomeia Ngo Dinh Diem como ministro do Vietnã do Sul (católico e anticomunista); o Vietminh assumiu o governo do Norte (Ho Chi Minh); a Legião Estrangeira retirou-se definitivamente.
  • O conflito estava longe de ser resolvido, desencadeando depois a Guerra do Vietnã (1961/75), estendendo-se mesmo até os nossos dias.

A Independência da Coreia

A Coreia fora invadida pelo Império Japonês em 1910, desmembrando-o do Império Chinês até 1945, quando os Aliados resolveram sobre seu destino na Conferência de Potsdam (1945); divisão em duas áreas pelo paralelo 38 (entre EUA e URSS), devendo ser formado um Estado independente sob patrocínio da ONU.

O agravamento da Guerra Fria dificulta o plano original: a URSS cria problemas para a comissão na ONU (não deixando que entrassem em sua zona) e os EUA supervisionam eleições apenas no Sul.

  • no Sul, empossou-se Sungman Rhee.
  • no Norte, Kim II Sung de tendência comunista.
  • os norte-americanos e soviéticos retiram-se.

Agravam-se as tensões entre as duas repúblicas, terminando com a invasão do Sul por tropas de Pyongyang (25 de junho de 1980).

A Guerra da Coreia (1950/53): imediatamente houve intervenção americana ordenada por Harry Truman (pelo general Mac Arthur) - a ofensiva norte-americana levou a linha de combate até a fronteira com a Manchúria - contraofensiva norte-coreana com participação direta da China Popular (e apoio soviético) - Truman substitui Mac Arthur por Matthew B. Ridgeway, iniciando a negociação de paz - Armistício de Panmunjun (1953) no governo de Dwight Eisenhower, voltando-se aonde se estava antes.

Sumário

- O Conceito de Descolonização
- A Descolonização na África
- A Descolonização no Oriente Médio
- A Descolonização na Ásia
- A Independência da Indochina
- A Independência da Coreia

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