Conflitos na África

  • Home
  • Conflitos Na África

Os conflitos na África são consequências do colonialismo, que se intensificou durante a Guerra Fria. Os conflitos na África são motivados por disputas territoriais, étnicas, socioeconômicas e religiosas.

Em 1885, na Conferência de Berlim, quando as nações ocidentais partilharam os territórios do Continente Africano, a divisão foi feita segundo os interesses dos europeus, ignorando e violentando as realidades tribais. Criando países artificiais, que agrupavam em seu interior tribos culturalmente diferentes e, quase sempre, antagônicas, os europeus gestaram os conflitos que até hoje assolam a África Negra. O Ocidente abortou a linearidade do processo histórico africano, dando à luz um pavoroso feto eivado de ódio, ressentimento e, paradoxalmente, admirador do que existe de pior entre nós, um malfadado “clone” do Ocidente. O Sudão e o Ruanda servem como exemplos das consequências trágicas causadas pelo colonialismo europeu.

Mapa da África


O colonialismo europeu criou estados frágeis e artificiais. Os conflitos e guerras que assolam o continente africano são consequência disso. Sete das 14 operações de paz da ONU em todo o mundo ocorrem na África: no Saara Ocidental, na Libéria, na Costa do Marfim, na República Democrática do Congo (RDC), no Sudão do Sul e no Sudão (há duas operações de paz no Sudão, uma delas em Darfur).

Os grupos armados atravessam fronteiras e perturbam a estabilidade política e regional dos países africanos. As redes terroristas já fazem parte da realidade do continente africano.

As riquezas minerais da África, em vez de contribuir para o desenvolvimento do continente, são utilizadas para financiar grupos armados. A extração de diamantes e de outras pedras preciosas e o comércio de armas ajudam a financiar grupos rivais envolvidos nas guerras civis, guerrilhas e grupos terroristas. Em Angola, Serra Leoa e República Democrática do Congo, a exploração de reservas, denominadas "diamantes de sangue", é usada para o sustento de conflitos armados no interior desses países.

Sudão

O Sudão é um país africano, limitado a norte pelo Egito, a leste pelo Mar Vermelho, onde faz fronteira com a Arábia Saudita, Eritreia e Etiópia, ao sul pelo Quênia, Uganda e República Democrática do Congo e a oeste pela República Centro-Africana, Chade e Líbia. A capital do Sudão é Cartum.

O Sudão, chamado na antiguidade de Núbia, foi conquistado pelos árabes durante a expansão islâmica ocorrida no século VII. Entre 1820 e 1822, o Sudão foi conquistado pelo Egito e, posteriormente, pelo Reino Unido. Em 1881, é iniciada uma revolta nacionalista liderada por Muhammad Ahmed bin Abdallah. Esse líder religioso, conhecido como Mádi, expulsou os ingleses do Sudão em 1885. Mas ele faleceu logo depois e os britânicos voltaram a conquistar o país em 1898. O Sudão obteve autonomia limitada apenas em 1953. A independência total do país ocorreu em 1956.

O Sudão, antes de sua divisão, era o maior país da África. O Sudão é rico em petróleo, ouro e terras cultiváveis, mas esteve em estado de guerra civil durante décadas. O conflito ocorre entre o governo muçulmano e guerrilheiros cristãos e animistas, localizados no sul do país. A guerra civil e as secas prolongadas resultaram na morte de 1,5 milhão de pessoas. O Sudão adotou um regime islâmico radical e a introdução da Sharia, a lei islâmica, que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas e prevê punições por enforcamento ou mutilação, o que resultou no exílio de 350 mil sudaneses, que fugiram para países vizinhos.

A história do país nas últimas décadas do século XX foi marcada por guerras. A primeira guerra civil no Sudão terminou em 1972, mas o conflito foi reiniciado em 1983. Milhões de pessoas foram mortas e exiladas. Negociações de paz ocorreram durante os anos 2002-2004. Um acordo de paz foi finalmente assinado em janeiro de 2005, e concedeu um período de seis anos de autonomia aos rebeldes do sul. Terminado esse prazo, em 2011, essa região se tornou um país independente, o Sudão do Sul – o país mais jovem do mundo. Ainda persistem conflitos entre o governo do Sudão e os rebeldes que visam a reanexar o Sudão do Sul, onde se encontram três-quartos das reservas de petróleo. 

Além de guerras civis e de surtos de fome que vitimaram o país, o Sudão enfrenta também um problema de imigração: um número enorme de refugiados, fugindo de países vizinhos, principalmente da Etiópia e do Chade, buscam refúgio no Sudão. Não é tarefa fácil ajudar o povo sudanês, pois, infelizmente, há conflitos armados, uma precária rede de transportes e uma falta de estrutura governamental, que obstruem o envio de ajuda humanitária para as vítimas desse país africano.

Darfur

O conflito de Darfur, também conhecido como Genocídio de Darfur, é um conflito armado que ocorre na região oeste do Sudão. O conflito envolve os janjawid – milícia recrutada entre as tribos baggara (árabes) e os povos não baggara da região. O governo sudanês apoia os janjauids ao fornecer-lhes armas e assistência.

O conflito de Darfur, que se iniciou em fevereiro de 2003, já resultou na morte de aproximadamente 400.000 pessoas. Dois grupos armados da região rebelaram-se contra o governo central sudanês, pró-árabe deflagrando a luta. O Movimento de Justiça e Igualdade e o Exército de Liberação Sudanesa acusaram o governo de oprimir os não árabes e de negligenciar a região. O governo sudanês reagiu ao lançar uma campanha de bombardeios aéreos para apoiar ataques por terra perpetrados pelas milícias dos janjawid.

O conflito de Darfur é um caso de “limpeza étnica” e de genocídio. Os janjawid são acusados de cometer terríveis violações dos direitos humanos, inclusive assassinatos em massa, saques e o estupro sistemático da população não árabe de Darfur. Os janjawid também incendiaram vilarejos inteiros, forçando os sobreviventes a fugir para campos de refugiados. Mais de 2 milhões de pessoas haviam fugido, forçadas a abandonar seus lares, provocando uma grande crise humanitária.

Genocídio - eliminação física de uma etnia por parte de outra.

Etnocídio – eliminação da cultura de um povo, e não de sua presença física. O etnocídio não é sempre proposital. Pode ocorrer quando um povo não respeita a cultura do outro e quer mudá-lo.

Na área, atuam forças militares da Organização das Nações Unidas (ONU) e da União Africana (UA), que tentam prevenir os ataques e as ameaças contra a população civil. Em 31 de julho de 2007, o Conselho de Segurança das Nações Unidas votou unanimemente a resolução 1769, que aprovou a constituição de uma força militar conjunta da ONU e da União Africana (UA) para Darfur. A resolução autorizou a formação de uma força denominada UNAMID, constituída por 26 mil soldados e policiais. 

O conflito já dura uma década. As tentativas de mediação internacional e as negociações de paz foram prejudicadas pelas lutas e divisões rebeldes. A violência ainda continua, mesmo que tenha diminuído desde 2003-2004.

É importante ressaltar que, ao contrário da segunda guerra civil do Líbano, que foi travada entre o Norte muçulmano e o Sul cristão e animista, a maioria dos residentes de Darfur é muçulmana.

Ruanda

Ruanda é um pequeno país montanhoso da África cuja capital é Kigali.

Depois da Primeira Guerra Mundial, a Liga das Nações entregou o protetorado de Ruanda, controlado desde 1880 pelos alemães, à Bélgica. Os belgas praticaram métodos draconianos para controlar Ruanda: utilizaram a igreja católica para manipular a classe alta dos tutsis para reprimir o resto da população e impuseram impostos e trabalhos forçados.

Depois da Segunda Guerra Mundial, Ruanda tornou-se um território “protegido pelas Nações Unidas”, mas continuava a ser administrado pela Bélgica. Com o passar do tempo, os hutus adquiriram mais poder e, em 1962, quando o país se tornou independente, esses se tornaram os políticos dominantes. Em 25 de setembro de 1960, a ONU organizou um referendo no qual Ruanda se tornou uma república. Logo após as primeiras eleições do país, foi declarada a República de Ruanda. O primeiro-ministro eleito foi Grégoire Kayibanda.

Ruanda sofreu vários anos de instabilidade e seu governo perseguia os tutsis. Em 5 de julho de 1973, o ministro da Defesa, major general Juvénal Habyarimana, derrubou o governo do primeiro-ministro Grégoire Kayibanda, dissolveu a Assembleia Nacional e aboliu todas as atividades políticas. Em dezembro de 1978, ocorreram novas eleições. Uma nova Constituição foi aprovada e Habyarimana foi confirmado como presidente. Concorrendo como candidato único, foi reeleito em 1983 e em 1988. Porém, devido a pressões por reformas políticas, o presidente anunciou em julho de 1990 que transformaria Ruanda numa democracia multipartidária. Nesse mesmo ano, porém, o país sofreu conflitos internos e a Frente Patriótica Ruandesa (RPF), dominada por tutsis que haviam se refugiado em países vizinhos, lançou ataques militares contra o governo hutu. O governo de Juvénal Habyarimana retaliou ao lançar uma campanha genocida contra os tutsis. Em 1992, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre o governo e a RPF.

Em 6 de abril de 1994, o presidente Habyarimana foi assassinado. Durante os três meses seguintes, militares e milicianos mataram cerca de 800 mil tutsis e hutus, naquilo que foi chamado de o Genocídio de Ruanda. Os rebeldes tutsis derrotaram o regime Hutu e encerraram a matança em julho de 1994, mas aproximadamente 2 milhões de refugiados hutus – muitos deles temendo uma retaliação Tutsi – fugiram para os países vizinhos como Burundi, Tanzânia, Uganda e o ex-Zaire.

Em 4 de julho, Paul Kagame, que comandava a RPF, entrou no capital do país, Kigali, enquanto tropas francesas de “manutenção de paz” ocupavam a região sudoeste, durante a “Opération Turquoise”.

Paul Kagame tornou-se vice-presidente e Pasteur Bizimungu, presidente. No ano de 2000, porém, ambos entraram em conflito. Bizimungu renunciou e Kagame assumiu a presidência do país. Em 2003, Kagame foi eleito presidente no que foram consideradas as primeiras eleições democráticas legítimas desde o genocídio. Entretanto, aproximadamente 2 milhões de hutus se refugiaram na República Democrática do Congo, pois temiam que os tutsis iriam se vingar deles. Muitos regressam ao país, mas ainda há milícias envolvidas numa guerra civil que continua a vitimar Ruanda.

Apesar de receber ajuda internacional e apesar das reformas políticas ocorridas no país, Ruanda ainda tem dificuldade em atrair mais investimentos e ampliar sua agricultura. A reconciliação étnica é complicada pelo domínio político dos tutsis e pela tradição de violência no país. Extremistas hutus continuam a provocar inquietação nas fronteiras do país.

Ruanda continua sendo um país rural e pobre. Quase 90% de sua população trabalha na agricultura, a maioria sobrevive com a agricultura de subsistência. Ruanda é o país mais densamente populado na África; não tem passagem para o mar, poucos recursos naturais e uma indústria praticamente insignificante. O país obtém um mínimo de recursos ao exportar café e chá.

O genocídio ocorrido no país em 1994 dizimou a economia nacional, empobreceu ainda mais a população, e prejudicou a capacidade do país de atrair investimentos privados e externos.

Ruanda tem feito um progresso substancial ao estabilizar e reabilitar sua economia. Mesmo assim, o nível de pobreza do país continua extremamente alto.

Somália

A Somália está localizada no litoral leste da África. O país se tornou independente em 1960, quando a Itália e a Grã-Bretanha se retiraram e o território foi unificado. Em 1991, uma sangrenta guerra civil resultou na derrubada da ditadura do país. Desde então, o país enfrentou uma terrível guerra civil e a ausência de um governo central forte: há mais de 20 clãs armados lutando entre si pelo poder. A Somália, um dos países mais pobres do mundo, enfrente guerra, fome e caos generalizado.

Entre 1991 e 2012, a Somália não contava com um governo central articulado. Em 2004, foi estabelecido um governo de transição para promover a paz no país. Em setembro de 2012, o país organizou eleições presidenciais e elegeu um presidente após mais de duas décadas de caos político.

A Somália ainda é vítima das lutas entre seus diversos clãs. Além disso, o país enfrenta problemas políticos e institucionais causados pelos ataques de piratas a embarcações que navegam nas águas próximas à sua costa. Um relatório da ONU revela que entre abril de 2005 e dezembro de 2012, os piratas lucraram entre 339 e 413 milhões de dólares em resgastes na costa da Somália e no Chifre da África (Corno de África). A pirataria na costa da Somália é muito prejudicial à economia mundial, pois a região faz parte de uma das rotas marítimas mais importantes. 

O grupo terrorista al-Shabab, que é ligado à organização terrorista al-Queda e que assumiu a autoria do ataque que resultou na morte de dezenas de pessoas em um shopping center no Quênia em 21 de setembro de 2013, controla parte do território da Somália. Os piratas pagam um “imposto” – 20% de sua receita – para o al-Shabab.

Devido às guerras e conflitos e a fome, a Somália tem umas das mais altas taxas de mortalidade infantil do mundo. O país está entre os mais pobres do globo.

República Centro-Africana

O atual conflito na República Centro-Africana, entre o governo e os rebeldes, foi iniciado em dezembro de 2012.

Em março de 2013, Michael Djotodia depôs o presidente por meio de um golpe de estado. Ele foi amplamente apoiado por uma coalizão de grupos rebeldes, que incluía muçulmanos que haviam lutado para tomar o poder no norte do país, onde vive uma minoria muçulmana. O conflito se tornou uma luta armada entre muçulmanos e cristãos, que deixou mais de 100 mil refugiados e milhões de pessoas em risco de fome.

A República Centro-Africana é rica em diamantes e madeiras tropicais – recursos que podem ser utilizados para financiar os rebeldes.

A França decidiu intervir no conflito ao enviar 1.600 soldados franceses ao país. Esses soldados franceses, juntamente com 6.000 soldados da União Africana e soldados das Nações Unidas, entraram no país para tentar restaurar a paz.

A administração interina entregou o poder a um governo eleito democraticamente em 2016.

Mali

O Mali é um país no oeste africano que não tem acesso ao mar. Antiga colônia francesa, é um dos países mais pobres do mundo.

Em março de 2012, um golpe militar derrubou o governo democraticamente eleito em Bamako – a capital de Mali. Em abril, graças ao vácuo de poder, militares radicais, vários deles ligados ao Al-Queda, assumiram o controle de vasas áreas na região norte do país. Após tomarem controle do norte, os rebeldes ameaçaram tomar a capital. Isso gerou uma onda de violência.

O governo malinês pediu ajuda à França, que enviou tropas ao país para conter o avanço de rebeldes fundamentalistas islâmicos. Em poucos dias, as tropas francesas já haviam retomado o controle das principais cidades do norte do país. Contudo, isso não significou o fim das hostilidades.

Uma eleição presidencial democrática foi realizada em julho e agosto de 2013. O governo do Mali e os grupos armados do norte assinaram um acordo de paz, mediado internacionalmente, em junho de 2015. No entanto, as partes no acordo de paz fizeram pouco progresso na implementação do acordo.

Quênia

Localizado na África oriental, o Quênia é alvo de constantes conflitos.

No final de 2007, após as eleições, as principais cidades do país foram tomadas por uma onda de violência. Mwai Kibaki foi reeleito e seu opositor, Raila Odinga, contestou a vitória ao alegar que houve fraude.

No Quénia ocorre um conflito constante entre as tribos rivais, que lutam por posse de terras. O grupo étnico ao qual Kibaki pertence, os quicuios (que são o grupo majoritário no país, representando 22% da população), enfrentam diariamente os membros das comunidades Luo, a qual Odinga pertence, e Kalenjin.

Atentado no Quênia

O grupo terrorista al-Shabab, que mantém ligações com o al-Queda, assumiu a autoria do ataque que resultou na morte de dezenas de pessoas em um shopping center no Quênia em 21 de setembro de 2013.

O alvo do ataque terrorista foi o elegante shopping de Westgate, em Nairóbi. Armados com granadas e rifles, os terroristas mataram pessoas indiscriminadamente, inclusive uma criança de cinco anos. Capturaram reféns e mantiveram um confronto com policiais e militares até o dia 24 de setembro. Os terroristas tentaram separar os muçulmanos dos não muçulmanos, permitindo que apenas os muçulmanos fossem soltos.

O ataque custou a vida de 67 pessoas. Duzentas pessoas foram feridas.

O ataque foi meticulosamente planejado na Somália. Os terroristas traçaram um plano detalhado e o executaram: estudaram esquemas do shopping center e esconderam armas de fogo de grande potência em uma das lojas.

Segundo o governo do Quênia, o ataque foi perpetrado por 10-15 terroristas. Cinco deles foram mortos.

O grupo terrorista al-Shabab afirmou que ataque foi uma resposta às operações militares do Quênia em território somaliano. Há aproximadamente quatro mil tropas do Quênia no sul da Somália, lutando contra milicianos somalianos desde 2011.

Sumário

- Sudão
i. Darfur
- Ruanda
- Somália
- República Centro-Africana
- Mali
- Quênia
i. Atentado no Quênia

Áreas exclusivas para assinantes