Gêneros jornalísticos narrativos

Reportagem

Uma reportagem é um texto narrativo, pois, por meia dela, o jornalista narra um acontecimento, o que implica uma sucessão de estados. Noticiar é, portanto, uma forma de narrar.

É necessário distinguir a narrativa jornalística da prosa de ficção. A principal e mais evidente distinção é que narrativas jornalísticas tratam de fatos verídicos: os personagens, lugar e tempo e eventos retratados são todos reais. Uma segunda distinção importante é que narrativas jornalísticas visam a ser objetivas e, portanto, impessoais. O jornalista é um observador dos fatos. Outra distinção é que reportagens costumam empregar linguagem direta e simples, pois o objetivo consiste em transmitir informações de forma rápida e clara. Uma narrativa jornalística não deve ser passível de interpretação. Finalmente, reportagens jornalísticas, diferentemente de prosas de ficção, costumam seguir certa estrutura definida.

Reportagem

A Pirâmide Invertida

Muitos jornais adotam uma estrutura de reportagem denominada pirâmide invertida. Por meio dela, as informações consideradas essenciais pelo jornalista constam nos primeiros parágrafos do texto. Já as informações de importância secundária aparecem nos parágrafos restantes do texto.

Com a pirâmide invertida, o leitor toma conhecimento das principais informações de uma reportagem sem ter de lê-la por completo. Essa técnica permite que os leitores se informem rapidamente sobre as notícias trazidas pela reportagem.

Quando o jornalista utiliza essa pirâmide, o primeiro parágrafo é o mais relevante (ou os primeiros dois ou três parágrafos), pois contém as informações fundamentais da reportagem. O primeiro parágrafo é denominado lide. Vem da palavra inglesa, “lead”, que significa vanguarda, ou seja, seção introdutória. O lide visa a responder às seguintes perguntas:

  • Quem?
  • O quê?
  • Onde?
  • Quando?
  • Como?
  • Por quê?

Vejamos um exemplo, extraído de uma notícia do jornal O Estado de São Paulo, publicada on-line em 21 de setembro de 2016:

Obama pede ao mundo ‘correção de rota’ em seu último discurso na ONU

Presidente americano critica a Rússia, defende legado de diálogo com países como Cuba e Mianmar, ataca ideias de Donald Trump e defende que cooperação global é fundamental para evitar o avanço do extremismo no Oriente Médio e no mundo

NOVA YORK - Em seu último discurso como presidente dos Estados Unidos em uma Assembleia-Geral da ONU, Barack Obama admitiu nesta terça-feira, 20, que seu país e outras grandes potências têm uma capacidade limitada para solucionar os problemas mais profundos do mundo, incluindo a guerra civil na Síria, e pediu uma “correção de rota” global.  Ele lamentou os “ciclos de conflito e sofrimento” que parecem ter início toda vez que a humanidade finalmente parece encontrar o rumo certo. “Talvez seja o nosso destino”, afirmou. 

Fonte: 

http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,obama-critica-populismo-grosseiro-e-destaca-que-fundamentalismo-e-racismo-devem-ser-rejeitados,10000077130. Acesso: 21/09/2016. 

Os primeiros dois parágrafos da reportagem constituem um lide, pois respondem às seis perguntas:

  • Quem? Barack Obama — presidente dos Estados Unidos.
  • O quê? Fez seu último discurso como presidente dos Estados Unidos em uma Assembleia Geral das Nações Unidas.
  • Onde? Na Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York.
  • Quando? Na terça-feira, 20 de setembro de 2016.
  • Como? Admitiu que seu país e outras grandes potências têm capacidade limitada para solucionar os problemas mais profundos do mundo.
  • Por quê? Pediu uma “correção de rota” global e lamentou “os ciclos de conflito e sofrimento” que parecem ter início toda vez que a humanidade finalmente parece encontrar o rumo certo.

O título da notícia e os dois primeiros parágrafos trazem as informações essenciais. Além de responder às seis perguntas, resume o conteúdo da reportagem: a crítica à Rússia, a necessidade do diálogo, a ataque às ideias de Donald Trump e a recomendação de que o mundo se una para prevenir a difusão do extremismo.

Vejamos agora o restante da reportagem, que acrescenta mais detalhes ao que foi resumido nos primeiros parágrafos:

A quatro meses do fim do segundo mandato, o presidente americano pediu mudanças para garantir que as “irresistíveis forças da globalização levem os países a se entrincheirar atrás de suas fronteiras, ignorando aqueles em situação mais vulnerável”. Ele repreendeu os líderes estrangeiros por estimular as divisões étnicas e religiosas, e criticou a Rússia por sua abordagem truculenta ao papel que o país desempenha no mundo.

Ainda assim, Obama insistiu que é fundamental tratar sem superficialidade o “imenso progresso” da economia e da cooperação global que, de acordo com ele, consiste num molde para enfrentar os problemas do futuro. Numa crítica pouco sutil a Donald Trump, o candidato republicano à sua sucessão na eleição de novembro, Obama disse, “Um país cercado por muros só conseguiria aprisionar a si mesmo”, referindo-se indiretamente à proposta do bilionário de levantar um muro na fronteira com o México.

As palavras de despedida de Obama às Nações Unidas contiveram uma avaliação dos desafios que ele deixa para trás: uma devastadora crise de refugiados, terrorismo, desigualdade econômica e a tendência de usar imigrantes e muçulmanos como bodes expiatórios. Em todo o Oriente Médio, afirmou, “a segurança e a ordem básicas entraram em colapso”.

“Esse é o paradoxo que define o mundo hoje”, disse Obama. “Um quarto de século após o fim da Guerra Fria, o mundo se tornou mais próspero e menos violento do que antes, de acordo com muitos critérios. Mas nossas sociedades se encontram tomadas pela incerteza, inquietude e caos.”

Crises. A reunião da ONU este ano se desenrola diante do sombrio pano de fundo do aprofundamento da guerra civil na Síria e o fracasso dos esforços diplomáticos de americanos e russos na tentativa de conter a violência por um período significativo. Na ausência de uma alternativa melhor, EUA, Rússia e outros repetiram hoje a pouco convincente ideia segundo a qual um cessar-fogo estabelecido há uma semana não estava em risco, embora o governo da Síria tenha declarado seu fim.

Obama reconheceu que a violência de extremistas que espalham o caos pelo Oriente Médio e outras regiões “não será revertida rapidamente”. Ainda assim, ele insistiu que a chave para a solução da guerra na Síria e de outros conflitos está nos esforços diplomáticos, não nas respostas militares.

“Se formos sinceros, admitiremos que nenhum poder externo será capaz de obrigar diferentes comunidades religiosas ou étnicas a coexistirem por muito tempo”, disse Obama. “Até que sejam respondidas questões básicas a respeito de como será essa coexistência, as brasas do extremismo continuarão a arder. Incontáveis seres humanos vão sofrer.”

O presidente também criticou Moscou em seu diagnóstico dos males do mundo contemporâneo. “Num mundo que há muito deixou para trás a era dos impérios, vemos a Rússia tentando recuperar uma glória perdida por meio da força.”

Há um ano, Obama ocupou o mesmo púlpito para declarar novamente a necessidade do afastamento do presidente sírio Bashar Assad, enquanto o presidente russo, Vladimir Putin, respondeu com seu próprio discurso, alertando para o erro de abandonar Assad. Desde então, a influência de Moscou no conflito aumentou substancialmente, na esteira de uma intervenção militar na Síria que reforçou a posição de Assad sem mergulhar as forças russas no “atoleiro” previsto por Obama.

É importante notar que se trata de um texto narrativo, pois apresenta uma sucessão de transformações. A primeira, a principal, é o discurso do presidente dos Estados Unidos. Mas há outras transformações no restante da reportagem. Por exemplo, nela se relata que “Há um ano, Obama ocupou o mesmo púlpito para declarar novamente a necessidade do afastamento do presidente sírio”. Também informa que, “Desde então, a influência de Moscou no conflito aumentou substancialmente”. Além de relações de anterioridade, há de posterioridade, pois trata não apenas do discurso do presidente Obama, mas também do legado de desafios que serão herdados pela pessoa que o suceder na presidência dos Estados Unidos: “As palavras de despedida de Obama às Nações Unidas contiveram uma avaliação dos desafios que ele deixa para trás: uma devastadora crise de refugiados, terrorismo, desigualdade econômica e a tendência de usar imigrantes e muçulmanos como bodes expiatórios”.

A Crônica

A Crônica

A crônica é um tipo de texto breve, no estilo de narração, que trata de assuntos do cotidiano. Costuma ser uma leitura agradável — um texto aparentemente sem grandes aspirações literárias. Prima pela simplicidade, até mesmo pela trivialidade, mas costuma ser uma leitura prazerosa, pois é comum que o leitor se identifique com os acontecimentos narrados. A crônica envolve o leitor. Ao utilizar a primeira pessoa, o cronista se aproxima dele: é quase como se autor e leitor estivessem conversando.

É importante saber que a simplicidade da crônica não impediu que alguns cronistas se tornassem grandes nomes da literatura brasileira. Por exemplo, Nelson Rodrigues, que se especializou em crônica esportiva. Outro é Luís Fernando Veríssimo, escritor de talento humorístico singular.

Além da linguagem coloquial, a crônica frequentemente emprega a sátira e a ironia. Em muitos casos, envereda pelo caminho do humor.

A maioria das crônicas é narrativa, mas há também descritivas e dissertativas.

A crônica narrativa conta um episódio. Geralmente envolve ação, alguns personagens e uma conclusão inusitada. Esse tipo de crônica se aproxima do conto e, às vezes, é confundida com ele.

A crônica descritiva explora a caracterização de seres animados e inanimados em um espaço, como ocorre em uma pintura.

A crônica dissertativa traz opinião explicita. Geralmente, contém argumentos sentimentalistas.

Diferentemente de uma reportagem, que visa a ser objetiva, a crônica é propositalmente subjetiva. Embora prosaico, esse gênero pode levar a reflexões profundas. Ao contrário da reportagem, a crônica, apesar de sua linguagem coloquial, pode abordar questões sofisticadas — algo que é mais característico da literatura do que do jornalismo.

Vejamos abaixo um exemplo de crônica, escrita pelo famoso cronista Stanislaw Ponte Preta:

Choro, veia e cachaça

Enterro de pobre tem sempre cachaça. É para ajudar a velar pelo falecido. 

Sabem como é; pobre só tem amigo pobre e, portanto, é preciso haver um incentivo qualquer para a turma subnutrida poder aguentar a noite inteira com o ar compungido que o extinto merece.

Enfim, a cachacinha é inevitável, seja numa favela carioca, seja num bairro pobre da cidade do interior. 

Agora mesmo, em Minas, me contaram, morreu um tio de um tal de Belarmino. Houve velório com a melhor cachaça daquelas bandas, uma chamada "Suor de Virgem". Quando um desgraçado que não tinha sido convidado pro velório do tio de Belarmino soube que fora servida a cachaça "Suor de Virgem" saiu em procura do sobrinho do extinto e, ao encontrá-lo, lascou a ameaça:

— Belarmino, eu soube que tinha "Suor de Virgem" no velório de seu tio e você não me convidou. Mas num há de ser nada. Faço fé em Deus que inda morra alguém na minha família, que é pra eu gastar um desperdício de "Suor de Virgem" e num convidar safado nenhum da sua.

São fatos como os citados que provam a importância da cachaça nas exéquias de quem morre teso, embora — às vezes — a cachaça, ao invés de ajudar, atrapalhe.

Foi o que aconteceu agora em Ubá (MG), terra do grande Ari Barroso. Morreu lá um tal de Sô Nicolino, numa indigência que eu vou te contar. Segundo o telegrama vindo de Ubá, alguns amigos de Sô Nicolino compraram um caixão e algumas garrafas de cangibrina, levando tudo para o velório.

Passaram a noite velando o morto e entornando a cachaça. De manhã, na hora do enterro, fecharam o caixão e foram para o cemitério, num cortejo meio ziguezagueado e num compasso mais de rancho que de féretro. Mas — bem ou mal — lá chegaram, lá abriram a cova e lá enterraram o caixão.

Depois voltaram até a casa do morto, na esperança de ter sobrado alguma cachacinha no fundo da garrafa. Levaram, então, a maior espinafração da vizinha do pranteado Sô Nicolino.

É que os bêbados fecharam o caixão, foram lá enterrar, mas esqueceram o falecido em cima da mesa.

Stanislaw Ponte Preta

Essa crônica é narrativa, pois conta uma breve história do cotidiano em linguagem coloquial e tom humorístico.

Sumário

- Reportagem
- A Pirâmide Invertida
- A Crônica
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