Texto em prosa
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Texto em prosa
O texto em prosa é um texto corrido – um gênero de texto escrito em parágrafos. A prosa é o tipo de texto mais utilizado na linguagem do cotidiano para expressar ideias, raciocínios e situações. A prosa é uma narrativa linear, contínua e objetiva. O termo prosa deriva do latim: significa discurso direto, livre, em linha reta. O conta, a crônica e o romance são exemplos de texto em prosa.
Quando alguém se refere a texto, é comum que a expressão remeta a uma página impressa. É um hábito escolar que termina por generalizar o conceito. Entretanto, é necessário reconhecer que o texto é a expressão discursiva, isto é, forma um discurso: pode estar escrito ou ser falado.
Discurso (ou texto) é toda atividade de comunicação falada ou escrita. Há discurso (texto) quando as pessoas se cumprimentam, quando discutem um assunto, quando escrevem/leem uma carta, um livro; quando, enfim, contatam o seu semelhante, a fim de satisfazer uma necessidade ou uma intenção. Aqui, damos prioridade à modalidade escrita de comunicação.
Leia-se o que diz o Dicionário de Linguística (Cultrix): "Chama-se texto o conjunto de enunciados linguísticos submetidos à análise: o texto é então uma amostra do comportamento linguístico que pode ser escrito ou falado." Claro que a informação aborda um conceito meramente material do que seja o texto. Entretanto, vale notar que o texto só se realiza dentro de circunstâncias físicas e psicológicas, isto é, dentro de uma situação de comunicação. Tais situações formam o contexto. O texto só existe dentro de um contexto.
Francisco Platão Savioli e José Luiz Fiorin, em Lições de Texto: Leitura e Redação, Ática, 1966, mostram que um texto tem coerência de sentido. Assim o texto não se caracteriza por uma sequência qualquer de palavras. Ele impõe relações sintáticas - termos que exercem funções e semânticas significados presos ao contexto. Um elemento tomado à parte do texto não pode apresentar coerência de sentido, mesmo porque caberia em outros textos-contextos.
Os mesmos autores - de cuja teoria aqui nos valemos - apontam para o fato de que o texto resulta das experiências do homem inserido em seu tempo e em seu grupo social. Desta forma, o texto fixa os instantes da sociedade humana, sob uma ótica personalíssima: o contexto em que se coloca.
Os fragmentos de texto seguintes, extraídos do livro O Ateneu, de Raul Pompeia, foram escritos entre 1886 e 1888. Época já bem distante de nós. Assim é de se notar que há referências, alusões, descrições e mesmo uma forma de expressão linguística - à parte o valor artístico-literário - que mostram o homem daquele tempo, apontam para um contexto. Certamente o desconhecimento daquele contexto trará dificuldade de compreensão para o leitor pós-moderno.
"Vais encontrar o mundo - disse-me meu pai, à porta do Ateneu - Coragem para a luta.
Bastante experimentei depois a verdade deste aviso, que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho, no regime do amor doméstico; diferente do que se encontra fora, tão diferente que parece o poema dos cuidados maternos um artifício sentimental, com a vantagem única de fazer mais sensível a criatura à impressão rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso. Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita, dos felizes tempos - com a mesma incerteza de hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido outrora, e não viesse de longe a enfiada das decepções que nos ultrajam."(...)
"Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes parecia." (...)
"Um dia, meu pai tomou-me pela mão, minha mãe beijou-me a testa, molhando-me de lágrimas os cabelos, eu parti." (...)
"Ateneu era um grande colégio da época. Afamado por um sistema de nutrido reclame, ..."
Notemos a forma de expressão, o vocabulário e o contexto da narrativa:
a) Uso da segunda pessoa do singular - no discurso do pai: "Vais encontrar o mundo...", que, no contexto da região Sudeste, hoje, causa certa estranheza, principalmente numa relação informal.
b) A forma e o conteúdo que descrevem a maneira de criação: "criança educada exoticamente na estufa de carinho,..." Rigorosamente, que criança de nossa época é assim criada?
c) A primeira escola que o narrador-personagem frequentou por algum tempo não é modelo para a maioria das escolas atuais.
d) A lacrimosa e romântica partida para o Ateneu remete a outros tempos.
e) O uso da palavra reclame em lugar de propaganda (ou, mais atual, de "marketing") afasta muito o relato da vivência hodierna.
Tudo insere o texto num contexto histórico, por isto temporal, que deve ser compreendido e avaliado pelo receptor/leitor.
Texto em prosa
Todo texto é a expressão de um discurso - discurso é a atividade de comunicação através de uma língua. Ora, o discurso sempre parte de um proponente: o emissor, quer dizer, aquele que pretende ver satisfeita uma necessidade ou intenção sua.
Sem objetivo não há discurso, não há processo de comunicação. Ninguém, em sã consciência, fala ou escreve para si mesmo - não se trata do caso das anotações pessoais, da agenda, pois isso não constitui discurso. Sempre que alguém fala ou escreve prevê um interlocutor. Continuemos na trilha do texto escrito!
Do objetivo do emissor nasce a modalidade de texto, que, basicamente, deve constituir um conteúdo descritivo, narrativo ou dissertativo. Além disso, os textos podem exprimir seus temas numa perspectiva "prática", denotativa ou literária, também dita conotativa: aquela que visa à natureza artística.
No campo artístico, podem-se compor em prosa ou em verso. No campo da praticidade cotidiana, sempre se constroem em prosa.
A prosa: É bastante comum dizer-se que um fato ou alguém é cantado em verso e prosa. Isto quer dizer que existe referência em todas as formas de expressão através da linguagem.
A Teoria Literária chama prosa à composição textual linear, desprendida do senso de métrica (contagem de sílabas) ou de rima (efeitos sonoros no final de cada segmento). A prosa escrita espraia-se em toda a superfície em que se registra.
Existe a prosa literária, geralmente o texto que constitui o romance, o conto, a novela e mais modernamente a crônica. Há também a prosa não literária, forma de texto que marca a produção sem o necessário interesse artístico: a correspondência íntima, familiar (hoje em desuso, devido à evolução tecnológica), a correspondência comercial, técnica, ou oficial, a reportagem, o artigo (texto opinativo inserido nos jornais e revistas) etc. Exemplo de prosa literária é esta crônica do romancista José Lins do Rego:
ONDE ESTÃO AS BORBOLETAS AZUIS? O dia de hoje está uma maravilha e, aqui de minha casa, eu olho para a lagoa que tem as águas luminosas pelo sol de maio que há pouco nascera. É uma manhã de glória como dizem os poetas, e para gozá-la, saio a passear. Nada nesta cidade se parece mais com um recanto de romance que esta lagoa mansa, sem rumores de ondas, quieta, sem arrogâncias de águas raivosas. Tudo por aqui é como se fosse domado pela mão do homem, lagoa doméstica que, pela sabedoria sanitária do Saturnino de Brito, se transformara, de foco de mosquitos e de febres, em esplendor de beleza, capaz de em planos de bom urbanista ser o orgulho de uma cidade. Mas, mal o cronista apaixonado pelos recantos idílicos da natureza inicia a sua viagem lírica, começa a sentir que os homens são criaturas sem entranhas, terríveis criaturas sem amor ao que deviam amar, sem cuidado pelo que deviam cuidar. Porque mal me pus a andar pelas terras que circundam a lagoa, o que vi não é para que se conte. Há quem diga e afirme que o brasileiro não gosta da natureza. Que todos somos inimigos das árvores, dos rios, da terra. E há a teoria de que o pavor da floresta nos transformara em citadinos, em derrubadores de matas, queimadores de terras. Mas essa teoria não corresponde à realidade, se nos voltarmos para os bosques e jardins de outrora que por toda a parte alegravam as nossas cidades. Aqui no Rio de tempos para cá, deu nos homens de Governo uma verdadeira doença que é este desprezo e quase ódio pelos nossos recantos da natureza. Há o caso das matas da Tijuca para uma exceção honrosa. Mas, por outro lado, há este caso da Lagoa Rodrigo de Freitas, como um crime monstruoso. Porque tudo que é erros e mais erros foram cometidos em relação à paisagem desse maravilhoso pedaço de nossa cidade. Isto de se conduzir o lixo do Rio para aterrar trechos e trechos de uma massa líquida que é um regalo para os olhos, não merece nem um comentário, pela estupidez, pela lamentável grosseria de homens que não respeitam nada. E feito isso não há quem possa se aproximar da Lagoa Rodrigo de Freitas. Lá estão os bichos podres, uma fedentina horrível a atrair urubus como numa "sapucaia". E o que podia ser uma atração para os que pretendessem repousar, é aquilo que nos envergonha e nos dói. O Sr, Hildebrando de Góis, que saneou a "Baixada Fluminense", se quiser encontrar o que sanear, que faça esse passeio a que o modesto cronista se arriscou, por entre lixos, com urubus quase a roçarem-lhe o rosto. Onde estão as borboletas azuis do poeta Casimiro? |
O que prova ser literária essa prosa? Deve-se notar que o texto não se resume a informar o descuido do homem pela natureza; procura abordar uma realidade "coada" pela percepção emotiva: daí as figuras de linguagem, daí a adjetivação carregada de lirismo, percebida a partir do próprio título da crônica. Perpassa o texto - gerado a partir de um dado triste da atuação do homem - um lirismo suave. É a "recriação da realidade através da sensibilidade do artista". É prosa literária.
Vejamos, agora, um exemplo de prosa não literária: uma reportagem sobre a renovação do ambiente cultural do centro paulistano.
BROADWAY À MODA PAULISTA Até os anos 60, a região central de São Paulo foi palco de grande efervescência cultural. Seus cinemas eram frequentados pela classe média e os teatros viviam lotados. Num deles, o imponente Paramount, ocorreu a montagem pioneira de um musical americano na cidade - My Fair Lady, estrelado por Paulo Autran e Bibi Ferreira, em 1963. Foi um acontecimento. No local também se desenrolavam os célebres festivais de MPB da Record. Ao longo das décadas seguintes, o centro paulistano passou por um vertiginoso processo de decadência. A segurança acabou, as pichações tomaram conta das paredes e os cinemas e teatros viraram "inferninhos" ou fecharam suas portas. Mas nem tudo é desolação. Pouco a pouco surgem iniciativas que visam revitalizar a região. Há três semanas, o velho Paramount, que estava fechado fazia anos, renasceu como o Teatro Abril - uma casa de espetáculos moderna, mas que respeita o aspecto original do prédio construído nos anos 20 e tombado pelo Patrimônio Histórico. (...) Revista Veja, nº 19, 16/5/01. |
O que prova não ser literário esse texto? Nele o redator usa uma linguagem objetiva, direta, não voltada para uma visão lírica do passado, mas realizada dentro de um molde puramente informativo. Não há a "recriação" da realidade: há a informação da realidade por meio do processo denotativo.
FAZENDO PARÁFRASE DE TEXTO EM PROSA
A paráfrase é atividade em que o redator reproduz o conteúdo do texto de outrem, sem que inclua qualquer ponto de vista pessoal. A paráfrase é texto paralelo; traz todo o conteúdo expresso no texto original, mas pode variar de forma: prosa pode resultar poesia e vice-versa. Observe o texto seguinte e a paráfrase que dele se fez:
Texto original:
Impasse no ar
Na semana passada, George Ermakoff, presidente da Rio Sul, respirava aliviado por ter conseguido uma liminar liberando o uso de uma aeronave ERJ-145, da Embraer, retida há quase três meses pela Receita Federal. O avião integra um lote de dezesseis unidades adquiridas recentemente pela Rio Sul. Os agentes do Fisco estão cobrando 30 milhões de reais em tributos atrasados. Alegam que a empresa registrou os aviões indevidamente numa categoria isenta do pagamento de impostos sobre produtos industrializados.
(Veja)
Paráfrase:
A empresa aérea Rio Sul vê-se cobrada pela Receita Federal em 30 milhões de dólares, quantia provavelmente devida em impostos sobre um lote de dezesseis aviões ERJ-145, da Embraer, adquiridos há pouco tempo por aquela empresa. Seu presidente, George Ermakoff anda feliz depois de ter conseguido, através de uma liminar, a liberação de um dos aparelhos. O Fisco entende que a Rio Sul registrou sua aquisição, de forma indevida, em uma categoria isenta dos impostos solicitados: aquele sobre produtos industrializados.
Sumário
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