Terceira Fase do Modernismo no Brasil

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A terceira fase do Modernismo no Brasil constituiu o último momento do movimento modernista brasileiro. A terceira fase do Modernismo no Brasil é também denominada “Geração de 45”. Na prosa, destacaram-se Guimarães Rosa e Clarice Lispector e, na poesia, João Cabral de Melo Neto.

Contexto histórico

O terceiro Tempo Modernista no Brasil estende-se de 1945 a 1960 e apresenta o seguinte contexto histórico:

1945 - fim da Segunda Guerra Mundial - consequências:

  • ascensão dos Estados Unidos e da antiga União Soviética;
  • surgimento do bloco dos países do Terceiro Mundo;
  • Europa - perda da hegemonia econômica e política - devastada e desprovida de recursos para a recuperação de sua economia;
  • "Plano Marshall" - plano de ajuda financeira desenvolvido pelos Estados Unidos - auxílio à economia europeia e vazão para as mercadorias americanas;
  • criação da ONU - preservação da paz mundial;
  • problemas internacionais criados pela "Guerra Fria" - confronto diplomático e militar entre os Estados Unidos e a União Soviética;
  • embate entre socialismo e colonialismo;
  • descolonização - movimento de emancipação das antigas colônias da Ásia e da África.
  • 1947 - Independência da Índia;
  • 1948 - Revolução Comunista na China.

1945 - Brasil - fim do Estado Novo:

  • fevereiro - reforma constitucional - regulamentação das eleições;
  • anistia aos presos políticos - favorecimento do debate público e da organização partidária:
    • UDN - banqueiros, grandes industriais, contrários a reformas que beneficiassem os trabalhadores;
    • PSD e PTB - produtores rurais, classes médias urbanas, classes trabalhadoras urbanas;
    • PRP e PSP - partidos conservadores, também contrários a reformas;
    • PCB - defensor de mudanças radicais.
  • medidas em benefício dos trabalhadores + política nacionalista de defesa dos interesses brasileiros - "Queremismo" - movimento de apoio a Getúlio Vargas por parte de setores trabalhistas e de comunistas;
  • setores das classes dominantes + capital internacional + Forças Armadas = deposição de Getúlio Vargas;
  • dezembro - eleições - general Eurico Gaspar Dutra, ministro da Guerra no governo Getúlio - desenvolvimento da "república populista".

Brasil - 1945 a 1960 - período de grandes mudanças:

  • participação na Guerra Fria, ao lado do bloco ocidental - contenção do avanço comunista - 1947 - ilegalidade do Partido Comunista - exílios, prisões, envolvendo vários intelectuais do país;
  • 1951 - volta de Getúlio Vargas ao poder, por eleição direta - política nacionalista e populista - desagrado às classes dominantes - pressão dos militares para seu afastamento do governo - suicídio em 1954;
  • 1955 - eleição de Juscelino Kubitschek para presidente - "cinquenta anos em cinco" - política desenvolvimentista - construção de Brasília e desenvolvimento acelerado - aumento da inflação e da dívida social;
  • 1960 - eleição de Jânio Quadros para a presidência da República.
  • mudanças políticas, sociais e econômicas - reflexos na vida cultural do país durante o período
  • surgimento do Teatro Brasileiro de Comédia;
  • desenvolvimento do cinema - as "chanchadas", o "cinema sério";
  • 1950 - introdução da televisão, por iniciativa do jornalista Assis Chateaubriand;
  • divulgação, pelo rádio, de ritmos brasileiros e americanos - 1958 - Bossa Nova.

Terceiro Tempo Modernista no Brasil

Características gerais:

  • Pós Guerra - necessidade de comunicação direta - predomínio da prosa sobre a poesia - prioridade do gênero narrativo;
  • influência da ideologia comunista - literatura participante - denúncia da realidade social, degradada nas suas estruturas fundamentais;
  • busca de caminhos para o entendimento e a decifração do homem: influência das teorias freudianas e do catolicismo existencial;
  • Anos 50 - Experimentalismo - ruptura com a tradição do gênero narrativo - novas características:
    • * quebra dos limites entre romance, conto e novela;
    • * ficção - cada vez mais complexa e fragmentada;
    • * modificação ou desaparecimento dos elementos tradicionais da narrativa;
    • * desprezo pelo enredo;
    • * fragmentação do tempo;
    • * problematização da personagem;
  • a Ficção no Brasil - 1945 a 1960:
    • * permanência realista do testemunho humano;
    • * atração pelo trans-real - justificativa da condição humana;
    • * redescoberta da linguagem - pesquisa e reinvenção do código linguístico;
    • * sondagem do mundo interior da personagem;
    • * produção cocomitante de romances e contos;
    • * principais nomes: Guimarães Rosa e Clarice Lispector.

Guimarães Rosa

Guimarães Rosa

Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo, MG (1908) e morreu no Rio de Janeiro, em 1967. Aos dez anos, mudou-se para a casa do avô, em Belo Horizonte, a fim de estudar.Desenvolve um grande gosto pela literatura e começa a escrever contos, chegando a participar de alguns concursos.

Cursa Medicina e, formado, passa a exercer a profissão no interior de seu Estado, onde recolhe importante material para suas obras; em 1932, volta a Belo Horizonte, por causa da Revolução Constitucionalista, a fim de servir como médico voluntário da Força Pública; em 1934, atua como oficial-médico em Barbacena.

Ingressa na carreira diplomática, chegando a embaixador, e passa a viver entre vários países, escrevendo e aumentando seu conhecimento sobre culturas e línguas diferentes. Concorre duas vezes a prêmios literários da Academia Brasileira de Letras: em 1936, com Magma; e em 1937 com a coletânea Contos, que depois se transformaria no livro Sagarana.

Em 1952, uma excursão pelo Mato Grosso o inspiraria a escrever o livro Grande Sertão: Veredas, publicado em 1956 e consagrando definitivamente o seu estilo; indicado para a Academia Brasileira de Letras, adiou seu ingresso por quatro anos, assumindo a cadeira apenas em 1967. Faleceu três dias depois de sua posse na Academia.

Suas principais obras são:

Contos:

  • Agarana
  • Primeiras Estórias
  • Tutameia (Terceiras Estórias)
  • Estas Estórias

Novela:

  • Corpo de Baile (dividida, a partir da terceira edição, em três volumes: Manuelzão e Miguilim , No Urubuquaquá, no Pinhém , Noites do Sertão)

Romance:

  • Grande Sertão: Veredas

Características de sua obra:

  • Linguagem absolutamente inovadora no tratamento do tema regionalista - criação de uma aliança entre “a modernidade da escrita dentro da maior fidelidade à tradição da língua e à matriz da região”;
  • Simbólica da vida humana em geral - “o sertão é o mundo” - regional + universal;
  • Fusão REAL + MÁGICO - radicalização dos processos mentais do “contexto fornecedor de matéria-prima”;
  • Nova maneira de repensar as dimensões da cultura, flagrada em suas articulações no mundo da linguagem;
  • Quebra da barreiras existentes na narração;
  • natureza - cenário e agente ativo, participante, diretamente ligado aos destinos dos homens.
  • Exploração das forças visuais da linguagem;
  • Vocabulário insólito - erudições, arcaísmos, neologismos - imortalização dos valores espirituais, humanos e culturais;
  • Utilização de recursos poéticos na prosa - ritmos, rimas, aliterações, deslocamentos de sintaxe;
  • Paisagem, gado, cavalos, cavaleiros, crianças, cantadores - seres a transitar entre a magia e a realidade - superação do exotismo - regionalismo universal.

Textos escolhidos:

TEXTO I
“Se quer seguir-me, narro-lhe; não uma aventura, mas experiência, a que me induziram, alternadamente, séries de raciocínios e intuições. Tomou-me tempo, desânimo, esforços. Dela me prezo, sem vangloriar-me. Surpreendo-me, porém, um tanto à-parte de todos, penetrando conhecimentos que os outros ainda ignoram. O senhor, por exemplo, que sabe e estuda, suponho nem tenha ideia do que seja na verdade — um espelho? Demais, decerto, das noções de física, com que se familiarizou, as leis da óptica. Reporto-me ao transcendente. Tudo, aliás, é a ponta de um mistério. Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo.
Fixemo-nos no concreto. O espelho, são muitos, captando-lhe as feições; todos refletem-lhe o rosto, e o senhor crê-se com aspecto próprio e praticamente imudado, do qual lhe dão imagem fiel. Mas — que espelho? Há-os ‘bons’ e ‘maus’, os que favorecem e os que detraem; e os que são apenas honestos, pois não. E onde situar o nível e ponto dessa honestidade ou fidedignidade? Como é que o senhor, eu, os restantes próximos, somos, no visível? O senhor dirá: as fotografias o comprovam. Respondo: que, além de prevalecerem para as lentes das máquinas objeções análogas, seus resultados apoiam antes que desmentem a minha tese, tanto revelam superporem-se aos dados iconográficos os índices do misterioso. Ainda que tirados de imediato um após o outro, os retratos sempre serão entre si muito diferentes. Se nunca atentou nisso, é porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes. E as máscaras, moldadas nos rostos? Valem, grosso modo, para o falquejo das formas, não para o explodir da expressão, o dinamismo fisionômico. Não se esqueça, é de fenômenos sutis que estamos tratando.
[...]
“Note que meus reparos limitam-se ao capítulo dos espelhos planos, de uso comum. E os demais — côncavos, convexos, parabólicos — além da possibilidade de outros, não descobertos ainda? Um espelho, por exemplo, tetra ou quadridimensional? Parece-me não absurda, a hipótese. Matemáticos especializados, depois de mental adestramento, vieram a construir objetos a quatro dimensões, para isso utilizando pequenos cubos, de várias cores, como esses com que os meninos brincam. Duvida? ”
“O Espelho”,  Primeiras estórias

“TEXTO II
O rapaz, no vão do mundo, assim vocado e ordenado. Ele agora se irritava. Pensou de arrepender caminho, suspender aquilo para mais tarde. Pensou palavra. O estúpido em que se julgava. Desanimadamente, ele, malandrante, podia tirar atrás. Aonde um animal o levava? O incomeçado, o empatoso, o desnorte, o necessário. Voltasse sem ela, passava vergonha. Por que tinha assim tentado? Triste em torno. Só as encostas guardando o florir de árvores esfolhadas: seu roxo-escuro de julho as carobinhas, ipês seu amarelo de agosto. Só via os longes de um quadro. O absurdo ar. Chatos mapas. O céu de se abismar. E indagava o chão, rastreava. Agora, manchava o campo a sombra grande de uma nuvem. O rapaz lançou longe um olhar. De repente, ajustou a mão à testa, e exclamou. Do ponto, descortinou que: aquela. A vaquinha, respoeirando. Aí e lá, tomou-a em vista. O vulto, pé de pessoa, que a cumeada do morro escalava. [...] Transcendia ao que se destinava.”
“Sequência”,  Primeiras estórias

Clarice Lispector

Clarice Lispector

Clarice Lispector nasceu em Tchetchelnik, na Ucrânia (1925) e morreu no Rio de Janeiro em 1977. Emigrou com os pais e dois irmãos para o Brasil, no mesmo ano em que nasceu: moraram em Alagoas e em Recife e mudaram-se para o Rio de Janeiro em 1937. A partir de 1941, cursa a Faculdade nacional de Direito e passa a trabalhar como jornalista. Em 1943, casa-se com um diplomata, de quem se separaria, depois de morar em diversos países, voltando a viver no Rio.

De precoce vocação literária, publica seu primeiro romance aos vinte anos de idade: Perto do Coração Selvagem; trabalha na imprensa para sobreviver, fazendo traduções, escrevendo artigos e crônicas, enquanto se dedica à produção de sua obra. Recebeu o prêmio do X Concurso Literário de Brasília em 1976, um ano antes de morrer, de câncer generalizado.

Suas principais obras são:

Romances:

  • Perto do Coração Selvagem
  • O Lustre
  • A Cidade Sitiada
  • A Maçã no Escuro
  • A Paixão Segundo G.H.
  • Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres
  • Água Viva
  • A Hora da Estrela
  • Um Sopro de Vida

Contos:

  • Laços de Família
  • Felicidade Clandestina
  • A Imitação da Rosa
  • A Via-Crucis do Corpo

Crônicas:

  • A Legião Estrangeira
  • Para não Esquecer

Características de sua obra:

  • Quebra do enredo tradicional, factual - "... os meus livros não se preocupam com os fatos em si, porque para mim o importante é a repercussão dos fatos no indivíduo.";
  • Ruptura com as técnicas tradicionais da narrativa - trabalho com o "fluxo de consciência" - narrativa = reprodução do pensamento em ritmo próprio, sutil, sem limites - esvaziamento do sentido cronológico;
  • Predomínio do plano psicológico sobre o plano físico - exacerbação do momento interior;
  • Transcendência do plano psicológico para o metafísico - crise da subjetividade - busca de um novo equilíbrio;
  • Temas mais comuns - a condição feminina, os limites entre o "eu" e o "outro" , as dificuldades do relacionamento humano, as falsas aparências dos laços exteriores - sondagem do mundo interior;
  • Estrutura geral das histórias - três etapas:
    • 1. a personagem é colocada numa determinada situação cotidiana;
    • 2. prepara-se para "algo", um evento apenas pressentido;
    • 3. ocorre o evento, que ilumina a vida da personagem e a despoja de seu sentido habitual;
    • 4. o momento de revelação - epifania - modifica a personagem que, embora continue a vida de antes, já não é mais a mesma.

Texto escolhido:

UMA GALINHA
Era uma galinha de domingo. Ainda vivia porque não passava de nove horas da manhã.
Parecia calma. Desde sábado encolhera-se num canto da cozinha. Não olhava para ninguém, ninguém olhava para ela. Mesmo quando a escolheram, apalpando sua intimidade com indiferença, não souberam dizer se era gorda ou magra. Nunca se adivinharia nela um anseio.
Foi pois uma surpresa quando a viram abrir as asas de curto voo, inchar o peito e, em dois ou três lances, alcançar a murada do terraço. Um instante ainda vacilou - o tempo da cozinheira dar um grito - e em breve estava no terraço do vizinho, de onde, em outro voo desajeitado, alcançou um telhado. Lá ficou em adorno deslocado, hesitando ora num, ora noutro pé. A família foi chamada com urgência e consternada viu o almoço junto de uma chaminé. O dono da casa, lembrando-se da dupla necessidade de fazer esporadicamente algum esporte e de almoçar, vestiu radiante um calção de banho e resolveu seguir o itinerário da galinha: em pulos cautelosos alcançou o telhado onde esta, hesitante e trêmula, escolhia com urgência outro rumo. A perseguição tornou-se mais intensa. De telhado a telhado foi percorrido mais de um quarteirão da rua. Pouco afeita a uma luta mais selvagem pela vida, a galinha tinha que decidir por si mesma os caminhos a tomar, sem nenhum auxílio de sua raça. O rapaz, porém, era um caçador adormecido. E por mais ínfima que fosse a presa o grito de conquista havia soado.
Sozinha no mundo, sem pai nem mãe, ela corria, arfava, muda, concentrada. Às vezes, na fuga, parava ofegante num beiral de telhado e enquanto o rapaz galgava outros com dificuldade tinha tempo de se refazer por um momento.. E então parecia tão livre.
Estúpida, tímida e livre. Não vitoriosa como seria um galo em fuga. Que é que havia nas suas víceras que fazia dela um ser? A galinha é um ser. É verdade que não se poderia contar com ela para nada. Nem ela própria contava consigo, como o galo crê na sua crista. Sua única vantagem é que havia tantas galinhas que morrendo uma surgiria no mesmo instante outra tão igual como se fora a mesma.
Afinal, numa das vezes em que parou para gozar sua fuga, o rapaz alcançou-a. Entre gritos e penas, ela foi presa. Em seguida carregada em triunfo por uma asa através de telhas e pousada no chão da cozinha com certa violência. Ainda tonta, sacudiu-se um pouco, em cacarejos roucos e indecisos.
Foi então que aconteceu. De pura afobação a galinha pôs um ovo. Surpreendida, exausta. Talvez fosse prematuro. Mas logo depois, nascida que fora para a maternidade, parecia uma velha mãe habituada. Sentou-se sobre o ovo e assim ficou, respirando, abotoando e desabotoando os olhos. Seu coração, tão pequeno num prato, solevava e abaixava as penas, enchendo de tepidez aquilo que nunca passaria de um ovo. Só a menina estava perto e assistiu a tudo estarrecida. Mal porém conseguiu desvencilhar-se do acontecimento, despregou-se do chão e saiu aos gritos:
- Mamãe, mamãe, não mate mais a galinha, ela pôs um ovo! Ela quer o nosso bem!
Todos correram de novo à cozinha e rodearam mudos a jovem parturiente. Esquentando seu filho, esta não era nem suave nem arisca, nem alegre nem triste, não era nada, era uma galinha. O que não sugeria nenhum sentimento especial. O pai, a mãe e a filha olhavam já há algum tempo, sem propriamente um pensamento qualquer. Nunca ninguém acariciou uma cabeça de galinha. O pai decidiu-se com certa brusquidão:
- Se você mandar matar esta galinha nunca mais comerei galinha na minha vida!
- Eu também! jurou a menina com ardor.
A mãe, cansada, deu de ombros.
Inconsciente da vida que lhe fora entregue, a galinha passou a morar com a família. A menina, de volta do colégio, jogava a pasta sem interromper a corrida para a cozinha. O pai de vez em quando ainda se lembrava: "E dizer que a obriguei a correr naquele estado!" A galinha tornara-se a rainha da casa. Todos, menos ela, o sabiam. Continuou entre a cozinha e o terraço dos fundos, usando suas duas capacidades: a de apatia e a do sobressalto.
Mas quando todos estavam quietos na casa e pareciam tê-la esquecido, enchia-se de uma pequena coragem, resquícios da grande fuga - e circulava pelo ladrilho, o corpo avançando atrás da cabeça, pausado como num campo, embora a pequena cabeça a traísse: mexendo-se rápida e vibrátil, com o velho susto de sua espécie já mecanizado.
Uma vez ou outra, sempre mais raramente, lembrava de novo a galinha que se recortara contra o ar à beira do telhado, prestes a anunciar. Nesses momentos enchia os pulmões com o ar impuro da cozinha e, se fosse dado às fêmeas cantar, ela não cantaria mas ficaria muito mais contente. Embora nem nesses instantes a expressão de sua vazia cabeça se alterasse. Na fuga, no descanso, quando deu à luz ou bicando milho - era uma cabeça de galinha, a mesma que fora desenhada no começo dos séculos.
Até que um dia mataram-na, comeram-na e passaram-se anos.
Laços de família

João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto

João Cabral de Melo Neto nasceu em Recife (1920) e morreu no Rio de Janeiro em 1998. Filho e neto de donos de engenho, passou a infância no interior de Pernambuco. Em 1942, muda-se para o Rio de Janeiro e presta concurso para o funcionalismo público.

Entra para a carreira diplomática em 1945 e passa a viver em diversos lugares do mundo: Barcelona, Londres, Sevilha, Marselha, Genebra, Berna, Assunção, Dacar... Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1969. Voltou ao Rio, onde morreu, já cego, aos setenta e oito anos.

Suas principais obras são:

  • Pedra do Sono
  • O Engenheiro
  • Psicologia da Composição
  • O Cão sem Plumas
  • O Rio
  • Duas Águas (contendo as obras anteriores, mais Morte e Vida Severina, Paisagens com Figuras e Uma Faca só Lâmina)
  • Terceira Feira
  • A Educação pela Pedra
  • Poesias Completas
  • Museu de Tudo
  • Sevilgha Andando

Características de sua poesia:

  • Obra - inserida na Terceira Geração - segundo o poeta, "cronologicamente pertence a ela, já que todos hão de pertencer a alguma";
  • Poesia - trabalho árduo, minucioso, difícil - contradição entre a sutileza do trabalho artístico e a enorme dificuldade para realizá-lo;
  • Principais características - contenção e objetividade - "poeta de poucas palavras e poucos assuntos";
  • Confluência de ideias na construção rigorosa do poema - esquematismo rigoroso, sentido denotativo, palavras concretas - "palavras-coisas" - trabalho lúcido e racional - simetria formal;
  • "Didática da pedra" - processo teórico e prático de apreensão da realidade;
  • Poética antirromântica - pedra - aridez humana - redução das imagens à sua essência;
  • Temas recorrentes - a arte poética, as tradições e a gente do nordeste, as paisagens áridas.

Texto escolhido:

E não há melhor resposta
Que o espetáculo da vida:
Vê-la desfiar seu fio,
Que também se chama vida,
Ver a fábrica que ela mesma,
Teimosamente, se fabrica,
Vê-la brotar como há pouco
Em nova vida explodida;
Mesmo quando é assim pequena
A explosão, como a ocorrida;
Mesmo quando é uma explosão
Como a de há pouco, franzina;
Mesmo quando é a explosão
De uma vida Severina.

Outros autores.

a) José Cândido de Carvalho:

  • aproximações com Guimarães Rosa - recriação da linguagem;
  • Presença do realismo fantástico ou mágico;
  • Grande capacidade imaginativa - poder de transfiguração do passado;
  • Captação dos conflitos e anseios do homem de mente rústica;
  • Luta do instinto contra a civilização, do primitivo contra o moderno, do mágico contra o racional, do surreal contra o real;
  • Retrato dos resíduos da sociedade patriarcal brasileira;
  • Principal obra: O Coronel e o Lobisomem.

b) Mário Palmério:

  • Regionalismo de feição nacional;
  • Transposição da linguagem oral - observação;
  • Sua vidade nas inovações linguísticas;
  • Preocupações com o coronelismo - as "maquinações eleitoreiras" do interior de Minas Gerais;
  • Principais obras: O Chapadão do Bugre e Vila dos Confins.

c) Dalton Trevisan:

  • Temática - linha de violência, de degradação;
  • Relação homem-mulher - viga-mestra da narrativa;
  • Ironia, críticas aos desregramentos burgueses;
  • Concisão, caracterização instantânea, descrições estáticas;
  • Principais obras: Cemitério de Elefantes, O Vampiro de Curitiba, A guerra Conjugal, Desastres do Amor.

Sumário

- Contexto histórico
- Terceiro Tempo Modernista no Brasil
- Guimarães Rosa
- Clarice Lispector
- João Cabral de Melo Neto
- Outros autores