Segundo Governo Vargas
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A Quarta República (1946-1964)
O segundo governo de Getúlio Vargas está inserido dentro do período conhecido como Quarta República Brasileira (1946-1964), também chamada de República Populista. Vargas foi eleito presidente do Brasil em 1950 e assumiu o cargo em janeiro de 1951, exercendo seu mandato até agosto de 1954, quando cometeu suicídio.
A Quarta República Brasileira ocorreu entre 1946 e 1964 e foi iniciada quando o próprio Vargas foi forçado a renunciar em 1945.
A Quarta República foi marcada pela redemocratização do país, após o fim do Estado Novo (1937-1945) e a deposição de Getúlio Vargas em outubro de 1945. Esse período foi um momento de intensa atividade política, com o fortalecimento de partidos e a busca pelo desenvolvimento econômico e social. No entanto, também foi marcado por instabilidade política, crises e, eventualmente, o golpe militar de 1964.
Constituição de 1946: Em setembro de 1946, foi promulgada a nova Constituição do Brasil, que restabeleceu as liberdades democráticas e os direitos individuais, além de garantir eleições diretas para os cargos executivos e legislativos. A Constituição de 1946 também estabeleceu a separação dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a federação de estados e municípios.
Partidos políticos: Nesse período, diversos partidos políticos ganharam força, como a União Democrática Nacional (UDN), o Partido Social Democrático (PSD), o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Social Progressista (PSP). Esses partidos representavam diferentes ideologias e segmentos da sociedade, o que resultou em um cenário político diversificado e, por vezes, polarizado.
Presidentes e governos: Durante a Quarta República, o Brasil teve seis presidentes: Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), Getúlio Vargas (1951-1954), Café Filho (1954-1955), Juscelino Kubitschek (1956-1961), Jânio Quadros (1961) e João Goulart (1961-1964). Após a renúncia de Jânio Quadros, João Goulart assumiu a presidência, mas seu governo enfrentou oposição e foi marcado por crises políticas e econômicas que culminaram no golpe militar de 1964.
Desenvolvimento econômico e social: A Quarta República foi um período de crescimento econômico e industrialização, especialmente durante o governo de Juscelino Kubitschek, que promoveu o "Plano de Metas" e a construção de Brasília - a nova capital do país. No entanto, também foi um período de inflação crescente, desigualdade social e tensões políticas.
Fim da Quarta República: Em 31 de março de 1964, um golpe militar depôs o presidente João Goulart e instaurou um regime militar no Brasil, que durou até 1985. A Quarta República chegou ao fim, dando lugar a um período autoritário e repressivo, conhecido como Ditadura Militar.
A Eleição de 1950
Durante o mandato presidencial de Eurico Gaspar Dutra (1946-1951), Getúlio Vargas já se articulava politicamente para planejar seu retorno à presidência do Brasil. Após deixar o cargo em 1945 e exilar-se temporariamente na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul, Vargas começou a trabalhar em sua estratégia política.
Algumas das principais ações de Vargas durante o governo Dutra incluem:
Manutenção de sua influência política: Vargas permaneceu ativo politicamente, mantendo contato com aliados e lideranças políticas em todo o país. Ele também acompanhou de perto os acontecimentos políticos e sociais no Brasil e no exterior.
Participação nas eleições de 1945: Embora Vargas não tenha se candidatado nas eleições de 1945, ele apoiou a candidatura de José Américo de Almeida, que foi derrotado por Dutra. Isso demonstrou que Vargas ainda possuía uma base de apoio e influência no cenário político nacional.
Fundação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB): Em 1945, Vargas fundou o PTB, um partido político de orientação trabalhista e nacionalista. O PTB rapidamente se tornou uma força política relevante no Brasil e serviu como plataforma para o retorno de Vargas à presidência.
Eleição ao Senado Federal: Em 1946, Vargas foi eleito senador pelo Rio Grande do Sul, cargo que lhe permitiu continuar a exercer influência política e a estabelecer alianças com outros líderes políticos.
Articulação de alianças políticas: Durante o governo Dutra, Vargas trabalhou para formar alianças com diferentes grupos políticos e sociais, incluindo partidos de esquerda e sindicatos, que poderiam apoiá-lo em uma futura candidatura presidencial.
Retorno ao cenário político: A partir de 1949, Vargas começou a se envolver mais ativamente no cenário político brasileiro, criticando o governo Dutra e apresentando-se como uma alternativa para o país. Ele defendeu o nacionalismo econômico, a industrialização e a promoção dos direitos trabalhistas.
Essas ações e articulações políticas de Vargas durante o governo Dutra permitiram-lhe construir uma base sólida de apoio e lançar sua candidatura à presidência nas eleições de 1950, que ele venceu, dando início ao seu segundo governo.
A eleição presidencial brasileira de 1950
A eleição presidencial brasileira de 1950 foi realizada em 3 de outubro, marcando um importante momento político no país após o fim do Estado Novo (1937-1945) e a redemocratização com a promulgação da Constituição de 1946. A eleição teve como principais candidatos Getúlio Vargas, Cristiano Machado e Ademar de Barros.
Getúlio Vargas (PTB): Vargas, ex-presidente e líder do Estado Novo, concorreu à presidência pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com apoio de setores populares, sindicatos e trabalhadores, em uma plataforma focada nos direitos trabalhistas e no nacionalismo econômico.
Cristiano Machado (PSD): Cristiano Machado foi o candidato oficial do Partido Social Democrático (PSD). No entanto, sua candidatura não teve o apoio unânime do partido, sendo que muitos membros do PSD apoiaram Getúlio Vargas de forma velada, fenômeno que ficou conhecido como "cristianização".
Ademar de Barros (PSP): Ademar de Barros, então governador de São Paulo, concorreu pelo Partido Social Progressista (PSP), com uma plataforma populista e de combate à corrupção.
No final, Getúlio Vargas venceu a eleição com cerca de 48,7% dos votos válidos, enquanto Cristiano Machado obteve aproximadamente 21,5% e Ademar de Barros 19%. Vargas assumiu a presidência em 31 de janeiro de 1951, dando início ao seu segundo governo, dentro do contexto da Quarta República (1946-1964).
Por que Vargas venceu a eleição presidencial de 1950?
Getúlio Vargas venceu a eleição presidencial de 1950 por meio de uma combinação de fatores que incluíam seu carisma pessoal, seu histórico político e a plataforma pela qual concorreu. Algumas das razões para sua vitória são:
Popularidade entre os trabalhadores: Vargas era conhecido como o "pai dos pobres" por suas políticas trabalhistas durante seu primeiro governo e o Estado Novo. Ele havia defendido os direitos dos trabalhadores e implementado medidas como a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o salário mínimo e a criação da Justiça do Trabalho. Essas ações lhe garantiram amplo apoio entre os trabalhadores e os sindicatos.
Nacionalismo econômico: Vargas defendia o nacionalismo econômico e o desenvolvimento da indústria nacional, o que atraía setores nacionalistas e progressistas da sociedade. Ele prometia expandir as políticas protecionistas e promover a industrialização do país.
Habilidade política e carisma: Vargas era conhecido por sua habilidade política e carisma, o que lhe permitiu estabelecer alianças com diferentes grupos sociais e políticos, incluindo a ala progressista do PSD, que também o apoiou na eleição.
Fragmentação da oposição: A oposição estava fragmentada em diferentes candidatos, como Cristiano Machado e Ademar de Barros, o que dividiu o voto opositor e favoreceu a candidatura de Vargas.
Campanha eleitoral eficiente: Vargas conduziu uma campanha eleitoral bem-sucedida, que incluiu comícios, discursos e a utilização dos meios de comunicação da época, como rádio e jornais, para promover suas ideias e propostas.
Características do Segundo Governo Vargas
O segundo governo de Getúlio Vargas, também conhecido como "Governo Democrático", ocorreu entre 1951 e 1954. Diferentemente do período do Estado Novo, Vargas retornou ao poder por meio do voto direto. Este mandato foi marcado por uma série de desafios políticos, econômicos e sociais:
Política interna: Vargas enfrentou forte oposição de diferentes grupos políticos, incluindo militares, empresários e a classe média. Ele buscou implementar políticas voltadas ao desenvolvimento econômico e à justiça social, mas enfrentou resistência e teve dificuldades para formar uma base sólida no Congresso Nacional.
Política externa: Durante seu segundo governo, Vargas procurou estabelecer relações diplomáticas equilibradas, principalmente com os Estados Unidos e a União Soviética. Ele também buscou uma política de cooperação e integração com os países vizinhos na América Latina.
Economia: Vargas priorizou o desenvolvimento industrial do Brasil, estabelecendo políticas protecionistas e promovendo a criação de indústrias estatais estratégicas. A Petrobras, empresa estatal de petróleo, foi fundada durante seu governo, em 1953, com o objetivo de explorar e desenvolver a indústria petrolífera no país.
Política trabalhista: Vargas continuou a promover políticas de proteção ao trabalhador, como o salário mínimo, a legislação trabalhista e a previdência social. Ele também procurou ampliar os direitos dos trabalhadores rurais.
Progressistas e Conservadores
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), o cenário político brasileiro era marcado pela disputa entre progressistas e conservadores. Cada grupo tinha suas próprias ideias e propostas para o país, e as tensões entre eles desempenharam um papel importante na instabilidade política do período.
Progressistas: Os progressistas eram, em geral, favoráveis às políticas nacionalistas, trabalhistas e desenvolvimentistas de Vargas. Eles defendiam a intervenção do Estado na economia para promover a industrialização, a redistribuição de renda e a melhoria das condições de vida dos trabalhadores. Os progressistas também apoiavam a criação de empresas estatais em setores estratégicos, como a Petrobras, e a ampliação dos direitos trabalhistas. Partidos como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), liderado por Vargas, e o Partido Socialista Brasileiro (PSB) eram exemplos de forças políticas progressistas. Os progressistas contavam com o apoio de parte da classe média, das lideranças operárias, de uma parcela significativa dos trabalhadores urbanos, de líderes estudantis e de intelectuais.
Conservadores: Os conservadores, por outro lado, eram críticos das políticas nacionalistas e trabalhistas de Vargas e defendiam uma abordagem mais liberal em relação à economia. Eles acreditavam que a intervenção estatal na economia prejudicava o crescimento, o investimento estrangeiro e a livre iniciativa. Os conservadores também eram contrários aos reajustes salariais e à expansão dos direitos trabalhistas, argumentando que isso poderia levar ao desemprego e à instabilidade econômica. A União Democrática Nacional (UDN), um partido político conservador e liberal, liderava a oposição a Vargas durante seu segundo governo. Os conservadores eram apoiados pelas oligarquias rurais, pela burguesia industrial e financeira, pelos grandes comerciantes e pela alta classe média. A maioria dos militares apoiava os conservadores. Contudo, havia um número significativo de oficiais que apoiavam os progressistas.
As tensões entre progressistas e conservadores se manifestavam de várias maneiras, desde debates e disputas no Congresso Nacional até manifestações e campanhas de imprensa.
Tensões Sociais
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), ocorreram várias tensões sociais, fruto das políticas adotadas, da crise econômica e da oposição enfrentada pelo presidente. Algumas das principais fontes de tensão social foram:
Inflação e descontentamento econômico: A inflação crescente e os desequilíbrios fiscais durante o governo Vargas geraram insatisfação entre a classe média e os empresários. A população enfrentou dificuldades como a alta dos preços e a falta de produtos básicos, o que gerou protestos e descontentamento.
Conflitos trabalhistas: Apesar das políticas de proteção aos trabalhadores implementadas por Vargas, houve diversos conflitos trabalhistas durante seu segundo governo, como greves e manifestações em prol de melhores salários e condições de trabalho. Os sindicatos e os trabalhadores também enfrentaram resistência de setores empresariais e de parte da classe média.
Polarização política: A polarização política entre os apoiadores de Vargas, que defendiam suas políticas nacionalistas e trabalhistas, e a oposição, liderada principalmente pela União Democrática Nacional (UDN), gerou tensões na sociedade brasileira. Essa polarização se refletiu em manifestações, debates públicos e campanhas de imprensa.
Nacionalismo versus liberalismo: As políticas nacionalistas de Vargas, como a criação da Petrobras e a intervenção estatal em setores estratégicos da economia, geraram tensão entre os setores nacionalistas e os liberais da sociedade. Os nacionalistas defendiam a intervenção do Estado para promover o desenvolvimento e proteger a economia brasileira, enquanto os liberais argumentavam que essas medidas prejudicavam o investimento estrangeiro e a livre iniciativa.
Militares divididos: A divisão entre os militares também contribuiu para a tensão social durante o segundo governo Vargas. Oficiais das Forças Armadas apoiavam ou criticavam o governo, o que gerou incertezas e disputas internas, aumentando a tensão no país.
Essas tensões sociais foram agravadas pela crise política do governo Vargas, especialmente após o atentado da Rua Tonelero e as crescentes exigências pela renúncia do presidente.
Greve dos 300 mil
A Greve dos 300 mil ocorreu em São Paulo, entre julho e agosto de 1953, durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Foi um dos maiores e mais influentes movimentos trabalhistas da história do Brasil, envolvendo cerca de 300 mil trabalhadores.
A greve começou na indústria têxtil e rapidamente se espalhou para outros setores, como metalúrgicos, alimentícios, químicos e gráficos, entre outros. Os trabalhadores reivindicavam melhores salários, condições de trabalho e benefícios, incluindo um reajuste salarial de 80% para compensar a inflação crescente, redução da jornada de trabalho e estabilidade no emprego.
A greve durou aproximadamente três semanas e contou com o apoio de sindicatos, estudantes, intelectuais e partidos políticos de esquerda. O governo de Getúlio Vargas inicialmente adotou uma postura de neutralidade, mas acabou intervindo no conflito e atuando como mediador entre os trabalhadores e os empresários.
Após negociações e pressão dos sindicatos e do governo, os empresários concordaram em conceder um reajuste salarial de 40% a 100%, dependendo do setor, e atender a outras demandas dos trabalhadores. A greve foi encerrada, e os trabalhadores retornaram ao trabalho com conquistas significativas.
A Greve dos 300 mil teve um impacto importante na política trabalhista do Brasil e consolidou o papel dos sindicatos como atores políticos e sociais relevantes. Além disso, a greve também evidenciou as tensões sociais e as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país durante o segundo governo de Getúlio Vargas.
João Goulart é nomeado Ministro do Trabalho
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas, João Goulart foi nomeado Ministro do Trabalho. Goulart assumiu o cargo em 1953. Sua nomeação representou uma tentativa de Vargas de responder às demandas dos trabalhadores e apaziguar as tensões sociais que haviam sido exacerbadas pela Greve dos 300 mil.
Como Ministro do Trabalho, João Goulart buscou implementar políticas que beneficiassem a classe trabalhadora. Ele promoveu o aumento do salário mínimo e a melhoria das condições de trabalho. Além disso, Goulart procurou fortalecer os sindicatos, concedendo-lhes maior autonomia e poder de negociação.
No entanto, as políticas trabalhistas de Goulart também enfrentaram resistência por parte de setores conservadores da sociedade e do empresariado, que temiam que os avanços trabalhistas levassem à inflação e prejudicassem a economia. Essa resistência acabou contribuindo para a polarização política no Brasil e, mais tarde, para a instabilidade durante o próprio governo de João Goulart como presidente (1961-1964).
A Questão do Salário Mínimo
Durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954), a questão do salário mínimo foi um aspecto importante da política trabalhista. Vargas, que já havia estabelecido o salário mínimo durante seu primeiro mandato no governo, continuou a promover políticas que beneficiassem os trabalhadores e buscava melhorar as condições econômicas e sociais da classe trabalhadora.
No entanto, a implementação e os ajustes do salário mínimo enfrentaram diversos desafios durante o segundo governo Vargas:
Inflação: A inflação crescente durante o governo Vargas erodiu o poder de compra dos trabalhadores, tornando os reajustes do salário mínimo insuficientes para acompanhar o aumento dos preços. Isso gerou insatisfação entre os trabalhadores e pressão por reajustes mais significativos.
Resistência empresarial: Os empresários e a classe média, em geral, resistiam aos aumentos do salário mínimo, argumentando que isso elevaria os custos de produção, prejudicaria a competitividade e levaria ao desemprego. Essa resistência dificultava a aprovação de reajustes mais significativos do salário mínimo.
Dificuldades políticas: A instabilidade política e a forte oposição enfrentada por Vargas no Congresso Nacional dificultavam a implementação de políticas trabalhistas, incluindo ajustes no salário mínimo.
Desigualdades regionais: A questão do salário mínimo também estava relacionada às desigualdades regionais no Brasil, uma vez que os custos de vida variavam consideravelmente entre as diferentes regiões do país. A definição de um valor único de salário mínimo não era suficiente para atender às necessidades específicas de cada região, gerando debates sobre a necessidade de estabelecer valores diferenciados.
A campanha do petróleo
A campanha "O Petróleo é Nosso" foi um movimento popular, político e social que ocorreu no Brasil durante o segundo governo de Getúlio Vargas (1951-1954). Esse movimento defendia a exploração e a produção de petróleo no país sob controle estatal, visando a garantir a soberania energética do Brasil e a reduzir a dependência de importações e do capital estrangeiro.
A campanha "O Petróleo é Nosso" foi impulsionada pelo sentimento de nacionalismo econômico e ganhou apoio de diversos setores da sociedade brasileira, incluindo sindicatos, estudantes, intelectuais, militares e partidos políticos progressistas, como o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) de Getúlio Vargas e o Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Durante o segundo governo de Vargas, a campanha ganhou força e influência, resultando na criação da Petrobras em 3 de outubro de 1953. A Petrobras (Petróleo Brasileiro S.A.) foi estabelecida como uma empresa estatal, com o objetivo de explorar, produzir, refinar e distribuir petróleo e seus derivados no Brasil. A criação da Petrobras foi um marco importante na política energética do país e um dos principais legados do governo Vargas.
A campanha "O Petróleo é Nosso" também enfrentou oposição de setores conservadores e liberais da sociedade brasileira, que argumentavam que a criação de uma empresa estatal monopolista e a intervenção do Estado na economia prejudicariam a livre iniciativa e o investimento estrangeiro. A União Democrática Nacional (UDN), um dos principais partidos de oposição a Vargas, foi uma das vozes críticas à criação da Petrobras.
A campanha do petróleo e a criação da Petrobras foram temas centrais durante o segundo governo de Vargas e contribuíram para a polarização política e a tensão entre progressistas e conservadores na época.
O Atentado da Rua Tonelero
O Atentado da Rua Tonelero foi um evento ocorrido no dia 5 de agosto de 1954, no bairro de Copacabana, Rio de Janeiro, durante o segundo governo de Getúlio Vargas. O atentado foi uma tentativa de assassinato contra o jornalista e político Carlos Lacerda, um dos principais críticos e opositores de Getúlio Vargas na época.
Na noite do atentado, Carlos Lacerda estava voltando para casa quando foi abordado por dois homens armados. Lacerda foi ferido no pé, mas conseguiu se refugiar em um edifício próximo. O major da Aeronáutica Rubens Vaz, que acompanhava Lacerda como seu segurança, foi baleado e acabou morrendo.
O inquérito para averiguar o atentado contra Lacerda foi conduzido pela Aeronáutica, na base aérea do Galeão, e apontou como mandante do crime o chefe da guarda pessoal do presidente, Gregório Fortunato. Não foi comprovada nenhuma ligação de Vargas ou de seus assessores com o crime. Não obstante, os inimigos do presidente passaram a exigir sua renúncia imediata.
A opinião pública e a imprensa, incluindo Carlos Lacerda, intensificaram as críticas ao governo e exigiram a renúncia de Vargas.
O Atentado da Rua Tonelero foi um dos eventos que contribuíram para a instabilidade política do segundo governo de Getúlio Vargas e, eventualmente, para o suicídio do presidente em 24 de agosto de 1954.
Manifesto dos Coronéis durante o segundo governo Vargas
O Manifesto dos Coronéis foi uma carta aberta publicada em 10 de agosto de 1954, durante o segundo governo de Getúlio Vargas. Esse manifesto foi assinado por 33 coronéis do Exército Brasileiro e expressava preocupações e críticas ao governo de Vargas, especialmente em relação à crise política que se agravava no país.
A publicação do Manifesto dos Coronéis ocorreu após o Atentado da Rua Tonelero, em 5 de agosto de 1954, quando o jornalista e político Carlos Lacerda, um ferrenho opositor de Vargas, sofreu uma tentativa de assassinato. As investigações apontaram ligações do atentado com membros da guarda pessoal de Getúlio Vargas, o que acentuou a crise política e aumentou a pressão sobre o governo.
No manifesto, os coronéis criticavam a corrupção e a ineficiência do governo e afirmavam que o país estava à beira do colapso. Além disso, exigiam mudanças no governo e demonstravam seu apoio à legalidade e à Constituição. Embora o manifesto não exigisse explicitamente a renúncia de Vargas, colocava pressão adicional sobre o presidente, mostrando que a insatisfação com seu governo se estendia até mesmo dentro das Forças Armadas.
O Manifesto dos Coronéis foi mais um episódio que contribuiu para a escalada da crise política no Brasil em 1954, culminando no suicídio de Getúlio Vargas em 24 de agosto daquele ano.
O Suicídio de Vargas
O suicídio de Getúlio Vargas, então presidente do Brasil, ocorreu na madrugada de 24 de agosto de 1954, no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro, que era a capital federal na época. Vargas tirou a própria vida com um tiro no peito, em meio a uma crescente crise política e pressão para que renunciasse ao cargo.
O segundo governo de Vargas (1951-1954) foi marcado por diversas crises políticas, conflitos entre progressistas e conservadores, e dificuldades econômicas. A oposição de partidos como a União Democrática Nacional (UDN) e figuras políticas como Carlos Lacerda se intensificou, especialmente após o Atentado da Rua Tonelero em 5 de agosto de 1954, no qual Lacerda sofreu uma tentativa de assassinato.
As investigações sobre o atentado apontaram ligações com membros da guarda pessoal de Vargas, o que intensificou a crise política e as pressões pela renúncia do presidente. Os militares também começaram a se manifestar contra o governo, como no caso do Manifesto dos Coronéis, publicado em 10 de agosto de 1954, o que aprofundou ainda mais a instabilidade política.
Diante desse cenário, Vargas optou pelo suicídio como uma forma de sair do impasse e evitar um golpe militar. Na manhã de 24 de agosto, Vargas foi encontrado morto em seu quarto no Palácio do Catete. Junto ao seu corpo, foi encontrada uma carta-testamento, na qual Vargas afirmava que deixava a vida para entrar na história. Essa carta, que ficou conhecida como "Carta Testamento de Vargas", foi uma declaração política e uma espécie de último pronunciamento à nação.
Na carta, Vargas colocou-se como mártir, vítima das forças políticas que conspiravam contra ele e seu governo. Ele afirmava que a luta pelo bem-estar do povo e a soberania nacional era a causa de sua morte, e dizia: "Saio da vida para entrar na história". A carta-testamento também abordava temas como os interesses estrangeiros, a exploração dos trabalhadores e a soberania do Brasil.
A notícia do suicídio de Getúlio Vargas gerou uma grande comoção popular. O velório de Vargas foi acompanhado por cerca de um milhão de pessoas, que se aglomeraram nas ruas do Rio de Janeiro para prestar suas últimas homenagens ao presidente. A população enlutada expressava tristeza, indignação e perplexidade diante do trágico desfecho do líder político que havia marcado a história do Brasil.
A carta-testamento de Vargas e a reação popular a seu suicídio evidenciaram a ambivalência do legado de Vargas, que, mesmo enfrentando forte oposição e crises políticas, ainda detinha o apoio e a admiração de uma parcela significativa da população brasileira. O episódio marcou o fim de uma era na política brasileira e teve impacto duradouro na história do país.
Resumo do Segundo Governo Vargas
O segundo governo de Getúlio Vargas no Brasil, também conhecido como "Governo Democrático", ocorreu entre 1951 e 1954. Vargas retornou à presidência por meio do voto direto, após ter sido presidente durante o período conhecido como "Estado Novo" (1937-1945), uma ditadura autoritária. O segundo mandato de Vargas foi marcado por uma série de desafios políticos, econômicos e sociais.
Política interna: Vargas enfrentou forte oposição de diferentes grupos políticos, incluindo militares, empresários e a classe média. Ele buscou implementar políticas voltadas ao desenvolvimento econômico e à justiça social, mas enfrentou resistência e teve dificuldades para formar uma base sólida no Congresso Nacional.
Política externa: Durante seu segundo governo, Vargas procurou estabelecer relações diplomáticas equilibradas, principalmente com os Estados Unidos e a União Soviética. Ele também buscou uma política de cooperação e integração com os países vizinhos na América Latina.
Economia: Vargas priorizou o desenvolvimento industrial do Brasil, estabelecendo políticas protecionistas e promovendo a criação de indústrias estatais estratégicas. A Petrobras, empresa estatal de petróleo, foi fundada durante seu governo, em 1953, com o objetivo de explorar e desenvolver a indústria petrolífera no país.
Política trabalhista: Vargas continuou a promover políticas de proteção ao trabalhador, como o salário mínimo, a legislação trabalhista e a previdência social. Ele também procurou ampliar os direitos dos trabalhadores rurais.
Crise política e suicídio: Em 1954, Vargas enfrentou uma grave crise política, com acusações de corrupção e a oposição cada vez mais intensa. A situação se agravou com o atentado da Rua Tonelero, no qual um jornalista crítico do governo, Carlos Lacerda, foi alvo de um atentado frustrado que resultou na morte de um major da Aeronáutica. A crise culminou no suicídio de Vargas em 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto no Palácio do Catete, no Rio de Janeiro. Em sua carta-testamento, Vargas alegou que as forças contrárias a ele e ao progresso do país o haviam derrotado, mas que seu sacrifício poderia servir de alerta ao povo brasileiro.
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