Pré-Modernismo no Brasil

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O Pré-Modernismo no Brasil foi um período que se iniciou em 1902 e se encerrou em 1922. O Pré-Modernismo no Brasil marcou a transição entre o Simbolismo e o Modernismo. 

1. Datas

  • 1902 Os Sertões , de Euclides da Cunha e Canaã, de Graça Aranha - início do Pré-Modernismo no Brasil.
  • 1922: Semana de Arte Moderna, em São Paulo - início do Modernismo no Brasil.

2. Contexto histórico

Durante as duas primeiras décadas do século XX, a vida cultural e artística de nosso país foi marcada pela coexistência de características realistas, naturalistas, parnasianas e simbolistas, num sincretismo de tendências que fez dessa fase uma época de transição em nossa cultura. Nas artes, posições conservadoras, tradicionais e passadistas conviveram com atitudes renovadoras, voltadas para a atualização da inteligência artística.

A literatura refletiu esse caráter transitório: assim, se de um lado ainda sobrevivia uma literatura de linguagem tradicional, acadêmica, ornamental, repetindo os modelos parnasianos, de outro emergia uma linha progressista, voltada para o presente, que questionava a realidade social do país.

A problematização da realidade social brasileira, com novos enfoques temáticos, constituiu a principal marca da literatura brasileira do período, chamado pela crítica de Pré-Modernismo, a qual se desenvolveu num contexto em que se destacam os seguintes fatores:

  • 1894 a 1930: "Primeira República" ou "República Velha" - hegemonia dos proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais - "política do café com leite";
  • "política dos governadores" - decisões econômicas e políticas do país;
  • classe dominante - cafeicultores, latifundiários, secundados por uma burguesia industrial incipiente, por profissionais liberais e pelo exército;
  • aumento da complexidade social do país - cidades - profissionais liberais, comércio, prestação de serviços, imigrantes europeus e antigos escravos;
  • crescimento da industrialização - aumento da classe operária - sindicatos, movimentos de contestação, greves;
  • diversificação no país:
    • * São Paulo - centro industrial;
    • * Rio de Janeiro - capital federal e centro político-cultural;
    • * outros estados - economia agrária.
  • diversidade regional - diferentes acontecimentos de caráter político-social:
    • * NE { engenhos - decadência
    • fenômeno do cangaço;
    • fanatismo religioso - padre Cícero;
    • Revolta de Canudos;
    • * RJ { "Revolta da Chibata";
    • greve popular contra a vacinação obrigatório contra a febre amarela;
    • * SP - greves operárias.

Euclides da Cunha

Euclides da Cunha

Euclides da Cunha nasceu em Cantagalo, RJ (1866) e morreu no Rio de Janeiro em 1909. Órfão muito pequeno, passou a infância e a adolescência na casa de parentes, em Teresópolis, São Fidélis e Salvador, voltando ao Rio aos dezessete anos a fim de preparar-se para o curso superior. Matriculou-se na Escola Politécnica, mas logo se transferiu para a Escola Militar de Praia Vermelha.

Excluído do exército, segue para o interior de São Paulo, onde passa a colaborar, com artigos republicanos, para o jornal Província de São Paulo. Proclamada a República, reintegra-se ao exército e cursa a Escola Superior de Guerra, formando-se em Engenharia Militar e bacharelando-se em Matemática e Ciências Físicas e Naturais

Desilude-se com a República e passa a dedicar-se ao estudo dos problemas brasileiros, desligando-se do exército; volta a colaborar com artigos para o jornal - agora já O Estado de São Paulo - e é enviado, como correspondente, a Canudos.

Ao retornar , passa a escrever sua obra-prima, Os Sertões, que publica em 1902 e que o consagra como escritor: é aclamado membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro e eleito para a Academia Brasileira de Letras. Em 1909, já com sintomas de tuberculose e decidido a pôr fim à farsa de seu casamento cai morto numa troca de tiros com o amante de sua mulher, aos quarenta e três anos.

Suas principais obras são:

  • Os Sertões
  • Contrastes e Confrontos
  • À Margem da História
  • "A Terra" - descrição minuciosa da região, sua formação geológica, seu clima, relevo e vegetação;
  • "O Homem" - análise elaborada do sertanejo, com ênfase para a ação do meio sobre o homem;
  • "A Luta" - narração do conflito de Canudos.

Seu estilo é marcado pela dicotomia entre a formação científica e sua sensibilidade exagerada, estilo que ele mesmo definiu como "estilo barroco-científico" e que combina o gosto pelo vocabulário rebuscado, com antíteses e palavras raras, e uma visão rigidamente determinista e cientificista do mundo.

Graça Aranha

Graça Aranha

Graça Aranha nasceu em São Luís do Maranhão (1868) e morreu no Rio de Janeiro em 1931. Cursou Direito em Recife e ingressou na magistratura. Foi precocemente eleito para a Academia Brasileira de Letras, no ano de sua fundação, graças à publicação de um excerto do que viria a ser sua obra-prima, Canaã.

Ingressou no Itamarati e desempenhou várias missões diplomáticas entre 1900 e 1920, ano em que retorna ao Brasil, engajando-se em correntes de pensamento que revolucionariam o país com a Semana de Arte Moderna; participou da Semana em 1922, proferindo a conferência de abertura, A Função Estética da Arte Moderna.

Rompeu com a Academia Brasileira de Letras em 1924, com o discurso O Espírito Moderno, sete anos antes de falecer no Rio de Janeiro aos sessenta e dois anos.

Suas principais obras são:

  • Canaã (romance)
  • Malazarte (teatro)

Foi um pensador de cunho psicológico-social: sua obra apresenta a discussão do futuro ideológico do país, seus contrastes sociais, as diferenças raciais; sofreu forte influência do Cientificismo do século XIX , do Impressionismo e do Simbolismo.

Sua obra-prima, Canaã, é um romance em que ocorre o confronto ideológico entre duas correntes, um romance de ideias que se estrutura sob a forma de um diálogo entre dois alemães, Milkau - que representa o universalismo e a solidariedade - e Lenz - que representa a supremacia da força e o preconceito racial.

Lima Barreto

Lima Barreto

Lima Barreto nasceu no Rio de Janeiro (1881) e lá morreu em 1922. Filho de pais mulatos, teve infância difícil, perdendo a mãe quando tinha apenas seis anos. Frequentou a escola pública e depois o internato, quando seu pai foi transferido para a Ilha do Governador.

Preparou-se para cursar a Escola Politécnica, mas a loucura do pai obrigou-o a abandoná-la, para trabalhar para o sustento dos irmãos. Frustrado por não haver terminado o curso superior, começa a beber, enquanto ingressa no jornalismo com uma série de reportagens para o Correio da Manhã.

Conheceu a literatura de ficção europeia do Século XIX e os romancistas russos, que influenciariam sua postura político-social; militou contra a emancipação profissional da mulher, contra o jogo de futebol e a construção de arranha-céus e publicou, em 1917, o Manifesto Maximalista, no qual informava, de modo equilibrado, o significado da Revolução Russa.

Corroído pelo álcool, internou-se duas vezes no Hospício Nacional e, sofrendo a doença, a miséria e os delírios do pai louco, teve um colapso cardíaco que o levou à morte aos quarenta e um anos de idade.

Suas principais obras são:

  • Recordações do Escrivão Isaías Caminha
  • Triste Fim de Policarpo Quaresma
  • Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá
  • Clara dos Anjos

Sua obra apresenta as seguintes características:

  • inconformismo no plano estético e ideológico - literatura de contestação, de crítica;
  • crítica à hipocrisia social, aos valores da pequena burguesia, marcada por ironia cortante e certo · senso de humor - preocupação social;
  • cenário - os subúrbios cariocas, com seus tipos característicos: funcionários públicos, empregados do comércio, tocadores de violão, moças casadoiras - universo social e psicológico;
  • linguagem viva, próxima da realidade e distante do estilo acadêmico, tradicional;
  • estilo jornalístico e panfletário, marcado pela oralidade;
  • projeções autobiográficas.

Monteiro Lobato

Monteiro Lobato

Monteiro Lobato nasceu em Taubaté (1882) e morreu em São Paulo, em 1948. Perdeu o pai e a mãe em curto espaço de tempo, na adolescência, o que provocou seu rápido amadurecimento; cursou Direito em São Paulo e foi promotor em Areias, no interior. Com a morte do avô, mudou-se para a Fazenda Buquira, que herdara, pretendendo ser fazendeiro, mas foi frustrado em seus planos, por causa das dificuldades trazidas pela Primeira Guerra.

Vem para São Paulo e publica Urupês, livro de extraordinário sucesso. Nomeado adido cultural do Brasil nos Estados Unidos, passa a defender, em artigos, a ideia de que a salvação do país estava no petróleo e no aço; foi preso por suas ideias e seus ataques ao Conselho Nacional do Petróleo, que acusara de corrupto, mas nunca desistiu de suas posições.

Em 1943, cria a Editora Brasilientis e entrega-se à produção de sua obra infantil; porém, desgostoso com o país, muda-se para a Argentina e lá permanece um ano, regressando ao Brasil para morrer no ano seguinte, por problemas cardíacos.

Entre sua principais obras estão:

  • Urupês
  • Cidades Mortas
  • Negrinha

Sua obra mostra intenção didática e moralizante na crítica e denúncia da situação do homem rural e interiorano do Vale do Paraíba. Marcada pelo pessimismo e pela ironia, valoriza os aspectos ridículos, patéticos das personagens e das situações, com efeitos cômicos e trágicos. Apresenta ainda as seguintes características:

  • forte influência do Naturalismo - ausência de profundidade psicológica - privilégio da abordagem científica;
  • estilo fluente, acessível - narrativa oral, técnica do contador de casos;
  • vocabulário vasto, domínio das expressões regionais, do falar do interiorano;
  • linguagem ainda acadêmica, tradicional, com influências de grandes autores do passado, como Eça de Queirós e Camilo Castelo Branco;

Merecem destaque a criação da personagem Jeca Tatu e o artigo "Paranoia ou Mistificação?", publicado em O Estado de S. Paulo (1917), criticando a exposição da pintora Anita Malfatti - considerado o "estopim" para a Semana de Arte Moderna de 1922.

Sumário

- Pré-Modernismo no Brasil
i. Datas
ii. Contexto histórico
- Euclides da Cunha
- Graça Aranha
- Lima Barreto
- Monteiro Lobato