Desigualdade de Gênero

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Desigualdade de Gênero

As diferenças biológicas entre membros do sexo masculino e feminino são evidentes, mas as diferenças sociais e culturais entre os dois sexos podem ser complexas.

Sexo e gênero aparentam ser sinônimos, mas, na realidade, não têm o mesmo significado.  Sexo significa as diferenças físicas e biológicas entre os membros do sexo masculino e do feminino. As diferenças entre os sexos compreendem tanto as características sexuais principais (o sistema reprodutivo) como as secundárias (musculatura, profundida de voz, etc.). As características sexuais não variam significativamente entre as diferentes sociedades humanas. Por exemplo, independentemente de país ou cultura, praticamente todas as mulheres, a partir da puberdade, menstruam.

Gênero, por outro lado, é um conceito social. É um termo que se refere aos aspectos culturais e sociais associados ao fato de se pertencer ao sexo masculino ou feminino. Diferentemente das características sexuais, que são praticamente imutáveis, as características de gênero podem variar muito de sociedade a sociedade. Exemplificando: na cultura brasileira, a saia e o vestido são consideradas vestimentas típicas do gênero feminino. Em algumas culturas – no Oriente Médio, na Ásia e na África –, vestidos e saias (o sarongue, o robe ou a toga) são consideradas vestimentas masculinas. O saiote escocês é outro exemplo de uma vestimenta masculina que seria considerada feminina em um país como o Brasil.

Gênero

Os sociólogos se dedicam muito ao estudo da identidade de gênero e seu papel social. A identidade de gênero de um indivíduo significa o quanto ele ou ela se identifica com o fato de pertencer ao sexo masculino ou feminino. A identidade de gênero é algo que se forma nos primeiros anos de vida: acredita-se que a partir dos quatro anos de idade, tal processo se torna irreversível. As causas exatas da identidade de gênero ainda são desconhecidas, mas se sabe que fatores biológicos, fisiológicos e sociais influenciam o processo. A genética, os hormônios, a aparência física, os órgãos reprodutivos e a socialização são fatores que contribuem para a formação da identidade de gênero de uma pessoa.

A manifestação social da identidade de gênero de acordo com as expectativas culturais e sociais constitui o papel social de gênero. Papel social de gênero significa a forma como a sociedade espera que uma pessoa se comporte pelo fato de pertencer ao sexo masculino ou feminino.  O papel social de gênero determina como homens e mulheres devem se vestir, pensar, falar e interagir. Os papeis sociais de gênero refletem os valores da sociedade e são transmitidos de geração em geração. Eles afetam a vida diária de quase todas as pessoas.

Há homens e mulheres que não agem conforme seu papel social de gênero. Muitas pessoas não vivem de acordo com as expectativas da sociedade. Por exemplo, a esposa pode passar o dia no trabalho e o marido em casa, cuidando dos filhos. Contudo, é impossível mudar de papel sexual. O papel sexual de uma pessoa está anatomicamente limitado a um só gênero. Por exemplo, o homem não pode engravidar.

A orientação sexual de um indivíduo é determinada pela atração que sente por pessoas do mesmo sexo (homossexual), de outro sexo (heterossexual) ou de ambos os sexos (bissexual).

Uma série de fatores – gênero, papel social de gênero, papel sexual e orientação sexual – formam a identidade sexual de um indivíduo.

Socialização e Gênero

A sociedade espera que tanto as mulheres como os homens se comportem de acordo com seu papel social de gênero. Tais expectativas derivam de um processo denominado socialização. Por meio da socialização, a criança aprende as normas e o papel que a sociedade designou para seu gênero. Isso exerce um papel significativo no estabelecimento de seu senso de masculinidade ou feminidade.

As crianças aprendem, desde a infância, que há diferentes expectativas para homens e mulheres. Feminidade significa as expectativas culturais que existem em relação a pessoas do sexo feminino. Masculinidade significa o que a sociedade espera de pessoas do sexo masculino.

A socialização de gênero ocorre por meio de quatro principais agentes de socialização: a família, a educação recebida, os grupos de amigos e a mídia (filmes, programas de televisão, músicas, livros, revistas, a Internet, etc.). Há também agentes secundários, como a religião e o ambiente de trabalho. Os diversos agentes de socialização ensinam e reforçam o papel social de gênero ao longo da vida das pessoas.

A família é o primeiro agente de socialização. De todos os agentes, os pais (a família) são as pessoas que mais exercem influência sobre seus filhos, principalmente quando estes são crianças. Há estudos que comprovam que os pais socializam seus filhos diferentemente. Mesmo quando ainda são bebês, meninos e meninas são tratados de forma diferente por seus pais. Estes costumam presentear suas filhas com bonecas e seus filhos com bonecos de super-heróis. Além disso, muitos pais tratam suas filhas de forma menos agressiva do que seus filhos. Assim, as crianças desde cedo percebem que pertencem a um gênero – masculino ou feminino – e passam a se comportar de acordo com seu papel social de gênero. Muitos sociólogos acreditam que esse processo ocorra já nos primeiros dois anos de vida da criança.

Socialização diferenciada significa que, em geral, meninos são mais privilegiados do que meninas. Por exemplo, é dado mais autonomia e independência a meninos do que a meninas. Há menos restrições sobre como um menino precisa se vestir. Geralmente, os pais permitem que meninos voltem mais tarde para casa do que as meninas. Além disso, os pais geralmente exigem menos ajuda de seus filhos homens nas tarefas de casa: cozinhar e limpar são consideras atividades femininas. Ao mesmo tempo, a maioria das famílias espera que suas filhas ajam de acordo com as expectativas da sociedade: que sejam passivas, atenciosas e obedientes e boas donas de casa.

Os estudos demonstram que um pai costuma ter mais expectativas quanto à conformidade de gênero do que uma mãe. O pai geralmente espera mais do filho do que da filha. Evidentemente, isso não se aplica a todas as famílias e varia dependendo da classe social, raça e etnia. Em algumas culturas, os pais não fazem distinções no tratamento de filhos e filhas.

Vale notar que os papéis de gênero influenciam a família de diversas formas: como as crianças são educadas, quem se responsabiliza financeiramente pelo lar, etc.

O colégio é outro agente de socialização de gênero. Na escola, as crianças participam de atividades associadas ao gênero masculino ou feminino. Por exemplo, durante o recreio, os meninos jogam futebol e as meninas pulam corda. Em muitas escolas, os professores tratam os alunos de forma diferente do que as alunas. Além disso, muitos livros didáticos contêm conteúdo que reforça estereótipos de gêneros e até recentemente, as meninas eram incentivas a estudar as Humanas e os meninos, as Exatas.

A influência de amigos também incentiva a socialização do gênero. Quando as crianças passam a frequentar a escola, participam de atividades associadas a seu gênero. Quando uma criança não age conforme seu papel de gênero, corre o risco de ser criticada ou marginalizada pelos colegas. Esse tipo de bullying, apesar de ser informal,é algo grave. Por exemplo, uma menina que deseja fazer aulas de caratê em vez de balé pode ser chamada de “moleque” e corre o risco de não ser aceita em certos círculos sociais de meninas. É importante notar que esse tipo de discriminação ocorre muito mais entre meninos do que entre meninas. Um menino que faz aulas de balé provavelmente sofre mais pressão dos colegas do que uma menina que faz aulas de caratê.

A mídia também reforça os papéis de gênero.

Os papéis de gênero adotados durante a infância costumam influenciar o indivíduo mesmo quando ele se torna um adulto. No entanto, há pessoas que são incapazes de conviver com os lados biológico, psicológico e social do gênero a que pertencem. Tais pessoas sofrem de disforia de gênero (transtorno de identidade de gênero): sua identidade de gênero é motivo de confusão e sofrimento. Em alguns casos, a pessoa acredita que nasceu no corpo errado em termos de gênero. Isto é, seu senso interno de gênero é incompatível com sua biologia sexual externa. Tal condição é denominada transsexualismo.  Alguns transexuais podem querer se livrar de suas estruturas sexuais, tanto as primárias como as secundárias, e adquirir as do outro gênero. Em alguns casos, elas se submetem a uma cirurgia de redesignação sexual. É importante não confundir os transexuais com os travestis. Estes não desejam mudar de gênero, e sim, usar roupas típicas do sexo oposto.

Estereótipos de gênero

Estereótipos de gênero são generalizações feitas sobre os comportamentos, as atitudes e as características de mulheres e homens. Os estereótipos podem ser positivos ou negativos, mas são raramente verdadeiros. A perpetuação de estereótipos de gênero é a base do machismo ou feminismo – crenças preconceituosas que dá mais valor a um sexo do que ao outro. É importante notar que há diversos graus de machismo e feminismo.

Há estudos científicos que revelam que as crianças aprendem estereótipos de gênero dos adultos. Os agentes de socialização – pais, professores, colegas, líderes religiosos e a mídia – transmitem os estereótipos de gênero, de geração a geração.

Tradicionalmente, o papel estereotipado da mulher é o da esposa, mãe e dona de casa. A sociedade espera que a mulher se preocupe mais com sua família do que consigo. Ela deve ser amável, atenciosa, carinhosa, simpática e, além disso, bela e atraente. As mulheres também são frequentemente retratadas de forma negativa – como pessoas frágeis, dependentes, emotivas e passivas. Já o papel estereotipado do homem é o do provedor financeiro do lar e da família. A sociedade espera que ele seja forte, independente, corajoso e ambicioso, que consiga controlar suas emoções e que seja o iniciador de qualquer contato sexual. É comum os homens serem retratados como pessoas insensíveis e agressivas. Tais estereótipos são muito noviços, pois podem sufocar a expressão individual e a criatividade de um indivíduo, além de limitar seu crescimento pessoal e profissional.

Estratificação social e gênero

Estratificação significaum sistema em que grupos de pessoas têm acesso desigual aos recursos sociais. Quanto à estratificação de gênero, é evidente que a maioria das sociedades progrediu ao abolir as formas mais flagrantes de desigualdade de gênero. Contudo, o homem ainda domina a sociedade de diversas formas.

A discriminação contra mulheres é ilegal no Brasil, nos Estados Unidos e em muitos outros países. No entanto, mesmo em tais países, o papel social da mulher não é igual ao do homem. O movimento feminista luta pelos direitos das mulheres e das minorias. Tal movimento é uma força sociopolítica bastante poderosa. O feminismo afirma que devem ser dadas às mulheres as mesmas oportunidades – econômicas, políticas e sociais – que são dadas aos homens. As feministas lutaram muito para desafiar e mudar os estereótipos de gênero. Mas há ainda um longo caminho para que tais desigualdades sejam eliminadas de fato.

Sabemos que ao longo da história, os homens exerceram mais poder – físico, social e político – do que as mulheres. Os homens tendem a ser mais agressivos e violentos que as mulheres. Não é surpreendente, portanto, o fato de os homens, e não as mulheres, terem iniciado tantas guerras. Desde a infância, membros do sexo masculino procuram provar sua masculinidade por meio de grandes esforços físicos. Muitos homens têm sede de poder e isso os leva a buscar poder político. Consequentemente, a maioria das figuras públicas são homens. Os homens criam a maioria das leis que regulamentam a sociedade. As feministas afirmam que tais leis, tendo sido criadas por homens, subjugam as mulheres. Exemplificando: foi apenas no século 20 que as mulheres norte-americanas adquiriram o direito de possuir propriedade, testemunhar em um tribunal ou ser uma jurada. Uma sociedade dominada por homens é denominada patriarcal.

O machismo é o maior culpado por muitas das dificuldades que as mulheres enfrentam no âmbito da educação, do trabalho e da política. O fundamento do machismo é a ideia de que o homem é superior à mulher. O machismo sempre foi prejudicial às mulheres: em certos países e certas épocas, de forma extrema. Até hoje, há países em que as mulheres sofrem discriminação: não recebem o mesmo tratamento do que os homens, mesmo em termos de alimentação, saúde e educação. Em certas sociedades, as mulheres são vendidas como escravas ou esposas. Além disso, é transmitido a elas que a mulher é inferior ao homem e, portanto, o tratamento desigual é justificável.

O machismo causou com que muitas mulheres deixassem de seguir carreiras profissionais que são consideradas “masculinas”. Há mulheres que temem que seguir uma carreira “para homens” fará com que as pessoas pensem que elas não são femininas e que, portanto, não seriam boas mães ou esposas.

Tanto a estratificação de gênero como o machismo são visíveis no âmbito econômico. O homem costuma ser mais bem pago que a mulher, mesmo que ambos tenham o mesmo emprego e desempenhem o mesmo serviço da mesma forma. Além disso, vale lembrar que muitas mulheres que trabalham não deixam de ser donas de casa. Isso significa que muitas mulheres têm dois empregos – um emprego formal, no mercado de trabalho, e o outro, informal e não remunerado – o emprego de cuidar do lar e da família. Tais responsabilidades fortalecem o papel subordinado da mulher na estrutura familiar. A boa notícia é que as diferenças de gênero quanto às responsabilidades domésticas são menores hoje do que eram uma geração atrás. A má notícia é que tais diferenças ainda são enormes.

Outro agente de socialização, a religião, também contribui para a estratificação de gênero. Muitas interpretações dos textos sagrados das principais religiões afirmam que as mulheres devem ser subservientes aos homens. Muitas famílias religiosas insistem que deve haver distinção entre o papel do homem e o da mulher na sociedade: ele deve trabalhar fora de casa e ela, cuidar do lar e da família.

Os meios de comunicação também reforçam as desigualdades e os estereótipos de gênero. Na maioria dos programas de televisão para crianças, os personagens principais são do sexo masculino. Os personagens da Disney servem como exemplo: o Mickey, o Pateta, o Pato Donald e os seus sobrinhos são todos do sexo masculino. A única personagem que pertence ao sexo feminino é a Minnie. Os principais papeis de programas de televisão para adultos também são dados a homens. Já os comerciais geralmente empregam mulheres, principalmente quando se trata de um produto que diz respeito ao lar. Nos comerciais que promovem produtos para o lar, como os de limpeza, frequentemente aparecem mulheres e raramente homens. Em programas de televisão, são geralmente os homens que fazem o papel do líder ou de um personagem muito inteligente.

As revistas masculinas e femininas também reforçam os estereótipos de gênero. A maioria das revistas para o público feminino estão repletas de fotos em que as mulheres são magras e lindas. A maioria das revistas femininas trata de assuntos como regimes e dietas, maquiagem e conselhos amorosos. Já as revistas para homens abordam assuntos como esportes, automóveis, conselhos profissionais, mas também publicam fotos de mulheres magras e lindas e, em alguns casos, seminuas ou nuas. Os artigos e as fotos que constam em revistas masculinas reforçam o conceito de que o papel principal da mulher é o de ser atraente e agradar aos homens e que os maiores objetivos que um homem deve ter na vida são o de ter sucesso profissional, conquistar as mulheres e ser destemido. O que é mais preocupante é a forma como as mulheres são retratadas em várias revistas para homens – como em revistas pornográficas.

O feminismo considera que a pornografia é um grave problema para as mulheres. Diferentemente de grupos religiosos, o feminismo se opõe à pornografia não por motivos religiosos ou morais, e sim, porque acredita que a pornografia é a objetivação sexual da mulher. O feminismo afirma que a pornografia até promove a violência sexual contra as mulheres, pois as retrata como objetos que existem apenas para satisfazer os desejos sexuais dos homens. Algumas feministas afirmam que a pornografia pode levar muitos homens a acreditar que a violência sexual contra mulheres é permissível. Isso evidentemente agrava a estratificação de gênero. O crescimento da indústria pornografia demonstra que a sociedade ainda tem um longo caminho a percorrer em direção à igualdade de gêneros. A pornografia é algo que deve preocupar qualquer sociedade que valorize a igualdade entre gêneros. Contudo, as sociedades livres não lutam para banir a pornografia, pois fazê-lo poderia significar uma violação da liberdade de expressão das pessoas.

Estratificação social e o homossexualismo

Gays e lésbicas sofrem abuso, maus-tratos e discriminação. Esse tipo de preconceito não faz parte da realidade de heterossexuais. A desigualdade de orientação sexual é um fenômeno bastante comum. Muitos adolescentes gays sofrem bullying e agressões verbais e físicas. Esse tipo de abuso causa a eles muita dor e, em alguns casos, leva até ao suicídio.

Em muitos países, gays e lésbicas podem perder seu emprego, serem presos ou até serem mortos devido à sua preferência sexual. Na maioria dos países, o casamento gay é proibido. Isso significa que casais do mesmo sexo não têm direito aos mesmo benefícios que a lei garante aos casais heterossexuais, como benefícios fiscais, direito de herança, seguro de vida para casais, etc. Além disso, diferentemente de um cônjuge heterossexual, um indivíduo envolvido em uma relação homossexual não pode tomar decisões médicas em relação a seu parceiro, caso este não possa se comunicar devido a alguma doença ou lesão traumática. 

Nas últimas décadas, gays e lésbicas lutaram contra o preconceito e a discriminação que sofrem devido à sua sexualidade. Eles tentam mudar as leis para que passem a ter os mesmos direitos que têm os casais heterossexuais. Também lutam contra a discriminação e o assédio sofrido por gays e lésbicas no mercado de trabalho e combatem a homofobia e a violência, tanto verbal quanto física, dirigida contra gays, lésbicas e bissexuais. Ao mesmo tempo, tentam influenciar o governo a educar a população sobre o homossexualismo e os homossexuais. Líderes que lutam em prol dos direitos de homossexuais e bissexuais alcançaram muitos de seus objetivos nos últimos anos, mas eles próprios admitem que longo é o caminho em direção à tolerância e à igualdade.

Machismo no Ambiente de Trabalho

Nas últimas décadas, o grande número de mulheres adentrou o mercado de trabalho. A maioria passou a trabalhar por motivos financeiros. Contudo, há mulheres que trabalham para aumentar sua autoestima e porque buscam a satisfação pessoal que advém do sentido de realização no trabalho.

Embora as mulheres tenham aumentado sua participação na força de trabalho, há segregação sexual no mercado de trabalho. O principal motivo disso é que a socialização afeta a carreira que homens e mulheres decidem seguir. Tanto os homens como as mulheres evitam empregos que sejam tradicionalmente identificados com o sexo oposto. De fato, alguns empregadores preferem contratar homens a mulheres e vice-versa. Por exemplo, poucas mulheres decidem se tornar policiais ou motoristas de caminhão, pois tais empregos são associados com o sexo masculino.

As mulheres estão longe de serem tratadas como os homens no mercado de trabalho. Na maioria dos casos, os empregos que recebem não são tão bem remunerados como os de homens. As mulheres representam apenas 25% dos administradores de grandes empresas. Mas isso não se deve apenas à discriminação. Muitas mulheres interrompem temporariamente sua carreira para ter filhos. E depois de terem filhos, muitas são obrigadas a passar mais tempo em casa e menos no trabalho. As responsabilidades de uma mãe podem prejudicar sua carreira profissional. Há uma maior probabilidade de uma mulher com filhos abandonar seu emprego do que uma mulher sem filhos.

Em geral, há sub-representação de mulheres nos cargos mais altos e bem remunerados: Docência Universitária, Direito, Engenheira e Medicina. Em contraste, há sobre-representação de mulheres em profissões não tão bem remuneradas: corpo docente de escolas públicas, enfermagem e secretariado.

As mulheres podem ocupar os mesmos cargos que os homens, mas elas costumam recebem salários significativamente mais baixos, mesmo que sejam mais qualificadas e tenham recebido uma educação melhor. As estatísticas revelam que as mulheres são pagas, em média, 60% ou menos do que os homens. Mesmo em um país relativamente progressista, como os Estados Unidos, as mulheres costumam receber apenas 77% do valor pago aos homens pelos mesmos serviços prestados. Os sociólogos tentam explica essa disparidade salarial: afirmam que a sociedade ainda considera que o homem é o principal responsável pelo sustento do lar: portanto, ele precisa ser mais bem pago que a mulher, cuja renda supostamente serve apenas para suplementar o que ganha seu marido. Independentemente de qualquer justificativa, isso é uma forma de discriminação. De fato, um dos principais objetivos do movimento feminista é a equiparação salarial entre os gêneros. 

O fato de as mulheres, em geral, serem pagas muito menos que os homens, significa que muitas famílias chefiadas por mulheres estão suscetíveis à pobreza. Isso é denominado feminização da pobreza. Esse fenômeno é uma das manifestações mais significantes da desigualdade de gênero no mundo. No Paquistão, por exemplo, a participação da mulher na sociedade é muito limitada: elas chegam a ganhar até 82% menos do que os homens.

Outro problema que as mulheres enfrentam no local de trabalho é o assédio sexual. O assédio sexual significa avanços sexuais não desejados e “favores sexuais” impostos pelo empregador ou superior como condição para se conseguir um emprego ou uma promoção. Tais avanços sexuais criam um ambiente intimidador e hostil para as mulheres. Alguns homens também sofrem assédio sexual, mas as mulheres são o principal alvo desse fenômeno, que é uma forma de violência e abuso contra a mulher.

O machismo na política

Os sociólogos apontam que muitas mulheres hesitam em adentrar o mundo da política porque acreditam que esta é uma profissão “masculina” e caracterizada pela corrupção. Além disso, muitas pessoas acreditam que mulheres que trabalham na política são esposas e mães ausentes. Por outro lado, se uma mulher eleita para um cargo político passar muito tempo cuidando de sua família, arrisca ser considerada uma servidora pública não dedicada. Os homens que entram na política não sofrem esse tipo de preconceito.

Os homens ainda controlam os partidos políticos, mas cresce o número de mulheres eleitas para exercer altos cargos políticos. Não obstante, as mulheres ainda ocupam poucos desses cargos. Portanto, ainda há uma enorme desigualdade de gênero na política.

Quando uma mulher se candidata a um cargo político, é provável que ela derrote um candidato masculino por motivos de credibilidade política. Isto é, as pessoas acreditam que, em geral, as mulheres são mais honestas e íntegras que os homens. As mulheres costumam receber o apoio de eleitores que dão muito valor aos programas sociais: assistência infantil (por exemplo, a construção e manutenção de creches), saúde pública, proteção ao meio ambiente e direito ao aborto. 

Mais mulheres estão se elegendo a cargos públicos, mas há ainda muita desigualdade de gênero na política.

O Feminismo

O movimento feminista alcançou importantes conquistas em relação a uma série de direitos: sufrágio, trabalho, remuneração, divórcio e proteção no caso de violência doméstica.

A história do movimento feminista é constituída por três grandes movimentos. O primeiro foi motivado pelas reivindicações por direitos democráticos: o direito ao voto, ao divórcio, a educação e ao trabalho. Isso ocorreu no final do século 19. O segundo movimento ocorreu apenas no final da década de 1960 e foi marcado pela liberação sexual – impulsionada pelos novos métodos contraceptivos. Já o terceiro movimento se iniciou no final da década de 1970, com a luta pela igualdade de trabalho. Hoje, os grupos feministas buscam avanços em relação aos direitos reprodutivos. Essa é uma luta que enfrenta alas conservadoras, inclusive no Brasil.

O primeiro país a reconhecer o direito das mulheres de votar foi a Nova Zelândia, em 1893. No Brasil, as mulheres conquistaram legalmente o direito ao voto em âmbito nacional apenas em 1932. Em 1934, Carlota Pereira Queiróz se tornou a primeira deputada brasileira.

Em 1932, a Assembleia Constituinte assegurou o princípio de igualdade entre os sexos: o direito ao voto, a regulamentação do trabalho feminino e a equiparação salarial entre os gêneros. Contudo, foram determinadas restrições para o exercício do direito do voto. Foi apenas a Constituição de 1946 que concedeu o direito pleno ao voto.

Grupos de mulheres reivindicam o direito ao aborto, e não apenas em caso de estupro ou risco de vida. A legalização do aborto, como um direito da mulher sobre seu corpo, é uma importante bandeira dos movimentos feministas no Brasil e em muitos outros países. Hoje, mais de 50 países – entre eles, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão e a China – permitem o aborto voluntário. No Brasil, desde 1940, o aborto foi legalizado apenas em caso de estupro ou quando há risco de vida para a mãe. Em 2012, o aborto foi legalizado para fetos com anencefalia. No entanto, mais de um milhão de abortos são realizados anualmente no Brasil.  A maioria é ilegal, realizada em condições precárias. Em certos casos, tais abortos ilegais resultam em complicações e até na morte da mãe. A grande maioria das mulheres que recorrem a um aborto ilegal é jovem e pobre.

Violência contra a mulher

A maioria das vítimas de violência interpessoal – homicídio, assalto, roubo – são homens. Por outro lado, a maioria das vítimas de estupro e violência sexual são mulheres. Estas, muitos mais do que os homens, são exploradas pela pornografia – na Internet, em filmes e em revistas. As mulheres são também o principal alvo da violência doméstica. Geralmente é a esposa, e não o marido, que sofre abusos quando há conflitos violentos entre o casal. A violência contra a mulher é um exemplo extremo da desigualdade de gênero, que as mulheres enfrentam em outras áreas de sua vida.

Estudos demonstram que um terço das mulheres norte-americanas serão vítimas de estupro ou de algum tipo de violência sexual pelo menos uma vez em sua vida. A maioria das pessoas acredita que o estupro ocorre entre estranhos: um homem ataca uma mulher em um beco. Na realidade, a maioria dos estupros (60-80%) ocorre entre pessoas que se conhecem. São cometidos por maridos, ex-maridos, namorados e ex-namorados. Uma mulher é muito mais provável de ser estuprada por alguém que conheça do que por alguém que não conheça.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2012, foram registrados 50.617 casos de estupro no país, número superior ao de homicídios dolosos (47.136). Isso significa que todo dia, 138 vítimas relatam à polícia que foram estupradas. Além disso, há incontáveis casos que não são relatados – porque a vítima sente medo, vergonha ou culpa e porque acredita que o poder público não lida de forma adequada com tal crime.

A punição da violência contra a mulher é outra conquista que ainda precisa avançar muito. No Brasil, a questão ganhou força com a Lei Maria da Penha (2006), que garante proteção legal e policial às vítimas de agressão doméstica e aumenta a punição dos agressores. Tal lei também permite que qualquer pessoa informe às autoridades que uma mulher foi agredida: não é mais necessário que a própria vítima comunique que foi agredida. Assim, é possível relatar à polícia que uma mulher foi agredida mesmo que a vítima não deseje fazê-lo. Segundo dados do Governo Federal (2012), a cada cinco minutos, uma mulher é agredida no Brasil. Em 80% dos casos, o agressor é o marido, o companheiro ou o namorado.

Segunda uma pesquisa realizada em 2010 em 25 estados brasileiros pela Fundação Perseu Abramo, 11,5 milhões de mulheres no Brasil já sofreram tapas e empurrões. Além disso, 9,3 milhões já sofreram ameaças de violência física. Apesar dos avanços nas leis, há 4,4 assassinatos a cada 100 mil mulheres no Brasil. O Brasil é o sétimo país no ranking desse tipo de crime.

Em países com tradições culturais patriarcais, os direitos das mulheres ainda são pouco respeitados. Na Índia, por exemplo, os casos de estupro têm chamado a atenção do mundo, expondo tanto a frequência quanto a impunidade de crimes praticados contra a mulher. Outros países asiáticos também são perigosos para as mulheres. No Afeganistão, por exemplo, 80% das mulheres se casam contra a sua vontade. De fato, em todo o mundo, ainda há muito a ser feito para proteger a mulher e seus direitos.

Sumário

- Socialização e Gênero
- Estereótipos de gênero
- Estratificação social e gênero
- Estratificação social e o homossexualismo
- Machismo no Ambiente de Trabalho
- O machismo na política
- O Feminismo
- Violência contra a mulher