Conceito de liberalismo e as revoluções liberais 

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CONCEITO DE LIBERALISMO

Liberalismo é a ideologia burguesa do século XIX, com raízes no Iluminismo do século XVIII.

Essencialmente, consiste na defesa da liberdade, seja ela política, econômica ou intelectual; contrapõe-se, portanto, ao Antigo Regime, que se embasava no absolutismo, no mercantilismo (política econômica intervencionista) e na intolerância religiosa e intelectual.

Todavia, o liberalismo não se confundia com a democracia, à medida que as práticas liberais privilegiavam os burgueses, assim, o liberalismo político se apoiava no voto censitário, que excluía a participação do povo; o liberalismo econômico combatia a intervenção do Estado na economia e nas relações de trabalho, o que deixava o proletariado à mercê do poder econômico patronal; e o liberalismo intelectual não beneficiava as camadas inferiores, pois essas geralmente não tinham acesso à escola.

Apesar de ser visceralmente burguês, o liberalismo conseguiu durante algum tempo empolgar as massas urbanas, manipulando-as revolucionariamente. Foi o que ocorreu nas Revoluções Liberais de 1830 e 1848 - verdadeiras ondas revolucionárias que varreram a Europa, mas foram reprimidas em sua quase totalidade.

RESTAURAÇÃO EUROPEIA

O Congresso de Viena (1814/15) promoveu a Restauração Europeia, recolocando em seus tronos as dinastias destronadas pela Revolução Francesa ou por Napoleão e restabelecendo o absolutismo na Europa (exceções: Grã-Bretanha / monarquia parlamentarista; França / monarquia constitucional sob Luís XVIII; e Suíça / confederação republicana). Esse ensaio de volta ao Antigo Regime provocou a hostilidade da burguesia e do povo. Para assegurar a continuidade da Restauração, as três principais potências absolutistas (Áustria, Prússia e Rússia) organizaram a Santa Aliança que, aplicando o "Princípio de Intervenção", criado pelo chanceler austríaco Metternich, combateria os movimentos liberais. A Santa Aliança sufocou rebeliões antiabsolutistas em Nápoles e na Espanha, mas acabou desfazendo-se quando a Rússia, contrariando os princípios da organização apoiou a independência da Grécia contra a Turquia.

Revolução de 1830

O epicentro do movimento revolucionário foi a França, onde Carlos X (de tendências absolutistas e pertencente à Dinastia de Bourbon), sucedeu a seu irmão Luís XIII, que governara constitucionalmente. Em 1830, Carlos X, depois de iniciar a conquista da Argélia para granjear popularidade, dissolveu o Câmara dos Deputados, determinou a elevação do censo eleitoral (nível de renda exigido para se votar) e estabeleceu a censura à imprensa. Reagindo, a burguesia e o povo depuseram-no e colocaram no trono Luís Felipe I, da Dinastia de Orleans, o qual apresentava uma postura liberal. Com sua ascensão ao trono francês, a burguesia firmou sua supremacia na França.

A Revolução de 1830 repercutiu em outros países europeus, onde a seu caráter liberal uniu-se o sentimento nacionalista, assim, a Polônia tentou sem êxito libertar-se da Rússia e a Bélgica - apoiada pela Grã-Bretanha - conseguiu tornar-se independente da Holanda. Na Alemanha e na Itália, que se encontravam divididas em vários Estados independentes, houve também revoltas liberais, facilmente reprimidas pelos príncipes locais, que receberam o apoio da Áustria absolutista, ainda governada pelo chanceler Metternich.

Revolução de 1848

A Revolução de 1848 na França

Luís Felipe instaurou na França uma monarquia liberal, a partir de 1830, e promoveu o desenvolvimento econômico do país, através da industrialização. Seu principal sustentáculo era a burguesia. Mas, a partir de 1846, crises agrícolas e a saturação do mercado industrial interno provocaram a alta dos gêneros alimentícios, a retratação econômica e o desemprego. O governo de Luís Felipe, através do primeiro-ministro Guizot, reagiu ao descontentamento da burguesia e do povo adotando uma política de cerceamento às liberdades. Em fevereiro de 1848, uma revolução conduzida pela burguesia liberal, com o apoio dos socialistas utópicos, derrubou Luís Felipe e proclamou a II República Francesa (a Primeira República existiu de 1792 a 1804, durante a Revolução Francesa).

Formou-se um governo de coalizão liberal socialista, com predomínio da burguesia. A experiência socialista utópica das oficinas nacionais fracassou, provocando o fechamento das mesmas e a saída dos socialistas do governo. Em consequência, os socialistas tentaram uma insurreição armada, reprimida com violência. Nas eleições presidenciais que se seguiram, o vencedor foi Luís Napoleão Bonaparte que, em 1852, através de um golpe de Estado, transformou-se de presidente em imperador, com o nome de Napoleão III, dando início ao Segundo Império Francês (1852/70).

As Revoluções de 1848 na Europa

A queda de Luís Felipe na França suscitou na Europa uma onda revolucionária liberal e nacionalista, denominada Primavera dos Povos, devido a seu caráter efêmero. Ocorreram revoluções na Áustria (onde Metternich renunciou ao cargo de chanceler), nos Estados Alemães e Italianos, na Boêmia e Hungria. Na Alemanha, a Assembleia de Frankfurt tentou unificar o país dentro de um regime liberal, mas o rei da Prússia esmagou o movimento e manteve o absolutismo dos príncipes germânicos. Na Itália, a tentativa de unificá-la sob a forma republicana também fracassou. Na Áustria, apesar da demissão de Metternich, restaurou-se o absolutismo. Quanto à Boêmia (parte da atual Checoslováquia) e Hungria, que procuravam se emancipar da Áustria, esta reprimiu as revoltas militarmente, sendo que no esmagamento da rebelião húngara houve colaboração da Rússia.

Conclusão

As Revoluções de 1830 e 1848, lideradas pela burguesia, revelaram-se prematuras, não alcançando seus objetivos liberais e nacionalistas, com exceção da Bélgica. Na segunda metade do século XIX, porém, o avanço da industrialização com o consequente crescimento do proletariado e do movimento socialista levou reis absolutistas e a burguesia liberal a se unirem em defesa de seus interesses, dando origem a monarquias liberais mais ou menos inspiradas no modelo britânico. Exceções: a França (república liberal a partir da queda de Napoleão III, em 18780) e o Império Russo (que permaneceu absolutista).

TEORIAS SOCIALISTAS

Karl Marx
Karl Marx

Consideram-se socialistas as teorias surgidas a partir do século XIX que procuravam melhorar as condições do proletariado, cuja situação de miséria, no início da Revolução Industrial, era indescritível. Durante o século XIX, podem-se dividir as teorias socialistas em três categorias:

  • Socialismo utópico: foram as primeiras propostas para se melhorar a condição dos proletários, mas, como não enfocavam a questão social dentro do contexto geral do capitalismo industrial, tentaram soluções parciais, que na prática resultaram em insucesso. É o caso do inglês Owen (que criou uma comunidade cujos membros agiriam com base apenas em sua própria consciência) e dos franceses Fourier (criador dos falanstérios - fábricas controladas pelos próprios operários) e Louis Blanc (autor das oficinas nacionais, patrocinadas pelo Estado).

  • Socialismo científico: proposto por Karl Marx em seu Manifesto Comunista de 1848 e desenvolvido em obras posteriores, mediante colaboração com Friedrich Engels. Seu objetivo final é a implantação de uma sociedade igualitária mundial ("comunismo"), através da supressão de propriedade privada e da estrutura de classes, bem como pela eliminação do próprio Estado.

    Como etapas para se alcançar esse objetivo, haveria a revolução armada, a ditadura do proletariado, a construção do socialismo, a expansão mundial da revolução e a instauração do comunismo.

Observação:

No começo do século XX, o austríaco Eduard Bernstein reformulou o pensamento marxista, retirando-lhe o caráter revolucionário e ditatorial e criando a social-democracia, que pretende estabelecer a sociedade igualitária por um processo gradual, democrático e não violento.

  • Socialismo cristão: apresentado pelo papa Leão XIII na Encíclica Rerum Novarum (1891), sugere a harmonização entre o capital e o trabalho, com base na fraternidade cristã entre patrões e empregados.

A COMUNA DE PARIS

Deu-se o nome de Comuna de Paris à primeira insurreição comunista do mundo, inspirada diretamente pela Associação Internacional de Trabalhadores ("Primeira Internacional") criada por Marx em 1864. Aproveitando a desorganização que se seguiu à derrota da França diante da Prússia, os socialistas franceses desencadearam uma violenta revolta de operários, com o objetivo de tomar o poder. A rebelião foi, contudo, esmagada sangrentamente pelo Exército Francês, com o consentimento da Prússia, cujas forças ainda ocupavam a França. Assim, a burguesia francesa manteve-se no poder e os comunistas somente conseguiram um primeiro sucesso em 1917, com a Revolução da Rússia.

Observação:

Não confundir a Comuna de Paris de 1871 (insurreição comunista) com a Comuna de Paris da Revolução Francesa (órgão municipal revolucionário radical que agrupava os sans-culottes/camadas baixas urbanas e apoiava os montanheses ou jacobinos).

Sumário

- Conceito de Liberalismo
- Restauração Europeia
i. Revolução de 1830
ii. Revoluções de 1848
iii. Conclusão
- Teorias Socialistas
- A Comuna de Paris

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