Comportamento Coletivo e Movimentos Sociais
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Comportamento Coletivo e Movimentos Sociais
Movimento social é uma forma de comportamento coletivo.
Comportamento Coletivo
A ação coletiva não é sempre organizada, mas deve conseguir despertar o interesse de um número relativamente grande de pessoas. Comportamento coletivo significa comportamentos relativamente espontâneos e não estruturados, realizados por um grande número de indivíduos, que reagem a um determinado evento, problema ou situação.
As formas mais comuns de comportamento coletivo são: multidões, tumultos, pânicos, motins, comportamentos desastrosos, boatos, histeria coletiva e febres de moda. Alguns desses tipos de comportamento – multidões, tumultos e comportamentos desastrosos – envolvem pessoas que geralmente se encontram na presença de outras e que, de alguma forma, estão interagindo. São as chamadas coletividades localizadas. Outras formas de comportamento coletivo – rumores, histeria coletiva, pânicos morais e febres de moda – envolvem pessoas que não necessariamente se encontram na presença de outras. Podem estar até em países diferentes. Contudo, compartilham certas crenças e interesses. Alguns exemplos de comportamento coletivo são: uma multidão que torce para um time durante um jogo de futebol, um grupo de pessoas que se agrega para assistir a um discurso público ou o interesse coletivo de pessoas por um produto recém-lançado.
Uma multidão é um grande número de pessoas que se junta e que reage simultaneamente a um evento ou fenômeno. Por exemplo, uma multidão pode se juntar para assistir a uma passeata. Há várias teorias sobre o comportamento de multidões. Elas serão abordadas nesta aula.
Um tumulto é uma eclosão de violência, relativamente espontânea, que envolve um grande número de pessoas. Houve tumultos no Brasil após a seleção de futebol ter sido derrotada pela Alemanha por 7 a 1 na Copa de 2014. Multidões queimaram ônibus e cometeram atos de vandalismo em várias cidades do país.
O comportamento frente aos desastres significa a forma como as pessoas se comportam durante e após um desastre. Por exemplo, após um desastre natural, muitas pessoas podem ir às ruas para auxiliar as vítimas.
Rumores, histeria em massa e pânicos morais costumam ser causadas por crenças e percepções falsas e pela distorção da verdade. Um rumor é uma história baseada em fontes não confiáveis, que é transmitida de uma pessoa a outra. Na maioria dos casos, um rumor é uma mentira ou, no mínimo, um exagero. Fofocas são rumores a respeito de certos indivíduos e geralmente dizem respeito à sua vida pessoal. As celebridades costumam ser as maiores vítimas de rumores e fofocas.
Histeria coletiva refere-se ao medo intenso e generalizado a respeito de um falso perigo. Vale notar que tal fenômeno é raro.
Em Sociologia, pânico moral é um conceito semelhante ao de histeria em massa. Pânico moral significa ansiedade generalizada sobre uma suposta ameaça à ordem moral, que é falsa ou exagerada. Tal fenômeno ocorre quando um grande número de pessoas acredita que há um grande mal ameaçando o bem-estar da sociedade. Esse temor costuma ser infundamentado ou exagerado: as pessoas reagem de forma desproporcional a algum perigo ou problema. Por exemplo, na década de 1960, havia preocupação nos Estados Unidos de que a música rock levaria à perda da moralidade e à promiscuidade.
Um modismo é uma atividade relativamente insignificante ou um produto que se torna popular por um certo período de tempo. Já uma mania é uma atividade temporária que atrai o entusiasmo obsessivo por parte de um grupo relativamente pequeno de pessoas.
Teorias de Comportamento Coletivo
Várias teorias foram apresentadas pela Sociologia para explicar o comportamento coletivo, particularmente suas manifestações violentas.
As multidões se tornaram um fenômeno do dia a dia. Estão presentes em eventos esportivos, em shows de música, em shopping centers e em parques de diversão. O comportamento de multidões é o modo como as pessoas que formam uma multidão se comportam. Várias teorias explicam o comportamento de multidões: a Teoria do Contágio, a Teoria da Convergência e a Teoria da Norma Emergente.
A Teoria do Contágio afirma que as multidões influenciam as pessoas a agirem de certa forma – que exercem algum tipo de influência hipnótica sobre as pessoas que delas fazem parte. Tal influência hipnótica agregada ao sentimento de anonimato – pelo fato de estar na presença de muitas pessoas – pode levar o indivíduo a agir de forma irracional e demasiadamente emotiva.
Como estudamos acima, a Teoria do Contágio afirma que as multidões levam as pessoas a agirem de certa maneira. A Teoria da Convergência afirma o inverso. De acordo com essa teoria, as pessoas que desejam agir de certa forma se juntam para formar multidões. Assim, o comportamento de uma multidão reflete as crenças e intenções que indivíduos compartilham antes de se juntarem a ela.
A Teoria da Norma Emergente afirma que as pessoas não sabem exatamente como agir quando começam a se envolver em atos de comportamento coletivo. Aos poucos, definem sua forma de comportamento, que é guiado pela ordem social e pela racionalidade.
Movimentos Sociais
Movimentos Sociais são uma das principais formas de comportamento coletivo.
Embora fatores como a tecnologia, a população, o ambiente e a desigualdade racial possam causar mudanças sociais, é apenas quando os membros de uma sociedade se organizam que uma verdadeira mudança social pode ocorrer. Um movimento social pode ser definido como um esforço coletivo e organizado para promover ou impedir mudanças.
Movimentos sociais são respostas organizadas à uma situação social, econômica ou política. Grupos que se sentem excluídos e injustiçados e que não têm acesso aos canais de poder organizam movimentos sociais para buscar soluções satisfatórias às suas reivindicações.
O objetivo de um movimento social é promover mudanças nos valores, normas e ideologias de um sistema em existência. Tais mudanças podem ser parciais ou totais. Um elemento importante de movimentos sociais, que os distinguem de outros comportamentos coletivos, é que possuem uma ideologia.
Um movimento social é organizado: pode utilizar meios violentos ou pacíficos, democráticos ou autoritários, para alcançar seus objetivos. Os movimentos sociais têm um ciclo de existência: origem, maturidade e culminância.
Movimentos sociais podem afetar valores e crenças e podem até mesmo influenciar a cultura de um país: a música, a literatura e até a moda. Normas de comportamento se desenvolvem à medida que as pessoas se tornam parte de um movimento social. O movimento pode exigir que seus membros se vistam de certa forma, boicotem certos produtos, paguem taxas, participem de passeatas ou comícios, recrutem novos membros, etc.
Para que um movimento social tenha sucesso, seus líderes precisam conscientizar seus seguidores de que estes estão sendo oprimidos. Por exemplo, durante os anos 1960 e 1970, as líderes feministas convenceram as mulheres de que elas estavam sofrendo discriminação no mercado de trabalho, em instituições educacionais e mesmo no lar.
Independentemente de onde ocorram, movimentos sociais podem influenciar uma sociedade de forma drástica. Quando indivíduos e grupos de pessoas – ativistas de direitos civis e outros visionários, por exemplo – rompem os limites tradicionais, podem causar grandes mudanças nas políticas e estruturas sociais. Mesmo quando os objetivos de um movimento social não são alcançados, eles afetam a opinião pública. Em certos casos, mudar a forma como as pessoas pensam sobre certos assuntos é um processo gradual.
As pessoas estão mais dispostas a participar de movimentos sociais quando são incentivadas a fazê-lo por amigos, conhecidos e familiares. Esse processo de recrutamento é necessário para a existência de um movimento social, pois a maioria deles não consegue ter sucesso se não conseguir atrair um número suficiente de pessoas.
Na era moderna, movimentos sociais utilizam meios eletrônicos e tecnológicos para recrutar pessoas e para coordenar e divulgar suas atividades.
Os cientistas sociais demonstram grande interesse em estudar os motivos que levam ao surgimento de movimentos sociais. O que faz com que as pessoas se organizem e lutem por mudanças? Os sociólogos desenvolveram duas teorias para explicar por que as pessoas se mobilizar para promover mudanças: privação relativa e mobilização de recursos.
Privação Relativa
Quando membros de uma sociedade estão insatisfeitos ou frustrados com sua situação social, econômica ou política, eles anseiam por mudanças. Privação relativa refere-se à percepção negativa e ao descontentamento que surge porque um grupo de pessoas acredita que foi privada de seus direitos. Privação relativa ocorre quando as pessoas sentem que não receberam a sua parte justa – que outras pessoas foram beneficiadas e elas, não. Exemplificando: uma família de classe média pode sentir privação relativa quando compara sua qualidade de vida a de uma família de classe alta.
Para que o descontentamento social se torne um movimento social, é necessário que os membros da sociedade sintam que merecem mais: mais riqueza, poder ou influência. É necessário também que as pessoas insatisfeitas cheguem à conclusão de que não conseguirão atingir seus objetivos por meios convencionais, mesmo que, na realidade, isso seja possível. Para promover mudanças, o grupo insatisfeito cogitará organizar um movimento social se acreditar que a ação coletiva ajudará a sua causa.
Há várias críticas em relação à teoria de privação relativa. Em primeiro lugar, alguns sociólogos apontam que sentimentos de privação não necessariamente levam as pessoas a agir. Ao mesmo tempo, as pessoas não precisam sentir privação para agir. Além disso, essa teoria não responde à seguinte pergunta: por que são apenas algumas percepções de privação que levam as pessoas a agir? O descontentamento pode ser um elemento fundamental de movimentos sociais e comportamento coletivo, mas não é sempre que leva à ação. Por exemplo, muitas pessoas acreditam que os motins ocorrem em prisões brasileiros devido às terríveis condições de vida. Contudo, há prisões em que os presos vivem de forma subumana e, mesmo assim, não há motins.
Mobilização de recursos
Mobilização de recursos significa a forma como movimentos sociais mobilizam os recursos da população – dinheiro, tempo, influência, etc. – e os utilizam para tomar ações políticas eficazes. A eficácia e sucesso de um movimento depende muito de quão bem seus recursos são utilizados.
Os membros de um movimento social geralmente seguem um líder carismático, que mobiliza as pessoas em prol de uma causa. Contudo, quando o líder perde carisma ou é substituído por uma pessoa menos carismática, o movimento social pode entrar em colapso. Outros movimentos que não dependem do carisma de um líder – movimentos democráticos, por exemplo – geralmente duram mais tempo, pois são mais bem organizados.
Os críticos afirmam que tal teoria não leva em conta como as forças de oposição e resistência influenciam as ações e a direção tomadas por movimentos sociais.
Teoria da oportunidade política
De acordo com a teoria da oportunidade política, há mais chance de um movimento social surgir e ter sucesso se o governo contra quem protesta está enfraquecido. Movimentos sociais surgem quando um governo repressivo se torna mais democrático ou é enfraquecido graças a uma crise – financeira, política, etc. Quando surgem tais situações, pessoas descontentes percebem que há mais chance de uma ação política ser bem sucedida. Isso as convence a agir.
Tipos de movimentos sociais
Os sociólogos identificam vários tipos de movimentos sociais, cada um de acordo com sua natureza e com o grau de mudanças que busca.
Movimentos reformistas são organizados para realizar reformas em certas áreas do governo. Esses movimentos buscam mudanças limitadas, porém significantes, em certos aspectos do sistema político, econômico ou social de um país. Exemplos: o movimento abolicionista, o movimento feminista, o movimento em prol dos direitos de gays e o movimento em prol do ambiente.
Movimentos revolucionários, por outro lado, objetivam mais do que apenas mudar certos aspectos de um sistema. Os líderes de tais movimentos expressam sua extrema insatisfação com a ordem social e buscam mudanças radicais. Eles lutam para mudar toda a estrutura existente e para derrubar o governo. Objetivam criar um novo tipo de governo e, em alguns casos, até a mudar o modo de vida do povo. Movimentos revolucionários geralmente empregam violência, cedo ou tarde. Exemplos: a Reforma Protestante e a Revolução Comunista na China, Rússia e Cuba.
Outro tipo de movimento político é o movimento reacionário ou regressivo. Tais movimentos visam a reverter mudanças sociais. Eles destacam a importância e a grandeza de valores tradicionais, ideologias e instituições. Também criticam mudanças sociais que ocorreram rapidamente. O movimento contra o aborto serve como exemplo de um movimento reacionário. Surgiu nos Estados Unidos após a Suprema Corte legalizar a maioria dos abortos, por meio do precedente Roe vs. Wade, ocorrido em 1973. O movimento contra o aborto busca limitar ou até proibir tal prática nos Estados Unidos.
Dois outros tipos de movimentos são os de autoajuda e os religiosos. Participam de movimentos de autoajuda pessoas que tentam melhorar certos aspectos de sua vida pessoal. Exemplos de tais movimentos são o Alcoólatras Anônimos e os Vigilantes do Peso. Movimentos religiosos visam a fortalecer as crenças religiosas de seus membros e a converter pessoas para a sua fé.
O impacto dos movimentos sociais
Há muitos exemplos de mudanças profundas ocorridas ao longo da história graças a movimentos sociais. O movimento abolicionista expôs os males da escravidão e fomentou a aversão do povo a tal prática. Os movimentos em prol dos direitos trabalhistas obtiveram benefícios como o salário mínimo, o direito a férias pagas, o direito a um ambiente seguro de trabalho, o direito de greve, etc.
Nos Estados Unidos, o movimento em prol dos direitos civis dos anos 1950 e 1960 pôs um fim à segregação racial na Região Sul do país. O movimento contra a Guerra do Vietnã dos anos 1960 e 1970 fomentou a oposição pública à guerra, que levou ao fim do conflito.
Tanto o movimento feminista contemporâneo como o movimento em prol dos gays obtiveram conquistas para mulheres e gays, respectivamente. Por exemplo, o movimento pelos direitos dos gays obteve vitórias legais, políticas e culturais: em vários países, como no Brasil, o casamento gay foi legalizado. Outro movimento contemporâneo é o ecológico, que também obteve conquistas: o governo passou medidas para reduzir os diversos tipos de poluição.
Por outro lado, movimentos fundamentalistas religiosos estão crescendo em todo o mundo. Esse fenômeno é uma reação às grandes mudanças culturais.
Movimentos sociais no Brasil
Atualmente, os principais movimentos sociais no Brasil são o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST), o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MSTS) e os movimentos em defesa das mulheres, dos negros, dos índios, dos homossexuais e da natureza.
Nas últimas décadas, vários movimentos sociais impactaram o Brasil de forma significativa. Em certos casos, chegaram a mudar a história do país. Exemplos: o movimento “Diretas Já” (1984), o movimento dos “Caras Pintadas” (1992) e os protestos ocorridos em 2013.
Diretas Já
Em 1984, a sociedade brasileira mobilizou grande parte do país para exigir eleições diretas para a presidência da República. O Brasil se envolveu na campanha das Diretas Já! Milhões de pessoas se manifestaram em praças públicas e promoveram uma das maiores campanhas cívicas na história brasileira. Exigiram que o Congresso aprovasse a emenda instituindo a eleição direta para a presidência da República.
No dia 25 de abril de 1984, foi votada a emenda constitucional das eleições diretas. Para a desilusão do povo brasileiro, não foi aprovada. As eleições diretas para a presidência da República ocorreram apenas em 1989, após ser instituída pela Constituição de 1988.
Os "Caras Pintadas"
Em 1992, uma campanha tomou as ruas do Brasil para exigir o afastamento de Fernando Collor de Melo do cargo de Presidente da República. Collor havia sido acusado de corrupção. Os “Caras Pintadas” – estudantes secundaristas e universitários que foram às ruas com os rostos pintados de verde e amarelo – realizaram grandes manifestações exigindo o impeachment do Presidente.
Pressionado pela opinião pública, o Congresso Nacional, em uma sessão histórica ocorrida no dia 29 de setembro de 1992, determinou que o Presidente Collor deveria ser afastado até que as acusações contra ele fossem devidamente investigadas. Isolado politicamente e incapaz de provar sua inocência, Fernando Collor de Melo renunciou no dia 30 de dezembro de 1992. Pela primeira vez na história do Brasil, um Presidente da República, por meio de um processo democrático, teve seus direitos políticos suspensos por oito anos.
As Manifestações de 2013
As manifestações de 2013 – as maiores do Brasil nas últimas décadas – ocorreram em centenas de cidades brasileiras. As manifestações se iniciaram no dia 6 de junho, graças aos altos valores das passagens dos transportes públicos. Os protestos se tornaram mais abrangentes: os brasileiros passaram a se manifestar publicamente para exigir um país com uma qualidade de vida melhor, principalmente nos setores de Educação e Saúde. O povo exigiu também o fim da violência policial e da corrupção e a apuração dos gastos das obras da Copa do Mundo. O slogan, “Não é pelos 20 centavos” transmitiu a ideia de que os protestos não mais se tratavam apenas do valor a mais que passou a ser cobrado pelas passagens dos transportes públicos. Os protestos haviam se ampliado. Diariamente, milhares de pessoas se manifestaram pelas ruas do Brasil, exigindo um país melhor. O ponto máximo da onda de manifestações foi a tomada da parte externa do Congresso Nacional, em Brasília. Isso ocorreu na noite do dia 17 de junho de 2013. A imagem dos manifestantes com bandeiras e faixas no teto do Congresso Nacional se tornou uma das cenas mais simbólicas das manifestações de 2013.
Manifestacao contra a PEC- junho 2013
A maioria das pessoas que participaram das manifestações de 2013 eram jovens estudantes, sem qualquer afiliação partidária ou política. Inicialmente, os protestos eram pacíficos. Contudo, vários deles resultaram em atos de violência e vandalismo.
Para conter os protestos, o governo federal anunciou cinco medidas para atender algumas das demandas dos movimentos sociais. Tais medidas tratam de responsabilidade fiscal, reforma política, mobilidade, saúde e educação. Infelizmente, pouco do que foi prometido pelo governo foi cumprido.
O Facebook e a Internet tiveram um papel importante nas manifestações de 2013, pois mais de 80% das pessoas souberam das manifestações por meio da rede social.
Sumário
- Comportamento Coletivo- Teorias de Comportamento Coletivo
- Movimentos Sociais
i. Privação Relativa
ii. Mobilização de recursos
- Teoria da oportunidade política
- Tipos de movimentos sociais
- O impacto dos movimentos sociais
- Movimentos sociais no Brasil
i. Diretas Já
ii. Os "Caras Pintadas"
iii. As Manifestações de 2013
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