Comportamento Animal

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Comportamento Animal

Nenhum animal vive só. Todos entram em contato com outros animais em sua vida. O albatroz, a mais solitária das criaturas, o qual passa a maior parte da sua vida em alto-mar, retorna periodicamente para a companhia de seus semelhantes para se reproduzir. Mesmo animais cujas necessidades reprodutoras podem ser satisfeitas sem parceiro, como a ameba que se divide por bipartição, a hidra que brota (brotamento), o caracol hermafrodita, ou o afídeo partenogenético.

Assim, poucos animais são solitários. Muitos são reunidos em associações temporárias, flutuantes, pelas mudanças nas condições do ambiente, em locais como o lado protegido de uma pedra em um riacho, em um tronco apodrecido na mata, em uma lagoa no deserto, ou em uma carcaça no campo. Alguns são reunidos em comunidades mais uniformes, como os cardumes de peixes ou os bandos de aves; outros vivem em colônias altamente organizadas, como formigas e abelhas, ou se apresentam tão intimamente associados, como os corais, que é impossível separar o indivíduo da colônia.

Não importando a proximidade com a qual os animais se associam, suas relações são profundamente diferentes de agregações de entidades destituídas de vida, como as moléculas. Embora os movimentos de um bando de aves ou de formigas talvez possam ser analisados nos mesmos termos matemáticos aplicados ao movimento browniano das moléculas, os dois são fundamentalmente diferentes e a diferença não é apenas um problema de complexidade. As ações dos animais são dirigidas para a conservação de sua vida e a capacitá-los a se reproduzirem. Assim, a continuação da existência de um organismo e de uma espécie depende da efetividade das ações do indivíduo. Isto não é verdadeiro com relação às moléculas. A ação dirigida de organismos entre si é um aspecto do comportamento animal.

A sobrevivência também depende da manutenção de relações apropriadas com o ambiente. O pardal arrepia as suas penas quando faz frio, o gafanhoto orienta seu corpo na direção do Sol quando o tempo está quente, o morcego hiberna no inverno, a andorinha voa para o Sul. Esta relação adaptativa entre um organismo e seu ambiente também é comportamento.

A afirmativa de que um organismo mantém relações com seu ambiente, seja vivo ou não, implica que um organismo mude em resposta a mudanças do ambiente. Estas mudanças, que chamamos comportamento, não são passivas; são ações dirigidas, isto é, ações que promovem a sobrevivência e são reversíveis. Quando um carvalho se dobra e se debate ao vento, é uma coisa passiva. Quando uma planta parasita como o cipó-chumbo ( Cuscuta ) cresce e se enrola ao redor de uma outra planta, ela faz isso por movimentos de crescimento que são irreversíveis. Em contraste, o comportamento dos animais é ativo e reversível.

A capacidade de responder a estímulos é chamada irritabilidade e é uma propriedade essencial da matéria viva. Repostas que não põem em risco a sobrevivência ou que promovem a sobrevivência dos jovens mesmo pondo em risco a sobrevivência do genitor são preservadas no curso do tempo; outras são perdidas. Na longa história do desenvolvimento dos órgãos e os órgãos em organismos, a propriedade das mudanças que se realizaram em cada célula individual, tecido ou órgão começou a ser medida, não apenas em termos de unidade individual, mas em termos das necessidades de sobrevivência do todo. A célula que respondeu de modo inadequado foi eliminada, como também o tecido ou o órgão deficiente. Em resumo, o curso da evolução da capacidade de resposta foi modelado pelas necessidades do indivíduo todo, agindo no seu ambiente. Como nenhum animal é capaz de se libertar completamente da sua herança, seu comportamento deve ser visto como inevitavelmente ligado à sua história evolutiva.

Fecundação

A citodiferenciação das células sexuais em elementos masculinos e femininos encontra seu último resultado no ato da fecundação. A união do espermatozoide com o óvulo restabelece a diploidia; a célula que daí resulta, ou célula-ovo, será a origem de um novo ser cujo desenvolvimento inicia quando estão terminados os fenômenos complexos da fecundação.

Os gametas provêm, em geral, de dois indivíduos diferentes pertencentes à mesma espécie. Fala-se, nesse caso, em uma espécie gonocórica. Existem, entretanto, animais onde os produtos sexuais masculinos e femininos coexistem. Trata-se de animais hermafroditas, tais como a lesma. A autofecundação só ocorre muito raramente.

A descoberta dos espermatozoides por Leuwenhoeck, contemporânea à dos protistas, data de 1677, desde o instante em que o uso do microscópio se generaliza. Um século depois, Spallanzani, por experiências convincentes com rãs, demonstrou que o desenvolvimento ulterior requer um contato indispensável dos espermatozoides com o óvulo. O verdadeiro significado da fecundação só foi entendido um século depois por Thuret ( 1854 ) no fuco, por O. Hertwig ( 1875) no ouriço-do-mar e por H. Fol ( 1876 ) na estrela-do-mar.

O fenômeno geral da fecundação apresenta dois aspectos fundamentais:

1. a ativação que permitirá ao ovo sair de sua inércia fisiológica. Ela se traduz por processos ainda não completamente interpretados, tais como a formação de uma membrana de fecundação, a modificação da camada cortical do ovo, modificações citoplasmáticas e a retomada de trocas respiratórias.

fecundação

2. a anfimixia ou fusão de dois pró-núcleos de sinais diferentes em um núcleo de fecundação onde coexistem os genes paternos.

anfimixia ou fusão de dois pró-núcleos

Apesar da presença de numerosos espermatozoides na hora da fecundação, somente um penetra no óvulo e realizará a anfimixia. Então, a monoespermia é regra geral. Entretanto, certos óvulos ricos em vitelo, tais como os dos insetos, dos urodelos e dos sauropsídeos, apresentam normalmente uma poliespermia, mas, em todos os casos, somente um gameta masculino será fecundante; os outros degenerarão no citoplasma ovular.

A causa mais simples que determina a monoespermia parece estar ligada à membrana de fecundação, que que formaria uma espécie de barreira natural contra a entrada de outros espermatozoides. O bloqueio dos espermatozoides realiza-se ao nível da zona cortical do óvulo.

Entre os animais aquáticos, a fecundação realiza-se mais frequentemente pela casualidade do encontro dos gametas masculinos e femininos na água. Entre os animais terrestres, os espermatozoides são introduzidos na fêmea no momento da cópula.

Entre as esponjas calcárias um gameta masculino é capturado por um coanócito - célula munida de colarinho -, que atapeta a cavidade gástrica. Através do coanócito, o gameta masculino é transportado para o óvulo que se encontra na parede mesenquimática; o ovo fica, então, com os dois pronúcleos.

Através do coanócito, o gameta masculino é transportado para o óvulo

Certos anelídeos poliquetos que vivem normalmente no fundo do mar - bentônicos - tornam-se nadadores no momento da reprodução. Os animais adultos agrupam-se na superfície da água em épocas determinadas, coincidindo exatamente com certas fases da Lua. O tubo digestivo reduz-se; a histólise dos músculos serve à maturação dos produtos genitais; as cerdas mais numerosas desenvolvem-se e adquirem a forma de remo; a cabaça alarga-se; os olhos aumentam.

Probabilidades de fecundação

As probabilidades de encontro entre o gameta masculino e o gameta feminino dependem de numerosos fatores. A maior probabilidade para os animais de fecundação externa é a emissão simultânea dos espermatozoides e dos óvulos; para os animais de fecundação interna, a da presença, nas vias femininas de espermatozoides, no momento da ovulação. Além disso, a duração da vida dos gametas e suas concentração são dois outros fatores essenciais.

Probabilidades de fecundação

No caso dos mamíferos, os espermatozoides inseminados nas vias femininas devem subir até a extremidade distal do oviduto - tuba uterina ou trompa de Falópio - onde encontra-se o óvulo ( ovócito II ) após a postura ovárica.

tuba uterina ou trompa de Falópio

Os espermatozoides devem subir desde a vagina ou desde o útero até o lugar da fecundação. A subida dos espermatozoides é um fenômeno frequentemente rápido; sua duração não necessita mais de que 15 minutos na rata ou no camundongo-fêmea. Em compensação, na vaca e na ovelha, só se encontram espermatozoides na parte superior das trompas de Falópio, oito horas após a cópula.

Dois fatores determinam a progressão dos espermatozoides: sua motilidade e o papel ativo das vias femininas. Em certos casos, a motilidade não pode por si só dar conta da rapidez da subida dos espermatozoides; na cadela, 25 segundos após a cópula, encontraram-se espermatozoides ao nível das tubas uterinas. Torna-se evidente que, neste prazo, os movimentos peristálticos do útero são importantes em relação à deslocação autônoma dos gametas masculinos. Na égua, encontrou-se uma pressão negativa na altura do útero, o que se traduz por uma atração muito rápida dos espermatozoides para a luz uterina. Mesmo na ovelha, espermatozoides mortos podem ser transportados passivamente para a parte superior dos ovidutos.

Os movimentos peristálticos do útero estão relacionados com a liberação de ocitocina - produzido pelo hipotálamo - através da neuro-hipófise, local de seu armazenamento. A descarga de ocitocina corresponde a um reflexo tato-hipotálamo-hipofisário determinado pela cópula.

utero - ovários

Salientamos a quantidade prodigiosa de espermatozoides emitidos no momento da cópula, entre alguns mamíferos (no homem, no volume de 3,5 - 4,0 ml de sêmen ejaculado, encontram-se aproximadamente 400 milhões de espermatozoides). O número de espermatozoides observados no local da fecundação é sempre muito reduzido. Na coelha, há menos de 1.000 espermatozoides na trompa de Falópio, enquanto que em média 700 milhões são inseminados; na ovelha, de 36 a 350; às vezes, menos de 100 na rata, no camundongo-fêmea e no hamster. Após uma inseminação artificial de 200 milhões de espermatozoides mais ou menos, numa galinha, alguns milhares alcançarão o pavilhão.

A frequência de penetração dos espermatozoides no óvulo pode ser calculada na coelha. O bloqueio da poliespermia se faz unicamente na altura da membrana plasmática do óvulo, durante as horas que se seguem à fecundação. A membrana pelúcida deixa-se ainda atravessar. A probabilidade de encontro entre os dois gametas é de uma em cada dois minutos. O cálculo estatístico dá uma frequência de encontro em cada dez minutos para o caso da rata. A conclusão que se tira desse estudo é a de que as vias femininas têm como papel principal o de controlar o número de espermatozoides que chegam ao local da fecundação, o que diminui os riscos de poliespermia. O óvulo não é capaz de assegurar por mesmo a monoespermia, apesar dos invólucros e da reação cortical logo no impacto espermático. Entre os animais aquáticos, a enorme diluição dos espermatozoides no meio ambiente representa um fator não negligenciável que permite evitar a poliespermia.

A imensa maioria dos espermatozoides não atinge as vizinhanças do óvulo; são destruídos e fagocitados pelos leucócitos na altura da luz uterina. Austin ( 1957 ) contou cerca de 20 milhões de espermatozoides em 0,1 cm3 de mucosidade uterina de camundongo-fêmea de 2 a 6 horas após o acasalamento, e muito poucos leucócitos; 12 horas após o acasalamento, no mesmo volume de mucosidade, encontrou somente a metade de espermatozoides e 25 milhões de leucócitos; finalmente, 20 horas após o acasalamento, a mucosidade uterina eliminada, que contém um grande número de leucócitos, não contém mais espermatozoides vivos.

Os gametas masculinos retirados dos testículos de mamíferos permanecem imóveis. A motilidade é adquirida graças ao líquido seminal segregado pelas vias masculinas - vesícula seminal; próstata; glândulas bulbouretrais -, mas os espermatozoides no líquido seminal ainda não são fecundantes. A secreção das vias eliminadoras masculinas que permite a diluição dos espermatozoides traz certamente substâncias metabólicas e assegura o transporte nas vias femininas. Os gametas masculinos só se tornam fecundantes após uma permanência de várias horas nas vias genitais da fêmea. O espermatozoide no líquido seminal é maduro, mas não maturo. Esse termo significa que ele deve adquirir uma nova qualidade capaz de determinar a fecundação; assim ele se tornará maturo ou capacitado.

Sabe-se que os espermatozoides só chegam aos locais da fecundação após um certo tempo, variável segundo a espécie. Esse prazo é duplamente indispensável, primeiro para permitir a emissão dos óvulos, mas sobretudo para que os gametas masculinos adquiram seu estado fecundante. Assim, durante uma fecundação artificial, os espermatozoides tirados sem emissão tornam-se incapazes de fecundar o óvulo. É necessário retirá-los das vias genitais de uma fêmea previamente acasalada.

Da mesma forma, a introdução experimental de espermatozoides nas trompas de Falópio de uma coelha, com tempos variáveis em relação à ovulação, mostra que, mesmo que coincida com a postura ovárica, a fecundação não se produz. É necessário que os espermatozoides sejam introduzidos de 4 a 6 horas antes da ovulação para determinar sua fecundação. Se os espermatozoides introduzidos no momento ou depois da fecundação fossem tirados do útero de uma coelha, então se produziria a fecundação. Fica então provado que uma substância emitida pelas vias femininas determina a maturação dos espermatozoides.

No reino vegetal, a existência de um quimiotactismo assegurando a atração recíproca dos gametas foi demonstrada para as samambaias e para os musgos. O ácido L-málico determina a atração dos gametas de samambaia. Assim, quando um tubo capilar contendo esse ácido é mergulhado numa suspensão de anterozoides, estes cessam os movimentos desordenados, dirigem-se rapidamente para a fonte de ácido málico e acumulam-se na extremidade do tubo, onde a concentração é mais elevada. Os anterozoides de samambaia apresentam uma região sensorial, ao nível da cabeça ou da cauda, capaz de detectar o ácido L-málico.

Entre os metazoários o papel do quimiotactismo na atração dos gametas é bastante evidente. Entre os invertebrados, cinco grupos de substâncias intervêm, em graus diferentes, na aproximação dos gametas e no ato da fecundação: fertilizina ovular; antifertilizina ovular; antifertilizina espermática; agentes líticos espermáticos; substâncias emitidas pelos gametas de um sexo que induzem a emissão de gametas pelo animal do sexo oposto.

Sumário

- Comportamento Animal
- Fecundação
i. Probabilidades de fecundação

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