Estratificação Social

  • Home
  • Estratificação Social

Estratificação social

Toda sociedade estratifica seus membros. Algumas pessoas possuem mais posses e mais dos recursos que a sociedade valoriza.  Estratificação social descreve a forma como diferentes grupos de pessoas são colocados na sociedade. Em outras palavras, é o sistema hierárquico por meio do qual a sociedade categoriza seus membros.

Em uma sociedade estratificada, as vantagens e recursos – propriedade, poder e prestígio – são distribuídas de forma desigual. Geralmente, propriedade (riqueza), poder (influência) e prestígio (status) andam juntos. As pessoas são, portanto, categorizadas hierarquicamente de acordo com quanto possuem das vantagens e recursos da sociedade. O status das pessoas é frequentemente determinado pela forma como a sociedade é estratificada, de acordo com os seguintes fatores:

  • Riqueza e renda
  • Classe social
  • Etnia
  • Gênero (masculino ou feminino)
  • Status político
  • Religião

A estratificação da sociedade depende do tipo de sistema que vigora – aberto ou fechado. Em um sistema aberto, o status é obtido por meio de mérito e esforço. Isso é denominado meritocracia. Em um sistema fechado, o status é atribuído, não adquirido. Esse tipo de status depende de vários fatores: laços familiares (o sistema feudal na Idade Média), fatores políticos (sociedades comunistas), fatores étnicos (o regime do apartheid na África do Sul) e fatores religiosos (o sistema de castas na Índia).

Sistemas modernos de estratificação

Hoje, há três principais sistemas de estratificação: a escravidão, o sistema de castas e o sistema de classes sociais.

A escravidão

O sistema mais fechado é o de escravidão, ou seja, a posse de seres humanos. A escravidão foi um fenômeno bastante comum ao longo da história.

O maior exemplo desse tipo de sistema foi da escravidão dos negros nas Américas.

A escravidão dos negros é um dos capítulos mais tristes e vergonhosos na história humana. O tráfico e a subsequente escravidão de seres humanos ocorreram por motivos econômicos. O trabalho forçado e os maus-tratos resultaram no sofrimento e na morte de milhões de pessoas, covardemente escravizadas pelos europeus.

Em 1518, a Espanha oficializou o tráfico de escravos para as Américas. A partir de então, ao longo de quase quatro séculos, o tráfico de escravos cresceu continuamente. Os escravos africanos eram trazidos para as Américas. A maioria era obrigada a trabalhar nas minas e plantações; a minoria trabalhava como servos e artesãos. Quando o tráfico de escravos finalmente chegou ao fim, em meados do século XIX, havia de 10 a 12 milhões de escravos nas colônias europeias das Américas.

A escravidão ainda existe hoje: há aproximadamente 400 milhões de pessoas que vivem como escravos, apesar de leis que proíbem a escravidão. Na Mauritânia, no Sudão, em Gana e em Benin, a escravidão é praticada da mesma forma como era há 800 anos. Em outras partes do mundo – Bangladesh, Índia, Nepal e Paquistão – a escravidão por dívida é um fenômeno comum. Em alguns países na Ásia, a escravidão sexual – fenômeno em que meninas e moças são obrigadas a se prostituir – é comum.

O sistema de castas

O sistema de castas é um tipo de estratificação social fechada, que cria uma sociedade estática, destituída de mobilidade vertical. O sistema de castas apresenta as seguintes características: hereditariedade (a condição de cada indivíduo passa de pai para filho); endogamia (as pessoas só podem se casar com membros do mesmo grupo); predeterminação da profissão, dos hábitos alimentares e do vestuário dos indivíduos de cada grupo; e rituais de iniciação (o pai transmite para o filho os conhecimentos profissionais e os hábitos do grupo por meio de ritos fechados e envoltos em mistério).

Sistema de castas na Índia

Na Índia, o termo usado para casta é jati, que significa "nascimento" ou "tipo". De acordo com os textos sagrados hindus, cada indivíduo está predestinado a pertencer a uma casta. Cada casta está associada a certas profissões e possui suas próprias regras de conduta e de prática religiosa. Tais regras determinam com quem seus integrantes podem comer, com quem podem se associar e que tipo de trabalho podem realizar. Um membro de uma casta superior era proibido de se relacionar com alguém que pertencesse a uma casta inferior, a menos que se tratasse da execução de uma tarefa diária.

Na Índia, inicialmente, havia somente quatro castas: os brâmanes (nobreza e clero); os xátrias (militares); os vaixás (comerciantes, artesãos e camponeses) e os shudras (escravos). Com o passar do tempo, tais castas se subdividiram.

Na sociedade indiana sempre existiram os párias (os intocáveis), atualmente conhecidos como os harijans ou haridchans. Estes são condenados à total marginalidade: na melhor das hipóteses, permite-se que desempenhem trabalhos degradantes e mal remunerados. Infelizmente, apesar dos esforços do governo indiano para eliminar as castas, estas continuam a existir, pois determinações jurídicas institucionais não eliminam tradições arraigadas.

As regras complexas que controlavam o contato social entre as castas eram muito rígidas, mas a Constituição indiana, em vigor desde 1947, introduziu certas medidas para banir a discriminação. Contudo, não basta mudar a legislação para por fim às antigas divisões sociais e religiosas. O sistema de castas continua a exercer um papel importante, especialmente no interior do país.

O sistema de apartheid da África do Sul

Um país que costumava ter um sistema de castas é a África do Sul. O termo apartheid significa “segregação” ou “divisão” e se refere à total separação das raças que havia no país. Essa política foi posteriormente denominada "vida separada".

O regime racista da apartheid foi introduzido na África do Sul em 1948 e relegou os negros a uma casta muito inferior a dos brancos. Durante o apartheid, a maioria negra era subjugada pela minoria branca. Regras de segregação foram impostas: os negros eram proibidos de frequentar os mesmos locais públicos que os brancos, de estudar nas mesmas escolas, de morar nos mesmos bairros e de se casarem com brancos. Sob o regime do apartheid, os negros eram proibidos de votar. Com a exceção daqueles que eram empregados por brancos, os negros do país não podiam nem adentrar as áreas onde vivia a população branca. Os negros não podiam nem mesmo percorrer o país livremente.

A luta de Nelson Mandela e de outros líderes em prol da igualdade dos negros na África do Sul fez com o sistema de apartheid se tornasse ilegal. Contudo, ainda existe no país preconceito e discriminação contra a população negra.

Classe social

Muitas sociedades, inclusive todas as industriais, possuem um sistema de classes. Em tal sistema de estratificação, toda pessoa nasce já pertencendo a uma classe social, mas a possibilidade de ascensão ou queda é muito maior do que em sistemas de castas ou em sociedades escravistas. A ascensão ou queda social depende de vários fatores: esforço, conhecimentos, talentos, sorte, etc. Em tais sociedades, o indivíduo tem liberdade de escolha de carreira, não é forçado a se casar com ninguém e não é proibido de frequentar certos grupos sociais. O sistema de classes é mais aberto que os outros dois sistemas de estratificação. É o sistema que mais oferece mobilidade social vertical. De fato, a mobilidade social – a ascensão ou queda social – é uma das principais características do sistema de classes.

Classe social refere-se a um grupo de pessoas que compartilham níveis semelhantes de riqueza, influência e status.  Pode ser mensurada de forma objetiva ou subjetiva. O método objetivo classifica as pessoas de acordo com um ou mais dos seguintes critérios: profissão, nível educacional e/ou renda. O método subjetivo pergunta às pessoas a que classe elas acreditam que pertencem.

Destribuição de Renda

Em certas sociedades, a ascensão social é algo difícil de se alcançar.

A classe baixa

A classe baixa é tipicamente constituída por pessoas pobres, desempregadas e, em certos casos, desabrigadas. Muitas delas não completaram o Ensino Médio, não recebem assistência médica, não têm residência fixa, sofrem de insuficiência alimentar e estão sujeitas à violência. Quando conseguem um emprego, é geralmente braçal (não especializado). São mal pagas e suas perspectivas de progresso profissional são mínimas.

A classe média

A classe média é a do “sanduiche”. É constituída por pessoas que estão no meio da escada hierárquica social. A classe média é dividida em duas subclasses, cada uma de acordo com o nível de riqueza, educação e prestígio de seus membros. A classe média baixa é constituída por pessoas que possuem menos riqueza e cuja profissão não é bem paga. Por exemplo, professores e secretárias. A classe média alta é constituída por profissionais que são bem pagos por seus serviços: médicos, advogados, engenheiros e dentistas.

A classe alta

A classe alta é constituída por pessoas ricas. Vivem nos melhores bairros, frequentam a alta sociedade e mandam seus filhos para as melhores escolas. Geralmente, são pessoas com poder e influência. Pertencem à classe alta os grandes empresários, banqueiros e proprietários de terra.

Mobilidade Social

Ao estudar a estratificação de uma sociedade, os sociólogos buscam descobrir as formas como as pessoas se locomovem dentro do sistema de estratificação. Em outras palavras, há possibilidade de mobilidade social – de ascensão de nível social? Como um indivíduo pode melhorar sua posição social e econômica? O grau de possibilidade de ascensão social varia muito dependendo da sociedade.

Em sociedades onde há um sistema de castas ou escravidão, a mobilidade social é difícil ou até impossível. Em tais sistemas, a posição social é atribuída pela sociedade em vez de ser adquirida.

Por outro lado, em uma sociedade aberta em que haja um sistema de classes, há possibilidade de mobilidade social. As posições em tal sistema estratificado dependem mais de status atingido, como a educação, e menos de status atribuído, como o gênero. Por exemplo, nos Estados Unidos, a mobilidade social ocorre de forma mais fácil e frequente do que nos países africanos e latino-americanos. É o famoso American dream – a ideia de que o sistema social, econômico e político norte-americano faz com que o sucesso seja uma possibilidade para todas as pessoas que vivam nos Estados Unidos. De fato, a sociedade norte-americana enaltece a escalada social de pessoas que vivem no país.

A mobilidade social vertical é uma das medidas de desenvolvimento social de uma nação. Uma sociedade que não oferece mobilidade social vertical reproduz sua estrutura social: pouco oferece em termos de progresso social.

A sociedade se tornou mais aberta nos últimos anos, à medida que há mais mobilidade social vertical. Mais educação significa mais mobilidade social. A mais comum trajetória é a ascensão de pessoas que pertencem à classe baixa e que passam a pertencer à classe média.

Oportunidades de vida que contribuem para a mobilidade social são determinadas por fatores como classe social, gênero, educação, etnia, etc. Por exemplo, oportunidades dadas a mulheres e a minorias étnicas ajudam tais grupos sociais a ascender a escada social. Contudo, mulheres e minorias étnicas frequentemente se deparam com um “teto de vidro” no trabalho, devido à discriminação. Esse fenômeno pode ser explícito ou implícito.

Os grupos menos poderosos de uma sociedade são os que encontram mais dificuldades para emergir da pobreza. Algumas pessoas se encontram em situações de estagnação: por terem nascido pobres, não receberam a educação ou o treinamento necessário para conseguirem melhores oportunidades de vida. Não é dada a tais pessoas as ferramentas necessárias para que elas consigam emergir da pobreza. Ocorre, portanto, um ciclo vicioso.

Padrões de mobilidade social

Há diversos padrões de mobilidade social:

Mobilidade social horizontal significa que há movimento em uma mesma categoria social. Exemplificando: um professor que deixa de trabalhar em uma escola e passa a trabalhar em outra.

Mobilidade social vertical, por outro lado, significa o movimento de um nível social para outro. Um exemplo de mobilidade social ascendente é a promoção em ranking nas forças armadas. Por outro lado, ser demovido de uma posição seria um exemplo de mobilidade social descendente.

Mobilidade intrageneracional, também denominada mobilidade profissional, significa a mudança da posição social de um indivíduo, especialmente no mercado de trabalho. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém ascende a escada corporativa.

Mobilidade intergeneracional significa uma mudança em posição social que ocorre de uma geração a outra. Isso ocorre, por exemplo, quando alguém que pertence a uma família de baixa classe econômica consegue se formar em direito.

Mobilidade estrutural e individual

Mudanças profundas em uma sociedade podem permitir que um grande número de pessoas ascenda a escada social simultaneamente. Esse tipo de mobilidade é denominado mobilidade estrutural. Fenômenos como a industrialização, o crescimento e melhoria da educação e os avanços tecnológicos permitiram que muitas pessoas ascendessem de classe social no século XX. Os filhos passaram a ganhar mais que os pais.

Contudo, não é dada a todas as pessoas a oportunidade de mudar de classe social. Certas características – raça, etnia, gênero, profissão, nível de educação, local de residência, estado de saúde, etc. – determina a mobilidade individual. No Brasil, ao longo da história, menos oportunidades de mobilidade social foram dadas às minorias raciais, às mulheres e aos deficientes físicos.

Mobilidade social no Brasil

Na ultima década no Brasil, a expansão econômica, aliada a uma série de políticas sociais, possibilitou uma mobilidade social ascendente para determinados segmentos da população. Entre 2004 e 2010, aproximadamente 32 milhões de pessoas ascenderam à categoria de classe média e 19,3 milhões saíram da pobreza.

Ocorre no Brasil uma grande mudança social. Surgiu uma “nova classe média”, com poder de consumo. A classe média hoje é composta por aproximadamente 92 milhões de brasileiros, tornando o Brasil um país de classe média.

Ao analisar a transição na composição social da população brasileira, alguns analistas afirmam que a ascensão social de parte da classe trabalhadora é resultado de ações afirmativas e de políticas públicas do Estado brasileiro, como o Bolsa Família. Existe um interesse crescente em entender a nova tendência, que mudou a forma de enxergar a mobilidade social. No Brasil, ocorre um tipo de ascensão social diferente do que ocorre em países como os Estados Unidos. Nos Estados Unidos, a ascensão social é consequência de acesso à educação e a maiores oportunidades profissionais. No Brasil, por outro lado, a ascensão social ocorre por meio da ampliação das políticas sociais do Estado, e não por mudanças estruturais, como o maior acesso à educação e à tecnologia. Parece evidente, mas é necessário lembrar que a questão da inclusão social está, hoje, mais vinculada a uma relação de consumo do que a da cidadania conquistada.

Sumário

- Estratificação Social
- Sistemas modernos de estratificação
i. A escravidão
ii. O sistema de castas
iii. Sistema de castas na Índia
iv. O sistema de apartheid da África do Sul
v. Classe social
- Mobilidade Social
i. Padrões de mobilidade social
ii. Mobilidade estrutural e individual
iii. Mobilidade social no Brasil

Áreas exclusivas para assinantes