A Religião

A Religião

A religião é constituída por crenças e práticas relacionadas a assuntos sagrados e que visam a ajudar uma sociedade a compreender o significado e o propósito da vida. A religião busca responder a perguntas e a explicar o que é aparentemente inexplicável. A religião tenta explicar por que as coisas acontecem e desmistificar as ideias de nascimento e morte. A religião influencia a forma como as pessoas reagem aos ambientes onde vivem.

A religião sempre foi, e continua sendo, um elemento importante em praticamente toda sociedade. Há evidências de que mesmo as mais antigas sociedades possuíam símbolos religiosos e praticavam cerimônias religiosas. Evidentemente, o fato de que há diferentes religiões significa que há diferenças entre elas. Não obstante, a religião é um elemento fundamental da sociedade e da experiência humana.

As religiões cuja base é a existência de um único Deus é denominada monoteísta. As religiões que acreditam na existência de vários deuses são denominadas politeístas.

Os sociólogos estudam a religião tanto como um sistema de crenças como uma instituição social. Por ser um sistema de crenças, a religião influencia o que as pessoas acreditam e como elas enxergam o mundo. Como instituição social, a religião possui uma estrutura organizacional, fundamentada em crenças e praticas, e inclui a socialização de seus membros.

Sob a perspectiva sociológica, não importa a opinião das pessoas sobre a religião. O que é importante é conseguir estudar a religião de forma objetiva, por meio de seus contextos sociais e culturais.

Teorias sociológicas sobre a religião

Há muitas perspectivas sociológicas a respeito da religião. As ideias de Durkheim, Weber e Marx continuam a influenciar a Sociologia da religião.

O sociólogo Émile Durkheim definiu a religião como um sistema compartilhado de rituais e crenças que define o que é sagrado e o que é profano e que une uma comunidade de religiosos.

As obras de Émile Durkheim destacam as funções que a religião serve para a sociedade, independentemente de como é praticada ou de que crenças religiosas são adotadas pela sociedade. Isso é denominado teoria funcionalista. De acordo com Durkheim, a religião é uma força integrativa na sociedade porque tem o poder de influenciar crenças coletivas. A teoria funcionalista define a religião como servindo diversas funções para a sociedade: dá significado e propósito à vida; oferece às pessoas o sentimento de que elas pertencem a uma coletividade; fortalece a união e a estabilidade social; serve como um agente de controle social; promove o bem estar, tanto físico como psicológico; e motiva as pessoas a trabalhar para que haja mudanças sociais.

O sociólogo Max Weber enxergava a religião de forma diferente: como um apoio a outras instituições sociais. Weber acreditava que o sistema de crenças religiosas fornecia uma estrutura cultural que fomentava o desenvolvimento de outras instituições sociais, como a economia.

Durkheim e Weber estudavam as formas como a religião contribui para a coesão da sociedade. Já Karl Marx enxergava a religião como causa de conflitos e opressão na sociedade. Marx acreditava que a religião era o meio utilizado para oprimir as classes e promover a estratificação, pois os ensinamentos religiosos apoiam o conceito de hierarquia e da subordinação do homem às autoridades religiosas. Karl Marx declarou que a religião era o “ópio das massas”: que a religião, como uma droga, causa com as pessoas se satisfaçam com sua condição existente.

De acordo com a teoria do conflito, que foi influenciada pelas obras de Karl Marx, a religião pode fortalecer e promover a desigualdade e o conflito social. A teoria do conflito afirma que a religião ajuda a convencer os pobres a aceitar a sua condição de pobreza passivamente. Além disso, critica a religião por ser motivo de tanta hostilidade e violência entre pessoas e nações.

Tanto Max Weber como Karl Marx analisaram o papel e a influência que a religião exerce sobre as instituições, como a economia e a política.

A teoria da interação simbólica estuda o processo por meio do qual as pessoas se tornam religiosas. Essa teoria ajuda a explicar como a mesma religião pode ser interpretada de forma diferente por diferentes grupos ou em épocas diferentes ao longo da história. Em outras palavras, o contexto molda o significado da crença religiosa. Por meio dessa perspectiva, os textos religiosos não são a verdade, e sim, interpretações humanas. Assim, diferentes pessoas ou grupos podem interpretar a Bíblia de formas diferentes.

Essa perspectiva enfatiza as formas como os indivíduos interpretam suas experiências religiosas e afirma que crenças e práticas não são sagradas a menos que as pessoas as considerem como tal. A partir do momento que são consideradas sagradas, passam a ser especiais e significativas, dando significado à vida das pessoas.

As Tradições

Quando as famílias comparecem a serviços religiosos ou decoram seu lar para celebrar uma ocasião religiosa, estão ensinando seus filhos sobre sua religião e como esta é observada. As atividades e tradições religiosas unem pessoas de todo o mundo, tanto adultos como crianças, que seguem a mesma religião. Assim, as famílias ensinam aos filhos não apenas a sua cultura familiar, mas também, a cultura da sociedade como um todo.

Tipos de grupos religiosos

Os sociólogos classificam organizações religiosas em três categorias: igreja, seita e culto.

Define-se igreja como uma organização religiosa que é integrada à sociedade. Exemplo: a Igreja Católica.

Uma seita é um grupo relativamente pequeno, que se separa da sociedade como um todo por não concordar com algumas de suas normas e valores. Exemplo: Cientologia.

Um culto é um grupo religioso que não faz parte das normas culturais de uma sociedade. Na maioria dos casos, um culto gira em torno de um líder carismático. A denominação culto tem uma conotação negativa, mas vale lembrar que muitas religiões se iniciaram como tal. A maioria dos cultos não é violenta.

As maiores religiões do mundo

A maioria dos seres humanos segue uma das grandes religiões. São elas:

O Judaísmo

Judaísmo

O judaísmo é uma religião monoteísta que precedeu o cristianismo. Originou-se há aproximadamente quatro milênios, quando, de acordo com as tradições judaica, cristã e muçulmana, Deus se revelou ao profeta Abraão.

O fundamento do judaísmo é a Torá – constituída pelos livros que o cristianismo chama de Velho Testamento. O judaísmo também se baseia no Talmud, que é a explicação da Torá e de suas leis.

Os Dez Mandamentos, que constam na Bíblia, e todos os livros do Velho Testamento, foram originalmente escritos em hebraico e são a base das religiões judaica e cristã.

O Cristianismo

Cristianismo

O cristianismo, a religião com o maior número de adeptos no mundo (2.2 bilhões), originou-se do judaísmo. Jesus e seus discípulos eram todos judeus.

O cristianismo fundamenta-se na crença de que Jesus foi o filho de Deus e o redentor da humanidade.  A Bíblia cristã, conhecida como o Novo Testamento, é constituída tanto pela Bíblia hebraica (o Velho Testamento) como pelos livros adicionais que relatam a vida e os ensinamentos de Jesus e de seus seguidores.

O cristianismo compreende diversas igrejas. As três maiores são a Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa Oriental e a Igreja Protestante (Metodista, Presbiteriana, Episcopal e Batista).

O Islã

Islã - mesquita

Depois do cristianismo, a religião com o maior número de seguidores é o Islã. Os seguidores do islamismo são chamados de muçulmanos. Há aproximadamente 1.6 bilhão de muçulmanos no mundo.

O livro sagrado do islamismo é o Alcorão. A religião islâmica, que foi muito influenciada pelo judaísmo e pelo cristianismo, afirma que Deus revelou a verdade absoluta ao profeta Maomé (século 7). O islã acredita que Deus se revelou a Moisés e a Jesus, mas que Maomé foi o maior dos profetas.

Os muçulmanos têm cinco obrigações religiosas básicas chamadas de “os Cinco Pilares do Islã”. São cinco obrigações (arkan) fundamentais à fé islâmica e cuja realização é dever de todo muçulmano. Ei-las:

  1. Credo (chahada) - Aceitar e repetir todos os dias: "Não há outro Deus a não ser Deus e Maomé é o seu profeta”.
  2. Oração (salat) - Realizar cinco orações diárias, em horários predeterminados, com o rosto voltado para Meca.
  3. Caridade (zacat) - Os muçulmanos devem ser generosos com os necessitados.
  4. Jejum (saum) - Durante os 40 dias do mês de Ramadan – o nono mês do calendárioislâmico – é obrigado jejuar do nascer até o pôr do sol.
  5. Peregrinação à Meca (haj) - Ao menos uma vez na vida, todo muçulmano adulto que dispõe de meios financeiros deve realizar uma peregrinação à Meca, a cidade mais sagrada para o islamismo.

O Hinduísmo

O hinduísmo é a religião dominante na Índia. Crenças e rituais religiosos são os elementos principais da vida de cada hindu. O hinduísmo permite que cada hindu escolha sua forma de culto. Por esse motivo, essa religião se caracteriza por sua imensa diversidade e pela capacidade excepcional que tem demonstrado,através da história, de abranger novos modos de pensamento e de expressão religiosa.

Um dos pilares do hinduísmo é o conceito de carma, que é a sabedoria ou a saúde da alma eterna. O carma é o conjunto de todas as ações, boas ou más, cometidas por um ser humano em suas vidas passadas. O carma pode ser fortalecido por meio da prática de boas ações, mas é enfraquecido quando a pessoa comete uma maldade. Os hinduístas acreditam que o carma desempenha um papel fundamental no processo de reencarnação – o ciclo de renascimento contínuo em que se espera que a alma atinja perfeição espiritual. O estado de carma de cada pessoa é o que determina de que forma ela reencarnará.

O Budismo

A maioria dos budistas vive em países asiáticos: Japão, Tailândia, Camboja e Myanmar. Os budistas seguem os ensinamentos de Sidarta Gautama – um mestre espiritual que viveu no sexto século a.C. O budismo não acredita em um Deus único. Ensina que ao abrir mão da materialidade, o ser humano pode transcender a “ilusão” da vida e atingir a iluminação.

Muitos dos ensinamentos de Buda são similares às crenças hinduístas. Contudo, há algumas diferenças significantes. O budismo, por exemplo, não dá valor ao sistema de castas ou aos rituais brahmin.

O Buda acreditava na reencarnação, mas não a considerava necessária, afirmando que uma pessoa poderia chegar à iluminação durante uma só vida e, assim, escapar do ciclo de reencarnações, que é tão enfatizado no hinduísmo.

Algumas das mais importantes ideias do budismo foram apresentadas por Sidarta em um sermão que preparou após sua experiência abaixo de uma figueira. Ele revelou as Quatro Nobres Verdades do Budismo:

  1. Tristeza e sofrimento fazem parte da vida.
  2. As pessoas sofrem porque estão constantemente tentando adquirir coisas que não podem possuir.
  3. A maneira de escapar desse sofrimento é ignorar esses desejos frustrantes e alcançar o estado do "não desejar".
  4. Para alcançar tal estado, chamado de nirvana, as pessoas devem seguir um "padrão médio": não devem ter prazer demais nem de menos.

Secularização

Secularização significa o enfraquecimento da importância da religião em uma sociedade. É o processo por meio do qual as influências religiosas sobre o pensamento e o comportamento das pessoas são gradualmente reduzidas ou até mesmo eliminadas.

A religião exerce menor influência sobre a sociedade moderna do que exercia durante os séculos 17 e 18. Todavia, a religião ainda é uma força potente nos dias de hoje.

É difícil generalizar a respeito das causas e das consequências da secularização, pois estas são diversas e dependem de vários fatores (local, época, etc.). Os norte-americanos e os europeus associam a secularização ao progresso científico e tecnológico, que ajudou o homem a resolver muitas dúvidas e problemas.

A religião no Brasil

Graças à colonização portuguesa, a religião predominante no Brasil é a Católica Apostólica Romana. O catolicismo foi a religião oficial do país até o estado se tornar laico, por meio da Constituição Republicana de 1891. Apesar do predomínio do catolicismo no Brasil, o quadro de religiões no país mudou muito ao longo dos séculos. A combinação do catolicismo com cultos de origem indígena e africana legaram ao Brasil um panorama religioso sincrético.

A maioria das crenças seguidas pela população brasileira é cristã. Contudo, no Brasil há também judeus, muçulmanos, batistas, espíritas e membros de outras religiões. Há também um grande número de pessoas que seguem os cultos de origem africana, como a umbanda e o candomblé.

O Brasil ainda é o país mais católico do mundo. Contudo, o número de evangélicos no Brasil cresce muito. O Censo de 2010 do IBGE revelou que 86,8% da população do Brasil é cristã: 64,6% católica e 22,2% evangélica. Os principais motivos por que o número de evangélicos aumentou tanto no país são a ampliação de práticas missionárias e a mobilização dos meios de comunicação em massa por líderes de igrejas evangélicas.

tendência de crescimento das religiões

Conflitos religiosos

Um dos assuntos mais controversos da atualidade é a intolerância religiosa. A religião pode ser uma fonte de união e coesão social, mas, ao longo dos séculos, foi também motivo de guerras, tortura e perseguições.

Como afirma a teoria do conflito, a religião pode promover o conflito social. A história do mundo comprova que indivíduos, comunidades e nações estão dispostas a perseguir, matar e guerrear por motivos religiosos. Esse fenômeno se evidencia em certas partes do mundo: a Europa Central, o Oriente Médio, a África e a Irlanda do Norte. Desde a Antiguidade, minorias religiosas foram perseguidas. O exemplo mais terrível disso foi o Holocausto: o extermínio de mais de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Algumas minorias religiosas não são atacadas fisicamente, mas sofrem preconceito e discriminação. Por exemplo, após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, muitos muçulmanos que vivem nos Estados Unidos passaram a sofrer discriminação.

Um grave problema causado por uma instituição religiosa é o abuso sexual praticado por alguns membros da Igreja Católica. Nos últimos anos, foi revelado que muitas crianças foram sexualmente abusadas por padres católicos e por outros membros da Igreja Católica – nos Estados Unidos, no Canadá e em outros países. Existe provas de que a Igreja Católica estava ciente disso e pouco fez para pôr um fim ao abuso sexual de crianças. Isso mudou com a eleição do atual papa, Francisco.

O papa Francisco denunciou e condenou os abusos sexuais sofridos por crianças e adolescentes em todo o mundo por sacerdotes da Igreja Católica. O papa se encontrou com algumas vítimas e implorou seu perdão. Ele pediu “a promoção de medidas de proteção dos menores e ajuda aos que passaram por tais violências". O papa solicitou também "procedimentos para encontrar os culpados".

A Ascensão do Fundamentalismo

O antropólogo Lionel Caplan (1987) definiu o fundamentalismo da seguinte forma: é a crença na atemporalidade e universalidade das escrituras sagradas. O fundamentalismo prega uma aderência literal e inflexível à doutrina religiosa. Os fundamentalistas enfatizam a autoridade, a infalibilidade e a verdade atemporal das escrituras sagradas, que são consideradas o mapa da vida. Na linguagem do dia a dia, o termo fundamentalismo é utilizado para descrever vários grupos religiosos.

Os fundamentalistas enxergam a história humana como uma guerra cósmica entre o bem e o mal. Nesse conflito, o bem personifica os princípios contidos nas escrituras sagradas enquanto o mal é fruto das inúmeras digressões dos princípios religiosos. Para os fundamentalistas, a verdade não é relativa e não depende de época ou local. Muito pelo contrário: a verdade é imutável e a única forma de alcançá-la é por meio dos textos sagrados.

Para os fundamentalistas, não há lugar para atividades mundanas no dia a dia de uma pessoa. Isto é, os princípios religiosos determinam todos os aspectos da vida: assuntos familiares, o trabalho e mesmo as atividades cotidianas. Para o fundamentalista, a religião não se limita à igreja, à sinagoga ou à mesquita.
Em geral, os grupos fundamentalistas se opõem a tudo que possa contrariar suas opiniões e interpretações religiosas.

Toda religião pode possuir aderentes fundamentalistas. Os Talibãs do Afeganistão – um grupo muçulmano radical – exemplificam um grupo religioso fundamentalista.

Fundamentalismo Islâmico

Nas últimas décadas, o mundo presenciou o crescimento do fundamentalismo islâmico. Esse fenômeno se espalhou por muitos países islâmicos do Oriente Médio e da África. O fundamentalismo islâmico varia de país para país, mas é sempre definido pela ideia de que os sistemas políticos, econômicos e sociais falharam e que, portanto, os governos precisam adotar os fundamentos do islã.

Os fundamentalistas islâmicos acreditam que o Islã é a solução para tudo na vida: que a religião islâmica deve determinar a política, o funcionamento da sociedade e as leis do país. Os fundamentalistas acreditam que as sociedades islâmicas fracassam porque em vez de seguir o islã, adotaram os valores laicos e materialistas do Ocidente. Os fundamentalistas islâmicos acreditam que a influência ocidental é prejudicial ao islamismo e que a lei islâmica deve substituir as leis adotadas ou impostas pelo Ocidente. Alguns fundamentalistas empregam a violência para tentar promover mudanças; em alguns casos, invocam o conceito de jihad.

É importante distinguir entre o jihad político e o religioso. Muitos eruditos islâmicos explicam que o verdadeiro significado de jihad é “a constante luta de um muçulmano para que ele consiga conquistar seus instintos primários, seguir o caminho de Deus e pratica o bem na sociedade”. Contudo, outros eruditos afirmam que o jihad é utilizado por organizações radicais para atacar todos – muçulmanos ou não – que possam constituir um obstáculo aos seus objetivos.

Movimentos fundamentalistas surgiram em muitos países do Oriente Médio e da África no final do século XX e no começo do século XXI, ameaçando governos como o do Iraque, da Nigéria e da Arábia Saudita. Fundamentalistas islâmicos criticam o governo saudita por seus programas de modernização e por sua relação amigável com os Estados Unidos. Os grupos fundamentalistas também perpetuam atos de terrorismo contra o Ocidente e contra Israel, incluindo bombardeios, sequestros de pessoas e de aviões.

É importante enfatizar que a maioria dos muçulmanos não é fundamentalista. Eles condenam a violência e não compartilham da ideologia dos fundamentalistas. Aliás, a maioria dos muçulmanos teme o crescimento desse movimento radical.

Sumário

- Teorias sociológicas sobre a religião
- As Tradições
- Tipos de grupos religiosos
- As maiores religiões do mundo
i. O Judaísmo
ii. O Cristianismo
iii. O Islã
iv. O Hinduísmo
v. O Budismo
- Secularização
- A religião no Brasil
- Conflitos religiosos
- A Ascensão do Fundamentalismo
i. Fundamentalismo Islâmico

Áreas exclusivas para assinantes