A Família

A Família

A Sociologia da Família estuda, por meio de várias perspectivas sociológicas, a família como instituição e unidade de socialização. Os sociólogos estudam os fatores culturais que moldam a estrutura e os assuntos familiares. Por exemplo, estudam como o sexo, a idade, a raça e a etnia influenciam diferentes estruturas e práticas dentro da família. Os sociólogos estudam também as características demográficas de membros de famílias de diferentes culturas e como elas mudaram ao longo do tempo.

Sociologia da Família

A definição de família

Uma família é um grupo de duas ou mais pessoas relacionadas por “sangue”, casamento, adoção ou dedicação mútua: uns cuidam dos outros. De acordo com a Teoria Funcionalista, o propósito da família é a socialização das crianças – o que beneficia tanto os filhos como a sociedade em geral. Uma família geralmente fornece apoio e uma identidade social aos seus membros e regula a atividade e reprodução sexual entre as pessoas.

A instituição da família proporciona um sentimento de identidade e de pertencimento entre seus membros. Uma família transmite, de geração a geração, seus valores e sua cultura. Espera-se que os pais ensinem aos filhos a diferença entre certo e errado e que deem aos filhos um senso moral, denominado valores familiares. Ao aprender sobre sua herança cultural, as crianças adquirem um senso de pertencer a algo maior do que elas próprias. Ao ensinar seus filhos sobre sua cultura, as famílias a preservam.

Independentemente de cultura ou período histórico, nunca houve uma sociedade em que não houvesse algum tipo de estrutura familiar.

Há vários tipos de famílias dentro de uma sociedade. Eis alguns exemplos:

  • Nucleares
  • Extensas
  • Monoparentais
  • Gay/lésbica
  • Recompostas
  • Comunitárias

Família nuclear ou extensa

Em sociedades ocidentais, costuma-se pensar que uma família é constituída por um pai, uma mãe e seus filhos, que vivem juntos. Essa é a definição de uma família nuclear. Antes de as sociedades se modernizarem, as famílias costumavam ser constituídas por várias gerações de uma família extensa – avós, tios, tias, primos, etc. –, que viviam no mesmo lar, ou ao menos, no mesmo vilarejo. À medida que ocorreu a modernização, os jovens passaram a migrar para outros vilarejos ou cidades, em busca de mais e melhores oportunidades de trabalho. Assim, deixavam para trás seus pais e a avôs e se estabeleciam em outras cidades ou países, onde casavam e construíram sua própria família.

Uma família é também definida por seu padrão de autoridade. Em famílias patriarcais, o pai é a figura de autoridade da família, assim como em sociedades patriarcais, os homens têm poder sobre as mulheres. Ao longo da história humana, a maioria das sociedades e famílias foram patriarcais.

Em famílias matriarcais, a mãe é a figura de autoridade da família. Há algumas famílias matriarcais, em que a mãe exerce mais autoridade do que o pai.

Em famílias igualitárias, pais e mães exercem o mesmo grau de autoridade. Esse tipo de família tem se tornado mais comum no Brasil, nos Estados Unidos e em outros países ocidentais. Contudo, mesmo em tais países, o tipo de família mais comum é o patriarcal.

O casamento

O casamento é a base da vida familiar e existe em todas as culturas, com algumas variações:

  • Endogamia: casamento entre membros da mesma categoria, classe ou grupo.
  • Exogamia: casamento entre membros de diferentes categorias, classes ou grupos.
  • Monogamia: casamento entre um homem e uma mulher.
  • Poligamia: casamento entre um homem e mais de uma mulher.
  • Poliandria: casamento entre uma mulher e mais de um homem.

A endogamia é comum no Brasil. Segundo o IBGE 69,3% dos brasileiros escolhem parceiros da mesma cor ou raça. Esse fenômeno é mais comum entre brancos (74,5%), pardos (68,5%) e indígenas (65,0%).

No Brasil, a poligamia é proibida: a pena máxima é de três a seis anos. Contudo, há mais lugares no mundo onde a poligamia não é proibida. Na maioria desses países, é permitido o casamento de um homem com mais de uma mulher (poliginia), mas é proibido o casamento de uma mulher com mais de um homem (poliandria). A poliginia é autorizada pelo Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos. Portanto, tal prática é comum na maioria dos países em que essa fé é majoritária. Contudo, um homem muçulmano pode ser casar com mais de uma mulher apenas se tiver condições financeiras de sustentá-las.

Em algumas culturas, é comum que após o casamento, o casal viva no lar da família da esposa. Essa prática é denominada casamento matrilocal. A costume de o casal viver na casa da família do marido é denominada casamento patricolocal. Quando o casal vive em seu próprio lar, trata-se de um casamento neolocal.

O divórcio

Família

A família nuclear é constituída por um casal e seus filhos. É o tipo mais comum de família. Todavia, os sociólogos acreditam que esse tipo de família está sob ameaça, isto é, está sendo substituída por outros tipos de família.

Mudanças econômicas, sociais e legais mudaram o perfil das famílias. No passado, o divórcio era muito mal visto. Hoje, é um fenômeno comum, tanto no Brasil como em muitos outros países ao redor do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, 40-50% dos casais acabam se divorciando. No Brasil, a proporção de divorciados quase dobrou na última década. Segundo dados do IBGE de 2012, os casamentos no Brasil duram, em média, 15 anos.

Muitos fatores contribuíram para que a taxa de divórcio se multiplicasse por 10 no último século. Os valores religiosos se tornaram menos importante para muitas pessoas e a legislação passou a facilitar a obtenção de divórcios. No Brasil, a diminuição da burocracia para se obter o divórcio diminuiu consideravelmente. Hoje, é possível obter o divórcio com uma simples passagem pelo cartório.

O feminismo também exerceu sua influência ao alterar a percepção do que uma mulher deve esperar de um casamento. Ao mesmo tempo, a independência econômica das mulheres facilitou o processo de divórcio. Antigamente, a maioria das mulheres não trabalhava e dependia financeiramente do marido. Hoje, muitas mulheres trabalham e se sustentam e, portanto, não precisam permanecer casadas por motivos financeiros.

Hoje, muitas pessoas optam por terem filhos sem ter de fazer parte de uma família nuclear.

Famílias Alternativas

Alguns casais não se enquadram no modelo tradicional de casamento e família, constituído por pai, mãe e seus filhos. Houve um declínio da família nuclear e, consequentemente, a sociedade passou a aceitar outros tipos de família. As funções desempenhadas pela família nuclear passaram a ser realizadas por outros tipos de estruturas familiares. As consequências disso foram tanto positivas como negativas.

No Brasil e em muitos países pelo mundo, houve uma mudança estrutural dos grupos familiares. A cada dia, cresce o número de famílias alternativas.

Exemplos:

  • Famílias monoparentais (apenas um pai ou uma mãe)
  • Casais que vivem juntos, mas que nunca se casaram (nunca houve um casamento formal).
  • Famílias reconstituídas
  • Casal de gays ou lésbicas

Muitas famílias monoparentais eram famílias nucleares que se dissolveram, devido a divórcio ou separação ou, em alguns casos, ao falecimento de um dos pais. Nas últimas décadas, as famílias monoparentais se tornaram mais comuns, devido ao maior número de divórcios e ao fenômeno de filhos sendo gerados fora do casamento.

Há pessoas que não se casaram, mas que vivem com a pessoa com quem mantém um relacionamento romântico. Pouco mais de um terço dos brasileiros que vive algum tipo de união conjugal não formalizou o casamento, seja no civil, seja no religioso. A maioria da sociedade não mais considera que esse tipo de relação seja pecaminoso.

Graças ao fato de a taxa de divórcio ser alta, muitas pessoas se casam mais de uma vez. A sociedade está aprendendo a lidar com o desafio das famílias recompostas, constituídas por filhos de pais de mais de um casamento. No Brasil, segundo o Censo de 2010, há 27,4 milhões de casais com filhos: um sexto (16,3%) vive com filhos e enteados ou apenas com enteados. Esses casais formam o que édenominado famílias reconstituídas (recompostas).

Casais homossexuais

Uma pessoa que sente atração por membros do sexo oposto é denominada heterossexual. Uma pessoa que sente atração por um membro do mesmo sexo é homossexual: é chamado de “gay” se for homem ou de “lésbica” se for mulher. Alguém que sinta atração por membros de ambos os sexos é chamado de bissexual.

Assim como os heterossexuais, os homossexuais e os bissexuais têm a escolha de manter uma diversidade de relacionamentos. Podem viver com seus parceiros românticos, com familiares e amigos ou com companheiros de quarto. Não se deve fazer generalizações sobre os homossexuais, pois eles fazem parte de todos os segmentos da sociedade.

Muitos casais homossexuais decidem ter filhos. As pesquisas indicam que as crianças que crescem em lares cujos pais são homossexuais não demonstram diferenças em relação às crianças cujos pais são heterossexuais. Não há diferenças de inteligência ou da consciência sobre identidade masculina ou feminina. Crianças que crescem em lares homossexuais não tem mais dificuldade para se ajustar na sociedade. As pesquisas indicam que a probabilidade de uma criança que cresceu com pais homossexuais ser homossexual é a mesma do que a de uma criança que cresceu com pais heterossexuais. 

Desde 2013, o Brasil reconhece casamentos e uniões homossexuais. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou uma resolução que, na prática, legaliza o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Até então, era reconhecida apenas a "união estável" entre homossexuais.

O Brasil foi o terceiro país latino-americano a legalizar o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Contudo, ao contrário dos dois países que o precederam - Argentina e Uruguai -, a iniciativa partiu da Justiça, e não do Poder Legislativo. A decisão do CNJ foi adotada por 14 votos contra um.

Além do Brasil, há vários países em que o casamento homossexual é legal: Holanda, Bélgica, Espanha, Canadá, África do Sul, Noruega, Suécia, Portugal, Islândia, Argentina, Dinamarca, França, Uruguai, Nova Zelândia, Estados Unidos, entre outros.

Alternativas à vida familiar

As alternativas à vida familiar são os lares com um só morador e as famílias comunitárias.

Nas famílias comunitárias, o papel dos pais é descentralizado: todos os adultos se responsabilizam por todas as crianças. Um exemplo de família comunitária é o Kibutz israelense – uma comunidade de cooperação agricultura, em que toda a propriedade pertence a todos os seus membros. Quando os kibutzim (plural de kibutz) foram fundados, os casais que lá viviam trabalham em prol de todos os membros. Todos os integrantes do kibutz comiam juntos – não havia uma separação entre famílias na hora da refeição. As crianças viviam juntas nos dormitórios, e apesar de passarem tempo com seus pais, eram educadas por enfermeiras e professoras. As crianças de um kibutz cresciam com o sentimento de que todas as outras crianças de sua família comunitária eram seus irmãos.

A educação de crianças e os conflitos

Apesar de a criação e educação de uma criança ser uma tarefa que exige muito dos pais, a maioria dos adultos considera que fazê-lo é algo muito importante, que traz muita satisfação e felicidade. Contudo, criar e educar uma criança é algo que exige tempo e dinheiro. Portanto, o número de filhos por casal nos países industrializados tem caído. Hoje, tanto os pais como as mães trabalham fora de casa para ajudar a sustentar o lar e, portanto, tem menos tempo para cuidar de seus filhos.

As crianças de hoje possuem mais bens materiais que as de gerações passadas. Contudo, a liberdade das crianças de hoje é restringida por seus pais, que temem pela segurança dos filhos, devido aos altos índices de violência.

De acordo com a perspectiva funcionalista, a família fornece a seus membros conforto e apoio. Contudo, a realidade é que muitas famílias fazem o oposto. Em algumas famílias, em vez de haver um ambiente harmonioso, há hostilidade, crueldade e até violência física. De fato, a família pode ser uma fonte de conflitos para seus membros.

Há, basicamente, dois tipos de violência familiar: violência contra parceiros íntimos (marido ou esposa, companheiro ou companheira, namorado ou namorada) e violência contra crianças.

Um dos comportamentos mais difíceis de compreender é o abuso contra crianças, que pode ser tanto físico como sexual. As crianças podem também sofrer negligência emocional. É importante ressaltar que as crianças possuem direitos e que foram criadas leis para protegê-las.

Todavia, em muitos casos, é difícil detectar que uma criança sofre abusos. Os bebês evidentemente não conseguem falar e mesmo as crianças mais velhas têm medo ou vergonha de revelar que estão sofrendo abusos. É possível que nem saibam que estejam sendo vitimadas. Algumas se culpam pelo abuso sofrido ou não tem a quem recorrer para pedir ajuda. Se as crianças permanecem caladas, pode ser muito difícil detectar que estejam sendo abusadas.

Outra forma de abuso é o casamento infantil. Nos países desenvolvidos, o casamento infantil é ilegal ou, no mínimo, restrito. Contudo, há países subdesenvolvidos em que o casamento infantil é normal, principalmente no sul da Ásia e na África subsaariana. Muitas meninas são forçadas a se casar ou são vendidas como esposas. É importante saber que meninas que se casam antes dos 18 anos de idade correm mais risco de serem vítimas de violência doméstica, principalmente se elas se casam com homens muito mais velhos.

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