Reforma e Contrarreforma

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Reforma Protestante

A Reforma foi um movimento reformista cristão, ocorrido no século XVI e liderado por Martinho Lutero. A Reforma foi um movimento de criação de novas igrejas, em oposição aos dogmas católicos. Já a Contrarreforma foi a reação da Igreja Católica a esses movimentos. O objetivo da Contrarreforma era lutar contra as novas igrejas e credos, que ameaçavam sua influência política e riqueza.

As principais causas da Reforma

O Renascimento introduziu na Europa uma mentalidade religiosa bastante diferente daquela da Idade Média: pensadores religiosos passaram a questionar a autoridade da Igreja.

Como estudamos em uma aula anterior, nos séculos XIV e XV, John Wycliffe e John Huss criticaram as políticas e práticas da Igreja, acusando a Instituição Cristã de ser corrupta. Por volta do século XVI, estes sentimentos se espalharam pela Europa, principalmente pela Alemanha, que ressentia o fato de italianos controlarem todos os altos postos do clero. O povo europeu estava bastante insatisfeito com os altos impostos exigidos pela Igreja. Os europeus achavam que os líderes cristãos deviam renunciar às suas ambições materialistas e viver humilde e religiosamente.

John Wycliffe
John Wycliffe

Um exemplo claro da corrupção da Igreja era a venda de indulgências - o perdão pelos pecados, concedido pela Igreja. Historicamente, o clero sempre ensinara que os pecados poderiam ser perdoados da seguinte maneira: o pecador deveria confessar-se a um padre, pedir perdão e demonstrar seu arrependimento através da realização de boas ações, jejuns e rezas. A Igreja passou a ensinar, porém, que bastava pagar pelas indulgências para se obter perdão pelos pecados cometidos. As indulgências foram primeiramente concedidas a cristãos que participassem das Cruzadas; mas, no século XIV, elas passaram a ser vendidas por altas somas. Alguns membros do clero embolsavam parte do dinheiro da venda de indulgências. A Igreja chegava até a prometer que a compra de indulgências garantia a entrada de pessoas no Paraíso.

O Nascimento do Protestantismo

A pessoa que liderou o protesto contra a Igreja foi um monge alemão, chamado Martinho Lutero (1483-1546). Professor de estudos bíblicos na Universidade de Wittenberg, Lutero levava uma vida religiosa intensamente rígida. Apesar de seus esforços religiosos, ele temia nunca ser admitido no Céu. Após intensas lutas emocionais internas, Lutero passou a acreditar que as pessoas só poderiam adquirir salvação pela graça Divina: mesmo que um cristão realizasse boas ações, isso não lhe garantia um lugar no Céu. Lutero ensinou então que a salvação Divina dependia exclusivamente da fé do cristão.

Martinho Lutero
Martinho Lutero

As crenças de Lutero levaram-no a um conflito direto com a Igreja. No dia 31 de outubro de 1517, ele afixou uma lista com "95 Teses" (argumentos) na porta da catedral de Wittenberg. No documento, ele atacava o fenômeno da venda de indulgências e convidava o clero a enfrentá-lo em debate público.

Apesar de as autoridades da Igreja denunciarem as ideias e atitudes de Lutero, muitas pessoas passaram a concordar com ele. Lutero afirmava que todos deviam ler a Bíblia e não recorrer às interpretações dadas pelo Papa ou pelo clero. Martinho Lutero também exigia mudanças nas políticas e diretrizes da Igreja, principalmente na proibição dos membros do clero de se casar.

Obviamente, o Papa Leão X não tolerou as iniciativas religiosas de Lutero. O Papa ordenou que Lutero desistisse de suas crenças revolucionárias, mas Lutero queimou a ordem papal diante de uma multidão de pessoas que o apoiavam.

Em maio de 1521, Carlos V, o Sacro Imperador Romano, ordenou que Lutero comparecesse à Dieta de Worms, a reunião da Dieta, a assembleia de príncipes de cidades germânicas do Sacro Império Romano-Germânico. Durante esta assembleia, Lutero recusou em se retratar. Foi, então, excomungado pelo Papa. No final da Dieta de Worms, mais precisamente no dia 25 de maio de 1521, o imperador Carlos V assinou o Édito de Worms, que continha uma condenação de Martinho Lutero, declarando-o fora da lei e herético por sua oposição às doutrinas da Igreja Católica Romana. O Édito de Worms permitia a qualquer pessoa matar Lutero sem sofrer qualquer consequência legal ou punição por isso. O documento também permitia que as propriedades de Martinho Lutero e de seus seguidores fossem confiscadas.

Como reação ao veredicto, Lutero buscou asilo no castelo de Frederico da Saxônia, um príncipe alemão. Enquanto estava escondido no castelo, Lutero traduziu a Bíblia Cristã, tornando-a acessível para que muitas pessoas a pudessem ler.

A Expansão do Protestantismo

Nem a Igreja, nem o Sacro Imperador Romano conseguiram impedir o crescimento do luteranismo. Muitos cristãos aprovavam entusiasticamente os ensinamentos de Lutero, principalmente aquele que afirmava que as pessoas deviam ler a Bíblia, elas mesmas, e não apenas ouvi-la através de representantes do clero. Outros apoiavam Lutero simplesmente como forma de atacar a Igreja. Vários príncipes alemães acreditavam que com o crescimento do luteranismo, eles conseguiriam adquirir terras que pertenciam à Igreja. Assim, esses príncipes também se aliaram a Lutero, mas por razões políticas: para se mostrarem independentes do Sacro Imperador Romano.

Muitos camponeses exigiam não só uma reforma do clero, como também a redução de impostos. Em 1524 e 1525, os camponeses se rebelaram contra os príncipes germânicos. Eles esperavam que Lutero os apoiasse, mas o líder religioso se opôs a essa revolução política e exigiu seu fim. Quando os camponeses não seguiram a sua ordem, Lutero pediu que a nobreza germânica esmagasse a revolta popular.

Os camponeses se sentiram traídos por Lutero e voltaram a praticar o catolicismo, mas muitos príncipes germânicos se tornaram luteranos ferrenhos. Em 1530, esses príncipes assinaram a Confissão de Augsburgo, uma declaração escrita de sua adesão à crença luterana. Tal ato, considerado uma afronta à Igreja e ao Sacro Imperador Romano, resultou numa série de guerras. Carlos V não conseguia derrotar os príncipes germânicos, pois já estava tentando defender a Áustria e a Hungria de uma invasão de turcos otomanos. O imperador também encontrou forte oposição da França, que apoiava os príncipes protestantes como forma de limitar o seu poder.

Finalmente, o irmão de Carlos V, Fernando da Áustria, firmou um acordo com os príncipes germânicos. Em 1555, um tratado chamado de Paz de Augsburgo encerrou a guerra religiosa na Alemanha. O acordo de paz permitia que os príncipes germânicos escolhessem a religião a ser seguida em seus territórios. A maioria dos governantes do sul da Alemanha escolheu o catolicismo, enquanto que a maioria dos governantes do norte tornou-se luterana.

A Reforma Protestante se espalhou por outras terras onde havia forte oposição histórica à Igreja. Novas formas de protestantismo surgiram em outros países europeus.

O Luteranismo

O luteranismo afirma a "justificação pela fé" na graça de Deus, que realiza a salvação do homem condenado às chamadas boas obras (caridade, penitência, cumprimento das obrigações eclesiásticas). Sua doutrina do "sacerdócio universal dos cristãos" abole a necessidade de intermediários (clero) entre Deus e os homens. Todos os homens, portanto, são iguais, não se justificando as hierarquias feudais e eclesiásticas.

Na Igreja Luterana, o ofício eclesiástico foi suprimido. O culto reduziu-se a comentários da Bíblia e cânticos dos Salmos; mantiveram-se dois sacramentos: batismo e eucaristia; suprimiu-se o culto à Virgem e aos santos; foi negada a existência do purgatório; os sacerdotes luteranos eram apenas guias mais instruídos, podendo casar-se.

A doutrina de Lutero afirmava o individualismo no plano religioso, mas não admitia a usura, não rompendo totalmente, nesse aspecto, com a antiga ordem feudal. Expressava mais os anseios da nobreza alemã que da burguesia. Mas esta encontra em Lutero uma justificativa para se lançar contra a Igreja e adere ao luteranismo na Alemanha. Em seu "Discurso à Nobreza da Nação Alemã", atacando o Papado como potência estrangeira, Lutero expressou também o nacionalismo alemão (inclusive traduzindo a Bíblia para o alemão). Dessa forma, sua doutrina coincidia com as necessidades de amplos setores sociais.

O Calvinismo

A cidade de Genebra, Suíça, foi um importante centro do protestantismo. Em 1536, um erudito francês, chamado João Calvino, uniu-se aos reformistas, em Genebra, e desenvolveu uma nova denominação religiosa protestante chamada de calvinismo.

Similarmente a Lutero, Calvino acreditava que a Bíblia, e não a Igreja, era a autoridade suprema do cristianismo. Ele atacava os abusos do clero e acreditava que apenas a fé poderia trazer salvação ao homem. A ideia principal do calvinismo é da predeterminação - a crença em que seriam salvas apenas certas pessoas predestinadas, que haviam sido divinamente escolhidas. De acordo com Calvino, as não escolhidas nunca adentrariam ao Céu, independente das boas ações que praticassem. Os calvinistas afirmavam que não existiam sinais para se saber quem havia sido escolhido, mas acreditavam que o trabalho árduo e a dedicação religiosa de uma pessoa eram sinais de terem alcançado a graça Divina.

Calvino e seus seguidores tentaram fazer de Genebra uma cidade puramente calvinista. O governo criado supervisionava a vida das pessoas para garantir que vivessem de uma forma rigorosa e solene. Havia leis para punir aqueles que jogavam, dançavam, faziam barulho durante celebrações religiosas, bebiam em certas horas proibidas, cantavam músicas extravagantes ou não sabiam rezar. Aqueles que se opusessem ou desafiassem os ensinamentos calvinistas eram perseguidos ou exilados de Genebra.

Os ensinamentos calvinistas foram introduzidos em outros países por missionários devotos. Apesar de a monarquia francesa permanecer católica, o calvinismo atraiu muitos franceses, alguns deles que já haviam adotado o protestantismo. Os calvinistas franceses ficaram conhecidos como huguenotes.

John Knox
John Knox

Um protestante escocês chamado John Knox introduziu as ideias calvinistas na Escócia, na década de 1550. Seu trabalho missionário acabou estabelecendo a formação da Igreja Presbiteriana. O calvinismo também influenciou igrejas em outros países da Europa, inclusive na Holanda e na Hungria.

O Protestantismo Inglês

A Reforma na Inglaterra não foi apenas uma disputa religiosa, mas também uma luta pelo poder político. Em 1527, Henrique VIII, rei da Inglaterra de 1509 a 1547, divorcia-se de sua esposa, a princesa espanhola Catarina de Aragão. Henrique estava preocupado que sua única filha, Maria, não fosse aceita como herdeira do trono inglês. Além disso, Henrique queria unir-se a Ana Bolena, uma dama de sua corte.

A Igreja, porém, proibia o divórcio. Henrique pediu ao Papa que anulasse seu casamento, mas seu pedido foi negado. Isto levou Henrique e seus conselheiros a tomarem medidas para excluir a Inglaterra do domínio papal. Henrique nomeou Thomas Cranmer, um clérigo que concordava com algumas ideias protestantes, como arcebispo de Canterbury, o mais alto posto na Igreja anglicana, isto é, da Inglaterra. Cranmer aprovou a anulação do casamento de Henrique com Catarina, e o rei então se casou com Ana Bolena, em 1533.

Thomas Cranmer
Thomas Cranmer

O Parlamento inglês foi persuadido a aprovar a separação do país da Igreja de Roma. Em 1534, o Parlamento aprovou o primeiro Ato da Supremacia, fazendo do monarca o chefe do que é atualmente a Igreja da Inglaterra, ou Igreja Anglicana. Dois anos mais tarde, o rei Henrique fechou os mosteiros e conventos ingleses, confiscando suas valiosas terras e propriedades.

Curiosamente, Henrique VIII permaneceu católico. A Reforma na Inglaterra foi comandada por Cranmer e seus seguidores. Eles exigiam uma nova tradução da Bíblia ao inglês e prepararam um livro de rezas - "Book of Common Prayer" (Livro de Orações Habituais) que seria utilizado nas cerimônias religiosas da Igreja Anglicana.

No entanto, apesar de ter permanecido católico, Henrique insistiu em seu direito de usar o Ato da Supremacia. Mesmo alguns ingleses católicos que aceitaram as reformas se recusaram a abrir mão de sua lealdade ao Papa. O mais proeminente deles foi o Sr. Thomas More, executado por Henrique por não aceitar o Ato da Supremacia.

Henrique VIII se casou seis vezes, mas teve apenas um filho homem, Eduardo VI. Eduardo tinha apenas nove anos quando seu pai, o rei, faleceu, em 1547. Tendo sido educado por professores protestantes, inclusive Cranmer, ele firmou o protestantismo na Inglaterra durante seu reinado. Contudo, Eduardo sofria de problemas de saúde e veio a falecer em 1553. Após sua morte, a coroa inglesa foi passada para sua meia-irmã, Maria I, conhecida também como Maria Tudor, filha de Catarina de Aragão.

Maria era católica fervorosa e ordenou a perseguição dos ingleses protestantes que se recusavam a voltar ao catolicismo. Thomas Cranmer foi uma das pessoas queimadas vivas por Maria Tudor, cuja crueldade lhe rendou o apelido de "Maria, a sanguinária" ("Bloody Mary"). Seu casamento com Felipe II, rei católico da Espanha, tornou-a ainda mais impopular na Inglaterra.

Maria faleceu em 1558 e foi sucedida por sua meia-irmã, Elizabeth I, filha de Ana Bolena. Elizabeth I levou a Inglaterra a novamente abraçar o protestantismo; em 1571, o Parlamento deu sua aprovação oficial aos ensinamentos da Igreja Anglicana.

A Contrarreforma

Alarmada com o fortalecimento do protestantismo na Europa, a Igreja iniciou várias reformas e adotou medidas para disseminar o catolicismo. Estes esforços são denominados de Contrarreforma ou Reforma Católica.

Em 1545, o Papa Paulo III reuniu os líderes da Igreja em Trento, no norte da Itália, para discutir os problemas enfrentados pela Igreja. Mas o Concílio de Trento (1545-1563) se recusou a modificar os ensinamentos básicos da Igreja. Todos os católicos deveriam aceitar os seguintes princípios:

  1. Apenas a Igreja podia explicar a Bíblia.
  2. Não só a fé, mas também a prática de boas ações era necessária para se obter salvação.
  3. O Papa era a maior autoridade da Igreja. Os rituais religiosos deviam permanecer como parte integral da fé católica. Os membros do clero estavam proibidos de se casar.

Contudo, o Concílio de Trento recomendou que importantes reformas fossem feitas na Igreja: o banimento da venda de indulgências, um processo mais seletivo para se escolher membros do clero, o estabelecimento de seminários para melhor preparar o clero e a reforma de mosteiros e conventos. Estas ações visavam corrigir os abusos que vinham perturbando os membros da Igreja, há tempos.

A Igreja também tomou medidas violentas em sua Contrarreforma. Em países católicos, a Inquisição aumentou as suas atividades, ameaçando protestantes com aprisionamentos e execuções. A Igreja também compilou uma lista, chamada de Index Librorum Proibitorum, que proibia a leitura, a posse e a venda de certos livros. Esperava, assim, impedir a disseminação de ideias que julgava ameaçadoras à fé cristã.

Novas ordens religiosas foram instituídas para melhor servir a Igreja e disseminar os ensinamentos católicos. A mais notável delas foi a Companhia de Jesus, cujos membros eram conhecidos como jesuítas. Esta Companhia foi iniciada por um jovem espanhol, chamado Inácio Loyola, e aprovada pelo Papa em 1540.

Jesuítas
Jesuítas

Os jesuítas tentavam impedir os católicos de abandonarem a Igreja e persuadir protestantes a voltarem ao catolicismo. Também almejavam atrair os católicos convertidos. Para alcançar seus objetivos, os jesuítas estabeleceram colégios e seminários, enviando missionários para as terras distantes. Um dos mais famosos missionários jesuítas foi Francisco Xavier que levou o catolicismo ao Japão.

Os Efeitos da Reforma

A Reforma exerceu profundas influências no decorrer da história. A união religiosa que existia na Europa Central e Ocidental durante a Idade Média deixou de existir. Os cristãos agora se dividiam entre o catolicismo e o protestantismo; e até mesmo entre as igrejas protestantes ocorreram divisões ou cismas. Esta separação entre cristãos perdura até hoje na Europa: no sul do continente, a maioria é católica, enquanto no norte, a maioria é protestante.

A Reforma também fortaleceu o Estado à custa da Igreja. Líderes políticos protestantes não mais aceitavam a autoridade do Papa. Mesmo os governantes católicos passaram a conceder menos privilégios à Igreja. Um dos resultados disto foi que a Igreja passou a exercer cada vez menos influência na política europeia.

A Reforma e a Contrarreforma fortaleceram a educação e o ensino da Europa. Os protestantes incentivavam o povo a ler a Bíblia. Os católicos, principalmente os jesuítas, estabeleceram colégios e universidades com o propósito de ensinar o catolicismo.

A Reforma fortaleceu a classe média europeia, pois o protestantismo valorizava os ideais praticados por cidadãos comuns: responsabilidade, trabalho árduo e honesto e vida honrosa. Em países onde o protestantismo se tornou a religião oficial, toda a população aprendia que tais virtudes agradavam o Divino Criador.

Sumário

- O Nascimento do Protestantismo
- A Expansão do Protestantismo
- O Luteranismo
- O Calvinismo
- O Protestantismo Inglês
- A Contrarreforma
- Os Efeitos da Reforma