Império Romano

Império Romano

O Império Romano, iniciado com Otávio Augusto, teve como primeira dinastia a dos "doze césares", compreendendo onze imperadores, pois Caio Júlio César foi coroado imperador "post-mortem". Sob o governo de Augusto (27 a.C. - 14 d.C.), Roma conheceu uma série de reformas, alterando a antiga estrutura administrativa republicana. No plano político, desde a instituição do "Principado" em 27 a.C., o poder se tornou pessoal e centralizado na pessoa do Imperador, que chefiava os exércitos, controlava o aparelho judiciário e oficiava os cultos religiosos.

Imperador Caio Júlio César Otávio Augusto
O Imperador Caio Júlio César Otávio Augusto 27 a.C.-14 d.C. 
(acervo do Museu Nacional de Roma)

Em termos administrativos, a principal realização foi o estabelecimento de um organismo de assessoria ao governante, o Conselho do Imperador; além disso, houve a modificação do sistema de arrecadação de tributos, que passou a ser exercido exclusivamente pela burocracia estatal, substituindo os "publicanos", particulares que, até então, recebiam a incumbência da cobrança de impostos mediante comissões pecuniárias. Augusto, com o propósito de centralizar o Império, buscou eliminar o controle senatorial das províncias romanas, que passaram a ser governadas por funcionários nomeados diretamente pelo Imperador.

A primeira fase do Império Romano - conhecida como o "Alto Império" - foi marcada pelo crescimento dos exércitos e pelo controle de todas as regiões ribeirinhas ao Mar Mediterrâneo.

O Império Romano no Leste
O Império Romano no Leste

Simultaneamente, o Imperador Otávio Augusto, ciente da necessidade de estabilidade social no Império, criou a política do "pão e circo". Em seu entender, o povo apoiaria o sistema político imperial se tivesse alimentos e diversão. Trigo e espetáculos circenses fariam - como fizeram - calar toda e qualquer oposição.

Para o controle provincial, a política de Otávio foi marcada pelo princípio do "dividir para imperar". De fato, Roma nunca permitiu que as províncias se aliassem contra o Império e, paralelamente, apoiava as elites provincianas na defesa de seus interesses contra eventuais demandas populares. No intuito de consolidar o poder do próprio Imperador, Otávio Augusto criou uma tropa de elite: a Guarda Pretoriana, soldados muito próximos ao centro de decisões políticas, o que geraria problemas anos depois.

No plano social, os indivíduos dividiram-se em cidadãos (aproximadamente cinco milhões de pessoas) e provinciais (por volta de 45 milhões). Os primeiros, por seu turno, estavam hierarquizados conforme a fortuna: os elementos da ordem senatorial (duas mil pessoas) eram aqueles que tinham mais de 1 milhão de sestércios (a moeda romana cunhada em prata); a ordem equestre (a mais ou menos 20 mil pessoas), era constituída de cidadãos com mais de 400 mil sestércios; por fim, a ordem plebeia era formada pelos que tivessem renda inferior.

O Império Romano

O controle das províncias por parte de Roma recebeu a denominação de Pax Romana, garantida pelo poder militar de 30 legiões, cada uma delas com aproximadamente seis mil combatentes.

Legionário romano
Legionário romano - primeiro século d.C.

Os exércitos romanos foram divididos em quatro grandes unidades: a do Reno, a do Danúbio, a do Oriente e quatro legiões na própria Itália. Quanto ao aspecto cultural, a primeira dinastia imperial romana, que comandou ao longo do período que se chama de "o século de ouro", buscou incentivar o aparecimento de artistas e literatos, todos eles patrocinados por um amigo de Augusto, Mecenas. A religião tradicional romana foi incentivada, visando preservar o Império da influência de cultos orientais.

Augusto foi sucedido por outros imperadores daquela que se chama "dinastia Júlio-Claudiana": Tibério (14 - 37), Calígula (37 - 41), Cláudio (41 - 54) e Nero (54 - 68).

Imperador Romano

Imperador Gaius Julius Caesar Germanicus, conhecido como Calígula. Converteu-se em um tirano depravado depois de uma enfermidade mental. Foi assassinado por sua guarda.

Todos eles ficaram famosos por sua crueldade e atitudes extravagantes. Tibério se destacou pelas perseguições aos seus inimigos políticos; Calígula, interessado em desprestigiar as lideranças políticas nomeou seu cavalo - Incitatus - senador; Cláudio casou-se, sucessivamente, com duas assassinas, sendo morto envenenado por uma delas, Agripina. Nero, após ter assassinado sua mãe e sua tia, matou-se, dizendo que o "mundo estava perdendo um grande artista". Os desmandos dos primeiros imperadores romanos provocaram sucessivos golpes militares, tendo assumido o poder os generais Galba, Otão e Vitélio. No final do primeiro século da era cristã, ocupariam o trono romano os imperadores "Flavius": Vespasiano, Tito e Domiciano. Em 98, subiria a dinastia dos Antoninos, que marcaria o apogeu do Império Romano. Com Trajano, Roma conheceria uma enorme extensão territorial; os governos de Adriano e Antonino foram de grande prosperidade econômica, Adriano reformulou a estrutura administrativa e Marco Aurélio, o "Imperador Filósofo", incentivou a cultura, trazendo para Roma o estoicismo grego.

Pouco a pouco, entretanto, o Império viria a ser solapado por uma série de debilidades estruturais: extrema dependência em relação ao escravismo; enormes desigualdades sociais; uma burocracia ineficiente e corrupta e a excessiva politização dos militares. A terceira dinastia do Império, a dos Severos (193 - 235), foi vítima, simultaneamente, de golpes militares e das primeiras pressões dos bárbaros germânicos contra as fronteiras romanas. Além disso, desde os tempos de Nero, o Império se deparava com um novo e revolucionário evento: o cristianismo.

Armas de guerra do exército romano
Uma das armas de guerra usadas pelo temido exército romano

A POLÍTICA DE "PÃO E CIRCO" E O COLISEU DE ROMA

O Coliseu

O impressionante Coliseu de Roma (70-82) é um exemplo de como a política de "pão e circo" era utilizada pelos romanos. Originalmente denominado de Anfiteatro Flávio passou a ser conhecido como Coliseu devido à proximidade com a colossal estátua de Nero. No Coliseu eram realizados os grandes espetáculos circenses da época: os gladiadores lutavam na arena e, segundo se acredita, esse era o lugar onde os cristãos eram lançados aos leões. Construído por ordem do imperador Vespasiano (9-79 d.C.) e concluído no ano 80 d.C. quando governava seu filho Tito (39-81 d.C.) o Coliseu era, originalmente, um anfiteatro oval de quatro níveis cujas arquibancadas de mármore tinham capacidade para 45 mil pessoas. 

Reprodução em madeira do Coliseu

Reprodução em madeira do Coliseu na época de sua romana por Carlo Lucangeli.

Elmo usado por gladiador

Elmo usado por gladiador: lutador profissional que participava de espetáculos de combates armados nos anfiteatros romanos. A prática da luta até a morte entre homens armados começou na Etrúria. Os gladiadores eram escravos, delinquentes condenados, prisioneiros de guerra e, às vezes, cristãos.

O CRISTIANISMO

Na sua origem, o Cristianismo não foi uma religião europeia. Assim como o Judaísmo e, depois, o Islamismo, ele veio do Oriente Médio. Jesus de Nazaré, que provavelmente viveu entre o ano 5 a.C. e 33 d.C., foi um pregador radical judeu, que nasceu na província romana da Judeia durante o governo de Otávio Augusto. Executado em Jerusalém, crucificado por ordem de Pôncio Pilatos, governador da região durante a administração do Imperador Tibério, Jesus era ainda bastante desconhecido. De fato, não há documentos históricos que o mencionem, quer romanos, quer judaicos. Seus ensinamentos pessoais e suas pregações eram unicamente conhecidos por um pequeno grupo de fanáticos seguidores. Quando do seu surgimento, o cristianismo dificilmente seria percebido como a futura religião oficial do Império Romano.

Por volta dos anos 60, quando da época de Nero, o cristianismo, cujos principais conceitos foram elaborados por Saulo, começava a ser difundido na cidade de Roma. Propondo a igualdade e o amor entre os homens e assegurando a vida eterna, a nova religião encantou as camadas populares, que nela viram um fator de esperança. A religião cristã, monoteísta, negava a divindade do Imperador.

Obviamente, as elites romanas não aceitaram essa postura, dando início às "dez grandes perseguições". De fato, ao longo de 200 anos, o cristianismo foi vítima de repressão por parte do Império Romano. Esse período é denominado, pelos cristãos, de "igreja dos mártires" ou "cristianismo das catacumbas".

Catacumba usadas pelos primeiros cristãos de Roma
Catacumba usadas pelos primeiros cristãos de Roma

Apesar das atitudes repressivas, o cristianismo foi medrando, também, entre as camadas médias de Roma. A decadência do Império exigia novas satisfações espirituais: o cristianismo era uma delas.

A DIFUSÃO DO CRISTIANISMO

"A difusão do cristianismo foi facilitada pela Pax Romana. Três décadas após a crucificação de Jesus, inúmeras comunidades cristas foram estabelecidas no Mediterrâneo Oriental. São Paulo, cujos escritos formam a maior parte do Novo Testamento, influenciou fundamentalmente as cidades de língua grega do leste europeu. São Pedro, o mais íntimo discípulo de Cristo, foi até Roma onde morreu em 68 d.C. A partir de Roma, o cristianismo se difundiu em todo o Império: da Península Ibérica até a Armênia. A figura chave do cristianismo foi Saulo de Tarso, conhecido como São Paulo. Nascido na religião judaica, educado como Fariseu, Saulo, de início, combateu os seguidores de Cristo. Depois, convertido na estrada de Damasco, foi batizado e se tornou o mais ardente seguidor da nova religião. A contribuição de São Paulo ao cristianismo foi fundamental. Em primeiro lugar, ele estabeleceu o princípio da universalidade do cristianismo, que não seria uma religião exclusiva de um povo. Em seguida, seus escritos fundaram as bases teológicas do cristianismo: com São Paulo, nascia o conceito de que a morte e a ressurreição de Cristo seriam fatores da salvação mundial. Em suma, foi São Paulo que fundou o cristianismo como uma religião ordenada e coerente."

Apesar da repressão, as ideias cristãs proliferaram, fundamentalmente entre os setores populares e as camadas médias. Tornou-se difícil para o Império nadar contra a corrente. Pouco a pouco, o cristianismo se tornou dominante.

Em 313, o Imperador Constantino baixava o Édito de Milão, que dava liberdade de culto aos cristãos, que não mais seriam perseguidos por sua fé. Tinha início a "cristianização" do Ocidente.

Cabeça de mármore de Constantino, o Grande

Cabeça de mármore de Constantino, o Grande

Constantino, o Grande foi o primeiro imperador romano que se converteu ao cristianismo (337-340 d.C.). Durante seu reinado, concedeu a liberdade de culto aos cristãos, antes perseguidos. Entregou grandes propriedades à Igreja cristã, e estabeleceu uma capital, Constantinopla (atualmente Istambul), nas províncias orientais. Mais tarde, a cidade passou a ser a capital do Império Bizantino.

A DECADÊNCIA DO IMPÉRIO

A partir do século III, o Império Romano entrou numa crise que culminaria com sua queda no século V. Inúmeros foram os fatores de sua decadência: os gastos para a manutenção da burocracia estatal, a ineficiência administrativa, os golpes militares e um violento processo inflacionário. De fato, a luta pelo poder entre os exércitos romanos era constante: inúmeros foram os imperadores fantoches das legiões castrenses. A partir de 235, a anarquia militar se estabeleceu em Roma. Em 33 anos, Roma conheceu 23 imperadores, todos eles vítimas de morte violenta. De todos os imperadores do Baixo Império, três tiveram uma relativa importância, em função das reformas que empreenderam na tentativa de superar a crise romana. Entre 288 e 305, Diocleciano tentou uma reforma administrativa. Ciente de que as conquistas militares estavam se esgotando e a mão de obra escrava diminuía, o Imperador instituiu o colonato: uma espécie de arrendamento das terras, no qual o trabalhador recebia um lote, devendo em troca cultivar alguns dias por semana a terra do proprietário. O colono ficava vinculado ao lote, não podendo abandoná-lo e nem ser expulso dele. Diocleciano, preocupado com a enorme extensão do Império, instituiu a tetrarquia, dividindo o território romano em quatro unidades administrativas: duas governadas por imperadores com o título de Augusto e as outras duas administradas por suplentes que recebiam o nome de César. Infelizmente, tal divisão administrativa não sobreviveu a Diocleciano, pois, após sua morte Roma passou a ser novamente governada por um indivíduo.

No século IV, o Imperador Constantino, além de dar liberdade de culto aos cristãos, fundou uma cidade destinada a se tornar a capital do Império: Constantinopla, atualmente Istambul na Turquia.

Imperador Constantino ce. 337-340
Imperador Constantino ce. 337-340.

Em 395, o Imperador Teodósio, cristão fervoroso, dividiria o Império em duas partes: Império do Ocidente, com sede em Roma, e Império do Oriente, tendo por capital Constantinopla. Seus filhos, Honório e Arcádio, passariam a ser responsáveis pela administração imperial.

Infelizmente, as tentativas desses imperadores não foram suficientes para impedir a decadência de Roma, agora irreversível. Uma estrutura social atrofiada - anarquia militar, crise econômica, diminuição da mão de obra escrava e ineficiência burocrática -, não resistiria à pressão dos bárbaros germânicos. Inicialmente, Roma bem recebeu os alemães; esses, chamados de "letes" ou "federados", foram fixados nas fronteiras do império. A partir de 378, na batalha de Andrenopla, os bárbaros germânicos invadiram Roma. 410: a grande invasão, sendo Roma tomada pelos visigodos; 455, entrariam os vândalos e em 476, os hérulos. O último imperador de Roma, Rômulo Augustulo, seria deposto e o império ocidental morria.

O Colapso do Império Romano

O LEGADO ROMANO

Roma herdou a visão humanista e racionalista dos gregos. Até seus deuses não passaram de uma adaptação das divindades helênicas. Não muito originais, os romanos deram um caráter mais prático à cultura grega. Na arquitetura, por exemplo, usou-se o estilo plástico da Grécia, mas com a finalidade de construir, aquedutos, estradas, pontes e edifícios públicos. Quanto ao teatro, os romanos não eram admiradores das tragédias, preferindo comédias de costumes, nas quais destacaram-se, como autores, Plauto e Terêncio. De fato, os latinos não tinham grandes preocupações de ordem metafísica: a sua filosofia era cópia das éticas gregas, notadamente o epicurismo, um pensamento naturalista em defesa do prazer físico, e o estoicismo, uma reflexão destinada a conduzir o homem ao bem viver pela resignação. Dois pensadores marcaram o cenário filosófico de Roma: Lucrécio Caro e o Imperador Marco Aurélio. Na literatura, foram extremamente importantes o grande orador Cícero e Ovídio, autor da clássica obra "A Arte de Amar". Maior era o gosto comum pelas obras históricas, notabilizando-se Tito Lívio, autor de "A História de Roma", e Virgílio, que na "Eneida" relata, de forma mítica, a fundação de Roma.

Imperador Marco Aurélio
Imperador Marco Aurélio

O DIREITO ROMANO

Sem dúvida, uma das maiores contribuições de Roma para o mundo Ocidental foi o Direito. O fundamento filosófico do ordenamento jurídico romano foi o Jus Naturale ("Direito Natural"), ou seja, conceito de que a Justiça precede à própria existência da sociedade organizada. Violar as leis seria, portanto, ir contra os preceitos de bem e de direito firmados pela própria natureza. O Direito romano estava dividido em duas partes: o Jus Gentium ("Direito das Gentes"), que regulava as relações jurídicas entre romanos e estrangeiros, e o Jus Civiles ("Direito Civil"), leis aplicáveis apenas aos cidadãos de Roma.

No século VI, no Império Romano do Oriente (Bizâncio), o Imperador Justiniano mandou compilar todas as leis romanas anteriores, criando o monumental Corpus Júris Civiles ("Corpo do Direito Civil"), compreendendo três partes: o Digesto ou Pandectas, a compilação das normas jurídicas desde o século II; as Institutas, um resumo para os estudantes de direito e as Novelas ou Autenticas, onde estariam as leis estritamente bizantinas.

Imperador Justiniano
Imperador Justiniano

A IGREJA CATÓLICA APOSTÓLICA ROMANA

Vindos do Oriente e oriundos, basicamente, do judaísmo, os preceitos cristãos adentraram Roma por volta dos anos 60. Por pregar a igualdade dos homens perante Deus e a existência da vida eterna, o cristianismo atraiu os escravos e as camadas populares. Por outro lado, negando a divindade dos Imperadores, os cristãos conheceram, ao longo de mais de 200 anos, dez grandes perseguições. Em 313, o Imperador Constantino, sensível ao extraordinário crescimento da nova religião, deu liberdade de culto ao cristianismo pelo Édito de Milão. Saindo da clandestinidade, as seitas cristãs se depararam com uma questão teológica: a salvação seria uma via estritamente pessoal e subjetiva ou, pelo contrário, pressuporia a formação de uma instituição. Em 327, no Conselho de Niceia, nasceria a Igreja Católica ("universal") Apostólica Romana: o cristianismo se "cesarizava". Na mesma ocasião, organizava-se o clero - a burocracia da nova instituição - e era redigido o Credo: a lista dos dogmas que deveriam ser seguidos pelos católicos, sendo o primeiro deles a "Fórmula de Niceia", a afirmação da "Santíssima Trindade". De fato, a posição oficial da Igreja Católica reputava de heresia a ideia de subordinatismo, isto é, o conceito de que Cristo teria sido um mero mortal escolhido por Deus como Messias, como propunham os bispos ários ("arianismo") e Nestórios ("nestorianismo").

Entre 378 e 395, o Imperador Teodósio, pelos Éditos de Tessalônica e o Segundo de Milão, transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano.

OS JOGOS ROMANOS

"(...) A paixão pelas corridas do Circo e pelas lutas de arena, lamenta Tácito, concorre com o aprendizado da eloquência junto aos jovens de boa família. Pois os espetáculos interessavam a todos, inclusive a senadores e pensadores; os gladiadores e os carros não eram prazeres unicamente populares. Sua censura em geral platônica partia do bom senso utópico que aprendemos a conhecer; no teatro, as chamadas pantominas (o termo mudou de sentido entre nós: tratava-se de uma espécie de ópera) eram criticadas por favorecer atitudes efeminadas e às vezes proibidas, ao contrário dos gladiadores, que, por infames que fossem, tinham o mérito de fortalecer a coragem dos espectadores. Contudo, até suas lutas e corridas de carros encontravam censores: tais espetáculos resultavam da tendência humana a complicar a natureza simples e a preocupar-se com futilidades. Em terra grega, os intelectuais replicavam que os atletas davam uma lição de resistência, vigor moral e beleza.

O que não impedia que os intelectuais assistissem aos espetáculos como todo mundo. Cícero, que se gabava de aproveitar os dias de espetáculos para escrever seus livros, ia vê-los e relatava-os a seus nobres correspondentes; quando sentia uma sombra de melancolia penetrar-lhe a ala, Sêneca ia ao anfiteatro para se alegrar um pouco; Mecenas, nobre epicurista sofisticado, pedia a seu fiel Horácio o programa das lutas, porém Marco Aurélio, como bom filósofo, só assistia aos gladiadores para cumprir seu dever de imperador: achava que tais combates eram quase sempre a mesma coisa. A paixão coletiva ia mais longe; a juventude rica e o bom povo dividiam-se em facções rivais que apoiavam determinado ator, uma equipe de cocheiros, tal categoria de gladiadores, e seu zelo ia desde graves perturbações públicas, sem nenhum fundo político-social e nenhuma distinção de classes; às vezes era necessário exilar um ator ou um cocheiro por haver sublevado a multidão contra ou a seu favor.

Em Roma e em todas as cidades, os espetáculos constituem o grande acontecimento, que, em terra grega, são os concursos atléticos - os grandes (isolympicoi, periodioi), os médios (stephaniati) aos quais acorrem todos os gregos e que propiciam também uma feira, e os pequenos (themides). São também as lutas de gladiadores, que os gregos ardorosamente plagiaram dos romanos. Atletas, atores, cocheiros e gladiadores eram estrelas; o teatro ditava moda: o povo cantava as canções de sucesso que ouvira na cena.

No espetáculo o prazer torna-se uma paixão cujo excesso os sábios reprovam, como também o farão os cristãos: "O teatro é lascívia, o Circo é excitação e a arena, crueldade."(...)

Sumário

- Império Romano
- A Política de "Pão e Circo"
- O Cristianismo
- A Decadência do Império
- O Legado Romano
i. O Direito Romano
ii. A Igreja Católica Apostólica Romana