A Europa Pós-Segunda Guerra

  • Home
  • A Europa Pós Segunda Guerra

A Europa Pós-Segunda Guerra

Em 1945, muitas pessoas acreditavam que a Europa Ocidental jamais iria se recuperar da Segunda Guerra Mundial. Cidades, fábricas, portos, estradas e ferrovias haviam sido bombardeados e muitas fazendas foram destruídas. O governo foi obrigado a racionalizar a comida e milhões de pessoas temiam a fome. Essas condições, somadas ao trauma da experiência da guerra, resultaram na instabilidade política em muitos países. Mas com a ajuda dos Estados Unidos, a Europa Ocidental se recuperou.

A Unificação Europeia

O Plano Marshall forneceu ajuda crucial à Europa Ocidental. Porém, o plano norte-americano não era suficiente para propiciar o desenvolvimento europeu. Para reconstruir a Europa Ocidental, algumas nações europeias decidiram cooperar.

Em 1950, o ministro das Relações Exteriores da França, Robert Schuman, propôs uma parceria entre França, Alemanha Ocidental, Itália, Bélgica, Luxemburgo e Holanda. Schuman sugeriu que se esses seis países compartilhassem seus recursos naturais, poderiam acelerar a reconstrução e desenvolvimento da Europa. O plano Schuman foi adotado em 1951 e denominado de Comunidade Europeia do Carvão e do Aço (CECA).

Robert Schuman
Robert Schuman

A produção de ferro e aço cresceu rapidamente com o estabelecimento da CECA. Logo, os membros da organização planejaram objetivos mais amplos e, em 1957, formaram a Comunidade Econômica Europeia (CEE). Normalmente chamada de Mercado Comum Europeu, a CEE tentou incentivar o crescimento econômico ao abolir tarifas alfandegárias e melhorar o sistema de transportes da Europa. De fato, as medidas do Mercado Comum resultaram num boom econômico europeu durante a década de 1960.

Em 1967, a Comunidade Europeia do Carvão e Aço e o Mercado Comum Europeu foram integrados em um só corpo chamado de Comunidade Europeia (CE). A Comunidade cresceu nas décadas de 1970 e 1980, quando Reino Unido, Dinamarca, Irlanda, Grécia, Portugal e Espanha tornaram-se membros.

A Alemanha Ocidental

A Alemanha, centro do regime nazista, havia sofrido danos enormes durante os últimos anos da Segunda Guerra Mundial. Suas cidades e indústrias haviam sido destruídas e milhões de refugiados da Europa Oriental haviam imigrado para a Alemanha Ocidental após a guerra. Isso resultou numa severa escassez de alimentos e suprimentos no país. Humilhados, divididos e sob ocupação, os alemães sofreram durante o inverno de 1946-1947, quando muitas pessoas morreram de fome e frio.

O homem que liderou a retomada alemã foi Konrad Adenauer de 73 anos, que sempre fora um opositor do nazismo e comunismo. Adenauer tornou-se o primeiro chanceler da República Federal da Alemanha, em 1949.

Konrad Adenauer
Konrad Adenauer

Diversos fatores tornaram possível a recuperação econômica da Alemanha. As regiões do país sob o governo da República Federal da Alemanha incluíam as áreas mais industrializadas e ricas em carvão e minério de ferro. A Alemanha Ocidental também tinha muitos trabalhadores habilidosos e empresários talentosos - muitos recém-fugidos da Alemanha Oriental. Além disso, mais de três milhões de trabalhadores do sul da Europa vieram ao país em busca de melhores salários.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, a Alemanha Ocidental conseguiu reverter a seu favor os danos causados pela guerra. Utilizando os recursos do Plano Marshall, os alemães ocidentais reconstruíram fábricas, estradas e ferrovias com os mais modernos equipamentos disponíveis. O crescimento econômico alemão foi extraordinário durante o governo de Adenauer e nos 20 anos seguintes. De uma nação derrotada, a Alemanha Ocidental se tornou o líder econômico da Europa.

As políticas econômicas de Adenauer foram bem aceitas, mas muitas pessoas não gostavam de seu controle rígido de governo. Após o chanceler alemão se aposentar em 1963, o Partido Social Democrata da Alemanha Ocidental ganhou aliados que pertenciam anteriormente ao seu partido - a União Democrata-Cristã (CDU). Em 1969, os Sociais Democratas foram eleitos na Alemanha Ocidental. O novo chanceler, Willy Brandt, continuou com os programas do governo anterior para aumentar a prosperidade da Alemanha Ocidental. Mas ele realizou grandes mudanças na política externa do país. Sob a Ostpolitik de Brandt (palavra alemã para "política oriental"), o governo da Alemanha Ocidental tomou medidas para reduzir a tensão entre seu país e o bloco soviético. O governo de Brandt concordou em reconhecer a Alemanha Oriental e a aceitar a legitimidade das fronteiras existentes na Europa Oriental.

Willy Brandt
Willy Brandt

Em 1982, uma aliança chefiada pelos Democratas Cristãos derrotou os Sociais Democratas pela primeira vez em 13 anos. O novo chanceler, Helmut Kohl, trabalhou para aproximar a Alemanha Ocidental dos Estados Unidos e para reduzir a intervenção do governo na economia de seu país.

A França

Assim como antes da Guerra, os numerosos partidos políticos franceses estavam profundamente divididos sobre como governar a nação. Em 1946, um governo de coligação foi formado por diferentes partidos para formar a Quarta República francesa.

Apesar de a França ter sofrido menos bombardeios que a Alemanha durante a guerra, os nazistas haviam usurpado maquinários, veículos e produtos agrícolas franceses que foram usados pelos alemães. Com o objetivo de reconstruir o país rapidamente, a Quarta República nacionalizou grandes bancos, companhias de seguro, companhias elétricas e indústrias de ferro e carvão. Durante a década de 1950, a economia francesa cresceu rapidamente e o padrão de vida da nação aumentou. A França também realizou reformas sociais, incluindo a concessão do direito de voto às mulheres.

As Guerras Coloniais

Durante o final da década de 1940, a colônia francesa da Indochina passava por uma guerra colonial. O Viêt Minh - movimento comunista liderado por nacionalistas no Vietnã (que fazia parte da Indochina) - lutava para expulsar as tropas coloniais francesas. Os Estados Unidos ajudaram a França e a China Comunista apoiava os Viêt Minh. Finalmente, em 1954, após uma desastrosa derrota em Dien Bien Phu, os franceses se retiraram da Indochina.

Batalha de Dien Bien Phu
Batalha de Dien Bien Phu

No mesmo ano, uma revolta irrompeu na Argélia, que era governada não como uma colônia, mas como parte integral da França. Muitos muçulmanos argelinos exigiam a independência completa do país, mas os colonizadores franceses na Argélia preferiam continuar sob domínio francês. No final de 1954, um grupo nacionalista argelino conhecido como FLN (Frente de Liberação Nacional) começou a atacar os postos militares franceses e as propriedades dos colonizadores.

O governo francês enviou soldados para manter a ordem na Argélia, mas em 1957, uma vitória dos rebeldes parecia inevitável. Para evitar que os rebeldes tomassem conta do país, os militares franceses tomaram o governo argelino. Porém, a França continuava profundamente dividida quanto ao problema argelino. A crise da Argélia demonstrou que o governo da Quarta República Francesa era bastante fraco. Os líderes franceses pediram então ao herói de guerra Charles De Gaulle para formar um novo governo.

Charles De Gaulle
Charles De Gaulle

A Quinta República

O presidente Charles De Gaulle tomou medidas para fazer com que o seu governo - a Quinta República francesa - fosse mais forte que a Quarta República. Ele criou uma nova Constituição que fortaleceu o Poder Executivo e enfraqueceu o Poder Legislativo (a Assembleia Nacional) da França. Para encerrar a crise argelina, De Gaulle concedeu ao país sua independência em 1962. Outras colônias francesas também obtiveram seu autogoverno, mas continuaram a cooperar política e economicamente com a França.

Nacionalista fervoroso, De Gaulle esperava fazer com que a França voltasse a ser o poder dominante da Europa. Ele fortaleceu os laços econômicos com outras nações europeias e com suas antigas colônias. Ao oferecer empregos nas indústrias francesas aos imigrantes, a França aumentou enormemente sua força de trabalho. A política externa de De Gaulle era fortemente independente. O presidente queria demonstrar, acima de tudo, que a França não seria influenciada pelas políticas dos Estados Unidos. De Gaulle se opôs à entrada da Grã-Bretanha no Mercado Comum Europeu e, em 1966, ele retirou as forças francesas da OTAN. De Gaulle também ordenou que a França construísse seu próprio arsenal de armas nucleares.

De Gaulle deixou a presidência da França em 1969. Nos 10 anos seguintes, seus sucessores seguiram os caminhos políticos e econômicos que ele havia traçado. Porém, ao final da década de 1970, a inflação e o desemprego aumentavam significativamente no país.

François Miterrand
François Miterrand

Em 1981, eleitores franceses elegeram um presidente socialista e uma Assembleia Nacional que era, em sua maioria, composta por socialistas. O novo presidente, François Mitterrand, nacionalizou diversas indústrias e aumentou os impostos dos franceses mais ricos. Quando essas políticas resultaram numa recessão na França, Mitterrand passou a traçar uma política de centro ao diminuir os impostos no país. Ele também trabalhou para aproximar a França dos Estados Unidos e de outros membros da OTAN.

Grã-Bretanha

Ao contrário da maioria de outros países europeus, a Grã-Bretanha não foi conquistada durante a Segunda Guerra Mundial. Mesmo assim, suas cidades e indústrias foram em grande parte destruídas pelos bombardeios alemães.

Em 1945, pouco após o final da guerra, o Partido Trabalhista (Labour Party) - prometendo extensa ajuda social aos cidadãos britânicos - derrotou o Partido Conservador, de Winston Churchill. Em 1946, o Parlamento lançou medidas que expandiram os serviços nacionais de seguro-desemprego, seguro-saúde, pensão domiciliar, ajuda aos idosos e benefícios às crianças. No ano seguinte, a Grã-Bretanha também nacionalizou o Banco da Inglaterra e algumas indústrias básicas do país.

Porém, descontentes com os contínuos problemas econômicos da nação, os britânicos elegeram o Partido Conservador novamente em 1951. Ao voltar ao poder, os Conservadores não desfizeram as reformas sociais instituídas pelo Partido Trabalhista, mas diminuíram impostos e privatizaram indústrias no país. Mas apesar de um subsequente crescimento econômico, a economia britânica voltou a desacelerar na década de 1960. Durante as décadas de 1960 e 1970, o governo britânico foi mudado várias vezes - nem os Trabalhistas, nem os Conservadores conseguiam resolver os problemas econômicos do país: baixa produtividade, alto desemprego e indústrias antiquadas. Em 1973, a Grã-Bretanha ingressou no Mercado Comum Europeu, mas nem isso ajudou a economia britânica de forma significativa.

Margaret Thatcher
Margaret Thatcher

Em 1979, o Partido Conservador foi eleito, liderado por Margaret Thatcher - a primeira mulher a se tornar primeira-ministra da Grã-Bretanha. Thatcher tomou medidas para melhorar a situação econômica britânica. Ela incentivou a iniciativa privada e cortou gastos do governo. Essas medidas resultaram na diminuição da inflação no país, mas o desemprego continuou a crescer.

Política Internacional da Grã-Bretanha

Após a Segunda Guerra Mundial, tendo sido bastante atingida pela Alemanha nazista, a Grã-Bretanha não conseguia manter suas colônias. Em 1947, a Grã-Bretanha atendeu às exigências indianas por independência e também criou o país muçulmano do Paquistão. O Ceilão (hoje, Sri Lanka) e Birmânia (hoje, Myanmar) também se tornaram independentes em 1948. A perda dessas colônias diminuiu gastos do governo britânico, mas o país também perdeu fontes valiosas de matéria-prima e mercados para seus bens de consumo.

Sri Lanka

Porém, a Grã-Bretanha não desistiu de todas as suas posses no exterior. Em 2 de abril de 1982, a Argentina invadiu as Ilhas Malvinas - um pequeno arquipélago perto da costa da Argentina que pertencia à Grã-Bretanha. (No século XIX, ambas Grã-Bretanha e Argentina reivindicavam as Ilhas Malvinas). Após a invasão de forças argentinas, a primeira-ministra britânica enviou uma frota para recuperar as Ilhas Malvinas, forçando as tropas argentinas a se renderem. A população britânica, em sua maioria, aprovou essa decisão de Margaret Thatcher.

A Irlanda do Norte permanecia sendo um grave problema de política externa para a Grã-Bretanha. Quando a Irlanda foi dividida em 1921, o Estado Irlandês Livre (posteriormente chamado de República da Irlanda) tornou-se independente. A Irlanda do Norte, porém, permaneceu como parte da Grã-Bretanha. O governo da Irlanda do Norte era dominado por protestantes, e a minoria católica no país tinha muito pouco poder. Muitos católicos esperavam que a Irlanda fosse reunificada e independente. Em 1968, a violência irrompeu entre católicos e protestantes na Irlanda do Norte. À medida que o conflito se expandiu, o governo britânico enviou soldados para manter a ordem no país.

Entre aqueles que exigiam a reunificação da Irlanda estava o Exército Republicano Irlandês (IRA) - uma organização nacionalista que havia sido formada após o Levante da Páscoa em 1916. O IRA lançava mão do terrorismo - o uso de violência e ameaças - contra protestantes irlandeses e britânicos. Diversos grupos protestantes se armaram e reagiram com violência. Bombardeios e batalhas armadas nas ruas das cidades irlandesas resultaram na morte de soldados e civis.

Em 1985, a Grã-Bretanha e a República da Irlanda assinaram um acordo que deu à República da Irlanda alguma representação nos assuntos da Irlanda do Norte. Os dois governos esperavam que esse acordo, conhecido como o Tratado Anglo-Irlandês, viesse a assegurar os direitos da minoria católica na Irlanda do Norte. Porém, extremistas em ambos os lados denunciaram o pacto, e os grupos protestantes na Irlanda do Norte juraram nunca aceitá-lo.

Itália

Itália

Após a queda de Mussolini, o povo italiano decidiu não restaurar a monarquia no país. Em 1946, a Itália tornou-se uma república, que foi formada por um governo de coligação constituído pelos maiores partidos políticos do país.

Como na França, os conflitos partidários eram frequentes na Itália e a liderança no país era modificada constantemente. Ainda assim, o país se recuperou rapidamente após a guerra devido ao Plano Marshall. O governo italiano construiu novas indústrias em Milão, Turim e Gênova. Em breve, o crescimento italiano, comparado ao de outros países europeus, só era menor que o da Alemanha Ocidental. A redistribuição de terras no sul da Itália fez com que a agricultura italiana se tornasse mais produtiva. Não obstante, muitos italianos do sul do país migraram para o norte ou emigraram para outros países à procura de um melhor padrão de vida.

Na década de 1980, a Itália enfrentou problemas e tumultos trabalhistas. Alguns grupos comunistas do país começaram a usar violência e terrorismo. O resultado desses conflitos foi o enfraquecimento dos governos de coligação moderados.

Portugal e Espanha

Portugal e Espanha, que haviam permanecido neutros na Segunda Guerra Mundial, foram governados por ditadores desde a década de 1930. Na década de 1960, as colônias portuguesas na África se rebelaram contra o ditador Antônio Salazar. Em 1974, quatro anos após a morte de Salazar, o exército depôs seu sucessor. O governo permaneceu instável, mas começou a seguir em direção à democracia. Em 1986, o povo português elegeu seu primeiro presidente civil em mais de 50 anos.

Antônio Salazar
Antônio Salazar

Já a Espanha, sendo governada pelo ditador fascista Francisco Franco, não manteve laços estreitos com os Aliados ocidentais após a Segunda Guerra Mundial. Na década de 1950, porém, as nações ocidentais queriam melhorar suas defesas contra o bloco soviético, e foram atraídas pela posição estratégica espanhola. Em troca por bases militares em território espanhol, os Estados Unidos fizeram empréstimos e doações à Espanha, que usou esse dinheiro para expandir a indústria e modernizar a agricultura.

Francisco Franco governou como ditador da Espanha até sua morte em 1975. Ele foi sucedido por Juan Carlos I, neto do último rei espanhol. Juan Carlos deu grandes passos para restaurar a democracia no país ao convocar eleições em 1975. Em 1982, Felipe González Márquez, do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) tornou-se primeiro ministro da Espanha.

Grécia

Uma guerra civil irrompeu na Grécia no final da Segunda Guerra Mundial. Guerrilheiros comunistas lutaram contra o governo pró-ocidental da Grécia, levando os Estados Unidos a lançarem a Doutrina Truman. Com o apoio norte-americano, o governo grego derrotou os rebeldes comunistas em 1949. Seguiu-se uma série de governos moderados no país. Em 1967, após disputas entre líderes da Grécia, um grupo de oficiais do exército conhecido como "os coronéis" tomaram o poder. Eles suspenderam a Constituição e prenderam muitos de seus oponentes.

Andréas Papandréu
Andréas Papandréu

Em 1974, uma disputa com a Turquia sobre a ilha de Chipre resultou no colapso do governo militar grego. A Constituição foi restaurada e o papel do exército na política nacional diminuiu. Em 1981, os socialistas foram eleitos na Grécia. O primeiro-ministro socialista Andréas Papandréu entrou em conflito com os Estados Unidos sobre questões internacionais. Ele ameaçou retirar a Grécia da OTAN e realizou reformas sociais radicais no país.

Sumário

- A Unificação Europeia
- A Alemanha Ocidental
- A França
i. As Guerras Coloniais
ii. A Quinta República
- Grã-Bretanha
i. Política Internacional da Grã-Bretanha
- Itália
- Portugal e Espanha
- Grécia

Áreas exclusivas para assinantes