O Fundamentalismo Islâmico e o terrorismo

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Do ponto de vista teológico, o fundamentalismo islâmico é a manifestação religiosa em que os praticantes do islão promovem a compreensão literal de sua literatura sagrada, o Corão. Do ponto de vista político, um dos objetivos centrais do fundamentalismo islâmico é tomar controle do governo visando a implementar na sociedade o sistema islamista.

O terrorismo se tornou um fenômeno e uma tática comum no Oriente Médio a partir da derrubada do Xá do Irã, ocorrida em 1979.  O novo governo iraniano, chefiado pelo líder religioso xiita Aiatolá Ruhollah Khomeini, distanciou o país dos ideais do Ocidente e aproximou-o do fundamentalismo islâmico. Em 1979, uma multidão tomou a embaixada norte-americana na capital iraniana, Teerã. Durante 444 dias, o governo Khomeini recusou-se a libertar mais de 50 norte-americanos mantidos como reféns na embaixada.

Seguindo a revolução islâmica no Irã, o fundamentalismo - um movimento que prega e promove a observância severa da lei religiosa - espalhou-se por muitos países islâmicos do Oriente Médio. Os fundamentalistas islâmicos acreditam que a influência ocidental é prejudicial ao islamismo.

Movimentos fundamentalistas irromperam em muitos países do Oriente Médio na década de 1980, ameaçando os governos da região. Os grupos fundamentalistas também perpetraram atos de terrorismo -- bombardeios, sequestros de pessoas e de aviões e assassinato de líderes – contra o Ocidente e contra Israel. Em 1981, o Presidente do Egito, Anuar el-Sadat, que firmou a paz entre seu país o Estado de Israel, foi assassinado por fundamentalistas islâmicos. Em 1984, a primeira-ministra da Índia, Indira Gandhi e, em 1987, o primeiro-ministro do Líbano, Rashid Karami, também foram mortos.

Em dezembro de 1979, a União Soviética invadiu o Afeganistão: foi a primeira ocupação militar de um país muçulmano desde o fim da Segunda Guerra Mundial. A invasão soviética fez com que o Afeganistão se tornasse um polo de atração de fundamentalistas, dispostos a expulsar os “infiéis” de terras islâmicas. Entre esses fundamentalistas havia um multimilionário saudita, cujo nome era Osama bin Laden.

Irmandade Muçulmana

Fundada no Egito, em 1928, a Irmandade Muçulmana é um grupo fundamentalista sunita – político e religioso. O movimento atua em cerca de 70 países árabes do Oriente Médio, Ásia e África, e luta pela adoção da Sharia (leis islâmicas) nos estados árabes. Isso significa que o objetivo do grupo é que as leis do islamismo sirvam não apenas para ditar a forma de vida da população, mas que seja também a base das leis do Estado.

Outro objetivo da Irmandade Muçulmana é o estabelecimento de um califado: a unificação de países de população muçulmana em um único país. O lema da organização é: "Deus é nosso objetivo; o Alcorão, nossa Constituição, o Profeta (Maomé), nosso líder; a Jihad (guerra santa), nosso caminho e morrer pela glória de Deus é a maior de nossas aspirações."

Muitos analistas afirmam que a Irmandade Muçulmana é a precursora do islamismo militante moderno, pois sua origem é a seita islâmica sunita radical Wahabita. Essa seita, que é a base da sociedade da Arábia Saudita, inspirou a milícia islâmica do Talibã (presente no Afeganistão e Paquistão) e a organização internacional terrorista Al-Qaeda.

Wahabismo

O Wahabismo é um ramo puritano do Islã, que afirma que apenas o Corão (livro sagrado islâmico) e as palavras tradicionais do profeta Maomé são válidos.

O Wahabismo está associado ao combate à idolatria. Defende a proibição de certas práticas que considera idólatra, como o culto aos santos islâmicos. Proíbe, portanto, visitas à túmulos e santuários, inclusive de figuras sagradas para o islamismo. Proíbe também qualquer inovação religiosa. Além disso, determina que a vestimenta da mulher deve ser uma abaya preta que cubra absolutamente todo o seu corpo, exceto os olhos e as mãos.    

mulher muçulmana

O Wahabismo é acusado de ser uma “fonte de terrorismo global” e de fomentar desunião na comunidade muçulmana. Já os muçulmanos que aderiram ao Wahabismo acusam o restante do mundo muçulmano de ter abandonado a verdadeira fé religiosa, abrindo, assim, o caminho para o derramamento de sangue.

Um grande trunfo para a organização foi a vitória democrática de Mohammed Morsi em 2012, no Egito. Morsi pertence à Irmandade Muçulmana e ao chegar ao poder, passou a implementar a ideologia da Irmandade Muçulmana, visando a substituir as leis seculares do Egito por leis islâmicas. 

Em 2013, as imensas manifestações populares de grupos que se opunham à interferência religiosa na política levaram à derrubada de Morsi. Sua saída implicou em uma perda de poder do movimento, tanto no Egito como no restante do mundo árabe

Após Morsi ter sido removido do poder, a Irmandade Muçulmana e seu partido político (Partido Liberdade e Justiça) foram banidos no Egito.

Desde 2014, o presidente do Egito é o militar Abdel Fattah Saeed Hussein Khalil el-Sisi. Este era o Ministro da Defesa de Morsi e um dos líderes do golpe de Estado no Egito. O presidente El-Sisi aumentou o poder das Forças Armadas egípcias. Muitos o consideram um ditador.

Al-Qaeda

A Al-Qaeda é considerada a organização-mãe da Jihad ("guerra santa" islâmica) global. Na língua árabe, Al-Qaeda significa "A base".  Atualmente, a organização é uma rede informal de células terroristas, que agem de maneira semiautônoma em diversos países.

O objetivo da Al-Qaeda é barrar a influência ocidental em países muçulmanos e substituir governos moderados por regimes fundamentalistas islâmicos.
A Al-Qaeda foi fundada em 1988 por Osama bin Laden. Essa organização fundamentalista - responsável por coordenar e financiar ataques terroristas - é responsável pelo atentado contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque, ocorrido no dia 11 de setembro de 2001.

O grupo Al-Qaeda é responsável por uma série de atentados: o ataque contra as embaixadas dos Estados Unidos no Quênia e na Tanzânia em 1998; o ataque de 2004, que resultou na morte de 191 pessoas no metrô de Madri; o ataque de 2005 a metrôs e ônibus, que custou a vida de 56 pessoas em Londres; e o atentado suicida que matou a ex-primeira-ministra paquistanesa Benazir Buttho, entre muitos outros.

Dia 11 de setembro

Em 11 de setembro de 2001, 19 terroristas sequestraram quatro aviões comerciais, cheios de passageiros e de combustível, visando à maior destruição possível. Os terroristas colidiram dois dos aviões contra as Torres Gêmeas de Nova York e o terceiro contra o Pentágono, sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Acredita-se que o quarto avião tinha como alvo o próprio presidente dos Estados Unidos, mas a aeronave foi intencionalmente derrubada pelos passageiros. Estes, quando descobriram o que estava ocorrendo, heroicamente enfrentaram os terroristas.

11 de setembro - ataque às Torres Gêmeas

Os ataques de 11 de setembro de 2001 custaram a vida de 2.977 civis norte-americanos. Entre os mortos, havia 242 bombeiros, que entraram nos prédios em chamas para ajudar a salvar vidas.

Em retaliação aos atentados de 11 de setembro, os Estados Unidos lançaram uma ofensiva militar contra o governo Talibã do Afeganistão, cujo regime fundamentalista islâmico abrigara Osama bin Laden e seus seguidores. Os Estados Unidos invadiram o Afeganistão e permanecem no país.

O alvo principal foram as bases de treinamento da Al-Qaeda. As principais lideranças do grupo terrorista fugiram para o Paquistão e se instalaram em áreas tribais na fronteira com o Afeganistão, que eram pouco controladas pelo governo.

Muitos integrantes da organização foram dizimados pelos Estados Unidos em ataques executados por drones – aviões não tripulados – nas zonas tribais do Paquistão e Afeganistão. O poder e o número de ataques da Al Qaeda em países ocidentais declinaram significativamente desde as operações antiterrorismo norte-americanas.

Em 2011, Osama bin Laden, considerado o homem mais procurado do mundo, foi morto em uma missão secreta norte-americana. O líder terrorista vivia escondido em uma cidade do Paquistão. A execução de Osama bin Laden é considerada um dos maiores trunfos da presidência do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama.

Depois da morte de Osama bin Laden, as facções de sua organização terrorista se fortaleceram e passaram a agir de forma mais independente. Diversos grupos radicais alegam atuar em nome da Al Qaeda no mundo árabe, tanto na Península Arábica como na África. Contudo, tais grupos defendem seus próprios interesses.

Acredita-se que a base da Al Qaeda se encontra atualmente no Afeganistão e no Paquistão, mas seu núcleo perdeu força. A organização está perdendo a guerra de “marketing” para o Estado Islâmico. Hoje, os jihadistas preferem o Estado Islâmico ao Al Qaeda. O Estado Islâmico é uma organização mais notória, possui uma excelente campanha de recrutamento, inclusive por meio da Internet. Possuía vastos recursos financeiros antes de sofrer grandes perdas territoriais.

Algumas facções do Al-Qaeda

Frente al-Nusra

A Frente al-Nusra, cujo nome significa “frente de apoio para o povo sírio”, é considerada um braço oficial da Al Qaeda. Fundada em 2011, a Frente al-Nusra, que concentra suas forças no norte da Síria, é um dos principais grupos rebeldes do país. Estima-se que o número de seus integrantes seja entre cinco e sete mil pessoas. O objetivo da Frente al-Nusra é fundar um estado islâmico no país.

Em agosto de 2014, a Frente al-Nusra sequestrou cerca de 40 soldados que integravam as tropas de paz das Nações Unidas nas Colinas de Golã. Os soldados foram libertados alguns dias depois.

Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI)

A Al Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) é uma facção da Al-Queda no Norte da África. Essa organização é responsável por diversos atentados na Argélia e na Tunísia, por sequestros de turistas ocidentais e pela invasão, em 2013, de um campo de gás natural na Argélia, em que fez numerosos reféns. Quase 40 deles foram mortos durante a tentativa de libertação por militares argelinos.
Após a queda de Muamar Kadafi, o grupo apreendeu toneladas de armas de rebeldes líbios. Estes haviam sido armados por uma coalizão que incluía os Estados Unidos, a França e o Qatar.

A Al Qaeda no Magrebe Islâmico tem como objetivo impor um Estado islâmico religioso na Argélia, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos e Tunísia. O grupo visa a livrar o Norte da África da influência ocidental.

A Al-Qaeda na Península Arábica

A Al-Qaeda na Península Arábica é um dos braços mais ativos e notórios do Al-Queda. O grupo já atacou alvos Ocidentais, inclusive a revista satírica Charlie Hebdo, na França.

Os Estados Unidos já lançaram centenas de ataques por meio de drones contra a Al Qaeda no Iêmen. Assim, eliminaram vários líderes desse grupo terrorista.

Al Shabaab

Fundada em 2006 em meio à guerra civil da Somália, a organização radical islâmica Al Shabaab ("A juventude") é ligada ao Al-Qaeda e tem conexões com o grupo terrorista Boko Haram.

A organização luta para impor um Estado religioso na Somália. Sua ideologia fundamentalista não reconhece fronteiras nacionais.

A Al Shabaab realiza atentados terroristas por todo o Leste Africano. A organização assumiu a autoria do ataque que resultou na morte de mais de 60 pessoas em um shopping center em Nairóbi, capital do Quênia, em 21 de setembro de 2013.

Esse grupo terrorista controla parte do centro e do sul da Somália. Os piratas que agem na costa da Somália – e que são notórios pelos sequestros que realizam – pagam um “imposto” – 20% de sua receita – para a Al-Shabaab.

Boko Haram

Surgido em 2002, o Boko Haram (cujo nome significa "educação ocidental é pecado") é um grupo terrorista que vem aterrorizando a Nigéria e chocando o ocidente.

O Boko Haram prega uma versão do Islã que proíbe que os muçulmanos participem de qualquer atividade política ou social relacionada à sociedade ocidental. Isso inclui votar em eleições e até mesmo vestir camisas e calças. A organização condena a educação ocidental/secular e visa a proibir as mulheres de frequentar a escola.

O objetivo da organização é desestabilizar o governo nigeriano, estabelecer um califado e impor a Sharia (Lei Islâmica) em toda a Nigéria. 

A Nigéria é um terreno fértil para grupos fundamentalista, pois é um país muito populoso (190 milhões de habitantes), mas muito dividido por tribos e religiões distintas. Por outro lado, 70% de sua população vive abaixo da linha de pobreza. A Nigéria é um país dividido em segmentos religiosos: a maioria da população do norte do país é muçulmana, e do sul, cristã.

O grupo se concentra no norte do país, onde já impôs a Sharia.  A extrema pobreza e o desemprego no norte da Nigéria facilitam o recrutamento de guerrilheiros para o Boko Haram.

Desde o início de sua campanha militar, em 2009, o Boro Haram tem deixada a Nigéria em pânico.  Assim como o Estado Islâmico (EI), o grupo é conhecido por sua crueldade, por perpetrar atos terroristas com frequência e por recrutar crianças. As táticas da organização incluem ataques com homens-bomba, assassinatos, massacres, estupros, saques, sequestros em massa e ataques a vilarejos, cidades, escolas, igrejas, bases militares, delegacias e outros símbolos do Estado. O grupo já assassinou dezenas de milhares de pessoas desde 2009.

As principais fontes de renda do grupo são sequestros (o pagamento de resgates), assaltos a bancos e saques em delegacias e bases militares para a obtenção de armas.

Em 2014, o grupo chamou a atenção do mundo ocidental ao invadir uma escola de meninas e sequestrar mais de 200 estudantes. Muitas ainda não foram devolvidas. Acredita-se que as vítimas estão sendo estupradas pelo grupo e vendidas como escravas sexuais. De acordo com o suposto líder do grupo, Abubakar Shekau, as meninas foram “casadas” com seus soldados. Acredita-se que as meninas são vendidas como noivas a militantes do grupo por cerca de 12 dólares cada.

O Boro Haram já sequestrou milhares de crianças e mulheres. Alguns deles foram forçados a ser homens-bomba. Um dos objetivos do Boro Haram é impedir que crianças recebam uma educação laica.

Os críticos afirmam que o governo nigeriano fechou os olhos por muito tempo e demorou tempo demais para tomar medidas contra o Boko Haram. Assim, esse grupo terrorista se fortaleceu e o governo nigeriano perdeu o controle da situação, permitindo que o Boko Haram tomasse conta de áreas no norte do país. Os militantes do Boko Haram estão bem armados: possuem armas que saquearam de bases militares nigerianas. As forças de segurança nigerianas não conseguem combater esses terroristas.

Acredita-se que o grupo tenha laços com o Al Shabab, o Al Qaeda do Magreb Islâmico e o Al Qaeda na Península Arábica.

Estima-se que 2,4 milhões de pessoas já fugiram da violência gerada pelo Boko Haram na região de Baga, no nordeste da Nigéria, Camarões, Chade e Níger. Comunidades e famílias inteiras já foram destruídas. O mundo ocidental tem feito muito pouco para combater esses terroristas. A ONU e outros grupos humanitários trabalham para ajudar os refugiados.

Estado Islâmico (EI, EIIL ou ISIS)

O Estado Islâmico (EI) nasceu no Iraque em 2004. Esse grupo islâmico extremista surgiu como um braço do grupo terrorista Al-Qaeda. Contudo, devido aos métodos violentos que empregou e às atrocidades que cometeu, o EI passou a ser considerado radical até pelo próprio Al-Qaeda. Houve uma ruptura: o Estado Islâmico se tornou uma organização independente. O EI era liderado por Abu Bakr al-Baghdadi, queestá à frente dessa organização terrorista desde 2010.

O objetivo do EI é o de criar um califado: eliminar as fronteiras nacionais entre os países árabes e criar um único Estado, governado por um líder político e religioso, e regido pela lei islâmica, a Sharia.

O EI, além de extremamente violento e cruel, é muito bem armado. Antes de sofrer perdas territoriais, o grupo detinha um enorme poderio econômico. O dinheiro advinha de “impostos” coletados, da venda de petróleo, de resgates de sequestrados e do mercado negro de artefatos arqueológicos roubados.

O EI considera que os xiitas, que constituem a maioria da população iraquiana, são infiéis que merecem ser mortos. Ao mesmo tempo, afirmam que os cristãos têm de se converter ao Islã, pagar uma taxa religiosa ou serem executados.  O grupo persegue ativamente os “infiéis”. Por exemplo, no Iraque, o EI fez um cerco, massacrou e capturou milhares de yazidis

O EI é uma organização sanguinária e cruel, que pratica atos de barbárie: crucifica minorias religiosas, decapita jornalistas, escraviza pessoas, estupra mulheres, meninas e meninos e mata crianças.

Em 2014, o Estado Islâmico (EI) passou a ocupar importantes cidades do Iraque e anunciou que pretendia tomar a capital do país, Bagdá. O EI controlava territórios no Iraque e na Síria. No auge do califado, aproximadamente 10 milhões de pessoas viviam em territórios controlados pelo EI.

Em junho de 2014, o Estado Islâmico chocou o mundo com a captura de Mosul, a terceira maior cidade no Iraque. Essa cidade foi libertada apenas em julho de 2017, após cerca de nove meses de batalha. Mosul era considerada a “capital do califado do Estado Islâmico”.

O avanço do Estado Islâmico causou reação internacional. Os Estados Unidos e países aliados decidiram retornar ao Iraque e bombardear os militantes do EI para conter o crescimento e a expansão da organização.

Uma coalizão liderada pelos Estados Unidos e formada por mais de 40 países se mobilizou para destruir o Estado Islâmico (EI). A estratégia para derrotar o EI era: bombardeios aéreos, o apoio aos peshmerga (os guerrilheiros curdos) e a formação de um governo iraquiano que incluísse a presença de sunitas, curdos e cristãos. O novo governo se diferenciaria do anterior, que era controlado por xiitas.

O Estado Islâmico chegou a controlar 40% do território iraquiano. O exército do Iraque e seus aliados libertaram os territórios que estavam sob o controle do EI. Em dezembro em 2017, o governo iraquiano declarou que a guerra contra o EI havia sido concluída.

O Estado Islâmico participa da guerra civil na Síria. O EI é um dos vários grupos armados sunitas que lutam na guerra civil desse país contra o regime de Bashar al-Assad.

Muito analistas políticos preveem que graças às perdas territoriais e financeiras sofridas pelo EI, a organização abandonará a ambição de constituir um califado e dará prioridade à realização de ataques terroristas. Acredita-se que em 2016, o EI já operava em 18 países. De fato, nesse ano, o Estado Islâmico reivindicou ataques em diversos países: França, Bélgica, Inglaterra, Estados Unidos, Finlândia, Egito, Turquia e Indonésia.

Em outubro de 2019, agindo sob ordens do presidente Donald Trump, tropas especiais norte-americanas executaram o líder do Estado Islâmico.

O Estado islâmico perdeu todo o território que havia conquistado. Além disso, dezenas de milhares de seus combatentes foram mortos ou estão presos; e seu ex-líder, Abu Bakr al-Baghdadi, está morto. O presidente Donald Trump declarou vitória sobre o ISIS.

Contudo, há indicações de que o Estado Islâmico (IS) está se reorganizando. Seus militantes são mais bem-treinados e perigosos que os da Al Qaeda. O Estado Islâmico se adapta, fácil e agilmente, às novas circunstâncias. No momento, o Estado Islâmico não consegue tomar e manter território, mas os soldados da organização que conseguiram sobreviver, voltaram às suas raízes: realizam emboscadas, bombardeios e assassinatos. O grupo terrorista também conta com afiliados na Ásia e na África.

Hamas

O Hamas foi fundado em 1988. O Hamas é o maior dos vários grupos islâmicos palestinos. O nome é a sigla em árabe para “Movimento de Resistência Islâmica”. O Hamas abertamente clama pela destruição do Estado de Israel e promove atentados terroristas. Financiado por alguns de seus fundadores, a maior parte de seus recursos advém do exterior: Irã, Qatar e Turquia. O Hamas é uma organização terrorista que emprega violência e ataca alvos civis de forma indiscriminada. O grupo é considerado uma organização terrorista por Estados Unidos, União Europeia, Canadá e Japão.

O Hamas conta com um braço militar e outro político. Em sua Carta de Fundação, o grupo estabeleceu dois objetivos: promover a luta armada contra Israel, visando à destruição do Estado Judeu – missão que seu braço militar, as brigadas Al-Qassam, visa a realizar – e promover programas de bem-estar social para a população palestina. O braço militar do Hamas foi a primeira organização a utilizar homens-bomba em atentados terroristas. O Hamas introduziu essa forma de terrorismo em 1992.

No dia 25 de janeiro de 2006, após as forças israelenses terem se retirado de Gaza, os palestinos que habitam nesse território realizaram eleições e elegeram o Hamas. A vitória do Hamas em Gaza foi um grande obstáculo para qualquer negociação de paz com o Estado Judeu.

A vitória pelo Hamas em Gaza causou um rompimento com o Fatah – partido nacionalista fundado em 1959 pelo líder palestino Yasser Arafat. O Fatah, que hoje é representado pela Autoridade Palestina, liderada por Mahmoud Abbas, mantém diálogo com o governo de Israel e coopera com as forças de segurança israelenses para evitar a disseminação do terrorismo. O Hamas se opõe a qualquer acordo de paz com Israel. Em vez disso, defende a criação de um único Estado palestino que ocuparia a área onde hoje estão Israel, a Faixa de Gaza e a Cisjordânia.

Atualmente, há uma divisão entre as lideranças palestinas. O Hamas controla a Faixa de Gaza – tendo sido democraticamente eleito por seus habitantes – e a Autoridade Palestina governa a população árabe que vive na Cisjordânia.
Após o governo israelense desmantelar dos assentamentos judeus de Gaza e retirar suas forças que operavam nesse território, o Hamas e outras organizações terroristas passaram a lançar foguetes contra o território israelense. Após o lançamento de milhares de foguetes contra as cidades israelenses, Israel realizou ações militares contra os grupos armados de Gaza. Tais ações militares ocorreram em 2008, 2012 e 2014. 

Hezbollah

O Hezbollah (“Partido de Deus”) é uma organização terrorista política e militar, sediada no Líbano. É formada majoritariamente por muçulmanos xiitas e é financiada pelo Irã. Seu atual líder é o xeque Hassan Nasrallah.

O objetivo do Hezbollah é criar um Estado islâmico no Líbano, destruir o Estado de Israel e transformar Jerusalém em uma cidade totalmente muçulmana.

A hostilidade em relação a Israel é a principal plataforma do grupo. Em sua retórica, o partido pede a destruição do Estado Judeu e vê o país como ocupante de terras muçulmanas. O Hezbollah afirma que Israel não tem o direito de existir. Esse grupo terrorista é muito bem armado e treinado e conduz atos de terrorismo não apenas contra o Estado de Israel, mas também contra alvos judeus em outros países.

O Hezbollah é um dos principais grupos envolvidos na guerra civil na Síria: envia combatentes para lutar em prol do governo Assad.

A ameaça ao ocidente

A ameaça representada pelos grupos terroristas islâmicos transcende as fronteiras da África e do Oriente Médio. O terrorismo emana dessas regiões, mas já chegou a outras partes do mundo: Europa, América, Ásia e Oceania. Os grupos terroristas formam “células” em diversos países, planejam ataques elaborados e também convencem indivíduos a cometer atos terroristas.  Esses militantes fundamentalistas dizem que lutam em nome do Jihad – da “guerra santa” – e em nome do Islã.

Por meio da Internet, tais organizações conseguem entrar em contato e ganhar adeptos de diversas origens e países. Grupos como o Al-Qaeda e o Estado Islâmico têm se especializado no recrutamento de pessoas no Ocidente. Gravam vídeos em inglês, publicam revistas e atingem pessoas por meio das mídias sociais.

Nas fileiras do Estado Islâmico, estima-se que já lutaram 12.000 estrangeiros. Muitos deles são originários de países árabes, mas o grupo conta com cidadãos da Austrália, França, Bélgica, Grã-Bretanha, etc.

Alguns desses "combatentes estrangeiros" apareceram mascarados em vídeos do Estado Islâmico. Um dos vídeos publicados pelo EI, que mostra o jornalista norte-americano James Foley sendo decapitado, chama a atenção pelo fato de o terrorista que o decapitou falar com sotaque britânico.

O Ocidente teme que jihadistas estrangeiros, treinados em acampamentos terroristas, voltem para seus países e planejem ataques terroristas. Isso já ocorreu. Por exemplo, em 2005, houve ataques terroristas suicidas em Londres que resultaram na morte de 52 pessoas. Quatro muçulmanos britânicos cometeram esses ataques: dois deles haviam passado um período de treinamento em campos do Al Queda no Paquistão.

Outro exemplo desse fenômeno: o ataque terrorista em 2015 à França.

Je suis Charlie (“Eu sou Charlie”)

Em janeiro de 2015, uma série de atentados terroristas tomou conta da França. Dois terroristas muçulmanos assassinaram a tiros doze pessoas na sede da revista semanal satírica Charlie Hebdo. Ambos eram irmãos: Said e Chérif Kouachi. Um deles havia viajado para o Iêmen em 2011. Os irmãos alegaram que perpetraram o ataque em nome da Al Queda do Iêmen. Afirmaram que seu objetivo era vingar a honra do profeta Maomé, que era ridicularizado na revista Charlie Hebdo. Ambos Said e Chérif Kouachi foram capturados e mortos pela polícia francesa dois dias após o atentado à sede da revista Charlie Hebdo.

A revista atraiu a ira de fundamentalistas islâmicos porque publica charges do profeta Maomé. A Charlie Hebdo já havia sido alvo de uma bomba incendiária. Mas os integrantes da revista nunca cederam às ameaças e mantiveram sua linha editorial. Apesar da sede da revista contar com a proteção da polícia francesa, os dois irmãos conseguiram atingir seu alvo: assassinaram oito funcionários da publicação, um colaborador, um funcionário do prédio e dois policiais. Além dos mortos, 11 ficaram feridos, quatro em estado grave.

Após o atentado, as pessoas nas mídias sociais passaram a usar a frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”), que se tornou símbolo da campanha contra o terrorismo e a favor da liberdade de expressão.

Na mesma semana, um outro terrorista, Amedy Coulibaly, atirou e matou uma policial. Acredita-se que ele pretendia ir a uma escola judaica para cometer um ataque terrorista. No próximo dia, Coulibaly entrou em um supermercado judaico fazendo dezenas de pessoas reféns e matando quatro. O alvo escolhido foi simplesmente pelo fato de ser um supermercado frequentado por judeus.

Após os atentados, 3,7 milhões de pessoas marcharam pela França em solidariedade às 17 vítimas e em prol da liberdade de expressão. Muitos carregavam placas escritas “Je suis Charlie”, “Je suis policier”, “Je suis juif" (“Sou Charlie”, “Sou policial”, “Sou judeu”).

Cerca de 40 líderes mundiais marcharam de braços dados em Paris ao lado do presidente francês, François Hollande. Entre outros, estavam presentes a chanceler alemã, Angela Merkel, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, o ex-presidente francês Nicolas Sarkozy, o Rei Abdullah da Jordânia, o primeiro-ministro da Inglaterra David Cameron e Mahmoud Abbas, presidente da Autoridade Palestina.

A primeira edição da Charlie Hebdo lançada após o atentado trouxe na capa uma charge de Maomé, chorando e segurando um cartaz com a frase “Je suis Charlie” (“Eu sou Charlie”) e uma frase em cima do desenho escrito “Tudo está perdoado”.

Representação do Profeta Mohammed e a liberdade de expressão

As ilustrações do profeta Maomé que foram publicadas na revista Charlie Hebdo, no jornal dinamarquês Jyllands-Posten, ou em qualquer outro veículo de comunicação são consideradas ofensivas por grande parte do mundo muçulmano, principalmente pelos sunitas wahabitas.

De acordo com a lei Sharia, fazer uma representação do profeta Maomé é uma ofensa que deve ser punida com a morte. Os fundamentalistas muçulmanos consideram que tais representações são um insulto ao profeta – uma blasfêmia. Na Arábia Saudita, a blasfêmia é um crime capital.   

É importante esclarecer que o livro sagrado do islamismo, o Corão, não proíbe imagens de Alá ou do profeta Maomé. Tal proibição está explicita apenas na tradição islâmica (Hadith).

Pode-se ou não retratar o profeta e fundador do islamismo? Muitos no Ocidente reivindicam o direito da liberdade de expressão. Por outro lado, muitos no mundo árabe consideram que charges, filmes, ou qualquer representação do profeta são ofensivos ao islamismo.  Essa é uma questão polêmica, que gera revolta e violência. Alguns argumentam que deve haver um limite à liberdade de expressão: que liberdade de expressão não significa ter o direito de ofender ou tomar posições que levem ao ódio. Outro afirmam que a liberdade de expressão nunca pode ser restringida e que qualquer restrição viola as bases da democracia.

Após os atentados na França, jornais e canais de notícias ao redor do mundo expressam diversas opiniões sobre a publicação da capa da mais recente edição da revista Charlie Hebdo. Alguns jornalistas mostraram a capa, que retrata Maomé, aos telespectadores e expressam que isso era uma demonstração de liberdade de expressão e de solidariedade com as vítimas. Já outros jornalistas não divulgaram a capa da revista, alegando respeito ao islã e receio de ataques terroristas.

Grupos anti-Islã na Europa

Há cerca de 1.8 bilhão de muçulmanos no mundo. Os muçulmanos não extremistas sofrem discriminação devido às ações da minoria extremista muçulmana.  Apesar de governos e da mídia se esforçar para traçar uma clara distinção entre os seguidores do Islã e os extremistas, o aumento da islamofobia – o temor e ódio aos muçulmanos – é uma realidade preocupante.

Movimentos anti-islâmicos na Europa, principalmente na Alemanha, atraem cada vez mais adeptos. Líderes muçulmanos na Europa condenaram os ataques terroristas da França e alertam para o fato de que o crescente sentimento anti-islâmico é um dos motivos pelo aumento no apoio aos jihadistas em toda a Europa.

É preciso combater tanto a islamofobia quanto o terrorismo.

Terrorismo Islâmico na Europa

Uma das ameaças à continuidade da União Europeia é a questão da entrada no continente europeu de refugiados que advêm do Oriente Médio e da África. Um dos motivos por que muitos britânicos optaram pelo Brexit é que exigem que a imigração ao Reino Unido seja controlada. Temem que a livre entrada de imigrantes no país resultará em atentados perpetrados por terroristas que adentraram a Europa alegando serem refugiados em busca de asilo.

A Europa sofre constantes ataques terroristas há mais de uma década. Este é um breve resumo de alguns dos atentados ocorridos em solo europeu:

Inglaterra: 22 de maio de 2017
Um homem-bomba se explode no meio de uma multidão de milhares de pessoas que assistiam a um show de Ariana Grande, em Manchester. Morreram dezenas de pessoas, inclusive crianças e adolescentes. O ataque foi reivindicado pelo Estado Islâmico.

Inglaterra: 22 de março de 2017
Seis pessoas morrem, inclusive o atacante, e 50 outras são feridas em um ataque ocorrido em frente ao Parlamento britânico, em Londres. O autor do atentado é Khalid Masood, de 52 anos.

Alemanha: 19 de dezembro de 2016
Um homem dirigindo um camião propositalmente atropela um grupo de pessoas em um mercado de Natal, em Berlim. Pelo menos 12 pessoas morreram.

França: 27 de julho de 2016
Dois seguidores do Estado Islâmico fazem reféns e degolam um padre.

França: 14 de julho de 2016
O tunisiano Mohamed Lahouaiej-Bouhlel conduz um camião contra uma multidão em Nice que estava assistindo a fogos de artifício no dia nacional da França. O ataque resulta na morte de 84 pessoas.

Turquia: 28 de junho de 2016
Atentado à bomba ocorre no aeroporto Ataturk, em Istambul, Turquia. O ataque resulta na morte de mais de 40 pessoas, além de centenas de feridos.

Bélgica: 22 de março de 2016
Uma explosão no aeroporto de Zaventem e outra na estação de metrô de Malbeek, em Bruxelas, resultam na morte de mais de 34 pessoas.

França: 13 de novembro de 2015
Uma série de atentados perpetrados em Paris causam a morte de 130 pessoas. O mais mortal ataque ocorre na casa de show Bataclan: terroristas fuzilam várias pessoas e fazem reféns até o início da madrugada de 14 de novembro. As pessoas haviam ido assistir a um show de música. Mais de 350 pessoas ficam feridas. O Estado Islâmico se responsabiliza pelos ataques.

França: 7 a 9 de janeiro de 2015
Uma série de ataques é perpetrada na França – contra a publicação Charlie Hebdo (12 mortos), um supermercado de produtos kasher (quatro mortos) e uma agente da polícia municipal. Os três terroristas abatidos afirmam pertencer à organização terrorista Al Qaeda na Península Ibérica ou ao Estado Islâmico.

Reino Unido: 7 de julho de 2005
Quatro atentados suicidas coordenados atingem três linhas do metropolitano londrino, resultando na morte de 56 pessoas e deixando 700 feridos. Os ataques são reivindicados por um grupo pertencente à organização terrorista Al Qaeda.

Espanha: 11 de março de 2004
Bombas explodem em Madrid e na periferia norte, a bordo de quatro comboios, resultando na morte de 191 pessoas. Duas mil pessoas são feridas. O ataque, reivindicado pela Al Qaeda, é o pior atentado terrorista na Europa ocidental desde o de Lockerbie (Escócia), ocorrido em 1988, em que morreram 270 pessoas na explosão de um avião da Pan Am.

Sumário

- Irmandade Muçulmana
- Al-Qaeda
- Algumas facções do Al-Qaeda
i. Frente al-Nusra
ii. Al Qaeda no Magrebe Islâmico
iii. A Al-Qaeda na Península Arábica
iv. Al Shabaab
- Boko Haram
- Estado Islâmico (EI, EIIL ou ISIS)
- Hamas
- Hezbollah
- A ameaça ao ocidente
- Je suis Charlie (“Eu sou Charlie”)
- Representação do Profeta Mohammed e a liberdade de expressão
- Grupos anti-Islã na Europa
- Terrorismo Islâmico na Europa

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