Empirismo

EMPIRISMO

No século XVII, no plano religioso e artístico, houve uma generalizada intolerância e fanatismo derivados dos conflitos entre católicos e protestantes. Entretanto, no plano científico e filosófico, assistiu-se ao desabrochar de novas maneiras de pensar que podem ser vistas como herdeiras do período renascentista.

Essa maneira “moderna” de pensar não consiste apenas em negar os dogmas e modelos medievais, mas fundamenta-se na ideia positiva de que a norma da descoberta e da interpretação da Ciência é a experiência e não a autoridade. Dada essa premissa, a atividade científica deixará de ser uma mera observação e classificação dos fenômenos e passará a se preocupar com a determinação das leis que regem os fenômenos. É exatamente essa atividade da Ciência experimental e seu método de trabalho (a análise) que alimentaram a atividade filosófica do século XVII.

Empirismo – é a teoria que a origem de todo conhecimento advém da experiência sensorial.  

Esses novos métodos de investigação científica tiveram em Francis Bacon (autor de Novum Organum, publicado em 1620) um de seus iniciadores e, seguramente, um de seus principais formuladores. Ele afirmou que a partir das experiências, podem-se inferir leis gerais dos fenômenos. Dessa forma, fundou o Empirismo.

O Empirismo é um movimento filosófico que cresceu, principalmente na Inglaterra, durante o Iluminismo dos séculos XVII e XVIII. Destacam-se os filósofos ingleses – Thomas Hobbes, John Locke, George Berkeley e David Hume.

Empirismo

O Empirismo é a teoria que a origem de todo conhecimento advém da experiência sensorial

Essa teoria enfatiza o papel da experiência e da evidência, especialmente o da percepção sensorial, na formação de ideias. O Empirismo defende a ideia de que o único conhecimento que os seres humanos podem ter é a posteriori (isto é, baseado em experiências). A maioria dos empiristas desconsidera o conceito de ideias inatas – o conceito de que a mente nasce com ideias e conhecimentos em vez de nascer como uma “tabula rasa” a ser preenchida.

O Empirismo ensina que para se construir um corpo de conhecimento mais complexo por meio de observações diretas, deve-se empregar o processo de indução. A indução é o raciocínio que, após considerar um número suficiente de casos particulares, conclui uma verdade geral. Esse tipo de conhecimento é também denominado conhecimento empírico indireto.

A Ciência Moderna e o Método Científico são considerados metodologias empíricas, pois dependem da metodologia indutiva para fins de investigação científica.

O Empirismo é contrastado com o Racionalismo – a teoria de que a mente pode apreender algumas verdades diretamente, sem necessitar dos sentidos. O Racionalismo firmou raízes na Europa Continental na mesma época em que se difundiu o Empirismo, por meio das obras de Descartes, Leibniz e Espinosa, entre outros. Locke, Berkeley e Hume vigorosamente defendiam o Empirismo contra as teorias dos Racionalistas. 

Filósofos

Thomas Hobbes

Thomas Hobbes (1588-1679), filósofo inglês do século XVII, fundou os estudos iniciais das Ciências Políticas. Após presenciar os horrores da Guerra Civil Inglesa, Hobbes concluiu que os conflitos fazem parte da natureza humana e que com a ausência de governantes haveria "guerra de todos contra todos".

Em seu livro Leviatã ou a essência, forma e poder de uma comunidade eclesiástica e civil (1651), Hobbes abandonou a ideologia religiosa para justificar o absolutismo. Hobbes descreveu que para evitar conflitos contínuos, as pessoas deveriam abrir mão de seus direitos e cedê-los a fortes governantes que garantiriam a lei e a ordem. Sua doutrina do "contrato" afirma que em "estado natural", os homens lutam entre si. Então, para sobreviverem, renunciam a seus "direitos naturais" por meio de um contrato tácito, transferindo-os ao estado, cuja soberania sobre os súditos é, assim, absoluta, indivisível e irrevogável.  Hobbes denominou esse acordo entre o povo e seus governantes de Contrato Social.

Thomas Hobbes defendia a ideia de que os homens são naturalmente inaptos para a vida social. Ele argumentou que o ser humano é, por definição, egoísta e que, portanto, um governante precisaria de poder absoluto para manter seus cidadãos sob controle. Ele argumentava que os homens deviam entregar sua liberdade em troca de segurança. Hobbes afirmava que a missão do estado é reprimir o egoísmo e promover a paz. O filósofo acreditava que o Contrato Social se justifica porque os interesses egoístas predominam entre os homens a tal ponto que cada indivíduo possa representar um perigo eminente aos outros.

Hobbes acreditava que independentemente de quão cruel ou injusto fosse um líder, todos os cidadãos deveriam obedecê-lo, pois qualquer rebelião contra o líder político resultaria na formação de uma sociedade sem leis.  Segundo esse filósofo, o Estado está representado da forma mais perfeita pelo rei. Hobbes foi um dos ideólogos do absolutismo Stuart na Inglaterra.

John Locke

John Locke (1632-1704), filósofo e ideólogo da Revolução Inglesa, é considerado um dos pais do empirismo inglês e o pai do Liberalismo.

No final do século XVII, na Inglaterra, os fenômenos do acúmulo de propriedade privada e do avanço da burguesia foi expressa nas doutrinas de John Locke. Ao contrário de Hobbes, John Locke não acreditava que os seres humanos são naturalmente egoístas e violentos. Acreditava que o caráter das pessoas era constituído e moldado por suas experiências de vida e que as pessoas poderiam aprender e se auto aperfeiçoar por meio de experiências passadas. Locke era partidário da ideia de autogoverno.

Segundo Locke, todas as pessoas nascem livres, iguais e imbuídas de três direitos naturais - vida, liberdade e propriedade. Ele afirmava que o propósito do governo é proteger tais direitos, e caso venha a falhar, os cidadãos têm o direito de removê-lo do poder.

A premissa de Locke era que a finalidade da política é a busca da felicidade, que reside na paz, na harmonia e na segurança. Segundo o filósofo, os homens saíram do estado natural para o de sociedade civil com a finalidade de garantir a propriedade privada, base da propriedade geral, por meio do livre contrato entre governantes. De acordo com essa perspectiva, o poder supremo deve ser concentrado nas mãos do Legislativo, que é o poder representativo da sociedade. Para Locke, o Absolutismo que consiste na concentração do poder nas mãos do Executivo é um fenômeno antinatural.

A obra de Locke é a sistematização da defesa da propriedade privada e do Estado burguês, além de ser a afirmação do individualismo, da tolerância e da liberdade religiosa, sem as quais não seria possível o progresso econômico e científico.

John Locke
John Locke

A teoria de Locke teve grande influência sobre o pensamento político moderno. Sua afirmação de que o poder de um governo provém do consentimento de seu povo é o pilar da democracia moderna. As ideias de que o governo deve ser eleito baseado no consentimento popular e de que as pessoas têm o direito de se rebelar contra líderes injustos, inspiraram as lutas por liberdade na Europa e nas Américas. Essas ideias, expressas sobretudo na obra Ensaios sobre o Governo Civil, publicada em 1695, foram desenvolvidas no século XVIII e postas em prática na Revolução Francesa e na luta por independência dos Estados Unidos.

Tabula Rasa

John Locke acreditava que todas as nossas ideias derivam da experiência.

Locke postulava, em contraste à filosofia cristã, que a mente era uma "tabula rasa" em que experiências passadas deixavam suas marcas. Ele negava o conceito de que os seres humanos possuem ideias inatas ou que algo possa ser apreendido na ausência da experiência.

Ele argumentava que nossas ideias, tanto as simples como as complexas, derivam de nossas experiências e de nossos sentidos. Afirmava que o conhecimento que se pode adquirir é, portanto, bastante limitado e que nunca podemos compreender a natureza interna do que nos rodeia: podemos apenas compreender seu comportamento e o efeito exercido sobre nós e sobre as outras coisas. Por meio de nossos sentidos, conhecemos as propriedades e as qualidades do mundo externo. 

A diferença fundamental entre os ensinamentos de Locke e os de Descartes e dos filósofos que o precederam resume-se à importância que é dada aos sentidos. Descartes afirmava que os sentidos nos levam a certas crenças, mas que isso, por si só, não equivale ao próprio conhecimento. Descartes acreditava que o conhecimento necessita de interpretações e explicações, providos por meio da razão e do intelecto. Para Locke, porém, os sentidos são uma capacidade básica e fundamental que levam ao conhecimento.

Contudo, Locke acreditava que certos conhecimentos (o conhecimento sobre a existência de Deus, por exemplo) podem ser alcançados por meio de intuição e da razão.

George Berkeley - Filosofia imaterialista

O bispo George Berkeley (1685-1753), filósofo irlandês, é considerado por muitos como tendo sido o pai do Idealismo moderno. O Empirismo de Berkeley é muito mais radical do que o de John Locke e o de David Hume.

Em sua obra, “Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano”, Berkeley publicou, pela primeira vez, sua teoria de que objetos existem apenas como percepções e não como matéria que possa ser separada da percepção.

Berkeley ensinava que as características conhecidas por meios sensoriais são tudo que podemos saber a respeito do mundo externo. Berkeley acreditava que o que conhecemos do mundo externo são as qualidades reveladas pelos nossos sentidos e que a existência das coisas nada mais é do que a percepção que temos delas.  Berkeley afirmava que uma substância material não pode ser conhecida em si mesma, e que o que se conhece, na verdade, resume-se às qualidades reveladas durante o processo perceptivo. Assim, o que existe realmente nada mais é do que um feixe de sensações. Tal conceito foi resumido por seu ditado: “Esse est percipi” – “Ser é ser percebido”.

Essa teoria sustenta o ponto de vista de que a realidade consiste exclusivamente de mentes e suas ideias e de que as pessoas podem conhecer de forma direta apenas sensações e ideias, e não a própria matéria. O conceito de que a mente é a única coisa que sabemos que existe (e que o conhecimento de qualquer coisa que resida fora da mente é injustificado) é considerado uma forma extrema de Empirismo, na qual qualquer conhecimento sobre o mundo empírico pode ser adquirido apenas por meio da percepção direta. Isso significa que toda a realidade depende da ideia que fazemos das coisas. Tal conceito nega a existência da matéria como algo independente da mente.

Berkeley acreditava que ideias abstratas são a fonte de toda perplexidade e ilusão filosófica. Em sua obra, Tratado sobre os Princípios do Conhecimento Humano, Berkeley argumentou, conforme descrito por Locke, que ideias abstratas não podem ser formadas, não são necessárias para a comunicação ou para o conhecimento e são inconsistentes e, portanto, inconcebíveis.

Apesar de seu empirismo, Berkeley, graças à sua religiosidade, defendeu a imaterialidade do mundo.

Ao reconhecer as possíveis falhas teológicas de sua teoria, Berkeley propôs o seguinte conceito: se ele ou outra pessoa enxergasse uma mesa, isso significaria que a mesa existe. Contudo, se ninguém a enxergasse, a mesa existiria apenas se houvesse uma Menta Infinita, que percebe tudo, a enxergando. Tal Mente seria Deus. De acordo com Berkeley, o ser humano se comunica com Deus por meio de suas experiências.

Berkeley acreditava que todas as experiências humanas são apenas ideias, percepções ou qualidades enviadas por Deus. Para Berkeley, o conhecimento de si próprio e o conhecimento de Deus são exceções à regra do Empirismo de que a experiência é a fonte de todo o conhecimento. 

David Hume

David Hume (1711-1776) foi um filósofo, economista e historiador escocês.  Ateu e cético, veio a ser considerado um dos mais importantes filósofos britânicos de todos os tempos. Hume exerceu grande influência sobre outros filósofos, inclusive Immanuel Kant.

Em sua obra “Investigação acerca do entendimento humano”, Hume apresentou sua Teoria do Conhecimento. Segundo Hume, a experiência humana é o mais próximo que se pode chegar da verdade. Ele também afirmava que a experiência e a observação devem ser os fundamentos de qualquer argumento lógico.

David Hume argumentava que todo o conhecimento humano pode ser classificado em uma de duas categorias: relações de ideias (proposições envolvendo alguma observação do mundo, como “o sol nasce no leste”) e questões de fato (proposições matemáticas e lógicas). Hume acreditava que as ideias são derivadas de impressões, percepções e sensações obtidas pelos órgãos dos sentidos e armazenados na memória. Por meio das percepções repetidas, chega-se a uma conclusão geral. Contudo, segundo Hume, tal conclusão geral não possui fundamento lógico. Exemplificando: observa-se que todo dia o sol nasce no leste, mas a lógica não pode garantir que isso sempre ocorrerá. Para Hume, somente o raciocínio dedutivo, por meio da Matemática, possui lógica racional.

Hume argumentou que mesmo as crenças mais básicas sobre o mundo natural ou sobre a própria existência não podem ser estabelecidas de forma conclusiva pela razão. Ele afirmou que aceitamos tais crenças devido a instintos e costumes. Ele admitia que por meio de costumes e da imaginação, acreditamos em coisas que estão além da possibilidade de serem vivenciadas pelo ser humano. Hume era cético quanto a afirmações que se baseassem nesse tipo de conhecimento.

O ponto de vista de Hume sobre identidade pessoal surgiu de um argumento similar. Para Hume, tudo que os objetos possuem são suas características ou qualidades. Portanto, argumentou o filósofo, uma maçã desprovida de todas as suas características (cor, tamanho, formato, cheiro, gosto, etc.) seria impossível de ser imaginada e, portanto, efetivamente deixaria de existir. Hume acreditava que o mesmo argumento se aplica ao ser humano. Ele acreditava que o “eu” não era nada mais do que um “feixe” de percepções interconectadas, ligadas por meio das propriedades de constância e coerência – uma visão conhecida como a Teoria do Eu como feixe. Tal visão é a antítese da afirmação de Descartes de que, “Penso, logo existo”.

Hume também desenvolveu muitas teorias que ainda prevalecem no campo da Economia. Ele influenciou Adam Smith e outros economistas. Hume acreditava na necessidade da distribuição desigual da propriedade, argumentado que uma distribuição igual destruiria as ideias de frugalidade e assiduidade, o que levaria, cedo ou tarde, à pobreza.

O trabalho filosófico de Hume é ainda influente e relevante. Suas ideias permanecem modernas, desafiadoras e provocantes.

Sumário

- Empirismo
- Filósofos
i. Thomas Hobbes
ii. John Locke
iii. George Berkeley
iv. David Hume

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