Surrealismo

Neorrealismo

O Neorrealismo, também conhecido como Geração Neorrealista, representou o terceiro momento do Modernismo português. Entre sua propostas, destacam-se:

  • Reação à alienação do Presencismo;
  • Influência das literaturas norte-americana e brasileira (2o. Tempo Modernista);
  • Literatura engajada, comprometida com a crítica e a denúncia social - conscientização do leitor; visão mais completa e integrada dos homens;
  • Consciência do dinamismo da realidade;
  • Simplificação da expressão artística;
  • Principais nomes: Alves Redol, Ferreira de Castro, Fernando Namora.

Alves Redol:

Alves Redol

  • Foi o principal militante do Neorrealismo, tendo participado ativamente de movimentos operários;
  • Cultivou o teatro, o conto e o romance, com destaque para este último gênero;
  • Análise, crítica e denúncia das condições de vida das classes menos favorecidas;
  • Obra engajada, comprometida com a necessidade de transformações sociais;
  • Linguagem de influências expressionistas - riqueza de imagens que aproximam o leitor dos problemas sociais;
  • Principais obras:
    • contos: Nasci com passaporte de turista; Espólio; Histórias afluentes.
    • romances: Gaibéus; Marés; Horizonte cerrado; Uma fenda na muralha; O muro branco, com destaque para Gaibéus.

Ferreira de Castro:

  • Esteve no Brasil, na selva amazônica, trabalhando em um seringal, em 1910 - A selva;
  • Obra de cunho social, engajada, em linguagem simples e acessível, natural, espontânea;
  • Principais obras: A selva; Criminoso por ambição; Os emigrantes; A missão, com destaque para A selva, sua obra-prima.

Fernando Namora:

  • obra: caráter de crônica social e de costumes;
  • crítica e denúncia das injustiças sociais;
  • análise psico-social e preocupação existencialista;
  • principais obras:
    • contos: Retalhos da vida de um médico; Cidade solitária.
    • romance: A noite e a madrugada; O trigo e o joio; O homem disfarçado.

O Surrealismo

O Surrealismo português teve origem no movimento surrealista de André Breton, de 1924, e apresentou os seguintes traços:

  • concepção de literatura baseada nos conteúdos oníricos e do inconsciente;
  • “Escrita automática” -automatismo verbal e escrito;
  • Ilogismo, livre associação de ideias e de palavras;
  • Modificação das estruturas da realidade.
  • Grupo Surrealista de Lisboa: Antônio Pedro, José Augusto França, Alexandre O´Neill, Mário Cesariny de Vasconcelos.

Tendências contemporâneas

Entende-se por literatura de tendências contemporâneas a que se desenvolveu em Portugal a partir de 1974, quando a Revolução dos Cravos pôs fim ao regime salazarista.

Este tem sido um período de efervescência cultural na literatura, com destaque para a prosa de ficção, em que despontam nomes como José Saramago — Prêmio Nobel de Literatura em 1998 —, Agustina Bessa-Luís, Lobo Antunes, Lídia Jorge, Mário de Carvalho; José Cardoso Pires, Vergílio Ferreira, Antônio Ramos Rosa, Urbano Tavares Rodrigues etc. Entre eles, mereçam menção especial José Saramago e Agustina Bessa-Luís.

José Saramago

José Saramago

José Saramago nasceu em 1922, em Azinhaga, Concelho da Golegã; é autodidata: possui apenas o curso industrial. Em 1998, recebeu o Prêmio Nobel de Literatura, o primeiro para um autor da língua portuguesa. É o autor português mais conhecido da literatura contemporânea, traduzido para várias línguas.

Iniciou-se na literatura como poeta, em 1966, mas cultivou também a crônica e o teatro, além da prosa de ficção (romance), o melhor de sua obra. É ideologicamente ligado à esquerda, no plano político-social, pregando a defesa dos trabalhadores contra a opressão capitalista e mostrando identificação com as camadas populares.

Entre outras, sua obra apresenta as seguintes características:

  • ironia sutil, fina;
  • estilo vigoroso, vivo, marcado pela síntese de diferentes níveis linguísticos, lembrando as características do Barroco:
    • língua culta, erudita, mesclada à linguagem oral, popular;
    • uso de arcaísmos;
    • preferência por parágrafos longos, muitas vezes ocupando páginas seguidas;
    • frase desenvolta, elástica, exprimindo sutilezas de forma e de sentido;
    • eliminação da pontuação convencional;
    • emprego da vírgula como principal sinal de pontuação;
    • narrativa ora ágil, fluente, ora lenta, intrincada, de acordo com a intenção do narrador.

José Saramago faz a retomada ficcional da história portuguesa, com uma visão crítica da história e da atualidade de Portugal; assim, de certo modo, procede à atualização da visão histórica de Camões, Antônio Vieira e Alexandre Herculano. Sua perspectiva é diferente da de Alexandre Herculano: para Saramago, a história é viva, e está sempre se modificando.

Para ele, o século mais importante para Portugal não é o XVI (expansão ultramarítima), mas o XVIII, por causa do ouro do Brasil: a euforia e o excesso de deslumbramento teriam influenciado a decadência portuguesa posterior.

Além do novo enfoque histórico e do estilo vigoroso, sua obra apresenta as seguintes características:

  • abrangência temática - da Idade Média aos problemas do homem português contemporâneo;
  • reflexões sobre temas universais e atemporais:
    • as contradições das relações humanas;
    • a solidão, a (falta de) solidariedade, o amor, a incomunicabilidade do ser humano;
    • a opressão dos poderosos sobre as camadas mais humildes;
    • o papel do povo na construção da história da sociedade;
  • obras principais - prosa de ficção:
    • Jangada de pedra;
    • Memorial do Convento;
    • O Ano da morte de Ricardo Reis;
    • O Evangelho segundo Jesus Cristo;
    • Ensaio sobre a cegueira;
    • Todos os nomes;
    • A caverna.

Texto escolhido:

"Já lá vai pelo mar fora padre Bartolomeu Lourenço, e nós que iremos fazer agora, sem a próxima esperança do céu, pois vamos às touradas, que é bem bom divertimento. Em Mafra nunca as houve, diz Baltasar, e, não chegando o dinheiro para os quatro dias da função, que este ano foi arrematado caro o chão do Terreiro do Paço, iremos ao último, que é o fim da festa, com palanques ao redor todo da praça, até do lado do rio, que mal se veem as pontas das vergas dos barcos além fundeados, arranjaram bons lugares Sete-Sóis e Blimunda, e não foi por chegarem mais cedo que os outros, mas porque um gancho de ferro, na ponta de um braço, abre caminho tão fácil como a colubrina que veio da Índia e está na torre de S. Gião, sente um homem tocarem-lhe nas costas, volta-se para trás, é como se tivesse a boca de fogo apontada à cara. A praça está toda rodeada de mastros, com bandeirinhas no alto e cobertos de volantes até o chão, que adejam como a brisa, e à entrada do curro armou-se um pórico de madeira, pintada como se fosse mármore branco, e as colunas fingindo pedra da Arrábida, com os frisos e cornijas dourados. Ao mastro principal sustentam-no quatro grandíssimas figuras, pintadas de várias cores e sem avareza de ouro, e a bandeira, de folha-de-flandres, mostra de um lado e do outro o glorioso Santo Antônio sobre campos de prata, e as guarnições são igualmente douradas, com um grande penacho de plumas de muitas cores, tão bem pintadas que parecem naturais e verdadeiras, com que se remata o varão da bandeira. Estão as bancadas e os terrados formigando de povo, reservadamente acomodadas as pessoas principais, e as majestades e altezas miram das janelas do paço, por enquanto ainda andam os aguadores a aguar a praça, oitenta homens vestidos à mourisca, com as armas do Senado de Lisboa bordadas nas opas que trazem vestidas, impacienta-se o povinho que quer ver sair os touros, já se foram embora as danças, e agora retiram-se os aguadores, ficou o terreiro um brinco, cheirando a terra molhada, parece que o mundo se acabou agora mesmo de criar, esperem-lhe pela pancada, não tardam aí o sangue e a urina, e as bostas dos touros, e os benicos dos cavalos, e se algum homem se borrar de medo oxalá o amparem as bragas, para não fazer má figura diante do povo de Lisboa e de D. João V."
Memorial do convento

Agustina Bessa-Luís

Agustina Bessa-Luís

Agustina Bessa-Luís nasceu em Vila Meã, localidade a cerca de 50 quilômetros da cidade do Porto, a 15 de outubro de 1922.

Depois da escola primária, frequenta o Colégio das Doroteias em Póvoa do Varzim, ocasião em que se apaixona pela leitura da Bíblia, especialmente o Velho Testamento. As férias e parte de sua adolescência são passadas no Douro, lugar que está presente em alguns de seus livros.

Em 1938 lê A selva, de Ferreira de Castro, livro que a impressiona vivamente; tem então 16 anos e promete a si mesma que também escreverá um livro, e em breve.

Em 1948, Agustina publica seu primeiro livro, Mundo fechado, uma novela calorosamente recebida no meio literário português. No ano seguinte, novo livro, desta vez um romance que tem como pano de fundo a cidade de Coimbra, onde ainda mora a escritora.

Publica o seu segundo romance, ambientado em Coimbra. Desde aí, não parou mais de escrever e é reconhecida, hoje, como um dos maiores nomes da literatura portuguesa contemporânea.

A extensa obra da escritora - cerca de 50 publicações - referencia constantemente a cidade do Porto, assim como suas cercanias, como fator de influência do meio na caracterização de suas personagens.

De 1960 a 1980, entre viagens, prêmios e intensa vida intelectual, publica novas obras:

  • Ternos guerreiros;
  • O manto (romances);
  • Embaixada a Calígula (crônicas);
  • O sermão de fogo, Os quatro rios;
  • A dança das espadas;
  • Canção diante de uma porta fechada;
  • Homens e mulheres;
  • As categorias (romances);
  • A brusca (contos);
  • Santo António (biografia);
  • As pessoas felizes;
  • Crônica do Cruzado Osb;
  • As fúrias;
  • Fanny Owen;
  • O mosteiro (romances) e etc.

Em 1981 é proposta, pelo Pen Clube Português, para o Prêmio Nobel de Literatura, que seria obtido, anos mais tarde, por seu conterrâneo e contemporâneo José Saramago.

Entre 1983 e 1996 novas obras vêm-se somar à rica coleção de títulos da autora. Destacam-se os romances Os meninos de ouro, Adivinhas de Pedro e Inês, A monja de Lisboa, A Corte do Norte, Prazer e glória, Vale Abraão, Um bicho da Terra (biografia romanceada) Contos amarantinos, Memórias laurentinas.

Sua obra é dotada de caráter pessoal, de grandeza e luz próprias, alheia a influências estrangeiras ou mesmo portuguesas modernistas e marca a renovação do romance português. É uma obre de caráter introspectivo, marcada por uma imaginação fecunda e pelo senso de observação e análise, em que se nota a fusão entre o regionalismo e o universalismo na análise psicológica e a sutileza e profundidade na sondagem do interior das personagens, cujas peculiaridades desvenda aos poucos.

Texto escolhido:

"Eis Germa, eis a sua vez agora e o seu tempo de traduzir a voz da sua sibila. Talvez, porém, o seu tempo seja improdutivo e nefasto, e ela fique de facto silenciosa, porque - quem é ela para ser um pouco mais do que Quina e esperar que os tempos novos sejam mais aptos a esclarecer o homem e a trazer-lhe a solução de si próprio? Talvez ela fique de facto imóvel no seu constante, lento ou vertiginoso baloiçar, na casa que fortuitamente habita, e a sua história fique hermeticamente fechada no círculo de aspirações que não conseguiu detalhar e cumprir, porque aconteceu ser cedo ou ser tarde, porque não se compreende ou não se crê o bastante, porque se deseja demasiado e isto é todo o destino, porque... porque..."
A sibila

Sumário

- Neorrealismo
i. Alves Redol
ii. Ferreira de Castro
iii. Fernando Namora
- O Surrealismo
i. Tendências contemporâneas
- José Saramago
- Agustina Bessa-Luís

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