Segunda Fase do Modernismo no Brasil

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Segunda Fase do Modernismo no Brasil

A segunda fase do Modernismo no Brasil representou o segundo momento do movimento modernista no País. A segunda fase do Modernismo no Brasil é também denominada “Geração de 30” e foi caracterizada pela consolidação dos ideais modernistas que foram apresentados na Semana de Arte Moderna de 1922.

Contexto Histórico

À época do Segundo Tempo Modernista, o Brasil vivia o seguinte contexto:

  • 1929 - crise da Bolsa de Nova Iorque - depressão no mundo capitalista - Brasil - crises econômicas - "crise do café" - queda no preço e nas exportações - fechamento de fábricas, salários baixos, desemprego - pânico, fome e desespero entre o povo;
  • Revolução de 1930 - movimento envolvendo, de um lado, parte da oligarquia brasileira - insatisfeita com o predomínio dos senhores do café e apoiada por outros setores descontentes da sociedade , como os jovens tenentes e as classes médias urbanas - e, de outro, governantes da República Velha - Aliança Liberal X República Velha - ascensão de Getúlio Vargas ao poder:
    • centralização do poder - fim da autonomia dos Estados;
    • medidas industrializantes;
    • autoritarismo - repressão, torturas, exílio para os opositores do governo;
    • cerceamento da produção cultural - censura prévia;
    • popularização do futebol e oficialização do carnaval;
    • época áurea do rádio - primeiro meio de comunicação de massa no Brasil;
    • aparecimento do samba-canção - Noel Rosa, Pixinguinha, Ataulfo Alves, Dorival Caymmi, Francisco Alves, Carmem Miranda, Vicente Celestino.
  • 1932 - Revolução Constitucionalista em São Paulo - tentativa de reconquistar a hegemonia perdida, com o pretexto de exigir a constitucionalização do país;
  • 1935 - movimento comunista em prol da instauração do Socialismo no país - Aliança Nacional Libertadora;
  • 1938 - Revolta Integralista - combate ao Comunismo e proposta de organização de um Estado forte, baseado nas corporações profissionais;
  • 1942 - entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial, a favor do Aliados - declaração de guerra à Itália e à Alemanha;
  • 1944 - partida da Força Expedicionária Brasileira para a Itália;
  • 1945 - fim da Segunda Guerra Mundial;
    • queda de Getúlio Vargas - fim do Estado Novo;
    • eleição de Eurico Gaspar Dutra.

Características do Modernismo no Brasil 

A literatura do Segundo Tempo Modernista apresentou as seguintes características:

  • Certo recuo em relação às propostas mais radicais da "Fase Heroica";
  • Consolidação das conquistas novas da primeira geração;
  • Generalização e aprofundamento da mistura de estilos;
  • Ampliação da temática para o universal - preocupação existencial de pretensões universalistas - o tempo, o amor e a morte novamente enfocados, sob nova perspectiva;
  • Preocupação religiosa e filosófica na poesia ;
  • Poesia:
    • tensão ideológica e filosófica - Carlos Drummond de Andrade;
    • cunho religioso e espiritualista - Grupo "Festa": Cecília Meireles, Vinícius de Moraes (1a. fase), Augusto Frederico Schmidt, Jorge de Lima;
    • influências do Surrealismo - Murilo Mendes;
    • Prosa:
    • neorrealismo regionalista e social - Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raquel de Queirós, José Américo de Almeida, Jorge Amado;
    • romance psicológico - Érico Veríssimo, Cornélio Pena, Marques Rebelo, Ciro dos Anjos e outros.

Cecília Meireles

Cecília Meireles

Cecília Meireles nasceu no Rio de Janeiro (1901) e lá morreu, em 1964. Nasceu órfã de pai e perdeu a mãe aos três anos de idade; foi educada pela avó materna, uma senhora portuguesa. Sempre voltada para os estudos e a leitura, inclinou-se também para a Música. Dedicou-se ao magistério infantil por longo tempo; lecionou Literatura Brasileira na Universidade do Distrito Federal e na Universidade do Texas, de 1936 a 1940.

Viajou por muitos países, como Portugal, México e Índia, que lhe inspiraria o livro Poemas Escritos na Índia. Aproximou-se do grupo da revista Festa, no início de sua carreira literária. Faleceu no Rio de Janeiro, recebendo postumamente o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras.

Principais obras:

  • Espectros
  • Viagem
  • Vaga Música
  • Mar Absoluto
  • Retrato Natural
  • Romanceiro da Inconfidência
  • A Rosa
  • Metal Rosicler
  • Poemas Escritos na Índia
  • Poemas Italianos
  • Seleta em Prosa e Verso

Características de sua poesia:

  • neossimbolismo: herança simbolista nos temas e formas de sua poesia;
  • tônica de sua poesia: o sentimento da transitoriedade da vida;
  • sentimento da ausência e do nada;
  • visão própria do mundo, associações sensoriais;
  • universalismo - abrangência temática;
  • três constantes fundamentais: o oceano, o espaço e a solidão;
  • sensações e imagens recorrentes: o silêncio, a sombra, o indefinido;
  • poesia fluida, mística, misteriosa;
  • musicalidade, misticismo lírico;
  • verso curto, ritmo leve e ligeiro - impressões vagas;
  • Principais obras: Espectros; Viagem; Vaga música; Mar absoluto; Retrato natural; Romanceiro da Inconfidência; A rosa; Metal rosicler; Poemas escritos na Índia; Poemas italianos; Seleta em prosa e verso
  • Destaque para os poemas "Modinha", "Motivo", "Reinvenção", "Epigrama", "A Doce Canção", "Interpretação", "Inscrição", "Canção Quase Triste".

Textos escolhidos:

Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
- não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.

Epigrama
A serviço da Vida fui,
a serviço da Vida vim;
só meu sofrimento me instrui,
quando me recordo de mim.
(Mas toda mágoa se dilui:
permanece a Vida sem fim.)

Interpretação
As palavras aí estão, uma por uma:
porém minha alma sabe mais.
De muito inverossímil se perfuma
o lábio fatigado de ais.
Falai! que estou distante e distraída,
com meu tédio sem voz.
Falai! meu mundo é feito de outra vida.
Talvez nós não sejamos nós.

O romance regionalista nordestino

Em 1926, realizou-se o Congresso Regionalista do Recife, que propôs uma literatura comprometida com a realidade e os problemas do nordeste. Essa literatura sofreria profundas influências do romance realista e naturalista do Século XX e teria como tônica a reflexão sobre os problemas sociais mais marcantes e a  busca de conscientização da sociedade. Trata-se, portanto, de uma prosa engajada com a  crítica e a denúncia social, à  procura de soluções.

Graciliano Ramos

Graciliano Ramos

Graciliano ramos nasceu em Quebrângulo, Alagoas (1892) e morreu no Rio de Janeiro em 1953. Não cursou universidade: aos 18 anos, foi para o Rio de Janeiro, onde trabalhou para alguns jornais, deixando-os às pressas para retornar a Alagoas por causa da morte de duas irmãs. Em Palmeira dos Índios, dedica-se a atividades comerciais, ao jornalismo e à política, chegando a prefeito da cidade.

Muda-se para Maceió e lá conhece José Lins do Rego, Rachel de Queiroz e Jorge Amado. À véspera da decretação do Estado Novo, em 1936, é preso sob acusação de comunismo; após um ano, está em liberdade e decide fixar-se no Rio de Janeiro.

Em 1945, filia-se ao Partido Comunista, do qual passa a ser militante; em 1951, é eleito presidente da Associação Brasileira de Escritores. Viajou pela Europa e conheceu a antiga União Soviética, que lhe inspiraria o livro Viagem. Doente de câncer, faleceu no Rio de Janeiro, cercado de amigos e homenagens;

Principais obras

Romances:

  • Caetés
  • São Bernardo
  • Angústia
  • Vidas Secas

Contos:

  • Insônia

Memórias:

  • Infância
  • Memórias do Cárcere

viagem:

  • Viagem

Características de sua obra:

  • Neorealismo - obra - caráter crítico;
  • herói  - problemático - não aceitação do mundo, dos outros, de si mesmo;
  • predomínio do psicologismo em detrimento da paisagem regional;
  • Aspectos exteriores - importantes se interagindo com os aspectos psicológicos das  personagens;
  • Estilo  conciso, enxuto - linguagem rigorosa e conscientemente trabalhada;
  • Economia vocabular - uso da palavra incisiva;
  • Sintaxe clássica, polida, correção gramatical.

Texto escolhido:

"Deu um passo para a catingueira. Se ele gritasse agora "desafasta", que faria o polícia? Não se afastaria, ficaria colado ao pé de pau. Uma lazeira, a gente podia xingar a mãe dele. Mas então... Fabiano estirava o beiço e rosnava. Aquela coisa arriada e achacada metia as pessoas na cadeia, dava-lhes surra. Não entendia. Se fosse uma criatura de saúde e muque, estava certo. Enfim apanhar do governo não é desfeita, e Fabiano até sentiria orgulho ao recordar-se da aventura. Mas aquilo... Soltou uns grunhidos. Por que motivo o governo aproveitava gente assim? Só se ele tinha receio de empregar tipos direitos. Aquela cambada só servia para morder as pessoas inofensivas. Ele, Fabiano, seria tão ruim se andasse fardado? Iria pisar os pés dos trabalhadores e dar pancada neles? Não iria.
Aproximou-se lento, fez uma volta, achou-se em frente do polícia, que embasbacou, apoiado ao tronco, a pistola e o punhal inúteis. Esperou que ele se mexesse. Era uma lazeira, certamente, mas vestia farda e não ia ficar assim, os olhos arregalados, os beiços brancos, os dentes chocalhando como bilros. Ia bater o pé, gritar, levantar a espinha, plantar-lhe o salto da reiúna em cima da alpercata. Desejava que ele fizesse isso. A ideia de ter sido insultado, preso, moído por uma criatura mofina era insuportável. Mirava-se naquela covardia, via-se mais lastimoso e miserável que o outro.
Baixou a cabeça, coçou os pelos ruivos do queixo. Se o soldado não puxasse o facão, não gritasse, ele, Fabiano, seria um vivente muito desgraçado.
Devia sujeitar-se àquela tremura, àquela amarelidão? Era um bicho resistente, calejado. Tinha nervo, queria brigar, metera-se em espalhafatos e saíra de crista levantada. Recordou-se de lutas antigas, em danças com fêmea e cachaça. Uma vez, de lambedeira em punho, espalhara a negrada. Aí sinhá Vitória começara a gostar dele. Sempre fora reimoso. Iria esfriando com a idade? Quantos anos teria? Ignorava, mas  certamente envelhecia e fraquejava. Se possuísse espelhos, veria rugas e cabelos brancos. Arruinado, um caco. Não sentira a transformação, mas estava-se acabando."
Vidas secas

José Lins do Rego

José Lins do Rego

José Lins do Rego nasceu em Pilar, Paraíba (1901) e morreu no Rio de Janeiro em 1957. De família patriarcal, tipicamente nordestina, passou a infância no engenho do avô materno e foi testemunha ocular da decadência dos engenhos de açúcar, substituídos pelas usinas, em processo de transformação social e econômica no nordeste. Cursou Direito em Recife, enquanto colaborava na imprensa.

Em Maceió, torna-se amigo de Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Jorge de Lima. Opôs-se ao Movimento Modernista de São Paulo e integrou-se ao Movimento Regionalista do Nordeste, defendendo a "nova linguagem".

Em 1935, instala-se definitivamente no Rio de Janeiro e passa a participar ativamente da vida literária, sendo eleito para a Academia Brasileira de Letras pouco antes de morrer, em 1957.

Principais obras

Romances do ciclo da cana-de-açúcar:

  • Menino de Engenho
  • Doidinho
  • Banguê
  • O Moleque Ricardo
  • Usina
  • Fogo Morto

Romances do ciclo do cangaço:

  • Pedra Bonita
  • Cangaceiros

Romances independentes:

  • Pureza
  • Água-Mãe
  • Riacho Doce
  • Eurídice

Memórias:

  • Meus Verdes Anos

Características de sua obra:

  • Ciclo da cana-de-açúcar - parte mais significativa de sua obra:
    • época de transição do engenho para a usina na região canavieira de Pernambuco e da Paraíba;
    • caracterização da situação histórico-social da região;
    • mundo do engenho - decadência do universo patriarcalista e autoritarista;
    • Desmoronamento de um sistema tradicional, fundamentado no latifúndio e na escravidão;
    • Rascunho memorialista - visão nostálgica - recuperação do passado;
    • Narrativa inspirada nos cantores de feira;
    • Linguagem de oralidade forte e poética - espontânea, autêntica, marcada por regionalismos - "estilização da linguagem regional".

Texto escolhido:

"Para o Santa Rosa, a visita dessa gente educada demais se tornava um suplício. A minha Tia Maria nem tinha mais conversa. Os assuntos todos tinham ido embora. Ficavam então calados, a olhar um para o outro, até a noitinha, quando saíam. Nós nos interessávamos pelo cabriolé. As histórias de Trancoso falavam muito das carruagens. E Sinhá Totonha nos contava os seus romances, com princesas que andavam pelas estradas reais, em carros que tiniam as campainhas como o de Seu Lula. Maria Borralheira perdera um sapato descendo duma carruagem daquelas.
Passava pelo Santa Fé, quando ia para a escola. A mesma tristeza, todas as manhãs e todas as tardes. O mato tomando conta do engenho. E a várzea com ressocas acanhadas, unas restos de cana que o tempo ia deixando viver, no meio do pasto grande. As casas dos moradores, caindo. Morava numa melhor o velho José Amaro sapateiro, que não plantava nada. Eu via o Seu Lula na porta. Não tirava a gravata do pescoço. Mandava parar o cavalo para saber notícias do Coronel José Paulino. Muito solene, muito parecido com aqueles senhores arruinados da Califórnia, que a gente vê no cinema, com os americanos tomando conta das terras deles.
Corriam histórias da casa de Seu Lula: o povo de lá não comia, as negras viviam de jejum; uma lata de manteiga era para um mês; as vacas trabalhavam nos carros de boi. E ele tinha dinheiro de ouro enterrado. Quando se ia a pé para o Pilar, via-se pela faxina de sua horta uma sua irmã maluca, Dona Olívia, andando de um lado para outro, falando só. Com os cabelos todos brancos e soltos, nunca vi uma imagem tão pungente de dor. Não me contavam nada de sua vida. Parecia mesmo que não tinha história."
Menino de engenho

Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz

Rachel de Queiroz nasceu em Fortaleza, em 1914. Após estudos regulares em Fortaleza, diplomou-se professora.

Aos vinte anos, publicou O Quinze - considerado por muitos a sua obra-prima -, com o qual ganhou o prêmio Graça Aranha de literatura. Dedicou-se ao jornalismo e à militância política de esquerda, mostrando-se preocupada com a terra e a traição nordestina.

Mudou-se para o Rio de Janeiro em 1932, residindo lá até hoje; pertence à Academia Brasileira de Letras, tendo sido a primeira mulher a envergar o fardão imortal de Academia.

Principais obras

Romances:

  • O Quinze
  • João Miguel
  • Caminho de Pedras
  • As Três Marias
  • Memorial de Maria Moura

Teatro:

  • Lampião
  • A Beata Maria do Egito

Crônica:

  • A Donzela e a Moura Torta
  • Cem Crônicas Escolhidas
  • O Brasileiro Perplexo - Histórias e Crônicas

Características de sua obra:

  • Prosa enxuta e viva;
  • Diálogos correntes - novelística popular;
  • linguagem direta, fluente, límpida e desafetada;
  • Quinze e João Miguel - intensa preocupação social, apoiada na abordagem psicológica das personagens, especialmente do homem nordestino:
    • o problema da seca;
    • o coronelismo;
    • os impulsos passionais;
    • investigação do destino do homem do nordeste - pressionado pelas forças atávicas e a aceitação fatalista de sua vida;
  • Caminho de Pedras e As Três Marias - agitações políticas;
  • métodos de educação relacionados à mulher e sua posição na sociedade;
  • emancipação feminina;
  • plano amoroso e social.

Texto escolhido:

"Sentado na salinha da Rua de S. Bernardo, o velho chapéu entre as pernas, uma tira áspera de cabelos envesgando os olhos, Chico Bento conversava com Conceição e a avó sobre o futuro, o seu incerto futuro que a perversidade de uma seca entregara aos azares da estrada e à promiscuidade miserável dum abarracamento de flagelados.
Tristemente contou toda a fome sofrida e as consequentes misérias.
A morte de Josias, afilhado do compadre Luís Bezerra, delegado do Acarape, que lhes tinha valido num dia bem desgraçado! - a morte do Josias, naquela velha casa de farinha, deitado junto de uma trave de aviamento, com a barriga tão inchada como a de alguns paroaras quando já estão para morrer...
E aquele caso da cabra em que - Deus me perdoe! - pela primeira vez tinha botado a mão em cima do alheio... E saíra tão mal, e o homem o tinha posto até de sem-vergonha, e ele tão morto, tão sem coragem, que o que fez foi ficar agachado, aguentando a desgraça...
Os olhos da moça se enchiam de água, e comovidamente Dona Inácia levantou os óculos, passando o lenço pelas pálpebras.
O vaqueiro continuou a falar, no mesmo jeito encolhido, estirando apenas, uma vez ou outra, o braço mirrado, para vergastar o ar numa imagem de miséria mais aguda, ou de desespero mais pungente...
Depois era a fuga de Pedro, e aquela noite na estrada em que a mulher, estirada no chão, com o Duquinha de banda, todo o tempo arquejou, variando, sem sentidos, como quem está para morrer.
E ele de cócoras, junto dela, com os dois outros meninos agarrados nas pernas, não teve forças nem de se mexer, de caçar um recurso, nem de, ao menos, tentar descobrir um rancho..."
O quinze

Érico Veríssimo

Érico Veríssimo

Érico Veríssimo nasceu em Cruz Alta, RS (1905) e morreu em Porto Alegre, em 1975. Nascido de família tradicional e abastada, assistiu à perda do poder econômico dos pais, presenciando o drama da decadência dos seus; não pôde completar o curso secundário: tornou-se bancário e, depois, sócio de uma farmácia.

Desistiu do comércio e dedicou-se ao jornalismo, trabalhando como secretário e redator da Revista do Globo, em Porto Alegre. Em 1932, publica um volume de contos, Fantoches, e, no ano seguinte, o romance de estreia, Clarissa, que lhe traz enorme popularidade; passa a dedicar-se à atividade literária e visita várias vezes os Estados Unidos, onde chega a lecionar Literatura Brasileira, de 1943 a 1945.

Em 1953, exerce o cargo de Diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana e realiza diversas viagens ao exterior: México, Europa e Israel. Faleceu em Porto Alegre, já reconhecido do grande público; teve suas obras traduzidas para várias línguas.

Principais obras

Romances urbanos:

Clarissa
Música ao Longe
Um Lugar ao Sol
Olhai os Lírios do Campo
O Resto é Silêncio

Romance histórico-regionalista:

  • O Tempo e o Vento

Romance político:

  • Incidente em Antares

Memórias:

  • Solo de Clarineta.

Características principais:

  • Estilo solto e direto - linguagem clara, exata, de instantânea comunicabilidade;
  • Influências do jornalismo e do cinema;

Romances urbanos:

  • notação intimista;
  • questionamento das crises espirituais do homem moderno;
  • influências de autores da língua inglesa - Aldous Huxley e William Faulkner - “técnica do contraponto” e do “flash back’”;
  • entrelaçamento da história de algumas personagens em romances diferentes;
  • registro da vida cotidiana, seus fatos e reflexos no mundo interior das pessoas;

Romance histórico-regionalista

  • O Tempo e o Vento:
    • trilogia compreendendo:
      • I- O Continente
      • II- O Retrato
      • III- O Arquipélago
    • obra cíclica de proporções épicas - painel do Rio Grande do Sul, desde sua formação, em meados do Século XVIII (1745) até 1945;
    • saga de uma família (os Terra Cambará) e de uma cidade gaúcha (Santa Fé);
    • abordagem criteriosa dos acontecimentos históricos que marcaram o Rio Grande do Sul e o Brasil, durante a época em que se passa a obra;
    • estrutura de novela, narrativa tradicional, linear, com a sucessão dos acontecimentos em ordem cronológica, com o predomínio dos fatos sobre a análise de suas causas mais profundas;
    • destaque para o trabalho com o tempo, remetendo ao título da obra, O Tempo e o Vento.

Texto escolhido:

“Durante o mês de junho Maneco e Antônio aprontaram a terra para plantar o trigo. Toda a gente da casa, inclusive Pedrinho, que ia já a caminho dos onze anos, foi para a lavoura. Limparam primeiro o terreno, arrancando as raízes e as ervas. Depois viraram a terra, trabalhando de sol a sol. Quando voltaram ao anoitecer para o rancho, Eulália esperava-os com o jantar pronto: carne de veado, abóbora, mandioca e feijão. Maneco estava excitado e parecia ter rejuvenescido. Fazia conta nos dedos, ficava às vezes absorto nos próprios pensamentos, esquecido da comida que fumegava no prato. Plantaria poucos alqueires, para experimentar a qualidade da terra; e naturalmente continuaria com o milho, a mandioca e o feijão. Se o trigo desse bem, aumentaria o trigal. Com o produto da venda do primeiro trigo colhido, poderia comprar mais uma junta de bois, ferramentas e mais escravos. E era preciso arranjar o quanto antes mais uma carreta.
— Uma pena é Horácio não estar também aqui com a gente — murmurou ele de repente, ao cabo de longo silêncio.
Quando cessaram as primeiras chuvas de inverno — julho devia estar principiando — começaram a semear. Lançaram as sementes nos sulcos (quanto mais fundo o rego, melhor — sabia ele). Na noite do dia em que se fez a primeira semeadura, Maneco teve um sono agitado. Ana ouviu-o revolver-se na cama e finalmente levantar-se e sair. Ergueu-se também, foi até a porta e olhou para fora. Era uma noite de lua cheia, de ar parado e frio.”
Ana Terra

Poesia — outros autores

Jorge de Lima:

  • ressonâncias parnasianas e simbolistas;
  • poesia nordestina de cunho memorialista;
  • poesia negra;
  • poesia mística.
  • principais obras:
    • XIV Alexandrinos
    • A Túnica Inconsútil
    • Poemas Negros
    • Invenção de Orfeu.

Vinícius de Moraes:

  • ecos simbolistas e parnasianos;
  • o cotidiano, a comunicabilidade, a ternura;
  • humor, ironia, sensualismo;
  • o poeta da mulher.
  • principais obras:
    • Forma e Exegese
    • Ariana, a Mulher
    • Poemas, Sonetos e Baladas.

Augusto Frederico Schmidt:

  • poesia espiritualista, direta, espontânea;
  • catolicismo, versos longos;
  • principais obras:
    • Canto da Noite
    • Ponto Invisível
    • Babilônia.

Murilo Mendes:

  • 1ª. Fase - influências do espírito de "demolição";
  • evolução - influências do catolicismo;
  • influências do surrealismo;
  • clima onírico e alucinatório;
  • pesquisa experimental
  • concretismo;
  • principais obras:
    • Tempo e Eternidade (Jorge Lima)
    • O Visionário
    • As Metamorfoses
    • potesi.

A prosa de ficção — outros autores

Jorge Amado:

  • o mais conhecido romancista brasileiro;
  • pertence à Academia Brasileira de Letras;
  • autor copioso
  • “excelente contador de histórias”
  • ampla galeria de personagens;
  • obra vasta e variada:
  • regionalista
  • enfoque da seca, do cangaço, da exploração do trabalhador rural, dos abusos de poder do coronelismo, das subcondições de vida nos latifúndios do nordeste, com destaque para a zona do cacau;
  • social e política
  • o mundo da pobreza, da infância abandonada, da marginalidade, da prostituição;
  • crônica de costumes
  • destaque para a vida urbana na Bahia;
  • crítica da denúncia da miséria, do abandono e da opressão em que vivem as classes menos favorecidas;
  • obra marcada por autos e baixos - descuido formal, abuso de clichês, certo caráter apelativo;
  • principais obras:
    • Cacau
    • Jubiabá
    • Terras do Sem Fim
    • São Jorge dos Ilhéus
    • Gabriela, Cravo e Canela
    • Teresa Batista Cansada de Guerra
    • Tieta do Agreste
    • Mar Morto
    • Capitães da Areia
    • Quincas Berro D’água ou O Capitão-de-Longo-Curso
    • Os Velhos Marinheiros
    • Os Pastores da Noite
    • Dona Flor e seus Dois Maridos
    • Farda, Fardão e Camisola de Dormir
    • Tocaia Grande
    • O Sumiço da Santa

José Américo de Almeida:

  • concretizou os propósitos do I Congresso Regionalista do Recife;
  • aproximações com a prosa elíptica e incisiva de Oswald de Andrade;
  • cortes frequentes na narrativa, preferência por períodos curtos, coordenados ou justapostos;
  • expressionismo descritivo;
  • enfoque do mundo da seca, da tragédia trazida por ela.
  • principal obra:
    • A Bagaceira

Sumário

- Contexto Histórico
- Características do Modernismo no Brasil
- Cecília Meireles
- O romance regionalista nordestino
- Graciliano Ramos
- José Lins do Rego
- Rachel de Queiroz
- Érico Veríssimo
- Poesia — outros autores
- A prosa de ficção — outros autores