Romantismo no Brasil

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O Romantismo no Brasil se iniciou em 1836, com a publicação do livro Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães. O Romantismo no Brasil nasceu a partir do anseio de definir uma identidade brasileira e fomentar o nacionalismo dos brasileiros. Havia o desejo de constituir uma identidade nacional desprovida da influência portuguesa.

a) Datas

  • 1836: publicação da obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães - início do Romantismo no Brasil.
  • 1881: publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis - início do Realismo no Brasil
  • publicação de O Mulato, de Aluísio Azevedo - início do Naturalismo no Brasil.

b) Contexto histórico

Em 1808, ocorre a vinda da família real para o Brasil, onde permaneceria até 1821; esse fato teve como consequências diretas:

  • a abertura dos portos;
  • a criação da Imprensa Régia;
  • a fundação do Banco do Brasil;
  • a criação da Escola Real de Ciências, Artes e Ofícios etc.

Em 1822, a Independência provoca um clima de euforia e ufanismo patriótico, e as Arte refletiram essa clima na exaltação da pátria, da terra, da gente e da natureza brasileira. De 1822, a nação passa por várias mudanças:

  • 1822 a 1831 - Primeiro Reinado;
  • 1831 - abdicação de D. Pedro I;
  • 1831 a 1840 - Período Regencial;
  • 1835 a 1845 - Guerra dos Farrapos;
  • 1840 - Proclamação da Maioridade de D. Pedro II;
  • 1841 - Sagração e Coroação de D. Pedro II como Imperador do Brasil;
  • 1841 a 1889 - Segundo Reinado:
  • 1841 a 1851 - fortalecimento do regime e pacificação do país;
  • 1850 a 1889 - estabilidade política e intervenções militares em países vizinhos;
  • 1864 a 1870 - Guerra do Paraguai;
  • 1870 - início do processo de decadência do Império - Proclamação da República em 1889.

c) As Três Gerações Poéticas do Romantismo no Brasil

A Primeira Geração Romântica no Brasil é chamada Nacionalista ou Indianista e tem como características a exaltação da natureza e da pátria, do herói, a volta ao passado remoto, a religiosidade e o platonismo amoroso. A ela pertencem Gonçalves Dias e Gonçalvesde Magalhães.

A Segunda Geração é a Ultra-Romântica ou Byroniana; são características dela a presença do "Mal-do-Século" (tédio, morbidez, satanismo), o pessimismo, o negativismo e o erotismo irrealizado. O maior representante dessa geração é Álvares de Azevedo, seguido por Casimiro de Abreu, Junqueira Freire e Fagundes Varela.

A Terceira Geração, Condoreira ou Social, tem temática predominantemente social e política, como o abolicionismo e o republicanismo, a exaltação da liberdade, do progresso e o sensualismo amoroso. O maior representante é Castro Alves.

Gonçalves Dias

Gonçalves Dias nasceu em Caxias, Maranhão (1823) e morreu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, na costa maranhense em 1864. Mestiço, estudou Direito em Coimbra, com grandes dificuldades econômicas. Em 1844, volta ao Brasil e dedica-se ao jornalismo e ao magistério como professor de Latim e História no Colégio D. Pedro II, no Rio de Janeiro. Faz viagens à Europa, como representante do governo brasileiro e em 1863, já com a saúde abalada, volta ao continente europeu, em busca de tratamento; morre na volta, no naufrágio do navio em que viajava.

Gonçalves Dias escreveu poesia, teatro, historiografia, um dicionário da língua tupi; merece destaque a sua poesia, uma das maiores do nosso Romantismo, grande parte dela dedicada ao grande e frustrado amor de sua vida, Ana Amélia do Vale.

Sua poesia marca-se, entre outras, pelas seguintes características:

  • grande expressividade no ritmo;
  • riqueza temática - assuntos variados - diversos tipos de poesia:
  • poesia indianista - exaltação dos costumes, da coragem e das tradições indígenas; destaque para os poemas: “I - Juca Pirama”, “Leito de folhas verdes” , “Marabá”, “Canto do Piaga” , “Deprecação”.
  • poesia lírico-amorosa - platonismo, dor pela renúncia à felicidade; o amor como razão de vida; destaque para os poemas “Ainda uma vez — Adeus!” , “Se se morre de amor” e “Olhos Verdes.
  • poesia saudosista - idealização da pátria e da natureza; destaque para o poema “Canção do Exílio”, imitado e parodiado por vários poetas posteriores.
  • formação de uma temática de cunho nacional - fixação na terra, na natureza, no homem (índio) brasileiros;

Conjunto de obras - poesia:

  • Primeiros cantos
  • Segundos cantos
  • Últimos cantos
  • Cantos
  • Os Timbiras
  • Sextilhas de Frei Antão
  • teatro: Leonor de Mendonça

Texto escolhido:

Ainda uma vez — Adeus!
Enfim te vejo! — enfim posso,
Curvado a teus pés, dizer-te,
Que não cessei de querer-te,
Pesar de quanto sofri.
Muito penei! Cruas ânsias,
Dos teus olhos afastado,
Houveram-me acabrunhado
A não lembrar-me de ti!

II

Dum mundo a outro impelido,
Derramei os meus lamentos
Nas surdas asas dos ventos,
Do mar na crespa cerviz!
Baldão, ludíbrio da sorte
Em terra estranha, entre gente,
Que alheios males não sente,
Nem se condói do infeliz!

III

Louco, aflito, a saciar-me
D’agravar minha ferida,
Tomou-me tédio da vida,
Passos da morte senti;
Mas quase no passo extremo,
No último arcar da esp’rança,
Tu me vieste à lembrança:
Quis viver mais e vivi!

IV

Vivi; pois Deus me guardava
Para este lugar e hora!
Depois de tanto, senhora,
Ver-te e falar-te outra vez;
Rever-me em teu rosto amigo,
Pensar em quanto hei perdido,
E este pranto dolorido
Deixar correr a teus pés.

[...]

Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo (1831) e morreu de tuberculose, no Rio de Janeiro, em 1852, cinco meses antes de completar vinte anos. De família abastada, estudou em bons colégios e foi aluno brilhante, tendo cursado Direito em São Paulo. Dedicou-se muito à leitura, o que levou sua poesia a receber a influência de vários autores.

Frágil, doentio, só pôde, em vida, organizar para publicação uma única obra, a Lira dos vinte anos, que reúne sua poesia lírica e à qual se acrescentaram vários poemas após a primeira edição — que é póstuma, como toda a sua obra. De qualquer forma, deixou obra razoavelmente extensa para seu pouco tempo de vida: escreveu poesia lírica e narrativa, teatro e contos.

É o mais importante nome da Segunda Geração Romântica no Brasil, o Ultra-Romantismo, sendo um legítimo representante do “Mal-do-Século” e byroniano autêntico: “poeta da solidão”, “poeta da morte”. Sua poesia é marcada pelo pessimismo, negativismo, pelo tédio, melancolia, morbidez. Faz frequentes referências à família e mostra desejo e medo do amor — o erotismo irrealizado de sua geração. Apresenta, ainda, o gosto pelo humor e pelo prosaico, o que revela certa modernidade em sua obra.

Entre seus poemas mais conhecidos, estão: “Lembrança de morrer” , “Se eu morresse amanhã” , “Ideias íntimas” , “Spleen e charutos”, “ É ela! É ela! É ela! É ela!” , “Soneto” , de Lira dos vinte anos.

Seu conjunto de obras:

  • Lira dos vinte anos (poesia lírica)
  • O poema do frade e O Conde Lopo (poemas narrativos)
  • Macário (teatro)
  • Noite na taverna (contos fantásticos)

Texto escolhido:

Soneto
Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!
Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!
O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade.
Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!

Castro Alves

Antônio de Castro Alves nasceu na fazenda Cabaceiras, em Curralinho (atual Castro Alves), interior da Bahia e morreu, tuberculoso, em 1871, em Salvador. Teve vida breve e tumultuada: órfão de mãe aos 12 anos, sofreu a loucura e suicídio de um irmão, o novo casamento do pai e uma ardente paixão pela atriz Eugênia Câmara.

Estudou um tempo na Faculdade de Direito de Recife, onde pôde liberar seu inconformismo com a injustiça e a opressão e abraçar as ideias liberais, abolicionistas e republicanas.

Acompanhado por Eugênia Câmara, viaja para o Rio de Janeiro e é recebido festivamente por Machado de Assis e José de Alencar. Vem para São Paulo, matricula-se na Faculdade de Direito e defende eloquentemente os ideais abolicionistas. Ferido no pé acidentalmente, vê-se obrigado a amputá-lo e volta para a Bahia, já minado pela tuberculose; prepara a edição de Espumas flutuantes — único livro que publicou em vida — e falece no ano seguinte.

Castro Alves é o maior nome da Terceira Geração Romântica no Brasil. Sua poesia lírica, contida em Espumas flutuantes, marca-se por estilo expressivo, sonoro, de plangente musicalidade e pelo largo emprego das figuras de linguagem.

Na lírica amorosa, a concepção do amor é abrangente, com a abordagem do amor realizado, em oposição ao erotismo irrealizado da Segunda Geração Romântica; a experiência amorosa é expressa em sua plenitude sentimental e carnal, e a mulher é vista de todos os ângulos: sublimada, amante, prostituta.

A chamada poesia intimista é marcada pela dúvida e fatalismo em relação à existência, pela presença da morte e pelo tom depressivo, além de influências autobiográficas. Castro Alves escreveu ainda poemas de admiração à natureza, com exaltação de seus aspectos grandiosos e alusão às aves de grande porte, como o condor e a águia; fez também poemas de louvação a datas, à pátria e a pessoas e de exaltação do progresso, da máquina, da locomotiva, das ideias liberais e sociais. Em toda a sua obra, a plasticidade nas descrições, o vigor, o ritmo, o tom declamatório.

Conhecido como o “Poeta dos Escravos”, Castro Alves cultivou a poesia abolicionista, de caráter participante, comprometida com as injustiças de seu tempo: é seu brado de revolta contra a escravidão. Nesses poemas, o estilo é condoreiro, eloquente, com forte tendência para o retórico, o declamatório e grande incidência de figuras de linguagem.

Entre seus poemas mais conhecidos, estão: “Adormecida”, “O Adeus de Teresa”, “Hebreia”, “O Gondoleiro do Amor” , “Hino ao Sono” , “Mocidade e morte” , “É tarde!” , “”Quando eu morrer”, “O Livro e a América” , “Pedro Ivo”, “Oitavas a Napoleão” , Ode ao Dous de Julho” , “O Voo do Gênio”, “O navio negreiro”, “Vozes d’África”, “O vidente” , de Os Escravos e “A tarde” , “A senzala”, “Sangue africano”.

Seu conjunto de obras:

  • Espumas flutuantes (poesia lírica)
  • Os escravos (poesia abolicionista)
  • A Cachoeira de Paulo Afonso (poema narrativo de cunho abolicionista)
  • Gonzaga ou a Revolução de Minas (teatro)

Texto escolhido:

O Gondoleiro do Amor
Dama-Negra
Teus olhos são negros, negros,
Como as noites sem luar...
São ardentes, são profundos,
Como o negrume do mar;
Sobre o barco dos amores,
Da vida boiando à flor,
Douram teus olhos a fronte
Do Gondoleiro do amor.
Tua voz é cavatina
Dos palácios de Sorrento,
Quando a praia beija a vaga,
Quando a vaga beija o vento.

Outros poetas do Romantismo Brasileiro

Casimiro de Abreu

  • nasceu em Barra de São João, RJ (1839) e morreu em Nova Friburgo, em 1860;
  • um dos mais populares poetas do Romantismo brasileiro: poesia de fácil expressão e repetitiva, acessível para o grande público;
  • versos simples, musicais, marcados pela nostalgia do passado;
  • “Poeta da Saudade” - tema recorrente em sua poesia: saudade da infância, da adolescência, da família, da pátria distante;
  • temática amorosa - “amor e medo”.
  • principais obras: As Primaveras (poesia)

Fagundes Varela

  • nasceu em Rio Claro, na Fazenda Santa Rita (1841) e morreu em Niterói, de derrame cerebral, em 1875;
  • vida agitada, infeliz - alcoolismo, boêmia, estudos inacabados, inadaptação social, casamento precoce e morte do filho aos três meses de idade, a qual lhe inspirou o famoso poema “Cântico do Calvário”; poesia - duas faces principais:
    • atitudes típicas da Geração do “Mal-do-Século” - melancolia, pessimismo;
    • preocupação social, tom declamatório - antecipações condoreiras;
    • dualidade cidade X campo, natureza X civilização - a roça, a vida rural;
    • natureza - fonte de inspiração, refúgio e amparo.

Principais obras:

  • O Estandarte Auriverde
  • Vozes da América
  • Cantos e Fantasias
  • Cantos Meridionais
  • Cantos do Ermo e da Cidade

Junqueira Freire

  • nasceu em Salvador (1832) e lá morreu em 1855;
  • ingressou aos 19 anos na Ordem dos Beneditinos, por causa do alcoolismo do pai, apesar da falta (?) de vocação religiosa, abandonando o hábito um ano antes de morrer;
  • visão mórbida da existência - permanente tom de dor, de angústia existencial;
  • oscilação entre a vida religiosa e um incontido sensualismo interior;
  • poesia = temas religiosos + pavor e invocação da morte + solidão revoltada + sensualidade não resolvida.

Obras:

  • Inspirações do Claustro
  • Contradições Poéticas

José de Alencar

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, Ceará (1829) e morreu no Rio de Janeiro em 1877. Fez os estudos básicos e secundários no Rio de Janeiro e cursou Direito em São Paulo; e volta ao Rio, dedicou-se à advocacia, ao jornalismo e à política. Irritado com D. Pedro II por causa de uma nomeação, recolhe-se à vida particular e aos seus livros. Morre aos 48 anos, magoado e desiludido com a vida pública, mas já respeitado e consagrado como um dos nossos maiores escritores.

É considerado o maior ficcionista romântico do Brasil; teve como objetivo realizar uma literatura autenticamente brasileira, que retratasse a nossa gente, a nossa alma, a nossa realidade e lutou pelo uso brasileiro da língua portuguesa, enriquecendo-a com expressões tipicamente brasileiras, muitas retiradas do vocabulário tupi.

Autor copioso, escreveu romance, teatro, crítica, crônicas e a autobiografia Como e por que sou romancista. O próprio Alencar fez a divisão de sua obra em romances urbanos, indianistas, regionalistas e históricos:

a) romance urbano:

  • retrato bastante real dos costumes morais, políticos e sociais do Rio de Janeiro;
  • enredos marcados pelo idealismo, de acordo com a concepção romântica;
  • enfoque dos dramas morais, dos problemas amorosos, das peripécias até o casamento, das relações familiares;
  • descrições detalhadas, pormenorizadas, permeadas de idealismo na construção dos tipos femininos;
  • certa antecipação do Realismo em Senhora e Lucíola.
  • principais obras: Senhora, Lucíola, Diva, Cinco minutos.

b) romance indianista:

  • afirmação da nacionalidade brasileira;
  • linguagem colorida, adjetivosa, impregnada de lirismo;
  • exaltação da natureza brasílica em descrições de grande plasticidade - a fauna e a flora típicas do Brasil;
  • índio - mito do "bom selvagem", de Jean Jacques Rousseau - herói amalgamado à Natureza; - idealizado, identificado com o cavaleiro medieval - coragem, valentia, honra;
  • enfoque do índio em três momentos da História do Brasil:
  • 1) Ubirajara - período pré-cabralino
    2) Iracema - primeiros contatos entra o índio e o colonizador
    3) O Guarani - colonização

c) romance regionalista:

  • painel das principais regiões do Brasil;
  • enfoque dos costumes, crenças, linguajar e vestuário de diversas regiões, por vezes excessivamente idealizados;
  • enredo marcado pelo predomínio da fantasia e da imaginação;
  • mesmo propósito nacionalista dos romances indianistas.
  • Obras regionalistas: O Sertanejo, O Gaúcho, O Tronco do Ipê, Til.

d) romance histórico:

  • fatos e datas - pretexto para o enredo fantasioso, com predomínio da imaginação;
  • tramas novelescas, cheias de movimento e aventura.
  • romances históricos:
    • As Minas de Prata
    • A Guerra dos Mascates.

Textos escolhidos:

Texto I
Convencida de que todos os seus inúmeros apaixonados, sem exceção de um, a pretendiam unicamente pela riqueza. Aurélia reagia contra essa afronta aplicando a esses indivíduos o mesmo estalão.
Assim costumava ela indicar o merecimento relativo de cada um dos pretendentes, dando-lhes certo valor monetário. Em linguagem financeira, Aurélia cotava os seus adoradores pelo preço que razoavelmente poderiam obter no mercado matrimonial.
Um noite, no Cassino, a Lísia Soares, que fazia-se íntima com ela, e desejava ardentemente vê-la casada, dirigiu-lhe um gracejo acerca do Alfredo Moreira, rapaz elegante que chegara recentemente da Europa.
É um moço muito distinto, respondeu Aurélia sorrindo; vale bem como noivo cem contos de réis; mas eu tenho dinheiro para pagar um marido de maior preço, Lísia; não me contento com esse.
Riam-se todos destes ditos de Aurélia, e os lançavam à conta de gracinhas de moça espirituosa; porém a maior parte das senhoras, sobretudo aquelas que tinham filhas moças, não cansavam de criticar desses modos desenvoltos, impróprios de meninas bem educadas.
Os adoradores de Aurélia sabiam, pois ela não fazia mistério, do preço de sua cotação no rol da moça: e longe de se agastarem com a franqueza, divertiam-se com o jogo que muitas vezes resultava do ágio de suas ações naquela empresa nupcial.
Dava-se isto quando qualquer dos apaixonados tinha a felicidade de fazer alguma coisa a contento da moça e satisfazer-lhe as fantasias; porque nesse caso ela elevava-lhe a cotação, assim como abaixava a daquele que a contrariava ou incorria em seu desagrado.
Senhora

Texto II
A ceia foi longa e pausada, como costumava ser naqueles tempos em que a refeição era uma ocupação séria, e a mesa um altar que se respeitava
Durante a colação, Álvaro esteve descontente pela recusa que a moça fizera do modesto presente que ele havia acariciado com tanto amor e tanta esperança.
Logo que seu pai ergueu-se, Cecília recolheu ao seu quarto, e ajoelhando diante do crucifixo fez a sua oração. Depois erguendo-se, foi levantar um canto da cortina da janela e olhar a cabana que se erguia na ponta do rochedo, e que estava deserta e solitária.
Sentia apertar-se o coração com a ideia de que, por um gracejo, tivesse sido a causa da morte desse amigo dedicado que lhe salvara a vida, e arriscava todos os dias a sua, somente para fazê-la sorrir.
Tudo nesta recâmara lhe falava dele: suas aves, seus dois amiguinhos que dormiam, um no seu ninho e outro sobre o tapete, as penas que serviam de ornato ao aposento, as peles dos animais que seus pés roçavam, o perfume suave do benjoim que ela respirava; tudo tinha vindo do índio que, como um poeta ou um artista, parecia criar em torno dela um pequeno templo dos primores da natureza brasileira.
Ficou assim a olhar pela janela muito tempo; nessa ocasião nem se lembrava de Álvaro, o jovem cavalheiro elegante, tão delicado, tão tímido, que corava diante dela, como ela diante dele.
De repente a moça estremeceu.
Tinha visto à luz das estrelas um vulto que ela reconheceu pela alvura de sua túnica de algodão, e pelas formas esbeltas e flexíveis; quando o vulto entrou na cabana, não lhe restou a menor dúvida.
Era Peri.
Sentiu-se aliviada de um grande peso; e pôde então entregar-se ao prazer de examinar um por um, com toda a atenção, os lindos objetos que recebera, e que lhe causavam um vivo prazer.
Nisto gastou seguramente meia hora; depois deitou-se, e como já não tinha inquietação nem tristeza, adormeceu sorrindo à imagem de Álvaro e pensando na mágoa que lhe fizera, recusando o seu mimo.
O Guarani

Bernardo Guimarães

Bernardo Guimarães nasceu em Ouro Preto (1825) e lá morreu em 1884. Estudou em São Paulo e lá participou da "Sociedade Epicureia" com Álvares de Azevedo, levando vida boêmia. Formado em Direito, dedicou-se à magistratura e ao magistério.

Enfocou a região de Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás em sua obra regionalista, que tem como características principais:

  • uso da "técnica do contador de casos" - narrativa fluente, oralizada;
  • linguagem adjetivosa, convencional;
  • idealismo nas descrições e na construção do enredo;
  • forte influência de Alexandre Herculano, em O Seminarista - romance de tese contra o celibato clerical.
  • principais obras:
    • O Seminarista
    • A Escrava Isaura

Visconde de Taunay

Alfredo de Taunay nasceu no Rio de Janeiro (1843) e lá morreu em 1899; participou como engenheiro na Guerra do Paraguai e dedicou-se ao magistério e à política. É autor da obra-prima do regionalismo romântico brasileiro, o romance Inocência, que apresenta as seguintes características:

  • enfoque da vida, dos costumes, das tradições, das crendices do povo do sertão de Mato Grosso - fidelidade nas descrições da realidade física, humana e social da região;
  • destaque para o sentimento de honra como característica fundamental do sertanejo;
  • linguagem - linguagem culta, correta - narrador
  • formas coloquiais regionais - fala das personagens

Franklin Távora

Franklin Távora nasceu em Fortaleza (1843) e morreu no Rio de Janeiro em 1888. Considerado o "fundador da literatura do Norte", foi o primeiro a enfocar a violência do Nordeste na literatura criticou o excesso de idealismo na obra de Alencar, nas Cartas a Cincinato.

Sua obra é marcada pelo caráter documental, com a interpretação do passado através do processo histórico. Defendeu o compromisso do escritor com a realidade concreta e, de certo modo, exerceu influência sobre o regionalismo da Geração de 30, no Modernismo brasileiro.

Suas principais obras são:

  • O Cabeleira
  • O Matuto.

Manuel Antônio de Almeida

Manuel Antônio de Almeida nasceu no Rio de Janeiro (1831) e lá morreu em 1861. Apesar de formado em Medicina, não se dedicou à carreira: foi jornalista, funcionário público e exerceu o cargo de administrador da Tipografia Nacional, onde conheceu e ajudou Machado de Assis no início da carreira.Morreu no naufrágio do navio Hermes, próximo a Macaé.

É autor de um livro só, Memórias de um Sargento de Milícias, que apresenta as seguintes características:

  • crônica de costumes - novela picaresca, de tom humorístico;
  • estilo ágil, linguagem fluente;
  • transição para o Realismo:
    • realismo espontâneo, instintivo, mas ainda distante da estética seguinte, sem o embasamento científico dela;
    • imparcialidade narrativa;
    • ruptura da tensão entre o bem e o mal, entre o herói e o vilão;
    • personagens mais reais - praticam boas e más ações;
    • presença das camadas mais humildes da população;
    • observação direta, objetiva da realidade;
    • desmascaramento da hipocrisia social, do famoso "jeitinho" brasileiro;
    • Leonardo, o protagonista - primeiro herói malandro da nossa literatura, considerado precursor de Macunaíma - o anti-herói picaresco e bufão.

Texto escolhido

Era no tempo do rei.

Uma das quatro esquinas que formam a Rua do Ouvidor e da Quitanda, cortando-se mutuamente, chamava-se nesse tempo - O canto dos meirinhos -; e bem lhe assentava o nome, porque era aí o lugar de encontro favorito de todos os indivíduos dessa classe (que gozava então de não pequena consideração). Os meirinhos de hoje não são mais do que a sombra caricata dos meirinhos do tempo do rei; esses eram gente temível e temida, respeitável e respeitada; formavam um dos extremos da formidável cadeia judiciária que envolvia todo o Rio de Janeiro no tempo em que a demanda era entre nós um elemento de vida: o extremo oposto eram os desembargadores. Ora, os extremos se tocam, e estes, tocando-se, fechavam o círculo dentro do qual se passavam os terríveis combates das citações, provarás, razões principais e finais, e todos esses trejeitos judiciais que se chamavam o processo.
Daí sua influência moral.
Memórias de um sargento de milícias

O teatro de Martins Pena

Martins Pena nasceu no Rio de Janeiro (1815) e morreu em Lisboa, em 1848. Estudou Comércio, línguas estrangeiras e artes plásticas. Foi para Londres como funcionário da Embaixada e lá adoeceu de tuberculose; morreu em Lisboa, na volta para o Brasil.

Sua obra revela preferência pela comédia de costumes, pela capacidade de apreensão da realidade de seu tempo, dos vícios e costumes que o marcaram, compondo um retrato de época marcado pela espontaneidade. Os temas são vários e enfocados com atualidade: o casamento por interesse, o conflito de gerações, o relacionamento familiar, os namoros. Igualmente diversos são os tipos: os funcionários públicos, os negociantes, as comadres e os compadres, os padres, os juízes de paz etc.

Suas principais peças são

  • O Juiz de Paz na Roça;
  • A Família e a Festa da Roça
  • O Judas em Sábado de Aleluia;
  • Quem casa, quer casa.

Sumário

- Romantismo no Brasil
i. Datas
ii. Contexto histórico
iii. As Três Gerações Poéticas do Romantismo no Brasil
- Gonçalves Dias
- Álvares de Azevedo
- Castro Alves
- Outros poetas do Romantismo Brasileiro
i. Casimiro de Abreu
ii. Fagundes Varela
iii. Junqueira Freire
- José de Alencar
- Bernardo Guimarães
- Visconde de Taunay
- Franklin Távora
- Manuel Antônio de Almeida
- O teatro de Martins Pena