Texto descritivo

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Texto descritivo

O texto descritivo detalha os aspectos de um lugar, acontecimento, pessoa, objeto ou animal. O objetivo do texto descritivo é transmitir para o leitor as impressões, qualidades, sensações, observações e características de algo.

Normalmente, o fragmento descritivo é parte de um corpo maior: o narrativo (ou narrativo-descritivo). Chamamos narrativo o texto que sequencia episódios, fatos, acontecimentos reais ou fictícios. O fragmento descritivo ampara a narrativa em seu aspecto espacial (ou mesmo temporal), destaca personagens, reforçando seu caráter ou suas ações; é, enfim, um dado que assegura a verossimilhança necessária à fábula. 

Repare a importância da descrição (que destacamos) nos fragmentos narrativos transcritos a seguir:

"João Romão foi, dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo; e tanto economizou do pouco que ganhara nessa dúzia de anos, que, ao retirar-se o patrão para a terra, lhe deixou, em pagamentos de ordenados vencidos, nem só a venda com o que estava dentro, como ainda um conto e quinhentos em dinheiro.

Proprietário e estabelecido por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estopa cheio de palha. A comida arranjava-lha, mediante quatrocentos réis por dia, uma quitandeira, sua vizinha, a Bertoleza, crioula trintona, escrava de um velho cego residente em Juiz de Fora e amigada com um português que tinha uma carroça de mão e fazia fretes na cidade. (...)"

(AZEVEDO. Aluísio, O Cortiço.)

"Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala.

Arrastaram-se para lá, devagar, Sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. (...)"

(RAMOS. Graciliano, Vidas Secas)

Tipos de textos descritivos

TIPOS DE DESCRIÇÃO

Leia cuidadosamente o seguinte fragmento de texto. Trata-se de uma parte de um conto escrito por Machado de Assis, intitulado “A chinela turca”.

“...Não era uma mulher, era uma sílfide, uma visão de poeta, uma criatura divina. Era loura: tinha os olhos azuis, como os de Cecília,. Extáticos, uns olhos que buscavam os céu ou pareciam viver dele. Os cabelos, desleixadamente penteados, faziam-lhe em volta da cabeça, um como resplendor de santa, santa somente, não mártir, porque o sorriso que lhe desabrochava os lábios era um sorriso de bem-aventurança, como raras vezes há de ter tido a terra. (...)”

Leia, agora, este outro trecho de Monteiro Lobato:

“Era o casarão clássico das antigas fazendas negreiras. Assobradado, erguia-se em alicerces o muramento, de pedra té meia altura e, dali em diante, de pau-a-pique. Esteios de cabriúva entremostravam-se, picados a enxó, nos trechos donde se esboroara o reboco. Janelas e portas em arco, de bandeiras em pandarecos...

...À porta da entrada ia Ter uma escadaria dupla...”

Você leu os dois fragmentos de textos e projetou para cada texto uma imagem. No primeiro, você viu despertada uma bela mulher. Uma raridade de mulher criada pela pena do grande Machado de Assis.

No segundo texto, veio-lhe a imagem de um casarão antigo de fazenda, também pintado pela caneta de Monteiro Lobato. Certo?

Interessante notar que ambos os escritores (não pintores) desenharam com palavras, mas não com pincéis, os elementos que desejaram apresentar a seus leitores. Esses desenhos é que constituem o que chamamos texto descritivo ou, simplesmente, descrição.

Vale perceber, ainda, que a descrição não é um texto que possa existir isoladamente (exceto em casos de exercícios), pois ela sempre servirá de apoio a outras modalidades de textos: a narração ou a dissertação.

Uma descrição pode ser objetiva: quando enfatiza dados reais de seu objeto; dados perceptíveis pelo senso comum. Isto você pode notar na descrição do casarão, feita por Monteiro Lobato. Pode também ser subjetiva: quando enfatiza uma percepção pessoal, particular do escritor, como é possível notar-se na descrição acima, feita por Machado de Assis.

DESCRIÇÃO: RECONHECIMENTO

Predomina nos fragmentos descritivos a estaticidade — conquanto haja processos descritivos dinâmicos. Por que tal predomínio? Porque é caráter da descrição fixar certas particularidades do objeto, sutilmente observadas pelo artista. Já se disse que a descrição constitui uma fotografia elaborada com a palavra.

Desta forma, é comum a ocorrência dos verbos de ligação — ditos não significativos ou estáticos. Há mesmo descrições belíssimas que não envolvem processos verbais, ou que os evita: o que torna paralisada a imagem sugerida.

“Raimundo tinha vinte e seis anos e seria um tipo acabado de brasileiro, se não fossem os grandes olhos azuis, que puxara do pai. Cabelos muito pretos, lustrosos e crespos; tez morena e amulatada, mas fina; dentes claros que reluziam sob a negrura do bigode; estatura alta e elegante; pescoço largo, nariz direito e fronte espaçosa.”

AZEVEDO. Aluísio, O Mulato.

Repare que o romancista elabora um retrato de Raimundo, procurando criar frases sem a explicitação de verbo, uma vez que não há ação. Por isto mesmo, uma descrição não contém personagem. Há, sim, descrição da personagem.

Nota:

A descrição de pessoa pode focalizar os aspectos físicos e/ou psicológicos. Repare que o exemplo acima enfoca uma descrição física. O exemplo seguinte destaca as características psicológicas do Cruz, colega de Sérgio, em O Ateneu:

“Dignos de nota havia ainda o Cruz, tímido, enfiado, sempre de orelha em pé, olhar covarde de quem foi criado a pancadas, aferrado aos livros, forte em doutrina cristã, fácil como um despertador para desfechar lições de cor, perro como uma cravelha para ceder uma ideia por conta própria; ...”

POMPEIA. Raul, O Ateneu.

Sumário

- Tipos de textos descritivos
i. Tipos de Descrição
ii. Descrição: Reconhecimento

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